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André Rocha

Luxa no Palmeiras, Abel no Vasco. Dirigentes se negam a olhar para o campo

André Rocha

17/12/2019 07h47

O Palmeiras sinalizou mudanças nas ideias e práticas ao demonstrar interesse na contratação de Jorge Sampaoli. O fim das negociações com o argentino provocou a busca por um "plano B": Miguel Ángel Ramírez, do Independiente Del Valle, ou Vanderlei Luxemburgo, que acabara de deixar o Vasco.

A direção alviverde optou pelo escudo. O treinador midiático, polêmico e que monopoliza as atenções. Para o bem e para o mal. Havia um temor do treinador espanhol ser amassado pela corneta de conselheiros e pressão da torcida, como aconteceu com Eduardo Baptista e Roger Machado.

É claro que o título brasileiro no ano passado com Luiz Felipe Scolari no comando também pesou. Agora é a vez de Luxemburgo, em sua quinta passagem pelo clube. Uma velha solução, com currículo robusto, mas um verniz de espírito ofensivo. Para mudar, mas nem tanto assim. Até porque, em seus últimos trabalhos, Vanderlei tem adotado um estilo mais reativo. Veremos com elenco mais qualificado qual será a proposta.

Já o Vasco ocupou o lugar deixado por Luxemburgo com Abel Braga. Sim, o técnico veterano que viu o Flamengo deslanchar depois de sua saída e participou da campanha vexatória do Cruzeiro que culminou com o rebaixamento. Impressiona como o mercado não impõe uma resistência que force o profissional a uma reflexão sobre a própria capacidade no cenário atual.

A direção cruzmaltina se deixou seduzir não só pela experiência, mas também pela capacidade de agregar forças, unir o vestiário e considerou também o histórico de Abel no clube, especialmente como jogador. E, claro, um protetor com costas largas, ainda mais em ano de eleição no Vasco sempre em ebulição política.

Nas duas contratações, muito pouco de abordagem sobre o futebol em si. Metodologia de treinamentos, modelo de jogo, filosofia, adequação das ideias às características dos jogadores. A grande maioria dos dirigentes ainda acreditam na máxima de que, com talento, basta organizar um pouco a estrutura que os jogadores resolvem. Continuam se negando a olhar para o campo.

Não funciona mais assim e nem mesmo o sucesso de Jorge Jesus no Flamengo é capaz de transformar esse status quo. Tratam o ano mágico rubro-negro como exceção, colocam tudo na conta dos jogadores contratados a peso de ouro e seguem agarrados nas convicções de duas ou três décadas atrás.

Treinador arrojado e sem "grife"? Muito trabalhoso! Para que dar respaldo e protegê-lo da pressão se há disponível no mercado aqueles que podem livrar os cartolas das críticas?

Falta conhecimento no ofício de gerir o futebol. Só paixão não basta. Pode dar liga, e eventualmente funciona, porque é futebol. O esporte que permite vencer trabalhando errado e perder fazendo quase tudo certo. Mas é arriscar demais. A desgraça do Cruzeiro parece não ter deixado nenhuma lição para os clubes.

Palmeiras e Vasco apostam de novo no mais do mesmo. Uma pena. Mas há quem goste…

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.