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André Rocha

Recopa Sul-Americana para o River Plate, duro aprendizado para o Athletico

André Rocha

30/05/2019 23h58

O River Plate se comportou como se esperava do atual campeão da Libertadores e de um time acostumado a jogos decisivos: com personalidade, intensidade e em comunhão com o torcedor que encheu o Monumental de Nuñez.

Marcelo Gallardo repetiu o 4-3-1-2 da derrota por 1 a 0 na ida em Curitiba, porém com o experiente Ponzio, 37 anos, à frente da defesa e qualificando a saída de bola. Para inversões em busca dos laterais Montiel e Angileri que abriam o campo com auxílio dos "carrileros" Enzo Pérez e Palacios, deixando para o "enganche" Ignacio Fernández e a dupla de ataque formada por Borré e Lucas Pratto o trabalho de buscar espaços entre a defesa e o meio-campo ou procurar as infiltrações às costas da retaguarda adversária.

Muito volume de jogo que acuou o Athletico forçando os ponteiros Nikão e Rony a recuar para que Jonathan e Renan Lodi marcassem mais por dentro. Compactando linhas no 4-1-4-1, mas sofrendo com o volante Wellington que tinha dificuldades para proteger a retaguarda. No cenário hostil, apenas Lucho González, veterano e com história no River, conseguia manter a calma e o rendimento. Só não foi preciso na melhor chance do time brasileiro em Buenos Aires: virada de Rony e livre na área chutou em cima do goleiro Armani.

Já o River persistiu. Com ímpeto, mas calma. Típico de uma equipe vencedora e com o modelo de jogo de Gallardo mais do que assimilado. Sabe o que precisa para se impor. A troca de Palacios por De La Cruz tornou o time ainda mais ofensivo. Insistiu até o pênalti no toque no braço de Lucho em chute do zagueiro de Pinola, marcado pela arbitragem com auxílio do VAR – marcável segundo as novas orientações da FIFA.

Cobrança de Ignácio Fernández que o goleiro Santos pegou, ela tocou na trave e sobrou para o próprio camisa dez completar com os adversários chegando atrasados para o rebote. Em uma partida deste tamanho a concentração total em todos os momentos é obrigatória. O gol fez time e torcida acreditarem ainda mais.

Só então que o Athletico avançou linhas e fez Armani trabalhar de novo em chute de Lodi. A entrada de Marcelo Cirino no lugar de Nikão criou mais problemas para a defesa argentina, invertendo com Rony pelos flancos. Gallardo não mexeu na estrutura, mas guardou o lado esquerdo com Mayada no lugar de Angileri e deu mais gás e vigor físico na frente com Matias Suárez na vaga de Borré.

Nos minutos finais, a confiança e a cultura de vitória prevaleceram. Com ajuda dos erros da zaga do Athletico. Vacilo do ótimo zagueiro Leo Pereira, Pratto não perdoou. Com o time todo adiantado, Paulo André errou o tempo de bola e Matias Suárez fechou a conta nos 3 a 0. Apesar dos gols nos ataques derradeiros, os números comprovam a superioridade completa no Monumental: 56% de posse  e 20 finalizações, 11 no alvo. Apenas cinco dos visitantes.

A Recopa fica em Buenos Aires com o time histórico de dez títulos com Gallardo desde 2015. Em sete finais internacionais, derrota apenas para o lendário Barcelona de Messi, Suárez e Neymar no Mundial de Clubes há quatro anos. Para o Athletico valeu a experiência em jogos desse tamanho, já pensando no duelo com o Boca Juniors pelas oitavas da Libertadores.

Porque no mata-mata a coisa muda e, com desempenho em campo, camisas pesadas são capazes de envergar até quebrar o varal. O time de Tiago Nunes precisa compensar a história menos gloriosa com coragem e precisão – incluindo as chances desperdiçadas na Arena da Baixada. Fica o duro aprendizado.

(Estatísticas: Footstats)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.