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André Rocha

Pressão e precisão são as armas do Palmeiras que voa com tempo para treinar

André Rocha

21/05/2019 07h59

Foto: AGIF

Na coletiva após o empate sem gols contra o Santos na primeira fase do Paulista, ao ser perguntado se havia se incomodado com o excesso de lançamentos que, consequentemente, fazia com o que Palmeiras trabalhasse menos a bola com toques curtos, Luiz Felipe Scolari respondeu de forma simples e franca: o aborrecimento era com a maneira com que o passe longo estava sendo executado.

Simbólico na visão de futebol de Felipão. Em qualquer lugar, independentemente da qualidade do elenco, o estilo é o mesmo. O que muda é a precisão, valorizada na coletiva citada e em outras tantas. A ideia é simples: se a proposta é não ter a posse e definir rapidamente a jogada chegando á frente com no máximo cinco jogadores, é preciso ser cirúrgico.

O tempo para treinar desde a eliminação na semifinal do Paulista tem ajudado neste início de Brasileiro. Foram 15 dias entre as partidas contra Junior de Barranquilla e Melgar pela Libertadores. Junte a isso a semana "cheia" antes do novo encontro com o time de Jorge Sampaoli no Pacaembu e temos a melhor partida do atual campeão brasileiro no ano.

Menos jogos diminuem o desgaste e também contribuem para a ênfase em outra marca dos times de Felipão, especialmente em casa: a pressão sufocante nos primeiros minutos, aproveitando a torcida quente e o visitante ainda se adequando ao ambiente. Emblemática na última passagem do treinador pela seleção brasileira. Aproveitando o mando de campo na Copa das Confederações de 2013 e no Mundial do ano seguinte.

Marca no campo de ataque, força o erro, rouba a bola, acelera e abafa com muitos cruzamentos ou chutes de fora da área. Na época com Hulk pela direita e Neymar à esquerda cortando para dentro e finalizando. Uma "blitz" de 15 a 20 minutos para abrir vantagem com um ou dois gols para depois recuar as linhas, seguir marcando com intensidade e aproveitando os espaços cedidos para os contragolpes em velocidade.

Proposta que exige fisicamente e o Palmeiras vem respondendo bem. Porque há intervalos para preparação, não só recuperação quando vem a sequência de dois jogos por semana com viagem no meio. Descansa, recupera, treina e joga. Como deve ser, mas no Brasil é comprometido pelo calendário inchado.

Nos 4 a 0 sobre o Santos, a eficiência foi a maior virtude alviverde. Segundo o Footstats, o time de Felipão conseguiu uma finalização a cada onze passes, um gol a cada quatro finalizações, nove conclusões no alvo em um total de 17 e 21 desarmes corretos. Com dois gols em 20 minutos, Deyverson conseguindo dar sequência às jogadas com Raphael Veiga mais próximo por dentro, Dudu e Zé Rafael conduzindo bem pelos flancos e os passes longos saindo com precisão, inclusive no último gol, de Weverton ligando diretamente até a finalização de Hyoran. Força na bola parada e segurança defensiva – apenas oito gols sofridos em toda temporada.

São 28 partidas de invencibilidade no Brasileirão e já a liderança absoluta na atual edição. A estratégia parece clara: voar até a parada para a Copa América, abrir vantagem no topo e administrar a "gordura" no momento em que as competições afunilarem. Muito provavelmente a partir das quartas de final do mata-mata, caso o time confirme o favoritismo absoluto contra Godoy Cruz e Sampaio Correa nas oitavas de Libertadores e Copa do Brasil, respectivamente.

Mas é óbvio que é cedo para falar em bicampeonato em apenas cinco rodadas. Até porque, a rigor, não é a prioridade. Assim como no ano passado, o Palmeiras vai precisar dos reservas e a amostragem até aqui, justamente pela folga maior no calendário, ainda é pequena. E não tão promissora: o único empate, por 1 a 1 em Maceió contra o CSA vindo da Série B, aconteceu na única oportunidade em que os titulares descansaram.

Por ora é valorizar o que vem sendo bem feito dentro de um modelo de jogo "manjado", mas que castiga o oponente quando bem executado. Criar espaços quando o plano inicial não for bem sucedido continua sendo o desafio. Missão para Felipão em novo período para treinamentos em junho. Mais tempo para exercitar pressão e cobrar precisão, as duas grandes virtudes do grande favorito brasileiro a tudo que disputar em 2019.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.