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André Rocha

Tite pensa como Jorge Jesus. Por isso trio do Flamengo não deve jogar

André Rocha

06/03/2020 14h37

Vasco 0 x 2 Flamengo – 14/04/2019 – (Final Campeonato Carioca)

Desde a primeira entrevista coletiva em 2020, Jorge Jesus tem afirmado que os jogadores que o Flamengo contratou para encorpar o elenco em 2020 estão atrás do time que fez história em 2019, incluindo aí Diego Ribas e Vitinho, reservas que entravam com frequência na equipe.

Uma questão de "hierarquia", adaptação ao modelo de jogo, gestão de vestiário e outras questões que influenciam nas decisões do treinador. Difícil já chegar jogando, a menos que se abra uma vaga, como aconteceu com a saída de Pablo Marí e os reforços Gustavo Henrique e Léo Pereira disputam a posição.

A seleção brasileira não vive hoje o "hype" do campeão brasileiro com recorde nos pontos corridos e sul-americano (Libertadores e Recopa). Mas tem com Tite uma história de liderança absoluta nas últimas eliminatórias e título da Copa América disputada em casa no ano passado.

Há também jogadores com histórico de convocações, vivência em bons e maus momentos e experiência em disputas no continente. Sem contar a capacidade de competir em altíssimo nível, jogando grandes ligas nacionais e a Champions. É inegável que estão um degrau acima na escala de prioridades do técnico da seleção. E a lista mostra isso.

Mesmo buscando recuperação de desempenho no Bayern de Munique, Philippe Coutinho foi convocado para os jogos contra Bolívia e Peru. Gabriel Jesus está suspenso para a estreia na disputa pela vaga na Copa do Catar, por conta da expulsão na final da Copa América, mas Tite conta com o atacante, em alta no Manchester City, para a sequência do trabalho. Sem ele, a tendência é formar o trio de ataque com Richarlison, Firmino e Neymar.

No meio-campo, difícil fugir de Casemiro, Arthur ou Bruno Guimarães – este, sim, a grande nova por conta da maturidade na adaptação rápida ao Lyon – e Coutinho. Se Tite optar por recuar Neymar para articular jogadas, como tem feito rotineiramente no PSG, Everton, destaque na Copa América, tende a ganhar oportunidade na vaga do meia do time bávaro.

E o trinca de convocados do Flamengo? A tendência é que os badalados Everton Ribeiro, Gabriel Barbosa e Bruno Henrique comecem no banco de reservas. Dos três, Gabriel parece com mais chance de disputar uma vaga na primeira partida, mas só por conta da ausência do xará Jesus.

Porque é assim que funciona quando o trabalho segue uma linha com um mínimo de coerência, até para não gerar grandes instabilidades. Até porque, a rigor, a seleção desde o segundo semestre de 2016 não sofreu nenhum abalo sísmico para virar tudo do avesso. Oscilações são naturais, mas eram amistosos. Quando valeu a Copa América, o Brasil correspondeu.

Por isso todo o barulho – do clamor da imprensa por uma "base" rubro-negra ao desespero da maior torcida do país pela perspectiva do time de coração perder por um tempo suas estrelas –  deve render bem pouco, na prática. Tite pensa como Jorge Jesus. E não está errado.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.