Calma inicial, "blitz" no 2º tempo: a estratégia no massacre do Flamengo
O maior mérito do Flamengo nos 5 a 0 históricos no Maracanã foi respeitar o Grêmio. Mesmo desfalcado, fragilizado e inferior em dois terços do duelo de ida em Porto Alegre, era o último brasileiro campeão da Libertadores e semifinalista no ano passado.
Por isso o esforço hercúleo do departamento de futebol para colocar todos os titulares em campo. Com Rafinha de capacete e De Arrascaeta em uma incrível recuperação de cirurgia no joelho. Era decisão e o tratamento dado à partida, mesmo sem poupar no Brasileiro, foi condizente com o tamanho de uma semifinal que o clube não protagonizada desde 1984. Inédita na fórmula atual.
Acima de tudo, a mudança na estratégia habitual. No lugar da pressão inicial, a calma e um nítido cuidado para se adaptar à tensão da partida, Rafinha se acostumar com o capacete no duelo com Everton Cebolinha e perceber a reação de Arrascaeta. O Grêmio percebeu e tentou tirar proveito adiantando a marcação e se impondo fisicamente.
Renato Gaúcho optou por Paulo Miranda improvisado na lateral direita, André no ataque e Michel no meio dando liberdade a Maicon, que desperdiçou a grande chance do tricolor gaúcho no início. Quando Everton ficou no mano com Rodrigo Caio já com cartão amarelo. Poderia ter mudado toda a história. E consagrado a estratégia do técnico gremista de optar por um time mais forte, talvez tentando repetir a receita da vitória sobre o River Plate na ida da semifinal do ano passado em Buenos Aires – 1 a 0, gol de Michel.
O Flamengo sentiu um pouco a pressão. Afinal, as experiências recentes em confrontos de mata-mata não foram nada bem sucedidas. Mas havia jogadores experientes e muita confiança no modelo e no plano de jogo. Aos poucos foi se aprumando e o quarteto ofensivo começou a se mover. Everton Ribeiro saiu da direita para dentro, Bruno Henrique e Gabriel Barbosa circulando e Arrascaeta se soltando. E Rafinha descendo mais pelo corredor direito.
Poderia ter feito o gol na cabeçada de Bruno Henrique em cruzamento de Rafinha. Depois um toque de Arrascaeta pela direita que quase encobriu Paulo Victor. Em seguida, uma virada de Gabriel e depois a rápida transição ofensiva de Bruno Henrique iniciando e finalizando no rebote do goleiro em chute do camisa nove.
Placar aberto, time e torcida aliviados no fim do primeiro tempo. E Jorge Jesus estava pronto para inverter a estratégia na volta do intervalo: a "blitz" viria no início da segunda etapa. Aproveitando a guarda mais baixa do rival. E o que se viu foi um massacre.
Saída já partindo para o ataque e quase ampliando. Cobrança de escanteio, golaço de Gabriel Barbosa. Pênalti em Bruno Henrique, outro do "Gabigol". E o Grêmio jogou a toalha. A ponto de sofrer dois gols bem parecidos dos zagueiros rubro-negros: Rodrigo Caio e Pablo Marí. Ainda um anulado de Bruno Henrique e, no final, quase Diego Ribas, que teve tempo para entrar e já ganhar minutos. Outra vitória da comissão técnica a volta tão rápida.
Uma apoteose que completou de forma mágica um dia diferente no Rio de Janeiro, com clima de confiança e alegria, mas sem "oba oba". Coisa rara em termos de Flamengo. Os 5 a 0 representam a maior derrota deste Grêmio de Renato e a maior goleada do time carioca sobre o gaúcho. Imposição histórica, inquestionável. Que não traz para si o favoritismo na final da Libertadores contra o River Plate em Santiago, mas faz a América do Sul olhar com mais respeito para o clube de vexames internacionais recentes.
Jorge Jesus virou a história do avesso. Em comportamento, no método, na proposta e, principalmente, na seriedade com que encara cada partida. Seu Flamengo já está guardado nas retinas, aconteça o que acontecer daqui para frente. E a grande vitória até aqui teve cinco dedos do técnico português. Cinco. Uma maneta para chegar à decisão depois de 38 anos.
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