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André Rocha

Messi é o melhor do mundo, mas voltará a ter o grande time do planeta?

André Rocha

24/09/2019 08h15

Foto: Divulgação / FIFA

Messi fez 51 gols e entregou 19 assistências em 50 partidas na última temporada. Números fantásticos que justificam o prêmio "The Best" da FIFA, mesmo sem vencer a Liga dos Campeões. A UEFA preferiu seguir a linha de consagrar o melhor jogador do campeão da Champions e Van Dijk foi a estrela de 2018/19.

Premiações individuais são interessantes dentro da máquina de marketing do futebol e de qualquer esporte. Alimentam o público com heróis, grandes personagens. E estamos mesmo na era Messi x Cristiano Ronaldo. Pior para o português, artilheiro e estrela máxima do tricampeonato europeu do Real Madrid, que viu o companheiro Luka Modric tirar o que seria a sexta premiação porque resolveram quebrar a longa sequência da dupla que vinha desde 2008.

Logo com um jogador que não foi sequer o melhor do meio-campo do seu time na temporada passada –  Toni Kroos teve números superiores – e nem o craque indiscutível da Croácia vice da Copa do Mundo, já que Perisic também fez um torneio espetacular, sendo mais decisivo.

Mas o que será lembrado no futuro é a maior rivalidade de craques da história do futebol, independentemente de quantas estatuetas ou troféus cada um levou e provavelmente ainda levará para casa. Só que, paradoxalmente, a fase do esporte que consagra os gênios é a de maior importância do trabalho coletivo.

Times são cada vez mais organismos complexos, interligando setores e ao mesmo tempo criando o caos na movimentação intensa que dificulta até a observação da distribuição dos atletas em campo. O Manchester City de Pep Guardiola pode transformar o 4-3-3 em 2-3-5, assim como o Liverpool de Jurgen Klopp e agora o Atlético de Madrid de Diego Simeone avançam os laterais como pontas e aproximar os atacantes em uma zona de finalização.

Intensidade, pressão pós-perda, amplitude, profundidade, compactação, circulação da bola. Termos atuais que, por mais que recebam críticas, acabam escapando da boca até dos mais puristas ou saudosistas mesmo. Porque fazem parte da realidade no campo de jogo na luta feroz pelos espaços cada vez mais escassos.

E nesse cenário existe Messi. Um talento puro em meio aos atletas, embora obviamente ele também cuide muito da parte física. Mas nem é preciso recorrer aos números para ver que o argentino joga normalmente em uma intensidade abaixo dos demais. Percorre menos quilômetros entre os jogadores de linha. Caminha, às vezes trota em campo e só acelera com a bola ou ao se desmarcar para recebê-la.

O tempo acoplou o minimalismo a Messi, mas com uma inteligência rara. Ele aproveita bem cada momento com a bola. Passando, driblando ou finalizando, inclusive adicionando as cobranças de falta ao repertório qualificado. Arma e conclui com muita qualidade e precisão nos gestos técnicos. Um estilo único.

Mas necessita de um time armado para ele. No Barcelona e na Argentina. Companheiros têm que reagir rapidamente à perda da bola para compensar a pouca participação do camisa dez na transição defensiva. Messi precisa de liberdade para ele e, pelo menos, mais um companheiro de ataque: o mais avançado para receber seus passes ou se deslocar, atraindo a marcação, para que ele venha da direita para dentro, sua faixa de campo preferida, criando ou finalizando.

No clube tem funcionado na liga espanhola e na Copa do Rei, apesar da derrota para o Valencia na temporada passada. Na Champions a coisa caminhou bem até que o jogo mais físico e urgente de Roma e Liverpool, precisando reverter placares elásticos construídos na ida no Camp Nou, simplesmente atropelassem o time catalão. Tirando o jogo do ritmo muito particular que beneficia Messi.

É claro que Ernesto Valverde não colabora para tornar o Barça competitivo em altíssimo nível e a reposição de Piqué e Busquets, por exemplo, não é tão simples em desempenho e simbolismo para o clube. Já na seleção a balbúrdia permanente na AFA praticamente inviabiliza um projeto vencedor. A chance foi em 2014 e Messi parou na Alemanha no Maracanã.

Agora a volta aos poucos de lesão, com a pré-temporada comprometida e um Barcelona que tenta encaixar Griezmann na frente e reoxigenar o meio-campo com Frenkie De Jong. O início de temporada é o pior em 25 anos e o time blaugrana não consegue vencer fora de casa. Tudo parece à espera da estrela maior. Será que ele aguenta aos 32 anos carregar a equipe nas costas novamente?

A grande questão, porém, é se Lionel Messi voltará a ter o grande time do planeta ou seguirá sucumbindo a equipes e seleções alinhadas ao que se faz de mais atual no futebol. O ritmo alucinante e a intensidade máxima da "Era Klopp" engolem coletivamente um dos maiores da história já na reta final da carreira. Na temporada passada ele tirou alguns coelhos da cartola para compensar até onde deu. Como será daqui para frente?

Difícil prever. E ainda tem o inesgotável Cristiano Ronaldo à espreita para tentar empatar de novo a disputa na FIFA. Com títulos e maior participação coletiva na Juventus e na seleção portuguesa. O futuro é bem duvidoso, mas talvez o erro seja questionar tanto. Melhor desfrutar enquanto essas lendas estão em campo.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.