Tite deve cair na cilada de preferir Neymar e deixar de lado a coerência
No final de março de 2018, logo depois da seleção brasileira vencer a Alemanha por 1 a 0 em Berlim, com gol de Gabriel Jesus, Tite chegou ao auge de sua popularidade. Considerado exemplo de ética, responsabilidade e coerência, virou garoto-propaganda às vésperas da Copa do Mundo na Rússia vendendo produtos, mas também uma espécie de ideal de retidão de caráter através de frases simples, mas de efeito imediato em um país sem grandes referências.
O treinador da seleção brasileira virou exemplo de coerência, ainda que sempre pese sobre ele a decisão de trabalhar para a CBF mesmo depois de um posicionamento público contra a entidade e seu mandatário à época. E ainda aceitar um beijo de Marco Polo Del Nero na primeira coletiva em 2016.
Mas tudo no futebol brasileiro é esquecido com resultados. E volta à tona com força triplicada contra quando as vitórias desaparecem. Ou são negadas mesmo em um jogo igual, como na eliminação para a Bélgica nas quartas de final do Mundial. Tite virou alvo, mesmo dentro de um consenso que o mantinha no cargo e com o status de melhor treinador brasileiro.
É óbvio que a relação com Neymar – administrada na ponta dos dedos com o máximo de cuidado para fazer concessões públicas e cobranças internas, como a mudança de comportamento nos últimos jogos da Copa para evitar o segundo cartão amarelo – também seria alvo de cobranças e questionamentos. Justos pelos exageros e encenações durante os jogos. Dentro de uma estratégia pouco inteligente de tentar cavar faltas e cartões para os adversários, mas "pendurando" o próprio craque perante a arbitragem e o mundo.
Só que Tite precisa de Neymar. Agora ainda mais, com Philippe Coutinho em baixa e uma seleção que não consegue combinar características dos jogadores. Arthur, o meio-campista que poderia dar a liga à ideia de Tite de protagonizar os jogos com posse de bola, também oscila no Barcelona. Não há laterais afirmados para abrir o campo e chegar ao fundo em velocidade como requer a proposta de jogo. É bem provável que Daniel Alves volte a ser solução pela direita aos 36 anos.
Neymar agrediu um torcedor no caminho para receber na tribuna do Stade de France a medalha de vice-campeão da Copa da França. Um ato intempestivo e, de novo, pouco inteligente de quem parece ser mal assessorado e não entender a sua posição de atleta-celebridade, nem o déficit de imagem ainda da Copa do Mundo. "Não tenho sangue de barata", afirmou. Nem bom senso para compreender que precisa desconstruir a pecha de mimado e infantil.
Douglas Costa ganhou uma "geladeira" de Tite por ter cuspido em um adversário na Itália. Agora é mais grave porque trata-se do capitão da seleção. Braçadeira que Neymar ganhou não por mérito, mas para "assumir responsabilidades", segundo Tite. Pelo visto, o atleta nem sabe do que se trata.
E agora, o que Tite vai fazer? Não convocar o craque parece fora de questão, até porque ele precisa do título ou de uma ótima campanha na Copa América em casa para se tranquilizar no cargo até 2022. A solução mais óbvia e que deve se confirmar amanhã na convocação será tirar a faixa de capitão com explicações repletas de eufemismos para suavizar o impacto e não melindrar a "prima donna" do futebol brasileiro. Ou não.
Tite vai escorregar na coerência novamente. Uma cilada criada por ele mesmo. Porque é humano, imperfeito. Com idiossincrasias, indecisões. Não há como controlar tudo. Muito menos Neymar. Mas, sem querer ou não, ele vendeu essa ilusão que agora cobra alto. E se tudo der errado não é a estrela da seleção quem vai pagar com o emprego.
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