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André Rocha

Empate é lucro para uma Argentina caótica que pode sofrer com o Catar

André Rocha

20/06/2019 00h01

Lionel Scaloni trocou quatro peças da Argentina em relação à estreia decepcionante, mas não melhorou o desempenho da equipe no primeiro tempo. Longe disso. No mesmo 4-4-2, mas com Casco e Pereyra no corredor direito, De Paul do lado oposto na linha do meio-campo e Lautaro Martínez na frente – os dois últimos deixando Di María e Aguero no banco.

Setores descoordenados e falta de sintonia entre as peças, apesar dos 55% de posse de bola. Mas sofrendo contra o Paraguai de Eduardo Berizzo executando o 4-3-1-2 moderno. Com a bola dando liberdade a Almirón, o "enganche" à frente do trio Richard Sánchez, Rodrigo e Matías Rojas, mas deixando Derlis González abrindo o campo pela direita e buscando as infiltrações em diagonal para se juntar a Santander na referência.

Sem bola, duas linhas compactas e Almirón solto atrás do centroavante. O meia fez toda jogada pela esquerda que terminou no gol de Sánchez. Em falha coletiva da albiceleste deixando o corredor de Casco livre e sem bloquear a infiltração pelo centro da área.

No desespero, Scaloni colocou Aguero já na volta do intervalo na vaga de Pereyra. Com três na frente, a desorganização aumentou. Mas a percepção de que só na alma e nas jogadas individuais seria possível conseguir algo empurrou o time para frente. Na ação mais efetiva, bola no travessão, chute de Messi para grande defesa de Gatito e depois o pênalti com auxílio do VAR, no toque de Piris em chute de Lautaro. Em mais uma decisão da arbitragem que confirma que agora o critério é não ter critério, o que torna marcável qualquer lance.

Messi empatou na cobrança perfeita, mesmo com Gatito acertando o canto. Entregando aquela aleatoriedade que torna a disputa mais divertida e eletrizante. O pênalti sofrido e perdido por Derlis, em boa defesa de Armani, deu pane mental nos paraguaios, que nunca venceram a Argentina na Copa América. Berizzo tentou acelerar os contragolpes com Óscar Romero na vaga de Santander, mas sua seleção foi cansando.

Com o empate, primeiro Scaloni reorganizou sua equipe trocando Lautaro por Di María, voltando ao 4-4-2. Tirando o jogo do embate psicológico que aqueceu o Mineirão, os problemas coletivos voltaram a aparecer. Com o desgaste por correr errado na maior parte do tempo faltou fôlego no final, mesmo arriscando ao trocar De Paul por Matías Suárez.

A queda de nível matou aquela impressão de que estávamos testemunhando o melhor jogo do torneio. Ficou no nível mediano até aqui. Com oito finalizações paraguaias e sete argentinas, três no alvo para cada lado. Equilíbrio, apesar do caos da Argentina que ficou no lucro.

Colômbia classificada com seis pontos, já com liderança do grupo B garantida. O resto segue muito em aberto. A Argentina é favorita natural contra o Catar, mas se não sair o gol cedo pode sofrer, complicando a partida e a classificação. Quanto ao Paraguai, a dúvida recai sobre o comportamento dos colombianos. Se estes pouparem as peças pensando nas quartas podem facilitar para o adversário.

Se restar a Messi e seus companheiros a vaga como um dos dois melhores terceiros colocados será uma vergonha. Em tese, considerando peso da camisa e o gênio com a camisa dez. Porque pela bola jogada não dá para esperar nada muito melhor. Sinal dos tempos.

(Estatísticas: Footstats)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.