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André Rocha

Virada do São Paulo na persistência de uma ideia. Alerta para o Santos

André Rocha

10/08/2019 19h11

A ideia de Cuca para o "San-São" no Morumbi ficou clara desde o primeiro minuto: intensidade, pressão na marcação adiantada e transição ofensiva rápida para deixar o Santos desconfortável na saída de bola. Também a força na bola parada, que já poderia ter dado certo no primeiro tempo em cabeçada perigosa de Raniel.

Como sempre, os encaixes do treinador para negar espaços, especialmente no meio-campo: Everton apertando Diego Pituca, Tche Tche contra Felipe Jonathan, Luan sobre Sánchez. Mais Toró pela direita voltando com Jorge e Pato ficando com Lucas Veríssimo, zagueiro atuando como lateral em uma linha de quatro a partir da leitura de que o tricolor não enfiaria uma dupla de atacantes.

O mérito da equipe de Jorge Sampaoli no primeiro tempo foi não perder a calma e ir se aprumando no jogo. Deixando Derlis González, Eduardo Sasha e Soteldo na frente prontos para os contragolpes e aos poucos desmontando os encaixes de Cuca. Especialmente de Jonathan às costas de Tche Tche em duas finalizações.

Até Pituca ganhar confiança para se adiantar, descolar da perseguição de Everton e chutar com categoria na trave. No rebote, o gol de Sasha no final do primeiro tempo. O sétimo do artilheiro santista no Brasileiro. A terceira finalização no alvo das sete em 45 minutos. O São Paulo acertou apenas uma na direção de Everson em nove.

Na volta do intervalo, a mesma proposta tricolor, mas com Hernanes na vaga de Luan. Até porque foram duas semanas de trabalho pensando apenas no confronto com o líder. Faltava a precisão na finalização. Até a bola parada funcionar. Primeiro com Pato empatando ao completar desvio em cobrança de escanteio. Depois no pênalti com Aguilar desviando a bola com o braço, também no tiro de canto. Reinaldo converteu e o São Paulo virava em 11 minutos.

O Santos murchou. Deu a impressão de voltar desconcentrado para a segunda etapa e pagou caro com a eficiência do oponente. Em mais um vacilo de Aguilar, o terceiro gol em contragolpe para consagrar Pato. Personagem do clássico, não por uma grande atuação, mas pela entrega acima da média do atacante. A fibra era parte importante do plano de jogo para trazer a torcida junto. O "abafa" obrigou o Santos a apelar 29 vezes para os lançamentos e 37 para rebatidas.

Ainda assim, com Marinho, Jean Mota e Evandro nas vagas de Derlis, Felipe Jonathan e Sánchez, o Santos seguiu atacando e diminuiu com um inusitado gol contra de Raniel. Com Hudson na vaga de Hernanes, que se lesionou depois de apenas 15 minutos em campo, e depois Vitor Bueno no lugar de Pato, ovacionado pela torcida, o São Paulo segurou o resultado com firmeza de propósito.

A persistência foi a grande virtude do time que parou o líder, que estava invicto há oito jogos. Encerrando jejum de vitórias em clássicos que já durava um ano. Terceira vitória consecutiva na competição. Difícil fazer qualquer associação a uma mudança de clima pelas contratações de Daniel Alves e Juanfran. Mas a força mental em jogo tão importante é animadora.

O revés deve servir de alerta para o Santos. Com a liderança, o foco e a resistência dos adversários serão maiores. A margem de erro precisa ser menor e a concentração alta, até pela dedicação total ao Brasileiro. Onze minutos de desatenção nas bolas paradas foram fatais.

(Estatísticas: Footstats)

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.