antonioconte – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Sarri aposta no “diamante” e a joia Dybala brilha na virada da Juventus http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/22/sarri-aposta-no-diamante-e-a-joia-dybala-brilha-na-virada-da-juventus/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/22/sarri-aposta-no-diamante-e-a-joia-dybala-brilha-na-virada-da-juventus/#respond Tue, 22 Oct 2019 22:16:41 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7466 A gênese da Juventus dominante na Itália tem a assinatura de Antonio Conte e sequência com o longo trabalho de Massimiliano Allegri, com a marca de uma equipe “mutante”, que conseguia se impor na Série A jogando no ataque, com posse de bola, ou apostando em rápidas transições ofensivas. Sem contar as variações táticas, mudando o sistema para dois ou três zagueiros, muitas vezes sem alterar a escalação – ora Barzagli era lateral-zagueiro pela direita, ora Chiellini fazia a mesma função à esquerda.

Maurizio Sarri foi o grande contraponto da “Vecchia Signora” comandando o Napoli, mas sem conseguir traduzir em conquistas a proposta ofensiva e cativante. Precisou partir para a Inglaterra e ganhar a Liga Europa pelo Chelsea para voltar à Itália com moral para suceder Allegri. Na busca do sonho da Champions que fez o clube abrir os cofres por Cristiano Ronaldo, mas também procurando uma mudança na maneira de jogar para vencer além das próprias fronteiras.

Só que a cultura de futebol da Juve, mesmo nos tempos dos esquadrões de Platini e Boniek  nos anos 1980 e Zidane e Del Piero no final dos anos 1990, é de um estilo mais direto, com um “trequartista”, o típico camisa dez, fazendo a bola chegar rapidamente aos atacantes. As ideias de Sarri propõem uma revolução na Juve.

E o elenco da octacampeã italiana também promoveu uma transformação em Sarri neste início de trabalho, ao menos no desenho tático. Desfazendo o 4-3-3/4-2-4 de cabeceira do treinador para chegar a um 4-3-1-2 capaz de não perder a função de “regista” – meio-campista fixo à frente da defesa que comanda a saída de bola e o início da construção das jogadas – que era de Jorginho no Napoli e no Chelsea e agora pertence a Pjanic. E ainda agradar Cristiano Ronaldo, que gosta de formar uma dupla de ataque. Nem ponta, nem centroavante.

E agora o “trequartista” não é mais a grande estrela – primeiro Bernardeschi, Bentancur entrando como titular na terceira rodada da fase de grupos da Liga dos Campeões.

Contra o Lokomotiv trancado em um 5-3-2 compacto que acelerava os contragolpes com Eder, autor do gol do título da Eurocopa de Portugal em 2016, o compatriota João Mário e o russo Miranchuk, autor do gol que abriu o placar no Allianz Stadium. O time russo negava espaços e oportunidades cristalinas ao adversário, fechando muito bem o funil e vigiando Cristiano Ronaldo de perto.

Até Sarri mexer no time sem alterar a estrutura do “diamante” – a outra nomenclatura para o mais popular “4-4-2 em losango” – e trocar Khedira por Higuaín, que foi fazer dupla com o astro português, porém mais na referência. Já Dybala recuou como “trequartista”.

E desequilibrou. Dois gols em três minutos. O primeiro em bela finalização, característica do argentino, e outra no rebote do goleiro brasileiro Guilherme. Para sair dois minutos depois para a entrada de Bernardeschi, retomando um 4-3-1-2 mais clássico, com Rabiot que entrara na vaga de Matuidi pela esquerda. Porque Sarri é ousado e carrega suas convicções, mas sabe fazer concessões se moldando às demandas.

A Juventus, porém, se manteve no ataque até o final. Consolidando o domínio que teve 68% de posse, com 84% de acerto nos passes, e 27 finalizações contra três. Para manter a disputa com o Atlético de Madrid pela liderança do Grupo D que terá a decisão no confronto direto em Turim pela quinta e penúltima rodada.

Provavelmente com a equipe de Sarri utilizando novamente o losango no meio-campo. A dúvida é saber em que função a joia Dybala rende mais. Contra os russos ele brilhou e honrou a função que já foi de Platini, Zidane e Del Piero.

(Estatísticas: UEFA)

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Início de temporada do Barcelona já preocupa e risco na Champions é real http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/04/inicio-de-temporada-do-barcelona-ja-preocupa-e-risco-na-champions-e-real/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/04/inicio-de-temporada-do-barcelona-ja-preocupa-e-risco-na-champions-e-real/#respond Wed, 04 Sep 2019 09:46:38 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7178

Uma vitória, um empate e uma derrota em três rodadas da liga espanhola. Os resultados iniciais do Barcelona em jogos oficiais não são bons para o altíssimo nível do clube, ainda mais na competição por pontos corridos que dominou nos últimos anos. Mas considerando as ausências por lesão de Messi e Suárez, mesmo já deixando o Atlético de Madrid abrir cinco pontos, não é algo inalcançável, longe disso. E a prioridade do clube catalão deve ser mesmo a Liga dos Campeões.

