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André Rocha

Agora no Bayern, dilema segue o mesmo: onde encaixar Philippe Coutinho?

André Rocha

26/08/2019 06h14

Foto: Guido Kirchner/AFP

Em duas rodadas de Bundesliga, o líder é o Borussia Dortmund com 100% de aproveitamento, não o heptacampeão Bayern de Munique, que empatou em casa na estreia por 2 a 2 com o Hertha Berlin. Mas se recuperou fora com os 3 a 0 sobre o Schalke O4. Robert Lewandowski marcou os cinco gols da equipe e já é o artilheiro da competição.

Mas a atração na Veltins-Arena em Gelsenkirchen foi a estreia de Philippe Coutinho. Saindo do banco de reservas para entrar aos 12 minutos do segundo tempo na vaga de Thomas Muller. Tranquilo pela vantagem conquistada, teve relativa liberdade para tentar articular as jogadas. Sofreu com o natural desentrosamento, mas participou bem. Segundo o site Whoscored, só errou três dos 28 passes que tentou. Mais três dribles corretos e um desarme.

Com a camisa dez que herdou de Arjen Robben – e teve a "benção" do holandês, já que o clube pretendia não utilizar o número em homenagem ao craque aposentado -, Coutinho chega para o empréstimo de uma temporada como a esperança de ser a reposição a James Rodríguez, que voltou para o Real Madrid.

A questão continua sendo a mesma do Barcelona e, de certa forma, também da seleção brasileira: em qual função o brasileiro se encaixa melhor?

No time catalão chegou como a esperança de ser um sucessor mais intenso e vertical de Andrés Iniesta, que na época da chegada de Coutinho, meio da temporada 2017/18, atuava como uma espécie de "ponta articulador" partindo da esquerda para organizar e abrir o corredor para Jordi Alba. Não teve sucesso pelo já conhecido problema de posicionamento e intensidade no trabalho sem bola.

O Barça contratou Arthur e Vidal na virada para 2018/19 e Coutinho virou ponta pela esquerda. Mas com a função de dar profundidade, infiltrando em diagonal, já que Messi faz a função de armador partindo do flanco pela direita. Nem mesmo o entendimento com Suárez dos tempos de Liverpool ajudou. Para piorar, provocou a torcida e, com a eliminação na Liga dos Campeões justamente para o ex-time com uma atuação patética em Anfield, decretou a sua saída pela porta dos fundos, ainda que não em definitivo.

Na seleção com Tite, o início foi até bom pela direita, já que Neymar é absoluto do lado oposto. Mas a necessidade de ter um jogador mais intenso e capaz de abrir o jogo, com Daniel Alves atacando mais por dentro, acabou puxando Coutinho para o centro na linha de meias. Não extrai o melhor dele no 4-1-4-1, nem no 4-2-3-1. Não fez uma Copa do Mundo ruim, nem decepcionou na campanha do título da Copa América, mas sempre deixa a impressão de que seu talento é subaproveitado.

A melhor opção continua sendo a ponta esquerda. De preferência com um lateral forte no apoio ao lado, um centroavante técnico para tabelar e um ponteiro de velocidade do lado oposto. Mais ou menos como funcionava com Mané e Firmino no Liverpool. Depois recuou como meia para Salah entrar no ataque, mas sempre com espaço para tocar curto ou cortar para dentro e finalizar.

No time bávaro é possível formar um trio interessante com Lewandowski no centro e Coman ou Gnabry pela direita. Mas o treinador Niko Kovac sinaliza com a possibilidade de trabalhar com Coutinho na linha de meias mesmo, alternando com Muller, ídolo do clube. Até porque o elenco ainda conta com Perisic, croata vice-campeão mundial e contratado à Internazionale por empréstimo que também joga pelas pontas.

Coutinho precisa amadurecer e buscar afirmação, independentemente do posicionamento em campo. Evoluir defensivamente e no trabalho de articulação, com mais pausas e menos pressa de decidir as jogadas. Atuando no gigante alemão pode encontrar na liga intensa, mas nem tão competitiva, o estágio para se afirmar e colaborar com o clube no grande objetivo da temporada: voltar a ser competitivo em alto nível na Champions. Ainda que desde a conquista de 2012/13 o Bayern tenha caído para o campeão em cinco das seis disputas, na maioria em disputas parelhas – algumas com polêmicas de arbitragem.

É o desafio do brasileiro na Alemanha. Tite certamente está atento, o Barcelona também. Chegou a hora de se consolidar de vez na Europa.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.