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André Rocha

Até quando dura o domínio no piloto automático do Barcelona na Espanha?

André Rocha

19/06/2020 19h39

O Barcelona voltou goleando o Mallorca por 4 a 0 e superando o Leganés por 2 a 0. Imposição natural sobre equipes lutando contra o rebaixamento. "Receita" do time catalão no domínio recente na liga espanhola: evitar perder pontos para os de menor investimento para ter tranquilidade na disputa contra os grandes.

Mas bastou um jogo mais duro, fora de casa contra o terceiro colocado Sevilla, para o Barça mostrar que, apesar do resgate de mais elementos de jogo de posição com a chegada de Quique Setién, a essência, com virtudes e defeitos, continua a mesma dos tempos de Ernesto Valverde: um time que tem posse, baixa intensidade e dependência de Ter Stegen atrás e de Messi na frente.

Em jogos maiores, quase invariavelmente armado em um 4-4-1-1 que mantém Suárez na frente, Messi com liberdade de circulação e as demais peças precisando se encaixar no sistema e no modelo. Com Rakitic já em uma reta final de carreira, cabe a Arturo Vidal cumprir a função sacrificante de fechar o lado direito e dar opção de profundidade e força no setor. Porque Semedo é outro elo fraco e Sergi Roberto não entrega tanta consistência como lateral.

Com Griezmann sem condições para 90 minutos, Setién começou com Martin Braithwaite. Um atacante que poderia ser um contraponto de intensidade e infiltração para furar linhas de marcação, mas dentro de uma proposta de circulação de bola sofre muito tecnicamente para dar sequência às jogadas.

Sobra Jordi Alba, a inesgotável opção de profundidade pela esquerda. Arthur não consegue sequência, nem alternar passes de controle com os necessários de ruptura. Na defesa adiantada, Piqué e Lenglet se viram em coberturas, antecipações e evitando erros de passe na saída quando pressionados.

Porque o Sevilla de Julen Lopetegui se arriscou em seus domínios. Adiantando a marcação, alternando os ponteiros Ocampos e Munir pelos flancos e mudando constantemente o desenho no meio-campo, ora com Fernando e Jordán como volantes e Oliver Stones mais solto, ora fixando Fernando e subindo Jordán alinhado a Oliver. Pressão no adversário com a bola e transição rápida. Também valorizando a posse em muitos momentos, como gosta Lopetegui.

No segundo tempo dobrando a aposta em contragolpes ao rearrumar a retaguarda com linha de cinco depois da entrada do sérvio Gudelj na defesa. Também Banega, Vázquez, Suso e En-Nesyn. Finalizou oito vezes, metade no alvo. Mas é difícil vencer Ter Stegen.

Mas não foi tão complicado parar Messi, que muitas vezes não tem um parceiro conectado com seu raciocínio rápido e, nas partidas mais pegadas, também sofre fisicamente. Resta recuar, tentar uma tabela ou encontrar as entrelinhas, cada vez mais raras, para cortar da direita para dentro e finalizar. Até as cobranças de falta estão mapeadas. No caso do Sevilla, com o zagueiro francês Koundé auxiliando o goleiro Vaclik na cobertura de um dos ângulos. O 700º gol na carreira ficou para outra ocasião.

A cultura de vitória de oito conquistas nas últimas onze edições da competição não foi suficiente desta vez para arrancar os três pontos na moral, à forceps. E o empate sem gols era tudo que o Real Madrid esperava. Com a vantagem no confronto direto por conta do empate fora e a vitória em Madrid, o time de Zidane pode igualar em pontos na liderança e de lá não mais sair.

Até porque parece mais regular no desempenho que o grande rival. É claro que a disputa segue muito aberta e enfrentar a Real Sociedad como visitante não será tão simples para a equipe merengue na 30ª rodada, faltando oito para o final da liga.

Mas até quando vai durar esse domínio no piloto automático do Barcelona? O Real de Zidane parece próximo de repetir a queda de hegemonia que impôs em 2016/17.

(Estatísticas: Whoscored.com)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.