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André Rocha

Agora é a excelência do Flamengo contra o "know-how" dos grandes rivais

André Rocha

20/09/2019 08h41

Foto: Ueslei Marcelino / Reuters

O primeiro turno do Brasileiro terminou com o Flamengo sobrando mais no desempenho do que na tabela de classificação. Especialmente nas últimas seis rodadas com 100% de aproveitamento, bom futebol e a maturidade apresentada na vitória por 1 a 0 sobre o Santos no Maracanã que confirmou o "título". Mas objetivamente são três pontos de vantagem sobre o Palmeiras e cinco sobre os santistas.

O segundo turno será uma maratona de 19 rodadas em 78 dias. Desgaste absurdo adicionando aos jogos seguidos as longas viagens em um país de dimensões continentais. Uma enorme prova de resistência, colocando em xeque não só a qualidade dos elencos, mas também o condicionamento físico e a capacidade mental. É outro campeonato.

Com o Fla de Jorge Jesus como favorito, mas um grande concorrente: o Palmeiras que desenvolveu uma cultura de vitória nos pontos corridos. Paradoxal para um clube que nas últimas temporadas priorizou os torneios de mata-mata. Atual campeão brasileiro, vencedor também em 2016 e vice em 2017, atrás apenas do rival Corinthians. Com Dudu como maior símbolo desse período, falhando em jogos eliminatórios decisivos, mas fazendo a diferença na liga.

Tem elenco, estrutura e um pouco menos de pressão que os rubro-negros pelo título. Ainda o foco total na competição nacional, a última possibilidade de conquista em 2019, e o confronto direto em São Paulo. No início e no final de outubro, duas semanas "cheias" de trabalho por conta das pausas para as semifinais da Libertadores.

Justamente a outra frente do Flamengo. Pela primeira vez no formato de mata-mata, já que em 1984 a fórmula de disputa era diferente, com dois grupos de três times e os vencedores fazendo a decisão. Agora enfrentando o Grêmio de Renato Gaúcho. Campeão em 2017 e semifinalista no ano passado, eliminado no gol "qualificado" pelo River Plate. Um clube de forte espírito copeiro e que não tem vergonha de virar as costas para o Brasileiro, fazendo campanhas bem abaixo do potencial da equipe.

Mas muito madura para ser outro grande obstáculo para o "intruso" Flamengo, que, ainda que passe pelo tricolor gaúcho, terá pela frente na grande final sul-americana nada menos que o vencedor de Boca x River. Pela primeira vez em jogo único, marcado para o dia 23 de novembro, em Santiago (Chile).

Os argentinos somam dez títulos de Libertadores e muita vivência na competição. A decisão sem ida e volta será novidade, mas, ao menos em tese,  o vencedor, que já chegará com muita moral por ter superado um dos maiores clássicos do mundo, levará uma grande vantagem psicológica nesse tipo de disputa com o Flamengo.

Mesmo considerando a experiência em competições de alto nível de jogadores como Diego Alves, Rafinha e Filipe Luís e do próprio Jorge Jesus, que disputaram Liga dos Campeões e jogos grandes contra os principais técnicos e jogadores da Europa e do planeta, é um enorme desafio para o Flamengo.

Com um agravante que tem passado batido nas análises sobre o time carioca. O elenco perdeu opções com a lesão de Diego Ribas, a saída de Cuéllar e a tentativa frustrada de contratar um centroavante típico, peça solicitada por Jesus. No sábado passado, diante do Santos de Jorge Sampaoli em jogo muito intenso, o treinador português só foi fazer a primeira substituição aos 37 do segundo tempo, trocando o desgastado Arrascaeta por Berrío. Aos 44 tirou Filipe Luís e colocou Renê e nem houve tempo para entrar Piris da Motta, que já estava à beira do campo.

Faltou confiança no elenco pelo tamanho do jogo? Colocar Piris contra o Ceará e Reinier diante do Avaí é menos complicado. Na volta das quartas contra o Inter foi preciso apelar para Cuéllar, já de saída do clube, substituir o suspenso Willian Arão. Agora o clube corre atrás do colombiano Fredy Guarín para o meio-campo, porque a carência é evidente. Ainda mais nesse cenário de jogos a cada três dias até o início de dezembro e ainda as datas FIFA de outubro e novembro que vão desfalcar o time.

Não será fácil. E aí é preciso entrar em um território pantanoso na análise sobre futebol no Brasil: o reconhecimento do mérito dos adversários. Por aqui quem perde é sempre um fracassado e vilões são criados para descarregar a "culpa". Mas o Flamengo pode manter um bom nível de atuações, mesmo com oscilações naturais pelo contexto, e ainda assim ficar sem o título relevante tão sonhado desde 2013, quando começou a recuperação administrativa e financeira, aumentando a cada ano a capacidade de investimento.

Pela qualidade dos concorrentes. Palmeiras nos pontos corridos, Grêmio e os argentinos na Libertadores. Nenhuma vergonha ser superado por eles, mesmo para um time milionário e que vem conseguindo transformar dinheiro em bom futebol. Com os gols de Gabriel Barbosa, a velocidade de Bruno Henrique, a qualidade no meio-campo e a defesa que cresceu demais com as contratações. Hoje um time sem pontos falhos, no entanto pode sucumbir.

Será uma disputa emocionante entre a excelência do Flamengo e o "know-how" dos grandes rivais, no país e no continente. Quem levará a melhor?

 

 

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.