Contexto do Flamengo 2019 não garante nada para o novo ano que chega
O trabalho mais longo entre os grandes clubes brasileiros começou com um contrato de três meses. E poderia ter se encerrado objetivamente em três dias, já que Renato Gaúcho assumiu o comando técnico do Grêmio no dia 18 de setembro de 2016 e no dia 21 foi derrotado pelo Athletico por 1 a 0 na Arena em Porto Alegre, mas venceu nos pênaltis por 4 a 3 pelas oitavas de final da Copa do Brasil que venceria na sequência, título que pavimentou o caminho para outras conquistas que construíram uma trajetória já histórica.
Tudo costuma ser muito volátil e efêmero por aqui. A tendência é não ter tendência. O Palmeiras foi campeão brasileiro em 2016 e 2018, mas viveu o caos em 2017 e 2019. Crises, mudanças de treinadores e de estilos, zero estabilidade. No mesmo 2017 da consagração de Renato no Grêmio com a Libertadores, o Corinthians mandou no Brasileiro com Fabio Carille achando um time que resgatou a identidade de jogo vencedora do clube nos últimos anos. Durou só mais um estadual.
É preciso contextualizar o ano mágico do Flamengo. 2019 que começou com Abel Braga como treinador. A pausa para a Copa América criou um marco para reflexão que possibilitou a correção de rota e a troca por Jorge Jesus. Mas objetivamente foram quatro contratações no início do ano, outras quatro no meio. Para os onze que entraram para a história encaixarem em um "click" perfeito nos 3 a 0 sobre o Palmeiras. No primeiro dia de setembro. Já líder do Brasileiro e semifinalista da Libertadores.
Torneio continental que ficou por um gol do Peñarol na fase de grupos para terminar novamente de forma trágica. Ou um do Emelec no Maracanã nas oitavas depois dos 2 a 0 em Guayaquil. Como garantir que Jorge Jesus permaneceria no cargo depois de duas eliminações no mata-mata em tão pouco tempo de trabalho?
Por isso a insistência em tratar esse caso, ao menos por enquanto, como algo meteórico. Raríssimo. Quase como um alinhamento de planetas. E se houve algum planejamento foi o financeiro desde 2013 que viabilizou as contratações de Rodolfo Landim e Marcos Braz. Com 100% de sucesso. Não é todo dia que acontece. E pode não se manter para 2020.
Mesmo com a ótima notícia para o futebol brasileiro do teto de gastos para os clubes chineses. Porque aqui a moeda não é forte, o cenário econômico é frágil, nossos clubes têm a cultura de vender. Como imaginar um domínio como estão aventando os mais ansiosos nesses tempos em que tudo precisa ser grande, histórico, "melhor de todos os tempos" e eterno?
O próximo "hype" pode ser Tiago Nunes no Corinthians. Ou a reconstrução do Grêmio. Ou Eduardo Coudet no Internacional. Quem sabe Jorge Sampaoli no próprio Flamengo se Jesus deixar o clube carioca no meio do ano? Talvez Fernando Diniz e o São Paulo no grande ano de conquistas. Ou mesmo Vanderlei Luxemburgo em uma incrível história de redenção, ou o canto do cisne em uma carreira vitoriosa, no Palmeiras.
É impossível prever qualquer coisa. Nem fracassos, muito menos hegemonias. Em 1993, o São Paulo comemorava o bi da Libertadores e do Mundial com Telê Santana e planejava uma dinastia. Sem notar que, em paralelo, o Palmeiras de Luxemburgo ganhava o primeiro Brasileiro que inverteria o domínio do cenário nacional. Por um curto período, porque logo viria o surpreendente Grêmio de Felipão, campeão da Libertadores e Brasileiro nos anos seguintes.
A única esperança é de que os clubes sigam buscando organização e gestão responsável. O que inclui um pouco mais de estabilidade para treinadores e comissões técnicas e, consequentemente, um jogo mais qualificado. Sem tanto apego a resultados e velhas fórmulas. Em cinco meses, Jorge Jesus abalou estruturas, convicções e apontou um caminho. Mas não é para copiá-lo ou menosprezar por clubismo ou bairrismo.
Apenas uma inspiração que vinha faltando. Para um 2020 melhor, mesmo que seja diferente.
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