O estranho desconforto do Flamengo com tudo tão favorável
Logo depois dos 3 a 1 do Flamengo sobre o Internacional, aumentando o recorde do clube e igualando o do Cruzeiro 2003 no Brasileiro com oito vitórias seguidas, Gabriel Barbosa, na saída do gramado do Maracanã, comentava em entrevista para o Premiere sobre os problemas que o time encontrou para enfrentar o time colorado depois das expulsões de Bruno e Paolo Guerrero, ainda no primeiro tempo:
"Foi um jogo atípico com as duas expulsões. Tão inusitado que a gente nem treina assim, com essa vantagem. Eles acharam um gol por desatenção nossa, mas depois conseguimos controlar e fazer os gols", explicou o atacante.
De fato, foi muito inusitado ver uma equipe ofensiva e de boa técnica cumprindo sua pior atuação nessa sequência de triunfos justamente quando tinha tudo tão favorável: estádio cheio, torcida quente, adversário em frangalhos emocionalmente e se defendendo com as duas linhas de quatro que restaram a Odair Hellmann. Oito na linha e Marcelo Lomba na meta. Desmontando o 4-1-4-1 que teve Nonato no meio e Patrick aberto pela esquerda.
Mesmo uma equipe de jogadores e treinador rodados, muitos com vivência no futebol europeu, pode se complicar diante da obrigação de se impor. Aumentando ainda mais o favoritismo e, consequentemente, a responsabilidade de vencer e até a obrigação de aplicar uma goleada. Sempre mexe com o emocional.
O início do segundo tempo, com um a zero de vantagem no pênalti sofrido e convertido por Gabriel, teve o Fla relaxado demais, desconcentrado. Talvez pela primeira etapa tão frenética quanto a arbitragem de Luiz Flávio de Oliveira. Pênalti marcável de Bruno em Gabriel, expulsão cabível, mas exagerada, do lateral com 17 minutos de jogo. Nunca saberemos se no Beira-Rio a decisão seria a mesma, assim como é difícil imaginar o absurdo pênalti anotado sobre Pedro Rocha a favor do Cruzeiro contra o Flamengo no sábado sendo marcado no Maracanã. A arbitragem no mundo todo tende a ser caseira, sabemos bem.
Este que escreve viu falta de Rodrigo Caio sobre Guerrero na área rubro-negra, apesar de todo o "teatro" do camisa nove do time gaúcho, pouco antes do surto do peruano ofendendo o quarto árbitro e levando vermelho direto. O sangue no rosto não é garantia de agressão do adversário – Rodrigo Caio também se lesionou na disputa – e o destempero de um jogador tão experiente é injustificável.
Willian Arão e Rodrigo Caio disputaram com "pé mole" a bola com Patrick e o Inter empatou no chute de Edenilson. Poderia transformar a disputa em David x Golias e igualar um jogo que parecia resolvido. A apreensão e o medo do vexame chegaram a cortar o ar. Mas o cruzamento de Rafinha na cabeça de Arrascaeta voltou a descomplicar e, com o Inter exausto de tanto correr atrás, Bruno Henrique fechou o placar em assistência do uruguaio.
O Flamengo terminou o jogo com Gerson, Berrío, Everton Ribeiro, Reinier, Vitinho e Bruno Henrique. Mais os laterais Rafinha e Filipe Luís apoiando ao mesmo tempo. 67% de posse, 20 finalizações contra duas. Em nenhum momento, porém, transmitiu total confiança no desempenho. Cruzou 31 bolas, um número alto mesmo para quem tem média de 25 por jogo.
Não havia necessidade de pressa nem descompasso, mas o Flamengo de Jesus não foi bem. Curiosamente, foi melhor no primeiro tempo, com apenas um homem a mais e execução mais equilibrada do 4-4-2 com Bruno Henrique próximo de Gabriel e Everton Ribeiro e De Arrascaeta pelos lados. No apito final, os colorados se cumprimentaram até com mais entusiasmo, mesmo derrotados. Apesar da festa da torcida para atletas e Jorge Jesus, o clima era de alívio. A fala de Gabriel deixa claro: o estranho desconforto deve servir de alerta.
Independentemente de treinar ou não contra nove homens, time que busca grandes títulos não pode dar a mínima chance a um oponente tão vulnerável. Mesmo o Inter digno e abnegado no Maracanã.
(Estatísticas: Footstats)
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