O problema é que Ernesto Valverde precisava de seus protagonistas no ataque para trabalhar o encaixe de Antoine Griezmann no trio e o ajuste da equipe que também precisa adaptar o jovem holandês Frenkie De Jong ao meio-campo que tem alternado Busquets, Rakitic e Arthur como companheiros de setor. A necessidade de um acerto rápido na temporada tem uma razão.

O Barça caiu no complicado Grupo F da Champions, com Borussia Dortmund e Internazionale, mais o Slavia Praga que deve ser o “sparring” e possível fiel da balança em termos de saldo de gols. A estreia já acontece no dia 17 contra os alemães no Signal Iduna Park.

O Dortmund tropeçou feio na terceira rodada da Bundesliga contra o debutante Union Berlin. Derrota por 3 a 1 que fez o Leipzig assumir a liderança como único 100% em três rodadas e o Bayern de Munique, que empatou na estreia em casa com o Hertha Berlin por 2 a 2, abrir um ponto de vantagem.

Mas continua sendo uma equipe competitiva, comandada por Lucien Favre e que conta com a experiência de Matts Hummels na zaga e Marco Reus na linha de meias de um 4-2-3-1 com Jason Sancho voando pela direita, já com três assistências na temporada, e servindo Paco Alcácer, que foi às redes quatro vezes.

Na segunda rodada, em dois de outubro, o Barcelona recebe no Camp Nou a Internazionale. A equipe agora comandada por Antonio Conte, treinador intenso e que costuma fazer suas equipes se tornarem competitivas rapidamente.

Já alcançou duas vitórias na Série A italiana trabalhando em um 3-5-2 com Candreva e Asamoah colocando muita intensidade pelas alas e a sacada de colocar um lateral no trio de zagueiros pela direita para dar mais rapidez e agilidade à retaguarda – no Chelsea era Azpilicueta, nos neroazzurri o escolhido é Danilo D’Ambrosio. Mas a força mesmo está na dupla de ataque formada por Lukaku e Lautaro Martínez, que já vem demonstrando bom entendimento e marcaram os gols da vitória sobre o Cagliari por 2 a 1.

Não são times da prateleira do Barcelona no cenário europeu e mundial, mas podem dar trabalho. Ainda mais para uma equipe que até aqui é uma grande incógnita. É possível dar engate imediato com o retorno de Messi, afastado por contusão na panturrilha que parecia corriqueira, porém tirou o craque da pré-temporada e das primeiras partidas.

Mas qualquer oscilação nas duas primeiras rodadas devem tornar os jogos de volta muito tensos. Uma terceira colocação e vaga na Liga Europa sempre parecem improváveis para os gigantes do continente, mas a dura realidade é que o sorteio desta vez não foi generoso e o contexto não é dos mais animadores.

A boa notícia até aqui é o início com muita personalidade do jovem guineense Ansu Fati, 16 anos e já marcando gol no time profissional do Barça. E pouco além disso. Ainda os problemas defensivos, a baixa intensidade de Busquets e a dependência da profundidade das descidas de Jordi Alba pela esquerda. Setor que deve ter Griezmann, protagonista com dois gols nos 5 a 2 sobre o Real Betis, mas atuando como “falso nove”.

Tudo parece em suspenso aguardando por Messi. Natural depender de um dos grandes da história e o argentino costuma dar boas respostas e desequilibrar, mas não deixa de ser preocupante. O risco na Champions é real e precisa ser levado a sério.

 

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Agressão de Neymar é sintoma do projeto sem rumo do PSG http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/04/29/agressao-de-neymar-e-sintoma-do-projeto-sem-rumo-do-psg/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/04/29/agressao-de-neymar-e-sintoma-do-projeto-sem-rumo-do-psg/#respond Mon, 29 Apr 2019 09:15:36 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6413

Imagem: Reprodução/Gazeta Esportiva

Desde que o Paris Saint-Germain subiu ainda mais o patamar dos gastos com contratações, ato simbolizado pela chegada da dupla Neymar/Mbappé em 2017, as duas temporadas terminaram simbolicamente nas oitavas de final da Liga dos Campeões, com eliminações para Real Madrid e Manchester United.

Porque justamente pelo altíssimo investimento as conquistas na França são tratadas como mera formalidade. Visão que acaba criando uma mistura de depressão com comodismo. De março a maio o elenco estelar cumpre uma mera função protocolar.

