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André Rocha

A virada de Lucas e do Tottenham. Intensidade inglesa na final da Champions

André Rocha

08/05/2019 19h18

Primeiro foi o PSG contra o Manchester United em Paris nas oitavas de final. Depois o Barcelona tombou diante do Liverpool em Anfield. Agora o Ajax foi a vítima na outra semifinal da Liga dos Campeões, com a incrível virada do Tottenham em Amsterdã.

Três que desconcentraram contra a intensidade dos ingleses e se complicaram. Porque na Premier League os times estão acostumados a entregar tudo durante os 90 minutos independentemente do placar e fazer um jogo de área a área com muita velocidade. Quando o adversário recua e tenta controlar negando espaços vai ser atacado o tempo todo. Até cair.

O time holandês abriu 2 a 0 no primeiro tempo com autoridade. Apesar da perda de David Neres, vetado momentos antes da partida na Arena em Amsterdã. Com Dolberg no centro do ataque e Tadic sendo transferido para o lado esquerdo. E De Ligt ampliando a vantagem conquistada em Londres logo aos cinco minutos em belo golpe de cabeça completando cobrança de escanteio pela direita. Quando Ziyech concluiu assistência de Tadic a vaga parecia garantida.

Foi o pecado do tetracampeão europeu, mas em campo com uma equipe jovem e instável, que não venceu em casa no mata-mata. Mauricio Pochettino contribuiu decisivamente no segundo tempo. O treinador trocou Wanyama por Llorente, a referência do ataque ganhando a companhia de Lucas e Son pelos flancos, Dele Alli por dentro e ainda o suporte de Cissoko e Eriksen, mais os laterais Trippier e Rose. Um rolo compressor que correu riscos por necessidade, mas com ímpeto inesgotável.

Coragem de Lucas Moura para fazer sua noite mágica finalizando três vezes com o pé esquerdo, o "ruim", e construir outra virada inacreditável de uma edição memorável da Champions. Para premiar a força mental de quem nunca duvidou. Terminou com 57% de posse e nada menos que 24 finalizações contra 16 – sete a quatro no alvo.

É muito volume de jogo, habitual na insanidade da Premier League. O Ajax foi mais um que pecou por não acreditar e agora volta pra casa, mesmo encantando com De Ligt, Van de Beek, Tadic e De Jong. Tottenham e Liverpool farão a final no Wanda Metropolitano em Madrid. De novo os ingleses, depois de United x Chelsea em 2008. Acabando com a supremacia espanhola desde 2014.

Emblemático para os dois treinadores. Klopp há quatro anos nos Reds, Pochettino há cinco nos Spurs – este sem contratar nas duas últimas temporadas pela necessidade de investir no novo estádio. Nenhum título conquistado pela dupla. No Brasil provavelmente teriam sido demitidos ao final da primeira temporada. Agora as convicções são premiadas com o topo do futebol europeu.

Junto com Lucas, um heroi inimaginável que só estava em campo pela lesão de Harry Kane que parecia abreviar a história do Tottenham no torneio continental. Agora, com tantos selecionáveis em baixa, o atacante pode terminar na lista final de Tite para a Copa América. Mais uma remontada entre tantas viradas que só o futebol pode proporcionar.

(Estatísticas: UEFA)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.