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André Rocha

Clubes demitem técnicos porque falta convicção, não por força dos estaduais

André Rocha

23/04/2019 07h36

Foto: Marcelo Theobald/Agência O Globo

Alberto Valentim, Lisca e Mauricio Barbieri. Treinadores demitidos logo após as derrotas de Vasco, Ceará e Goiás, respectivamente, nas finais dos estaduais. Os três clubes se juntam a São Paulo, Atlético Mineiro, Chapecoense, Botafogo e Bahia como os da Série A que mudaram o comando técnico com a temporada chegando ao seu quarto mês.

Relevância dos torneios locais? Nem tanto. Observando caso a caso é possível notar a já habitual falta de convicção na hora de contratar ou manter a comissão técnica para o início do ano.

A começar por Claudinei Oliveira na Chape. "Gratidão" por ter mantido o clube na primeira divisão nacional, mas bastou uma oscilação e a surpreendente eliminação na primeira fase da Sul-Americana para o desconhecido Unión La Calera do Chile para o clube fazer a troca no comando com a chegada de Ney Franco.

O mesmo valeu para Levir Culpi no Atlético, Enderson Moreira no Bahia, Zé Ricardo no Botafogo, Lisca no Ceará e Valentim no Vasco. A direção não se sente segura para mudar de treinador quando é preciso alterar a meta. Então o "bombeiro" de ocasião se transforma em solução para o ano seguinte, muitas vezes sem ter a mesma qualidade para planejar a médio/longo prazo e montar o elenco.

Ainda assim, Levir caiu no Galo mais por conta da goleada sofrida na Libertadores para o Cerro Porteño que deixou o time praticamente sem condições de classificação, Zé Ricardo foi demitido pela eliminação na Copa do Brasil, o mesmo com Enderson na Copa do Nordeste. Já Valentim foi questionado no Vasco não só pelos reveses para o Flamengo, incluindo a final da Taça Rio contra os reservas rubro-negros, mas também por ter sido presa fácil para o Santos no torneio nacional de mata-mata.

Há também as apostas, treinadores escolhidos na base da tentativa e erro, na busca do "moderno". Como André Jardine no São Paulo e Barbieri no Goiás. Jovens que precisam de respaldo e tempo, mas que entram na roda vida, no "vamos ver se dá certo". Na maioria das vezes sem avaliar se as características dos atletas encaixam na visão de futebol do novo técnico. Difícil funcionar.

Aos poucos os clubes vão entendendo a necessidade de pensar a temporada e investir em trabalhos a longo prazo. Como os bem sucedidos Mano Menezes no Cruzeiro e Renato Gaúcho no Grêmio. Campeões em Minas Gerais e Rio Grande do Sul, mas como partes de projetos mais ambiciosos. Não há outro caminho para quem pode investir.

Os estaduais causam demissões de técnicos porque os dirigentes só conseguem enxergar o jogo seguinte, o imediato. O Athletico bicampeão paranaense com a equipe sub-23 deveria ser referência. Poupa esforços para o que é importante e trata a competição menos relevante como um laboratório.

Em 2018 revelou Bruno Guimarães, Léo Pereira e Renan Lodi, além do técnico Tiago Nunes, sucessor do projeto abortado com Fernando Diniz. Campeões da Sul-Americana e agora destaques do time que enfiou 3 a 0 no Boca Juniors pela Libertadores. Pensando a temporada, não os primeiros meses para depois refazer tudo acreditando no tal "fato novo".

O Brasileirão começa no fim de semana. Com novidades nos clubes que demitiram, mas também treinadores sustentados pela ilusão de um título que vira questão de honra pela rivalidade local, mas que quase ninguém lembra que conquistou em dezembro. Qual será a próxima vítima da máquina de moer do futebol brasileiro?

 

 

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.