Pior ainda quando duas das três conquistas ficam pelo caminho. O PSG ficou sem a Copa da França e também da Liga Francesa. Nem o bicampeonato da Ligue 1 com cinco rodadas de antecedência diminuem o vexame diante de tamanha disparidade. Eliminação nas quartas da Copa da Liga para o Guingamp, lanterna do Francês.

O Rennes é o 11º e conquistou a Copa da França no Stade de France. Nos pênaltis por 6 a 5, depois de correr atrás e empatar um jogo que parecia perdido. Com golaços de Daniel Alves e Neymar e boas atuações das estrelas brasileiras. Mas os velhos problemas coletivos, especialmente sem bola, que Thomas Tuchel não conseguiu corrigir.

Agora as especulações sobre o novo treinador apontam para Antonio Conte. Italiano de estilo bem diferente do atual comandante. Um dos sintomas do projeto com muito dinheiro, mas sem rumo do PSG. Assim como a entrada criminosa de Mbappé que rendeu um cartão vermelho e, principalmente, a agressão de Neymar a um torcedor quando se dirigia à tribuna receber a medalha de vice-campeão.

Uma explosão desmedida e desnecessária, de quem vive numa bolha com família, staff e “parças” e quando entra em contato com a realidade, com o povo, com o contraditório…se perde feio. Ainda criticou os companheiros mais jovens formados no clube. Para quem ele deveria servir como referência. Neymar disse que os meninos precisam ouvir os mais experientes, mas será que o camisa dez tem sido um exemplo para ser respeitado?

Nada justifica o destempero. Menos ainda depois de longa inatividade por conta de nova lesão no pé. Era para estar com a cabeça mais “limpa”, menos pressionado. Até porque curtiu bastante no período de recuperação, inclusive durante o Carnaval.

Mas o PSG carrega o planeta nas costas com a megalomania de quem vê os grandes títulos como consequência natural do muito que gasta. Nem na França funciona assim, menos ainda em competições de mata-mata. Que o clube e suas grandes estrelas coloquem os pés no mundo real e entendam que o futebol não existe para atender seus caprichos e devaneios.

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Real Madrid se sai melhor que o Liverpool nos clássicos antes de Kiev http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/05/07/real-madrid-se-sai-melhor-que-o-liverpool-nos-classicos-antes-de-kiev/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/05/07/real-madrid-se-sai-melhor-que-o-liverpool-nos-classicos-antes-de-kiev/#respond Mon, 07 May 2018 10:12:57 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4541 Havia muito em jogo para Real Madrid e Liverpool contra Barcelona e Chelsea, respectivamente, na reta final das ligas nacionais, impedindo que os times pudessem se dedicar exclusivamente à final da Liga dos Campeões no dia 26 em Kiev.

Para os Reds era a chance de confirmar a vaga na próxima edição do principal torneio do continente. No Stamford Bridge contra um adversário direto na Premier League. Já o time merengue entraria no Camp Nou com a missão de impedir o título espanhol invicto do rival Barcelona e ainda “carimbar” a despedida de Iniesta do clássico.

Tirando tudo que foi desnecessário no duelo entre os últimos campeões espanhois e europeus, desde o Real se recusando a recepcionar em campo o adversário que confirmou a conquista na rodada anterior até as brigas, chutes e pontapés que tiraram muito da beleza de um jogo sempre especial, não é absurdo dizer que a equipe de Zinedine Zidane deu mais uma demonstração de força.

Por iniciar pressionado pela dupla Messi-Suárez mais acesa que o habitual e pelo gol do uruguaio logo aos nove minutos em saída rápida bem engendrada com assistência de Sergi Roberto. Mas responder rapidamente com jogada coletiva ainda mais bela: calcanhar de Cristiano Ronaldo para Kroos, centro do alemão para Benzema preparar e o gênio português finalizar a obra que iniciou. O 25º do vice artilheiro da competição.

Real com uma “velha novidade” de Zidane: o trio “BBC”, fazendo a variação do 4-3-3 para as duas linhas de quatro sem a bola com o recuo de Gareth Bale pela direita. Na transição ofensiva, muita movimentação dos três, enchendo mais a área adversária. Ao menos por 45 minutos, já que Cristiano Ronaldo, por precaução, teve que sair no intervalo, substituído por Asensio.

Não só porque sentiu uma entrada dura, aparentemente maldosa, de Piqué justamente no lance do gol que empatou a disputa. Também por conta da pancadaria que tomou conta do jogo, muito mal conduzido pelo árbitro Alejandro José Hernandez, que culminou na expulsão de Sergi Roberto, que ingenuamente agrediu Marcelo na frente do juiz.

Desta vez o Real pode reclamar muito das decisões da arbitragem. Principalmente pela falta clara de Suárez na disputa com Varane que terminou no golaço de Messi quanto na falta dentro da área do Barça não menos nítida de Jordi Alba em Marcelo. Podia ter mudado o clássico e complicado a vida e a invencibilidade do time da casa muito mais que o golaço de Bale, completando assistência de Asensio. Foram 17 finalizações contra 11 do time blaugrana.

