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André Rocha

Gabriel não pode perder tantos gols porque Flamengo é o time que mais deve

André Rocha

20/03/2019 06h55

Foto: Pedro Martins

Antes de qualquer análise de desempenho sobre o Flamengo em 2019 é preciso posicionar o clube dentro do cenário nacional. É um dos que mais investe e, desde 2015, período de maior estabilidade financeira, conquistou apenas o estadual de 2017.

Ainda que a dinastia prevista por muitos depois que o clube se organizasse administrativamente, inclusive pelo rival Alexandre Kalil, fosse uma utopia por conta do equilíbrio de forças e alternância de poder típicos do futebol brasileiro, imaginava-se que o time rubro-negro seria mais competitivo. Alternasse conquistas com os principais oponentes do momento: Grêmio, Palmeiras, Cruzeiro e Corinthians.

Chegou perto, mas não venceu. Falhou em decisões de Copa do Brasil e Sul-Americana, duas vezes não conseguiu concorrer com o Palmeiras na luta pelo Brasileirão. Ainda decepcionou no Carioca do ano passado caindo na semifinal contra o Botafogo.

Ou seja, na relação expectativa x realidade é o time que mais deve no país. Ao torcedor. Neste ano investiu para qualificar ainda mais o time e contratou Abel Braga para entregar experiência e mentalidade vencedora. Também gerir um elenco que teve os trabalhos mais longos dos últimos três anos nas mãos de dois jovens interinos que acabaram efetivados: Zé Ricardo e Maurício Barbieri.

Por isso a cobrança precisa ser diferente. Inclusive de nós, analistas. Se mesmo em uma vitória alguns erros que custaram caro no passado e fizeram a diferença para que a equipe não alcançasse as conquistas desejadas se repetem é necessário alertar, dar outro peso.

É o caso dos gols perdidos na vitória por 2 a 0 sobre o Madureira no Maracanã, com mando do adversário. Nada menos que 32 finalizações, 11 no alvo. Domínio absoluto com 67% de posse e 27 desarmes certos, mesmo com a ausência de Cuéllar, a serviço da seleção colombiana.

Dois gols de Gabriel Barbosa. O primeiro em impedimento, o segundo em chute que desviou no defensor e complicou o goleiro adversário. Em dez finalizações do camisa nove, apenas três no alvo. Uma irregular. É possível elogiar a entrega, a busca incessante pelo gol…mas não a eficiência, a precisão técnica. Um dos atributos esperados do artilheiro do último Brasileiro pelo Santos.

No Carioca, o Flamengo é o time que mais finaliza. Média de praticamente 18 por jogo. Sete no alvo. Dois gols por partida. "Gabigol" é o artilheiro, com cinco gols em oito partidas. Média superior às de Luciano e Yony González, que anotaram seis em 11 jogos. Mas precisou de 27 conclusões para tal, média de 3,4 por jogo. Doze no alvo.

Pode parecer satisfatório considerando um início de temporada e o atacante ainda se entrosando com os companheiros. Mas se lembrarmos do time "arame liso", do controle dos jogos sem contundência para transformar domínio em vantagem no placar, é um fator preocupante. No único jogo com caráter mais decisivo, a semifinal da Taça Guanabara contra o Fluminense, o time passou em branco. Finalizou apenas oito vezes, três no alvo.

Na Libertadores, prioridade deste primeiro semestre, foram 23 finalizações nas partidas contra San José e LDU. Onze no alvo e quatro gols marcados. A eficiência é maior, porém necessita melhorar para os confrontos mais parelhos que virão. Quem vê o copo meio cheio pode valorizar as chances criadas. Mas para quem anda vazio de conquistas a exigência precisa ser maior.

O torcedor certamente não esquece do domínio nos dois jogos contra o Cruzeiro na final da Copa do Brasil em 2017, nem do gol perdido por Paquetá contra o Palmeiras no Brasileiro do ano passado. Ou mesmo da superioridade em cinco das seis partidas da fase de grupos da Libertadores há dois anos que não se traduziu em bolas nas redes de Athletico Paranaense, San Lorenzo e Universidad Católica. O time ficou de fora do mata-mata em mais um vexame sul-americano.

A conta é alta e não dá para passar pano, mesmo na vitória que garante o time nas semifinais do estadual. Gabigol chegou agora, mas a dívida é antiga. Precisa ser cobrada na medida do potencial da equipe e da decepção do torcedor rubro-negro.

(Estatísticas: Footstats)

 

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.