Corinthians tem problemas no campo para resolver antes de debater vestiário
O trabalho de Tiago Nunes até aqui decepciona, impossível negar. Mesmo considerando os problemas internos do Corinthians, além da insanidade de emendar Flórida Cup com Libertadores antes da fase de grupos. E ainda a proposta de mudar a identidade de jogo que, com um ou outro hiato, vinha desde 2008.
A eliminação no torneio continental abalou a confiança e criou o clima de crise. Aquele em que se procura de tudo para justificar o mau desempenho. É um ciclo ladeira abaixo, mesmo disputando apenas estadual no momento. São cinco partidas sem vitória. Consequência do futebol bem aquém das expectativas.
Como sempre acontece nessas ocasiões, muitos vão buscar nos bastidores a explicação. Como se o elenco fosse de craques e não houvesse dificuldades naturais na implementação de uma nova maneira de jogar. Surgiu, então, a tal "cartilha do Tiago". Questões disciplinares que, se o time estivesse vencendo, seriam elencadas como o "segredo" do treinador. Como as vitórias desapareceram, surge o papo de boicote.
Pode haver insatisfação? Sempre, até porque em todo ambiente de trabalho existen pessoas resistentes a regras e mudanças na rotina. Mas será que está influindo na bola jogada ou é apenas um complicador a mais em ambiente conturbado?
Olhando para o campo, um problema no ataque salta aos olhos: o quarteto ofensivo engessado e ultrapassado na dinâmica: dois ponteiros velozes, um típico meia de ligação e o centroavante de referência. Sem mobilidade e troca de funções. Ou quando ela acontece os jogadores não correspondem. Luan não vai bem quando cai pelos flancos; nem Janderson e Everaldo sabem trabalhar por dentro e só cortam para finalizar, especialmente o segundo. Por fim, Boselli no máximo sai da área para fazer a parede. Tem técnica, porém não amplia a sua zona de atuação. Funcionou contra o Santos e em outros poucos momentos.
A construção de trás fica nas costas de Fagner e Cantillo. Bem vigiados pelos adversários e também contaminados pela falta de confiança, deixam de ser bolas de segurança e forçam o time a apelar mais para as ligações diretas. Ou seja, fica ainda pior que o "réquiem" da identidade com Carille no ano passado.
Difícil buscar uma solução. Por características, Ramiro pela direita seria interessante para criar uma variação como "ponta-volante" e preencher o meio-campo. Tirando um ou outro jogo, porém, nunca teve desempenho no Corinthians que justificasse a confiança para provocar uma mudança de patamar. Mas é uma possibilidade, assim como Pedrinho, negociado ao Benfica, mas vai ficar no clube até o meio do ano.
Na frente, pela mobilidade, talvez apostar em Vagner Love no centro e Yony González dando profundidade pela esquerda, infiltrando em diagonal. Mas aí o problema passa a ser a falta de contundência no ataque. A equipe precisa de volume de jogo, mais gente entrando na área e dividindo os gols, já que não há um artilheiro destacado.
Cenário complicado, quase desesperador para Tiago Nunes, que não se ajuda ao culpar o gramado pelo empate com o Novorizontino. Mas antes de debater gestão de vestiário é sempre melhor dar uma olhada para o que acontece nos jogos.
Nem tudo é "fritura de técnico". Às vezes tudo se resume a mau futebol mesmo e não perceber é adiar a solução.
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