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André Rocha

Bayern encaminha octa com cultura da vitória que não deixa brechas

André Rocha

26/05/2020 16h22

Foto: Federico Gambarini / Pool / AFP

O aspecto anímico não é o mais importante no futebol, mas pode contar muito em jogos decisivos. No ambiente tenso, mesmo sem torcida, a força mental tende a se impor quando há equilíbrio técnico e tático.

O Bayern de Munique tem elenco superior ao do Borussia Dortmund. Mas taticamente há equilíbrio e o Signal Iduna Park conta a favor do time da casa pelo costume de jogar no estádio, mesmo sem a "Muralha Amarela". Sem contar a necessidade do resultado para diminuir de quatro para um ponto a vantagem bávara na tabela da Bundesliga.

No entanto, a cultura da vitória pesou no clássico. Algo que é difícil de definir, mas que fica claro em alguns contextos. Como a maioria dos clubes definindo as prioridades na competição praticamente descartando a briga pelo título. Muitos sequer contando a possibilidade de pontuar nos confrontos diretos com o time dominante.

O Dortmund até começou melhor, movimentando o trio Hazard-Haaland-Brandt e os alas Hakimi e Raphael Guerreiro. Atacando por dentro e por fora, mexendo com a marcação do rival. No primeiro minuto, Boateng salvou sobre a linha gol certo de Haaland. Ainda uma oportunidade com Brandt e ataque bem anulado em finalização de Guerreiro nas redes – impedimento de Hazard.

Foram dez minutos de domínio, porém sem o gol que daria confiança para quem vem sofrendo reveses consecutivos na Alemanha. Foi o suficiente para a equipe de Hans-Dieter Flick se aprumar, melhorar o aproveitamento nos passes – terminou o primeiro tempo com 87% contra 83% – e, com volume de jogo, até fechar os 45 minutos iniciais com mais posse de bola: 52%.

Teve também a mobilidade como aliada. No 4-2-3-1, alternando os ponteiros Coman e Gnabry com Thomas Muller no suporte a Lewandoswski. Aproveitando os corredores, principalmente o esquerdo com Davies. Piszczek salvou gol de Gnabry.

Mas não houve como evitar a bela finalização de Kimmich. Toque por cobertura que o goleiro Burki poderia ter salvado, mas não tira a plástica do toque do volante, que alternou com Goretzka na proteção da defesa e na organização. Foi a sexta finalização dos visitantes, contra sete do Dortmund. Mas quatro no alvo do líder e apenas duas do time da casa. Eficiência.

O 3-4-2-1 do Dortmund que se impôs no início com mobilidade, mas o Bayern equilibrou também com movimentação na frente e o belo toque por cima de Kimmich fez a diferença (Tactical Pad).

Também personalidade para voltar atacando e complicar o time modificado por Lucien Favre: Emre Can e Sancho nas vagas de Delaney e Brandt. Não surtiu o efeito desejado inicialmente, apesar da oportunidade finalizada por Haaland, que sentiu fisicamente e deu lugar a Reyna, que entrou pela direita. Hazard foi para o centro do ataque e ganhou companhia quando Favre desmontou o 3-4-2-1 com a troca de Piszczek por Mario Gotze. Witzel ainda entraria na vaga de Dahoud.

No 4-2-4, o Borussia partiu para um tudo ou nada, porém desorganizado e sem "punch". Favre demorou um pouco a mexer na estrutura na equipe, mas, com exceção da superioridade inicial, nunca demonstrou uma real capacidade de furar a meta de Neuer.

Mesmo com uma defesa improvisada, com a entrada do lateral francês Lucas Hernández na vaga de Boateng, invertendo o lado de Alaba, o Bayern sofreu pouco. Só reforçou a marcação nos minutos finais, ao trocar Gnabry por Javi Martínez e se fechar num 4-1-4-1 com Muller pela direita e Perisic, que entrara na vaga de Coman, no lado oposto.

Lewandowski não conseguiu manter a fantástica média de um gol por rodada, acertando a trave esquerda de Burki. Foram 11 finalizações do Bayern, duas a menos que o rival. Cinco para cada lado no alvo. O Dortmund terminou com mais posse (51%), porém sem a força para buscar o empate e ao menos manter a distância para o líder.

Em um 4-2-4 desorganizado e sem contundência, o Dortmund não conseguiu furar o sistema defensivo do Bayern mais sólido no final com as substituições e repaginado em um 4-1-4-1 (Tactical Pad).

Porque o Bayern administra com competência a cultura da vitória que sempre existiu no clube dentro do país e ganhou força desde a temporada 2012/13. Com Heynckes, Guardiola, Ancelotti, Kovac, agora Flick, que alcança a 21ª vitória em 24 partidas. Com mais ou menos brilho, sempre consistente. Não deixa brechas.

Uma força que se impõe até diante da arbitragem, como no pênalti não marcado em conclusão bloqueada por Boateng com o braço no início do primeiro tempo. No mundo todo funciona assim. Na dúvida, quem apita favorece o gigante.

Octacampeonato encaminhado com autoridade. Sete pontos faltando seis rodadas. Nem o "mundo novo" com a pandemia mudou a ordem das coisas na Bundesliga.

(Estatísticas: Whoscored.com)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.