Mesmo com os 2 a 2, a força mental e a cultura de vitória se fizeram presentes. O desempenho geral também foi satisfatório. Confirmando algo que já virou senso comum: é difícil superar este Real Madrid em jogo grande.

O Liverpool também costuma crescer neste tipo de confronto, mas não foi o caso do duelo em Londres. Porque o time de Jurgen Klopp, ainda que mantenha a proposta ofensiva longe do Anfield Road, não consegue reproduzir o “arrastão” num ciclo de pressão pós-perda, acelerar a circulação da bola e acionar o seu trio de ataque.

Salah, Firmino e Mané também pagam um pouco o preço do sucesso e da visibilidade. Estão mais estudados e, consequentemente, vigiados em campo. Ainda mais contra o time de Antonio Conte com sua linha de cinco defensores e mais Kanté e Bakayoko na proteção.

Deram algum trabalho ao goleiro Courtois na primeira etapa, mas nos minutos finais apelaram para os muitos cruzamentos procurando Solanke, que entrou na vaga do lateral esquerdo Robertson, e o zagueiro Van Dijk, que se transformou em um segundo centroavante. Sem ideias, sem brilho. Os torcedores podem até desdenhar, mas quando os espaços diminuem o fato é que Philippe Coutinho faz muita falta aos Reds.

Assim como a equipe se ressente de uma maior solidez defensiva, especialmente pelo alto. No centro da direita, Giroud subiu mais que Lovren para marcar o gol único do duelo, ainda no primeiro tempo. Na ausência do lesionado Oxlade-Chamberlain, Klopp deixou Henderson no banco e arriscou uma formação com Alexander-Arnold formando o meio-campo com Wijnaldum e Milner e Clyne entrando na lateral direita. Podia ter sido melhor.

Apesar dos 68% de posse, foram apenas dez finalizações dos visitantes contra 12 dos Blues, que também foram superiores em desarmes e no jogo aéreo. Resultado coerente com o que foi a partida disputada com a intensidade típica do Campeonato Inglês.

Agora é obrigatório vencer o Brighton em Anfield para chegar aos 75 pontos e garantir ao menos a quarta colocação. A menos que venha a apoteose na Ucrânia com o sexto título da Champions. Depois de onze anos sem chegar a uma decisão e treze da última conquista.

Missão que já era complicada por enfrentar o atual bicampeão e maior vencedor da história. Depois dos clássicos fica a impressão de que a tarefa ficou ainda mais difícil.

(Estatísticas: Whoscored.com)

 

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Gols de Willian e Messi mostram que planos de Chelsea e Barça deram errado http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/02/20/gols-de-willian-e-messi-mostram-que-planos-de-chelsea-e-barca-deram-errado/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/02/20/gols-de-willian-e-messi-mostram-que-planos-de-chelsea-e-barca-deram-errado/#respond Wed, 21 Feb 2018 00:07:08 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4152 Desde que as bolinhas apontaram mais um confronto Chelsea x Barcelona pela Liga dos Campeões, o cenário previsto era claro e lógico: time catalão com a bola e a equipe londrina fechada e saindo em velocidade explorando os espaços às costas da adiantada defesa do rival. Com a afirmação de um Barça mais pragmático na Espanha e a necessidade de uma vitória dos Blues no Stamford Bridge para resgatar a confiança abalada imaginou-se uma alteração nas propostas das equipes.

Ledo engano. Tão logo rolou a bola o Barcelona se instalou no campo de ataque, girando e tocando em busca de um espaço para Messi entre as linhas do 5-4-1 montado por Antonio Conte. Paulinho voltava pela direita no 4-4-1-1 habitual de Ernesto Valverde, mas atacava por dentro tentando criar superioridade numérica no meio e sobrecarregar Kante e Fábregas no cerco a Messi.

O volante-meia brasileiro só apareceu numa cabeçada completando centro de Messi pela esquerda. Uma das três finalizações do Barça na primeira etapa, nenhuma no alvo. Mesmo com 90% de aproveitamento nos passes. O Chelsea concluiu o dobro. Uma na direção da meta de Ter Stegen e dois chutes de Willian nas traves.

Tudo isso com 29% do tempo com a bola. E a curiosidade: mesmo com uma formação moldada para os contragolpes com Hazard no centro do ataque, Willian e Pedro nas pontas e sem uma referência na frente, o time de Conte foi mais envolvente e perigoso atacando em bloco.

Abriu o placar na segunda etapa com uma marca do Barça de outros tempos, principalmente da Era Guardiola: escanteio curto. Hazard encontrou Willian livre na entrada da área e na terceira tentativa ele não falhou. Falha primária do sistema defensivo do time visitante que é montado para atacar, ter a bola e roubá-la na pressão no campo adversário. Quando pressionado sempre sofre.

