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André Rocha

Flamengo vence no talento que sobra, mas Santos deixa boas lições coletivas

André Rocha

14/09/2019 19h31

Velocidade, dribles e quase um golaço de Bruno Henrique no segundo tempo, jogadas mágicas de Everton Ribeiro que compensaram a pouca inspiração do desgastado De Arrascaeta, os passes sempre objetivos de Rodrigo Caio, Pablo Marí e Filipe Luís, a onipresença de Gerson no meio-campo com o auxílio luxuoso de Willian Arão, a grande recuperação do trabalho de Jorge Jesus até aqui.

Acima de tudo, o gol antológico de Gabriel Barbosa encobrindo Everson após belo lançamento de Everton Ribeiro. O Flamengo venceu no Maracanã à base do talento que vem sobrando no Brasileiro. Não que Jorge Jesus não tenha enorme mérito na liderança isolada fechando o primeiro turno do Brasileiro. O trabalho do treinador português é excelente para quase três meses, mas está no começo.

Jorge Sampaoli está no Santos desde o início de 2019 e a equipe paulista mostrou ligeira superioridade na força coletiva ao longo dos 90 minutos. Mesmo exagerando nas faltas no início, principalmente sobre Bruno Henrique, e depois nas reclamações contra a arbitragem, aditivada pelos surtos do técnico argentino à beira do campo.

A escolha do técnico foi pelo 4-3-3 com Luan Peres, a surpresa na escalação, na lateral esquerda. Jorge foi adiantado para o meio-campo, alinhando com Carlos Sánchez à frente de Alison. No ataque, Marinho pela direita com Sasha e Soteldo, o melhor santista dando trabalho para Rafinha e Rodrigo Caio. Organização, intensidade, volume de jogo.

Mantidos durante toda partida, mesmo com as entradas de Felipe Jonatan, Cueva e Uribe. O elenco tem limitações, mas é homogêneo. Fruto de um trabalho mais consolidado. Simbólico que Jorge Jesus tenha esperado 37 minutos do segundo tempo para trocar De Arrascaeta por Berrío e aos 44 tirar Filipe Luís e colocar Renê. Talvez por ainda não confiar plenamente nas opções e temer desorganizar ou criar um elo fraco na equipe que se ajustou rapidamente sem Cuéllar.

A intensidade da disputa com espírito de decisão fizeram as equipes errarem mais que o habitual. Sessenta e um passes errados do Fla, quarenta e sete do Santos, que terminou com mais posse: 52%. Faltou a contundência. Apenas sete finalizações, nenhuma no alvo. Os rubro-negros também não foram muito eficientes: de doze finalizações, só duas na direção da meta de Everson.

O detalhe decidiu: passe errado de Sasha que parou nos pés de Everton Ribeiro e do meia para Gabriel ir às redes pela 16ª vez na competição, trigésima na temporada que já é a melhor da carreira. A comemoração apoteótica foi mais uma prova da simbiose da torcida com o atacante. Também com o time e com o treinador, ovacionado no apito final.

Mas é preciso evoluir como equipe. Em alguns momentos falta fluência na frente. Assim como a saída de bola fica insegura quando bem pressionada e Diego Alves apelou algumas vezes para o chutão, devolvendo a bola para o adversário. Por outro lado, a pressão na frente rendeu alguns bons contragolpes que poderiam ter aumentado a vantagem. Sem contar as variações táticas, com Bruno Henrique começando na ponta, depois passando para o ataque revezando com Gabriel e Everton Ribeiro circulando por todo campo.

A boa notícia para o líder do Brasileiro é que setembro não é mês para o time atingir o auge. Cada partida é um aprendizado e o Santos, disparado o adversário mais competitivo desta sequência de seis vitórias no campeonato por pontos corridos, deixa boas lições coletivas que podem ser muito úteis mais à frente, especialmente na Libertadores.

O jogo foi grande e a resposta do Flamengo, que falhou tantas vezes em situações semelhantes, foi concentração e espírito de final. Sem contar o talento, sempre fundamental.

(Estatísticas: Footstats)

 

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.