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André Rocha

Inter x Flamengo é o duelo entre trabalho mais maduro e o mais promissor

André Rocha

01/08/2019 08h05

Mesmo considerando que o Nacional não é mais a equipe temível na América do Sul dos anos 1970/1980, impressionou a autoridade com que o Internacional conseguiu a classificação para as quartas-de-final da Libertadores. 3 a 0 no agregado, sem riscos. O trabalho de quase dois anos de Odair Hellmann no comando técnico parece ter chegado à maturidade.

O ponto de virada, sem dúvida, foi a vitória sobre o Palmeiras na Copa do Brasil. Quando a equipe teve consistência e força mental para superar o favorito depois da derrota por 1 a 0 em São Paulo. Poderia ter evitado a decisão por pênaltis se o gol de Victor Cuesta não tivesse sido mal anulado, mas não se abateu e foi seguro nas cobranças.

A combinação de características parece ser a maior virtude do time que cresceu demais com o encaixe de Paolo Guerrero. O peruano é pivô quando os colorados precisam se instalar no campo de ataque e a referência para os contragolpes no momento em que a equipe recua as linhas. Para completar a fase especial, a eficiência nas finalizações que faltou em tantos momentos na carreira.

O que não falta é companhia ao centroavante, nas duas situações. De Edenilson e Patrick, os meio-campistas por dentro na linha de quatro à frente de Rodrigo Lindoso na execução do 4-1-4-1. Intensidade e força que ganham o contraponto na liderança e na experiência com passe certo de D'Alessandro, o ponta articulador que tem do lado oposto Nico López, que infiltra em diagonal para ser mais uma opção de finalização.

A sintonia parece cada vez mais fina entre o quinteto ofensivo, mas Hellmann também ganha com os zagueiros na área adversária em bolas paradas. Rodrigo Moledo abriu o placar no Beira-Rio lotado e o caminho para uma atuação segura, sem dar chances aos uruguaios. 58% de posse, 21 finalizações – oito no alvo – e só permitindo uma conclusão na direção da meta de Marcelo Lomba em um total de dez.

López ganhou da Conmebol o prêmio de melhor em campo, mas se destacou mais pelos dois gols bem anulados do que pela regularidade da atuação. Segue a sina, agora de 18 jogos, sem ir às redes. Na vaga do uruguaio entrou Rafael Sóbis, que no contragolpe de manual já nos acréscimos serviu Guerrero para marcar o quarto gol do camisa nove no torneio continental, o 11º em 17 partidas pelo novo clube.

Atacante que enfrenta seu ex-clube nas quartas. O Flamengo de Jorge Jesus que conseguiu o que parecia improvável no Maracanã com mais de 67 mil presentes. Nem tanto pela força do Emelec, mas pela instabilidade que o time rubro-negro vinha apresentando em jogos grandes, especialmente na Libertadores.

Reverter os 2 a 0 construídos em Guayaquil com o time desfalcado, de fato, era uma missão dura. Mas a equipe facilitou com ótimo desempenho no primeiro tempo. O pênalti marcado, sem confirmação com auxílio do VAR, pelo argentino Nestor Pitana sobre Rafinha e convertido por Gabriel Barbosa não aconteceu e o gol logo aos nove minutos criou o clima perfeito no estádio. Mas o Flamengo jogou para fazer 2 a 0.

Na jogada mais bem construída aos quatro minutos, Arão encontrou Everton Ribeiro livre às costas do meio-campo adversário e este acionou Renê por dentro. Passe do lateral para Gabriel Barbosa chutar em cima do goleiro Dreer e isolar no rebote. Foram dez finalizações nos primeiros 45 minutos, inclusive a do "Gabigol" completando assistência de Bruno Henrique aos 18. Jogada de força, velocidade e inteligência pela esquerda para servir o artilheiro da temporada no Brasil: 22º em 33 partidas.

Atuação sólida com pressão no campo de ataque, apoio constante dos laterais Rafinha e Renê, combinando com Everton Ribeiro e Gerson, os meias abertos do 4-1-3-2 de Jesus que contou com Willian Arão sempre bem posicionado por dentro, auxiliando Cuéllar na distribuição e na proteção da zaga reserva que virou titular: Thuler e Pablo Marí herdaram as vagas de Léo Duarte, negociado com o Milan, e do lesionado Rodrigo Caio e mostraram segurança na única partida sem ser vazada sob o comando do treinador português.

Mesmo com o sofrimento da segunda etapa. Quando o cansaço bateu, o Emelec avançou as linhas e só não deu mais trabalho a Diego Alves porque apenas uma conclusão foi no alvo. As substituições de Jesus por necessidade também desorganizaram o time: Everton Ribeiro deu lugar a Arrascaeta – ambos relacionados no sacrifício pela importância do jogo – e ainda Berrío substituindo o exausto Gerson e o menino Reinier entrando na vaga de Gabigol, que sentiu a coxa.

Foram só mais quatro finalizações, com a chance mais clara caindo nos pés do jovem Thuler, que completou para fora livre na área. Na decisão por pênaltis havia o temor pelo cansaço e por conta da perda de bons batedores, além do trauma do revés contra o Athletico pela Copa do Brasil no mesmo contexto. Mas a energia das arquibancadas ajudou De Arrascaeta, Bruno Henrique, Renê e Rafinha nas cobranças e Diego Alves garantiu pegando o chute de Arroyo e colocando muita pressão em Queiroz, que carimbou o travessão.

Agora é recuperar os lesionados e estrear Filipe Luís para chegar forte no confronto com o Inter. Ida no Maracanã, volta no Beira-Rio. No duelo entre o trabalho consolidado do time gaúcho – mais fortalecido no momento até em relação aos mais longevos na Série A, de Renato Gaúcho no Grêmio e Mano Menezes no Cruzeiro – e o mais promissor do país. O Flamengo do elenco qualificado e mais equilibrado sob o comando de Jorge Jesus.

Treinador com conceitos atuais dentro da vocação ofensiva do clube e transmitindo mais segurança e personalidade para enfrentar dificuldades. Mais sangue nos olhos e menos "banana". Que supera a barreira das oitavas do torneio continental, o que não acontecia desde 2010. Time para rivalizar com os gaúchos em duelo mais que equilibrado e já cercado de expectativas. As partidas acontecem nos dias 21 e 28 de agosto.

(Estatísticas: Footstats)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.