Então por que o time da casa não tentou se impor mais? Com 40% de posse e mais coragem poderia ter construído um placar para, aí sim, administrar no Camp Nou. Subiu um pouco a posse na segunda etapa (32%) e finalizou mais quatro vezes, uma no alvo – o gol de Willian. Podia ter se arriscado mais.

Pagou no erro na saída de bola do zagueiro Christensen, que pela esquerda cruzou uma bola em frente à própria área que, forte, passou por Fábregas, mas encontrou Iniesta antes de Azpilicueta. Resposta rápida do time da paciência com a bola e passe do meia para Messi empatar. Quarto gol na Liga dos Campões, primeiro na carreira contra os Blues.

Rara oportunidade em que o gênio argentino teve espaço. Ele depende disto para criar e finalizar. Com Alba, a válvula de escape pela esquerda, bem vigiado por Moses e Willian, além da cobertura de Azpilicueta, o camisa dez sofreu mais ainda. Porque ele é senhor, mas também “escravo” do jogo entrelinhas – relembre AQUI.

Então por que não recuar eventualmente as linhas para atrair o adversário em sua casa para dar a Messi as lacunas entre os setores do adversário que precisa para desequilibrar? Talvez a mudança de mentalidade faça a equipe até se defender melhor…

Ou seja, os gols e o jogo em si mostraram que os planos de jogo foram engessados e previsíveis. E deram errado. Quando o contexto do jogo apresentou situações diferentes, Willian e Messi colocaram nas redes. Lições que ficam para a volta de um confronto muito aberto.

Porque o Chelsea pode complicar muito a vida do adversário se sair mais para jogar. Assim como o Barça, com o placar inicial favorável, pode resgatar uma ideia mais cuidadosa que vem utilizando eventualmente na temporada e matar o duelo e o confronto nos contragolpes com Messi e Suárez.

Quem se adaptar melhor ao contexto sai na frente pela vaga nas quartas de final da Champions.

(Estatísticas: UEFA)

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Chelsea pode eliminar Barça porque Messi é senhor e escravo das entrelinhas http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/12/11/chelsea-pode-eliminar-barca-porque-messi-e-senhor-e-escravo-das-entrelinhas/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/12/11/chelsea-pode-eliminar-barca-porque-messi-e-senhor-e-escravo-das-entrelinhas/#respond Mon, 11 Dec 2017 13:18:52 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=3846 Difícil imaginar em dezembro um confronto previsto para fevereiro. Mas ainda que o Chelsea não seja o mesmo da temporada passada, o sorteio das oitavas de final da Liga dos Campeões não foi nada generoso com o Barcelona.

Porque o time de Antonio Conte, com linha de cinco homens na defesa e meio-campo com Kanté e Bakayoko, vai negar os espaços que o Barcelona precisa e cada vez cria menos.

Sem uma opção de drible pela ponta como Neymar e o lesionado Dembelé, o jogo está todo concentrado em Messi. O argentino precisa armar e finalizar como nunca. O único escape é Jordi Alba pela esquerda ou as eventuais infiltrações de Paulinho.

Só que Messi vive um paradoxo. É o mestre das entrelinhas. Embora a bola nos pés do gênio seja poesia pura, o conceito não é subjetivo, nem romântico. É física pura.

Antes um ponta habilidoso e goleador que virou gênio quando Guardiola o chamou no seu quarto em 2009 para mostrar os espaços entre a defesa e o meio-campo do Real Madrid e pediu para que ele jogasse exatamente ali. Entre as linhas de marcação. Para receber com liberdade e acelerar em direção ao gol. O Barça enfiou 6 a 2 no maior rival dentro do Santiago Bernabéu. Nascia o Messi “falso nove”.

Mas mesmo quando ele voltou para o lado direito com a chegada de Suárez e Neymar e agora como um autêntico “ponta de lança” moderno no 4-4-1-1 montado por Ernesto Valverde, o espaço do camisa dez genial não muda. Ele procura as brechas entre os setores.

O problema é quando o adversário não as cede. O primeiro a fazer esta leitura foi José Mourinho. Primeiro com o ônibus da Internazionale em 2010, depois no Real Madrid colocando um homem entre essas linhas – primeiro Pepe, depois Xabi Alonso – não para marcar individualmente, mas preencher o vazio. Só com a expulsão do zagueiro luso-brasileiro o time de Guardiola se impôs e Messi, no auge do auge, fez a diferença na lendária semifinal da Liga dos Campeões 2010/2011.

