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André Rocha

Com Juanfran no São Paulo, Cuca pode resgatar figura do "lateral-zagueiro"

André Rocha

06/08/2019 07h30

Imagem: Divulgação/São Paulo FC

Aos 34 anos, Juanfran é mais um veterano a deixar o futebol europeu e vir para o Brasil. Vai jogar no São Paulo com Daniel Alves e pode acrescentar mentalidade forte, concentração defensiva e ótimo posicionamento na última linha pela direita na equipe comandada por Cuca. Contrato até o fim de 2020.

Com o defensor espanhol, o treinador pode pensar em resgatar uma figura muito presente em seus times: a do "lateral-zagueiro". Ou lateral-base. Aquele que guarda mais o seu setor junto com os zagueiros liberando o lado oposto para o apoio.

A função não é nova. A seleção do tricampeonato em 1970 tinha Everaldo contido pela esquerda para Carlos Alberto Torres descer à direita. No Real Madrid "galáctico" da virada do século, Michel Salgado ficava mais preso à retaguarda e Roberto Carlos ganhava mais liberdade. Compensação natural do futebol.

Cuca, porém, seguia uma lógica "bielsista". A mesma de Jorge Sampaoli, também discípulo de Marcelo Bielsa, no Santos para variar linha de três ou quatro na defesa. Por exemplo, no Botafogo de 2007 era Luciano Almeida quem fazia a lateral quando o adversário atuava com um ou três atacantes e ficava mais fixo como terceiro zagueiro ao enfrentar uma dupla de ataque para garantir a sobra na defesa.

Era o 3-4-3 do "carrossel" alvinegro, com Joilson como ala pela direita fazendo dupla com Zé Roberto na ponta, Túlio e Leandro Guerreiro como os volantes, Lúcio Flávio na articulação, Dodô no centro do ataque e Jorge Henrique fazendo o corredor esquerdo completo. O time que disputou o título carioca com o Flamengo e a liderança do Brasileiro no primeiro turno com o São Paulo de Muricy Ramalho.

O 3-4-3 de Cuca em 2007: Luciano Almeida como lateral-zagueiro dando liberdade a Joilson do lado oposto e Jorge Henrique fazendo todo corredor pela esquerda (Tactical Pad).

Ideia semelhante foi implementada no Atlético Mineiro campeão da Libertadores em 2013: Marcos Rocha mais liberado pela direita, Richarlison descendo menos e fazendo companhia a Leonardo Silva e Réver. Pierre e Leandro Donizete na proteção, Ronaldinho articulando para Tardelli pela direita e Jô como centroavante. Bernard fazia a função mais sacrificante, indo e voltando pela esquerda.

No São Paulo, Cuca pode fazer o mesmo, porém mudando o eixo defensivo. O lateral-zagueiro seria Juanfran pela direita, dando mais liberdade a Reinaldo do lado oposto. Caberia a Antony fazer o corredor do lateral mais fixo. Na ponta esquerda, Alexandre Pato ou Everton e Raniel ou Pablo no centro do ataque.

A diferença principal em relação a Botafogo e Atlético seria nas características dos volantes. Agora Cuca prefere jogadores que marquem, mas também joguem. Um trio com Tche Tche, Liziero e Daniel Alves poderia entregar uma dinâmica bem interessante ao meio-campo, inclusive com trocas de funções ao longo dos jogos. E Dani Alves e Tche Tche dando suporte a Antony no ataque pela direita.

Uma das formações possíveis do São Paulo de Cuca, com Juanfran contido pela direita, Antony fazendo o lado direito com apoio de Daniel Alves ou Tche Tche e Reinaldo com liberdade para atacar como ala pela esquerda (Tactical Pad).

Uma entre as muitas possibilidades que o inquieto e criativo Cuca deve testar em treinos e jogos. A boa notícia para o técnico é que ganha mais uma opção com personalidade e experiência internacional para tornar o São Paulo mais competitivo no Brasileiro.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.