Seleção brasileira sofre com a "síndrome do campeão mundial de amistosos"
Dunga voltou à seleção brasileira em 2014, logo depois dos 7 a 1, e emendou dez vitórias em amistosos. Em muitas delas segurando resultado, fazendo substituições nos últimos minutos para ganhar tempo e comemorando no apito final como se valessem três pontos. Perdeu várias chances de fazer testes e quando vieram as Eliminatórias e a Copa América não tinha um time para competir de fato.
Como esquecer as vitórias sobre Inglaterra, França e Alemanha na famosa excursão à Europa em 1981 que alçaram o Brasil de Telê Santana à condição de favorito ao título na Copa da Espanha? De novo jogos que não valiam pontos tratados como competições oficiais. A campeã Itália não venceu os últimos três amistosos antes do Mundial e só foi ganhar outra partida um ano depois da conquista.
O resultadismo do brasileiro, em geral, transforma qualquer joguinho em decisão. É olhar para o placar e fazer o diagnóstico, sem maiores avaliações de desempenho e análises em perspectiva. Só importa o hoje. Agora.
Tite é mais uma vítima dessa mentalidade. Não porque o empate por 1 a 1 com o fraquíssimo Panamá tenha que ser relativizado. De fato foi pífio, um vexame para a camisa cinco vezes campeã do mundo. Mas porque ao ficar tão preocupado em conquistar a vitória a seleção esqueceu…de jogar.
A troca de posicionamento entre Philippe Coutinho e Lucas Paquetá ainda no primeiro tempo, com o meia do Milan sendo enviado para a ponta esquerda e o jogador do Barcelona vindo armar por dentro, foi sintomática. Tite perdeu a oportunidade de observar o jovem meio-campista trabalhando com Arthur e Casemiro para ganhar vigor e presença física no ataque contra a linha de cinco defensores do adversário.
Paquetá marcou o gol da seleção completando cruzamento de Casemiro, mas jogou pouco e se irritou muito em choques com os adversários que um trabalho com mais trocas de passes e movimentação poderia evitar. Tite preferiu trazer Coutinho para jogar como meia e apelar para bolas longas em busca de Richarlison e Roberto Firmino.
Dupla que ficou enfiada na área panamenha esperando cruzamentos. Foram muitos, quase quarenta bolas alçadas. Nenhuma combinação com Firmino recuando, como faz no Liverpool, e abrindo espaço para a infiltração em diagonal de Richarlison, o atacante de profundidade partindo da direita. O que realmente merecia ser testado e observado.
Cenário que não mudou com Felipe Anderson, Gabriel Jesus e Everton em campo. A desentrosada defesa, com Militão e Alex Telles, escalados para atrair a torcida do Porto no Estádio do Dragão, quase cedeu o segundo gol no ataque final do Panamá. Algo que tornaria a virada épica e o revés uma das maiores vergonhas do escrete canarinho.
Sim, o gol do zagueiro Machado foi em impedimento ignorado pela arbitragem. Mas novamente a retaguarda falhou em jogada aérea com bola parada. São sete sofridos desta maneira entre os nove que a seleção levou na Era Tite. Outra informação mais importante que o placar final.
No pós-Copa agora são seis vitórias e um empate. Nenhuma atuação satisfatória em 90 minutos. Mas como venceu o discurso era calçado na busca de evolução e renovação. Agora tem que ganhar de qualquer maneira da República Tcheca em Praga na terça-feira para que o apocalipse não chegue antes da Copa América disputada em casa.
Já ecoam os clichês de sempre: "falta amor à camisa", "jogadores ricos e preguiçosos", "só querem saber da Europa", "atuação apática", "time sempre padrão", "cadê a ginga do brasileiro?" e por aí vai. Tite carrega o ônus de perder a Copa do Mundo com apenas dois anos de trabalho. Antes era visto até como nome ideal para a Presidência da República.
Porque aqui é assim que funciona e a seleção segue sofrendo com a "síndrome do campeão mundial de amistosos". É preciso vencer sempre, mesmo sem desempenho condizente. Uma hora a conta chega.
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