Com o tempo, as equipes passaram a utilizar como “antídoto” quase sempre o 4-1-4-1, como o Villareal que plantou o volante português Rúben Semedo entre as linhas e foi um duro adversário na 15ª rodada do Campeonato Espanhol. A vitória por 2 a 0 só foi construída no segundo tempo, depois da expulsão do ponteiro Raba por falta duríssima em Sergio Busquets. Messi marcou seu 14º gol numa saída de bola errada, com o adversário escancarado.

É óbvio que o argentino continua genial e desequilibrante, com números estupendos. Para este que escreve o melhor que viu jogar. Mas repare como ele costuma crescer quando o adversário cansa ou está desarticulado. No cenário ideal, recebendo com liberdade entre as linhas, da meia direita para o centro, é imparável.

Flagrante do cenário ideal para Messi: recebendo entre a defesa e o meio-campo adversário, partindo da meia direita para o centro. Serve ou finaliza. É o jogo entrelinhas (reprodução ESPN Brasil).

A questão é que os adversários já sabem disso, ficou “manjado”. E nos jogos grandes, mais parelhos, os espaços somem. Até pela cultura de ter a bola do Barcelona. O oponente se recolhe, compacta as linhas. E Messi não joga.

Na última temporada, as partidas contra PSG e Juventus foram didáticas. Para eliminar os franceses o time catalão precisou do brilho de Neymar. Diante dos italianos não teve jeito. Porque Messi simplesmente se entrega. Ou espera a entrelinha. Se ela não vem…

Repare no argentino em campo. Ele só compete com a bola. Trota, por vezes caminha. Espera a bola chegar. Só dispara se perceber a chance de recebê-la em boas condições. Se o adversário não permite, ele costuma recuar. Com as principais linhas de passe fechadas, toca de lado. Ou se enfia no centro do ataque ou em uma das pontas. Os lançamentos dos companheiros não o encontram pela desvantagem física, inclusive na estatura. Ou seja, está morto no jogo.

Contra o Villareal, um exemplo de um cenário complicado para Messi: recebe de frente para as linhas compactas e fechando as linhas de passe, com um adversário cercando. No Barcelona atual, só há escape com Jordi Alba pela esquerda (reprodução ESPN Brasil).

Por isso a desvantagem nos últimos anos no duelo com Cristiano Ronaldo pelos prêmios individuais. O português é mais adaptável, já entendeu que precisa ser mais atacante, tocar menos na bola. Passa o jogo buscando a melhor chance de finalizar. Ora entrando como centroavante, ora buscando as infiltrações em diagonal. Contra retaguardas mais ou menos fechadas. Não desiste.

Messi fraqueja. Se a concentração do rival durar noventa minutos, ele só vai aparecer na bola parada – falta ou pênalti, como nos 6 a 1 sobre o PSG. Se já era pouco antes, agora que o Barcelona depende mais de sua estrela maior pode ser bem dramático.

O Chelsea não atua no 4-1-4-1, mas o 5-4-1 bem executado, com dois leões franceses na proteção, deve complicar bastante a vida do Barcelona, mesmo com o retorno de Dembelé. Porque Messi é senhor, mas também escravo das entrelinhas. Já está mais que subentendido.

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Ventura? Itália brinca com a sorte e pune geração nem tão fraca assim http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/11/14/ventura-italia-brinca-com-a-sorte-e-pune-geracao-nem-tao-fraca-assim/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/11/14/ventura-italia-brinca-com-a-sorte-e-pune-geracao-nem-tao-fraca-assim/#respond Tue, 14 Nov 2017 11:44:35 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=3693

Foto: Divulgação/FIGC

A Itália não tem uma geração talentosa para duelar com a renovada Espanha por uma vaga na Copa do Mundo. Mas não precisava de tanto assim para superar uma Suécia sem Ibrahimovic na repescagem das eliminatórias.

Buffon na meta, uma defesa experiente, Jorginho e Verratti no meio-campo e bons nomes como Bernardeschi, Belotti e Insigne na frente. Mais que suficiente para colocar a Azzurra em mais uma Copa do Mundo. O que aconteceria na sequência dependeria do sorteio e de como a seleção chegaria à Rússia.

Em 2010 chegou na África do Sul em crise. No Brasil em 2014, o calor e o grupo complicado, com a surpreendente Costa Rica terminando na liderança, frustraram os planos.

Mas há uma referência mais recente que mostra que a crise não deveria ser tão feia: a Eurocopa 2016. Da grande atuação contra a então envelhecida Espanha e do belo duelo tático contra a Alemanha nas quartas-de-final. Perdendo apenas nos pênaltis para a atual campeã mundial. Há pouco mais de um ano, com praticamente os mesmos jogadores. E Antonio Conte no comando técnico.

