Chegou a hora do Palmeiras quebrar paradigmas voltando às origens
O último momento em que o Palmeiras conseguiu unir futebol empolgante e resultados foi o turno do Brasileiro de 2016. Era o time intenso e envolvente de Cuca com Roger Guedes e Gabriel Jesus voando.
Depois que a disputa pelo título polarizou com o Flamengo e virou questão de honra por conta do "fator cheirinho", e Gabriel Jesus ficou mais ausente por causa das convocações para a seleção, a equipe virou do avesso. Pragmática, concentrada defensivamente, forte na bola parada e dependente dos lampejos de Dudu, confirmou a conquista nacional depois de 22 anos.
Eduardo Baptista e Roger Machado foram tentativas de mudar o estilo, com mais posse e uma proposta de jogo condizente com o protagonismo natural de um time montado com altos investimentos. Sem sucesso, assim como o retorno de Cuca em 2017. Ao recorrer à volta de Luiz Felipe Scolari no ano seguinte e vencer o Brasileiro, ainda que a prioridade fosse o mata-mata, o Alviverde reafirmou uma cultura de jogo.
Mantida por Mano Menezes, ainda que os métodos fossem diferentes para aplicar ideias semelhantes. Conectando Cuca, Felipão e Mano, que tinha como grande desvantagem a identificação com o Corinthians, como o primeiro arquiteto da identidade que fez o rival conquistar, com Tite, os grandes títulos de sua história. Era mesmo difícil perdoar o treinador.
2019 chegou com os mesmos reveses do ano anterior: Paulista, Copa do Brasil, Libertadores. E a esperança no Brasileiro se esvaiu com o surgimento do "meteoro" Flamengo de Jorge Jesus. Um pulverizador de certezas no então campeão. Rodar elenco, poupar oito ou nove titulares? Para que, se já há suspensões, lesões e convocações no país que não respeita as datas FIFA?
A fórmula "fechar casinha-unir o grupo-toca no talentoso-bola parada" também já não era mais suficiente diante de um time com ideias atuais, reunindo talentos e fazendo jogar com alta intensidade e muita movimentação na frente. Os 3 a 0 no turno custaram o emprego a Felipão. Os 3 a 1 com o título dos rubro-negros já confirmado, na casa palmeirense, encerraram o ciclo de Mano e, na carona, de Alexandre Mattos. Mesmo com aproveitamento de campeão em algumas edições por pontos corridos com 20 clubes.
Chegou a hora de repensar quase tudo. Utilizar a base quem vem rendendo frutos, mas era trocada por contratações de qualidade duvidosa, com baixo retorno no campo. Principalmente, trocar o modelo de jogo. Não necessariamente imitando o campeão brasileiro e sul-americano. Quem sabe voltando às origens, mas com uma versão atualizada?
O Palmeiras quase sempre foi sinônimo de bom futebol. Nos tempos de "Academia" rivalizando com o Santos de Pelé, simbolizado pela liderança técnica de Ademir da Guia. Depois nos anos 1990, com a parceria da Parmalat e Vanderlei Luxemburgo montando a máquina bicampeã paulista e brasileira em 1993/1994 e depois o "meteoro" dos 102 gols em 1996. Até o time de Felipão campeão da Libertadores em 1999, mesmo pragmático, contava com a classe de Alex e Zinho no meio-campo.
Com Jorge Sampaoli ou outro treinador, o Palmeiras precisa suprir a carência do torcedor que fica cada vez mais evidente: vencer encantando, entregando prazer além do resultado. Criar uma marca que não seja esquecida depois de levar a taça para casa. Fazer história pela bola jogada. A falsa dicotomia vencer feio x perder bonito que vigorava há anos no Brasil também fica no passado com o 2019 mágico do Flamengo.
Não sobrou nenhum dogma. Só o paradoxo de quebrar paradigmas sendo fiel à própria escola de futebol. O Palmeiras pode e a necessidade já é existencial. Tem camisa, dinheiro e torcida para pensar muito grande. Agora precisa de um norte. Respeitando a história e mirando o futuro. Como deve ser.
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