O campeonato brasileiro do mimimi existe desde sempre
"O futebol brasileiro é uma armação contra o meu time, mas continuo torcendo/treinando/dirigindo/jogando porque quando eu vencer será contra tudo e contra todos". Eis o resumo do pensamento vigente de praticamente todos os agentes do esporte no país: torcedores, técnicos, dirigentes e atletas.
É assim desde que este blogueiro acompanha futebol. Todos os times lendários foram campeões com acusações de favorecimento. Flamengo de Zico, São Paulo de Telê Santana, Palmeiras da Parmalat, Corinthians de Luxemburgo…O curioso é que muitos ainda na ativa que diziam que essas equipes só ganhavam "roubado", agora, entregues ao saudosismo, exaltam os esquadrões.
Mesmo os campeões recentes, como o São Paulo tricampeão brasileiro, o Cruzeiro bi, o Corinthians de Tite e o Palmeiras vencedor em 2016 e 2018, ganham asteriscos dos rivais. Beneficiados por CBF, arbitragem, TV Globo…E os torcedores campeões, claro, têm certeza de que venceram superando a "armação" para um rival alinhado com os poderosos. Quer reclamar? "Chola mais". Em tempos de redes sociais isso se amplifica ainda mais.
Agora o Palmeiras reclama do gol anulado no final do empate por 1 a 1 com o Internacional no Beira-Rio. Lance polêmico porque o texto da nova orientação cria uma espécie de prioridade na marcação: caso o atacante toque com mão ou o braço, mesmo involuntariamente, o lance deve ser invalidado. Na disputa, porém, houve uma carga no Willian Bigode e também toque no braço do zagueiro Klaus.
A arbitragem deu vantagem, Bruno Henrique fez o gol que seria o da virada. Analisando todo o lance com o VAR, o toque de Willian anulou o ataque. Bem discutível. Mas é motivo para sugerir uma grande conspiração a favor do Flamengo, como fizeram Mano Menezes e o presidente Maurício Galiotte?
O mesmo Fla que protestou na semana passada, com Jorge Jesus e o diretor de futebol Marcos Braz, por conta da convocação de Rodrigo Caio e Gabriel Barbosa, além de Reinier para a sub-17, e sugerindo nas entrelinhas favorecimento aos concorrentes que tiveram apenas um ou nenhum chamado, inclusive o Palmeiras. Munição para torcedores colocarem todas as suspeitas possíveis sobre o campeonato.
A grande questão é: se acreditam mesmo em algo encomendado por que ainda participam/ acompanham a competição? Ou a intenção é só reclamar mesmo? Para ser beneficiado mais à frente ou, se tudo der errado, já ter "argumentos" para rebater as provocações do vencedor e encobrir os próprios erros?
A única certeza é que a mesma vontade de protestar não se vê na disposição de resolver os problemas. Profissionalizar a arbitragem? Para quê? Não há interesse, até porque o que seria da maioria dos debates sem os erros dos apitadores, VAR incluso. Imagine passar duas horas falando apenas sobre…futebol!
Discutir o calendário para que as datas FIFA sejam respeitadas? Não, bem mais cômodo chorar e transferir responsabilidades. Sem contar que os estaduais salvam o ano de muitos times que se dizem grandes, mas não têm a mínima capacidade de disputar os grandes títulos. Por incompetência administrativa e, muitas vezes, corrupção mesmo. No entanto é mais fácil culpar a receita de TV ou o patrocínio "suspeito" dos clubes dominantes.
Todos querem a bengala, o colo quentinho e macio para abrir o berreiro. É o campeonato brasileiro do mimimi que sempre existiu. Talvez reclamassem lá no passado do domínio do Vasco "Expresso da Vitória", do Santos de Pelé, do Botafogo de Garrincha, do Palmeiras da Academia, do Cruzeiro de Tostão, do Internacional de Falcão…O esporte preferido por aqui é o chororô. Quem será a vítima na próxima rodada?
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