Eis o ponto de desequilíbrio. Ainda que a saída do treinador para o Chelsea tenha sido traumática, a escolha do sucessor não podia ter sido tão aleatória. Giampiero Ventura, aos 69 anos, assumiu a seleção quatro vezes campeã mundial com a seguinte sequências de times no currículo nos últimos dez anos: Verona, Pisa, Bari e Torino.

Com todo respeito que essas equipes merecem, principalmente a história do clube de Turim, é muito pouco para o peso do cargo. Ainda que se compreenda a lógica diferente na Europa, na qual os melhores treinadores trabalham em clubes e não nas seleções, a federação italiana foi, no mínimo, infeliz. Com um Maurizio Sarri ali tão perto…

O resultado prático foi uma seleção armada num 4-4-2 com jeito de 4-2-4, com o meio-campo esvaziado logo diante da Espanha de Busquets, Isco, Iniesta, David Silva.. Se não há tantas opções de qualidade é obrigatório fazer o simples: organização e eficiência nas transições, defensivas e ofensivas. O que a Itália ensinou para o mundo e virou sua marca, até um clichê para falar do futebol praticado no país. Difícil entender.

Na decisão contra a Suécia no San Siro, a escolha de Immobile, um atacante de velocidade que precisa de espaço para receber às costas da retaguarda, para enfrentar uma equipe com sistema defensivo posicionado na maior parte do tempo para administrar a vantagem mínima construída no jogo de ida. Nos minutos finais, a imagem patética do volante De Rossi apontando para Insigne, talvez o mais talentoso atacante, como o jogador que deveria entrar e não ele. Apenas mostrando o óbvio.

É claro que, ainda assim, era possível fazer dois gols nos suecos em Milão e ao menos garantir o básico. Mas a Itália brincou com a sorte ao escolher Ventura. Agora paga com as lágrimas de Buffon, que não merecia se aposentar com tamanha decepção, e um dos grandes vexames de sua história. Repetindo o insucesso de 1957 ao perder a vaga para o Mundial da Suécia para a Irlanda do Norte e superando o papelão da constrangedora eliminação para a Coréia do Norte na Copa de 1966.

Vão falar em “geração fraca”, crise no Calcio e outras teses apocalípticas. Mas a liga, apesar do domínio da Juventus, tem mostrado evolução no futebol jogado, não só por causa dos estrangeiros. Basta ver o Napoli para notar que os conceitos mais atuais do jogo estão presentes. O erro maior foi a falta de cuidado e respeito com a própria história na hora de definir quem lideraria um dos maiores patrimônios do futebol mundial à beira do campo. Pecado mortal.

 

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A primeira vitória de Guardiola sobre o Chelsea, com a marca De Bruyne http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/09/30/a-primeira-vitoria-de-guardiola-sobre-o-chelsea-com-a-marca-de-bruyne/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/09/30/a-primeira-vitoria-de-guardiola-sobre-o-chelsea-com-a-marca-de-bruyne/#respond Sat, 30 Sep 2017 19:08:22 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=3409

Com a suspensão de David Luiz, Antonio Conte perdeu a peça fundamental em sua saída da defesa, que com passes longos faz a bola chegar mais rapidamente ao ataque, sem riscos da pressão adversária se transformar em bolas roubadas e contragolpes. Quase um “quarterback” de futebol americano.

Diante do Manchester City de Pep Guardiola, que adianta a marcação e propõe o jogo mesmo no Stamford Bridge, a dificuldade ficou clara. Ainda obrigou Fábregas, escalado para atuar mais avançado, a recuar e tentar qualificar o passe. O mesmo com Eden Hazard.

O resultado em campo era um time com os jogadores mais qualificados lá atrás e Kanté, Bakayoko e Azpilicueta, escalado na ala direita do 3-4-1-2 de Conte, na área dos visitantes. Alonso, ala esquerdo que joga solto, na “função Sorín” sempre presente na área adversária, desta vez não pôde se arriscar tanto por ter Sterling atacando o seu setor.

A lesão de Morata ainda no primeiro tempo induziu Conte a não colocar Batshuayi e mandar Willian a campo. Fazia algum sentido: se não tinha o homem da bola longa, não fazia sentido ter o pivô para reter na frente. Era melhor ganhar qualidade na construção. Os Blues, porém, na prática ficaram ainda mais desconfortáveis.

O Manchester City de Guardiola se defendeu atacando, ocupando o campo de ataque e adiantando e pressionando a marcação, dificultando a vida do Chelsea de Antonio Conte sem David Luiz e depois perdeu Morata, entrando Willian (Tactical Pad)

Porque mais uma vez a equipe de Guardiola se defendeu atacando. Com Walker e Delph, novamente improvisado na lateral esquerda, ora atacando por dentro ou abertos. Nas pontas, Sterling e Sané trocando de lado, buscando as diagonais ou ficando quase colados nas laterais para esgarçar a linha de cinco defensores do rival.

