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André Rocha

Willian Arão, Reinier e o progresso com Jesus no Flamengo

André Rocha

08/10/2019 07h06

Imagem: Reprodução / Premiere

 

– Tá mal, Arão!

Os gritos de Jorge Jesus no jogo-treino contra o Madureira corrigindo o posicionamento de Willian Arão no período de preparação do Flamengo na pausa para a Copa América ganharam destaque no noticiário. Os otimistas viam na bronca pública uma espécie de quebra de paradigma no trato com um elenco tantas vezes acusado de mimado, avesso às críticas e chegado a um paternalismo. Já os mais céticos temiam uma fritura rápida no vestiário do técnico português por expor os jogadores.

Este que escreve, para variar, fazia parte do grupo mais desconfiado – leia AQUI uma análise na véspera da estreia de Jesus. Errou! A turma do copo meio cheio desta vez acertou na mosca. Porque Arão é o símbolo da evolução do Flamengo depois da troca no comando técnico.

Quem diria no início de julho que o outrora contestado meio-campista se adaptaria tão bem à função de proteger a defesa fazendo o então ídolo Cuéllar hoje só deixar saudades em boa parte da torcida como uma opção para fortalecer o elenco? As estatísticas são reveladoras: Willian Arão tem 92% de aproveitamento nos passes e média de 2,3 desarmes por jogo, ficando entre os dez primeiros no Brasileiro. Sem contar as cinco assistências para gols e 22 para finalizações.

Mas o que chama atenção mesmo é a mudança radical no comportamento em campo. Concentração total e reação imediata assim que o time perde a bola para pressionar o adversário. Muito longe do atleta pouco intenso e disperso de outros tempos. Nem mesmo quando avança o posicionamento com Piris da Motta em campo o rendimento cai. É outro jogador!

Por isso é difícil condenar ou fazer ressalvas à contundência do técnico com o jovem Reinier ainda no gramado da Arena Condá depois da vitória sobre a Chapecoense por 1 a 0. O meia de 17 anos, joia da base, convocado para o Mundial Sub-17 e titular por conta das ausências de Gabriel Barbosa e De Arrascaeta, arriscou alguns toques de calcanhar e outros gestos técnicos mais refinados e pouco objetivos que irritaram Jorge Jesus. As "notas artísticas", nas palavras do português.

Talvez Jesus tenha se precipitado ao trocá-lo por Berrío aos 13 minutos do segundo tempo. A produção do time caiu, também pelo desgaste por conta dos jogos seguidos só alterando a formação titular por necessidade e pela intensidade da equipe rubro-negra no primeiro tempo em Chapecó. As características e os movimentos de Reinier estavam casando bem com os de Everton Ribeiro e Bruno Henrique na dinâmica ofensiva. O "esporro" também poderia ter sido guardado para um momento mais reservado no vestiário, longe das câmeras.

Mas se até o pai do atleta, o ex-jogador de futsal Mauro Brasília, achou natural e parte do aprendizado, como contestar o treinador que lançou Reinier entre os profissionais? É impossível negar que os bons resultados do líder do Brasileiro e semifinalista da Libertadores tiram o peso do ocorrido e afastam qualquer possibilidade de crise. Mas o exemplo de Arão é pedagógico para mostrar que sabendo ouvir com humildade um profissional experiente, as chances de evoluir são enormes.

É o progresso com Jesus no Flamengo.

(Estatísticas: Footstats)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.