Tá com saudades de um joguinho ao vivo, né, minha filha?
Há algum tempo eu me peguei pensando sobre a razão de muitos jogadores em atividade não receberem o devido valor. Seria só por conta da memória seletiva do saudosismo, da necessidade de um distanciamento histórico para uma análise mais criteriosa ou porque Messi e Cristiano Ronaldo subiram o sarrafo do nível de exigência?
Por exemplo, um craque multicampeão como Toni Kroos muitas vezes ser colocado abaixo de outros alemães que não foram tão talentosos, nem vencedores. Como Wolfgan Overath, lenda do Colônia e o meia criativo da seleção campeã mundial de 1974. Ou Bernd Schuster, campeão da Eurocopa em 1980 e que fez história no futebol espanhol, porém sem o brilho do atual camisa oito e maestro do Real Madrid.
Ou James Rodríguez ser menos reconhecido que Carlos Valderrama na Colômbia. Mesmo que o meia do Real Madrid tenha o cabeludo como ídolo, já o superou há tempos, inclusive nos feitos em Copas do Mundo. Nem vou citar Neymar no Brasil, humilhado diante de muitos jogadores apenas bons do país que atuaram há décadas.
A minha conclusão foi que vimos pouco do passado e tendemos a guardar os melhores momentos, selecionar as impressões e sensações, enquanto os que estão (ou estavam) jogando são dissecados duas vezes por semana com estatísticas e análise de desempenho mais criteriosa.
Então me questionei se não víamos jogos demais e se isso era saudável ou matava a nossa capacidade de sonhar. A fantasia tão necessária ao amor pelo jogo. Como será que gênios como Pelé, Maradona, Cruyff, Di Stéfano e Garrincha passariam por esse escrutínio diário? Será que termos acesso diário a partidas de futebol, espalhadas para encher grades de programação de emissoras de TV, não estaria banalizando o esporte?
E agora estamos aqui…Entendendo perfeitamente a gravidade da situação, até pelas notícias do mundo todo chegando em tempo real e fazendo parte das nossas vidas e preocupações…mas com aquela saudade IMENSA de um joguinho ao vivo.
Sem saber o resultado final, muito menos os herois e vilões. Ainda que rever os jogos do passado sempre nos permita um novo olhar, mais crítico ou condescendente, a abstinência da incerteza que nutre o esporte mais apaixonante começa a pesar.
O último jogo analisado neste blog foi a vitória do Fluminense sobre o Vasco no Maracanã com portões fechados. No dia 15 de março, praticamente há um mês. Parece que foi ano passado. E mesmo com a consciência de que o futebol só deve voltar quando liberado por autoridades conscientes, amparadas pela Ciência, não pressionados por questões comerciais e priorizando as vidas, a ansiedade já bate na porta.
Mesmo sem torcida e com jogadores voltando de um período que já supera as férias anuais. Em um clima diferente, talvez até fúnebre ou mórbido. Só aquele joguinho que às vezes por excesso de oferta era até descartado. Sabe aquela máxima surrada de que só se valoriza quando perde?
O título deste post virou meme, quase sempre apontando banalidades do cotidiano que não podemos fazer por estarmos trancados em casa para preservar a nossa vida e a do próximo. Mas estão fazendo falta, justamente porque fazem parte da vida.
Confesso que hoje eu precisava mesmo era de um abraço. Do Drauzio Varella ou de qualquer pessoa com empatia. Por tantas incertezas sobre o futuro, mas também pela falta do futebol. Matéria-prima do ofício, mas fundamentalmente um objeto de paixão. A saudade tá grande, né, minha filha?
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