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André Rocha

Santos de Jesualdo precisa de respaldo para trocar fúria por controle

André Rocha

27/01/2020 22h13

A intensidade dos times de Jorge Sampaoli é alta, mesmo para os padrões dos "súditos" de Marcelo Bielsa. É muita fúria para atacar e pressionar tentando recuperar a bola o mais rápido possível. O problema sempre é suportar física e mentalmente tamanha exigência durante 90 minutos a cada jogo de uma temporada já naturalmente desgastante.

Encanta pela coragem e o Santos cativou muitas retinas, mesmo sem conquistas em 2019. Bonito de ver, mas por vezes deve ser duro de torcer. Porque quando não encaixa ou baixa a guarda, o fracasso é certo. Um efeito colateral da "loucura".

Jesualdo Ferreira gosta de times com vocação ofensiva, mas crê na capacidade de controlar o jogo. Tratando a bola com cuidado, buscando a precisão nos passes para evitar que o oponente tenha muitas oportunidades de contra-atacar a última linha de defesa, quase sempre adiantada.

Sem Marinho, lesionado, e Soteldo, a serviço da seleção venezuelana no Pré-Olímpico, o Santos perde seus pontas desequilibrantes e, por isso, tem ainda mais motivos para valorizar a posse, circular a bola, inverter o lado da jogada e tocar, com paciência.

Em Campinas contra o Guarani pela segunda rodada do Paulista, com Alisson recuando para auxiliar Luiz Felipe e Luan Peres e empurrando os laterais Pará e Felipe Jonatan para abrir o campo. Os meias Sánchez e Diego Pituca dando suporte pelos flancos, mas também procurando Eduardo Sasha para tocar por dentro. Com as diagonais dos ponteiros substitutos, Arthur Gomes e Raniel.

Assim trabalhou desde a defesa até Felipe Jonatan colocar na cabeça de Arthur Gomes para abrir o placar no primeiro tempo. Dominando um Guarani que tentava atacar, especialmente pela direita com o lateral Pablo buscando o centroavante Rafael Costa. Mas defendendo mal e permitindo as triangulações pelos lados do alvinegro praiano.

O roteiro parecia o mesmo na segunda etapa, mas o que deveria ser o evento para fazer o Santos ter um domínio ainda mais amplo se transformou em problema: a expulsão de Lucas Abreu. No 4-4-1, o Bugre foi obrigado a se organizar defensivamente e só descer na boa. E forçou o adversário a atacar, em alguns momentos de forma apressada, sem coordenação.

A troca de Arthur Gomes com Jean Mota, que foi jogar pela esquerda e fez Ramiel mudar de lado, tirou profundidade da equipe de Jesualdo. Com o cansaço pelo início de temporada, o Santos foi definhando e se atrapalhando. Na bola parada, a saída errada do goleiro Everson e o gol de Rafael Costa, que havia marcado três no Santos de Sampaoli pelo Botafogo-SP em 2019.

Com Mateusinho na vaga do autor do gol, o Guarani ganhou ainda mais velocidade nos contragolpes. Por iniciar a preparação mais cedo, também sobrou vigor nos últimos minutos. E perdeu chance cristalina, com Junior Todinho. Jesualdo arriscou tudo com Tailson no lugar de Raniel e Uribe na vaga de Pituca. Faltou lucidez nos últimos minutos.

Mas sobrou sorte. Quando o time mandante parecia mais perto da virada, já nos acréscimos, Jean Mota bateu falta pela direita no travessão e Pablo, desastrado, marcou contra. Justo um dos destaques da primeira etapa. A equipe do jovem Thiago Carpini mereceu os aplausos do torcedor ao final da partida. Cresceu com um homem a menos.

Para o Santos, importante vencer para ganhar confiança. Porque mudar ideias e ideais nunca é fácil. Com 60% de posse e 17 finalizações a 11, não dá para dizer que o time foi mal. 552 passes trocados, 91% de precisão. A equipe de Jesualdo quer trabalhar a bola com calma e a paciência fora de campo é fundamental.

O português já deve ter sido informado que no Brasil o respaldo para mudar só vem com resultado imediato. Por isso voltar do Brinco de Ouro com três pontos é garantia de paz. Ao menos até quinta-feira, quando enfrenta a Internacional de Limeira.

(Estatísticas: SofaScore)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.