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André Rocha

Brasil e Argentina precisam de gols no início porque já entram "perdendo"

André Rocha

26/06/2019 05h22

Foto: Evaristo Sá/AFP

Ser favorito no futebol atual é incômodo, mesmo para os grandes clubes do planeta. Liverpool, Manchester City, Barcelona, Real Madrid, Bayern de Munique e outros que já começam a grande maioria das partidas como os times que serão os protagonistas.

Ainda que haja superioridade tática, técnica, física, financeira, de estrutura e confiança, a responsabilidade de adiantar linhas, se instalar no campo de ataque, trocar passes, inverter o lado da jogada ou tentar o drible, infiltrar e finalizar com precisão diante de linhas muito próximas e intensidade e concentração máximas na marcação do adversário, que sabe que vai jogar sem bola, é desgastante.

Imagine esse cenário no universo de seleções, sem o mesmo entrosamento e qualidade individual similar, porém com a pressão de uma camisa pesada que absorve todo o favoritismo. Mesmo quando não há desempenho recente que justifique tantos holofotes. Não é absurdo dizer que já começam "perdendo", no fio da navalha em termos  psicológicos e com qualquer adversidade podendo desencadear uma "pane" mental.

É o que podem sofrer Brasil e Argentina nas quartas de final da Copa América contra Paraguai, quinta-feira na Arena do Grêmio, e Venezuela no Maracanã na sexta, respectivamente. Típicos jogos de ataques contra defesas. Cenário habitual no continente, com os dois gigantes liderando a posse de bola no torneio. A postura do anfitrião deve ser ainda mais agressiva diante do pior classificado, principalmente depois dos 5 a 0 da equipe de Tite sobre o Peru.

O Paraguai de Eduardo Berizzo tende a repetir o 4-4-2 do empate com a Argentina. Duas linhas de quatro compactas, com Gustavo Gómez, do Palmeiras, liderando a defesa, Derlis González do Santos voltando pela direita na linha de meias para dar liberdade a Almirón atrás de um centroavante, que pode ser Cardozo ou Santander. Bola roubada, transição ofensiva em velocidade com bolas longas para as pontas ou buscando a referência.

A seleção brasileira vai precisar rodar a bola, aproveitar o passe qualificado de Fernandinho, substituto do suspenso Casemiro, na construção das jogadas e melhorar a produção por dentro com Arthur, Philippe Coutinho e Roberto Firmino. Além do suporte de Daniel Alves e Filipe Luís, os laterais construtores que, eventualmente atacam abertos fazendo duplas com Gabriel Jesus e Everton.

Já a Argentina é uma grande incógnita. Lionel Scaloni deve repetir a formação ofensiva, porém descoordenada, da vitória sobre o Catar. Messi por trás de Aguero e Lautaro Martínez, que volta mais para ajudar o trio de meio-campistas. Sem tanta força pelas laterais é uma equipe que trabalha muito por dentro. Fundamentalmente vai precisar de uma tarde desequilibrante de seu camisa dez e de sorte.

Porque a invicta Venezuela deve repetir o 4-1-4-1 das últimas partidas, com Rondón dando trabalho como pivô e finalizador. A referência dos muitos lançamentos (média de 41 por partida). Organização defensiva sem abdicar do jogo, como prega o treinador Dudamel. Machís marcou dois gols nos 3 a 1 sobre a Bolívia e pode ser a o escape pelos flancos. Mas a "Vinotinto" também deve arriscar uma pressão no campo de ataque para dificultar a já caótica saída de bola da albiceleste.

Os jogos da última rodada das fases de grupos foram descomplicados por gols no início das partidas. De Casemiro para o Brasil e Lautaro a favor da Argentina. Serão fundamentais também nas disputas eliminatórias. Para o passar do tempo não lembrar que Messi e companhia ainda não conquistaram um título pela seleção principal e o jejum de conquistas da bicampeão mundial já vai completar 26 anos.

Ou recordar que o Paraguai, mesmo com apenas uma vitória nos últimos 18 jogos na competição, eliminou nos pênaltis os brasileiros em 2011 e 2015. E, assim como na traumática eliminação para a Bélgica nas quartas da Copa do Mundo no ano passado, Fernandinho está em campo e não Casemiro. Antes das partidas podem não parecer "fantasmas", mas o contexto não é simples.

O continente espera um duelo entre os grandes rivais na semifinal, porém a missão não é "carne assada". O relógio é um adversário em potencial, assim como a responsabilidade de comandar as ações em campo. Nas disputas parelhas do futebol atual pode ser armadilha bem perigosa. Quase uma desvantagem no placar.

(Estatísticas: Footstats)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.