Topo

André Rocha

Santos tem calendário "limpo" como trunfo para duelar com Palmeiras e Fla

André Rocha

15/07/2019 07h52

É óbvio que todos no Santos preferiam ainda estar envolvidos com Copa do Brasil e Sul-Americana. Principalmente pelo aspecto financeiro, com premiações para ajustar melhor as contas e reforçar o elenco. Mas o cenário atual de só ter o Brasileiro para disputar até dezembro pode ser um trunfo para o alvinegro praiano.

Já que não tem elenco com tanta fartura quanto Palmeiras e Flamengo, os principais concorrentes, o treinador Jorge Sampaoli pode pensar jogo a jogo e sempre com o melhor time possível, sem passar o fim de semana já planejando partidas decisivas pelas competições de mata-mata.

Para um técnico com conteúdo e repertório é realidade interessante. Mais ainda depois de quase um mês trabalhando para consolidar de vez as ideias com seu elenco. Afinando as variações táticas para jogar com linha de quatro na defesa ou com três zagueiros.

Como na importante vitória sobre o Bahia no sábado em Pituaçu. Já fazendo a primeira vítima que entra no jogo da competição por pontos corridos pensando em Copa do Brasil. Não que a equipe de Roger Machado tenha deixado de  entregar intensidade e concentração na disputa, mas em um campeonato de jogos tão parelhos quase sempre, a dedicação pode fazer a diferença.

Mesmo contra o tricolor com apenas um atacante (Fernandão, depois Gilberto), Sampaoli escalou novamente uma trinca de defensores: Lucas Veríssimo, Aguilar e Gustavo Henrique, que saiu para a entrada de Luiz Felipe para não mudar o desenho tático. Incoerente dentro da visão "bielsista" do argentino de que só se escala três zagueiros se for para garantir um homem a mais na retaguarda ao enfrentar uma dupla de ataque.

Só que o Bahia, na execução do seu quase invariável 4-1-4-1, vem se mostrando a equipe que melhor consegue agrupar todos os jogadores no próprio campo sem bola e encontrar soluções para sair da pressão pós-perda do adversário e acelerar a transição ofensiva. Com Elber ou Arthur Caike e, principalmente, Artur pelas pontas. Era preciso mesmo ter cuidados defensivos.

Mas o Santos novamente impôs sem estilo. Com 66% de posse, 460 passes certos – mais que o dobro dos 212 dos baianos – e 15 finalizações contra 11, sete a dois no alvo. No 3-4-3 com Eduardo Sasha e Soteldo pelas pontas e os alas Victor Ferraz e Jorge atacando também por dentro, engrossando a articulação com Carlos Sánchez e Diego Pituca. Mesmo com Uribe ainda fora de sintonia como o centroavante que Sampaoli sentia tanta falta como referência na frente, é um time forte.

No final, Sánchez sofreu pênalti de Guerra, bateu e marcou no rebote do goleiro Douglas Friedrich. Para subir o aproveitamento para 77%, tirar dois pontos e diminuir para três a vantagem do Palmeiras no topo da tabela. Também manter os três na frente do Flamengo. E talvez secretamente guardar uma torcida para que os concorrentes se deem muito bem no meio da semana contra Internacional e Athletico na Copa do Brasil. Mais à frente pela Libertadores diante de Godoy Cruz e Emelec. Quanto mais longe melhor.

Porque o calendário "limpo" do Santos é consequência de fracassos que não podem ser esquecidos, mas agora vira aliado para lutar contra os abastados. Um Davi descansado e concentrado que pode derrubar Golias extenuados e distraídos. Difícil, mas nada impossível.

(Estatísticas: Footstats)

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.