A solução do treinador para seguir tendo a bola, mas sem ser vítima das transições seguidas e insanas dos times ingleses, foi acelerar a troca de passes assim que entra no campo adversário. Sem a paciência dos toques até se instalar no campo de ataque e praticar o jogo de posição.

É aí que entra Kevin De Bruyne. O belga é a referência de toque veloz no campo de ataque. Marca, articula e finaliza. Também homem das bolas paradas. Completo. Novamente decisivo no golaço vencendo Courtois completando pivô de Gabriel Jesus.

O atacante brasileiro, jogando no centro como referência com a ausência de Aguero por conta de um acidente automobilístico na Holanda, teve dificuldades contra Rudiger, Christensen e Cahill, não deu sequência a algumas ações ofensivas importantes e só cresceu com espaços após o gol. Quase deixou o seu em bela finalização, não fosse as costas de Rudiger, com o goleiro já batido.

No final, com Pedro e Batshuayi nas vagas de Bakayoko e Hazard, o Chelsea tentou um abafa nas jogadas aéreas, mas o City estava prevenido com Stones e Otamendi e podia ter ampliado nos contragolpes. Atuação segura da equipe de Manchester com 62% de posse e nada menos que 17 finalizações contra quatro dos donos da casa.

Primeiro triunfo em 90 minutos de Guardiola sobre o Chelsea – vencera nos pênaltis em 2013 a Supercopa da Europa. O único time a vencer em turno e returno uma equipe do treinador catalão em uma liga nacional. Feito da temporada passada, de título. Desta vez os citizens, em plena disputa pela liderança com o rival United, estavam mais prontos e aproveitaram as ausências sentidas no time londrino.

Com a marca De Bruyne, cada vez mais desequilibrante. O meio-campista dos sonhos de qualquer time. Mais um a mudar de patamar nas mãos de Pep.

(Estatísticas: BBC)

 

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Chelsea e Real Madrid: estratégias diferentes para inspirar times do Brasil http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/07/17/chelsea-e-real-madrid-estrategias-diferentes-para-inspirar-times-do-brasil/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/07/17/chelsea-e-real-madrid-estrategias-diferentes-para-inspirar-times-do-brasil/#respond Mon, 17 Jul 2017 13:03:02 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=2974 Antes de qualquer ponderação é preciso explicar o óbvio, quase desenhar: a intenção do texto não é comparar a qualidade dos elencos dos milionários clubes da Inglaterra e da Espanha. Apenas as estratégias na gestão dos elencos. Mas também entendendo que é possível fazer uma proporcionalidade entre a capacidade dos clubes brasileiros citados e o nível do futebol jogado no país.

O Chelsea fez uma temporada 2015/16 para esquecer e não se classificou sequer para a Liga Europa. A prioridade absoluta era a Premier League, com as copas nacionais em paralelo da forma como os ingleses as vêm tratando nos últimos anos: escala reservas e só busca o título se não tiver algo mais importante em disputa. Ou seja, o que o tem restado ao Arsenal de Arsene Wenger.

A estratégia de Antonio Conte foi clara: depois de encontrar a formação com melhor relação desempenho/resultado, insistiu com ela e rodou bem pouco o elenco. Com a repetição de jogos e semanas livres para os treinos que funcionam mais como “polimento” após uma pré-temporada mais forte e longa que as do Brasil, a variação do 5-4-1 para o 3-4-3 ganhou ainda mais fluência. Os atletas passaram a executar as jogadas de memória, sem pensar muito e a equipe sobrou no Inglês.

Já vem sendo o trunfo do Corinthians na temporada. Equipe que ganhou corpo no Estadual, mas vacilou na Copa do Brasil com a eliminação para o Internacional. A arrancada espetacular no início do Brasileiro já sinaliza que a Sul-Americana, consequência da temporada irregular em 2016, ficará em segundo plano. A menos que abra uma vantagem na competição nacional tão confortável que permita inverter a lógica e poupar para um duelo decisivo no torneio continental.

O Real Madrid queria voltar a vencer o Espanhol depois de cinco anos e quebrar a hegemonia do rival Barcelona. Mas sem perder de vista a Liga dos Campeões, historicamente um alvo de conquista do maior campeão do torneio. A solução de Zinedine Zidane, depois de observar o desgaste de seus jogadores na temporada anterior, especialmente da estrela Cristiano Ronaldo foi simples, até um tanto antiquada: definir titulares e reservas. Treinar, condicionar e entrosar para que ambos estivessem prontos quando necessário.

Mas sem tapar os olhos para o desempenho e praticar a meritocracia. Tanto que Isco virou titular e Gareth Bale iniciou a decisão da Liga dos Campeões no seu País de Gales no banco. As partidas em que a equipe reserva seria utilizada foram definidas dentro de um planejamento, não necessariamente na partida do Espanhol que antecedia um duelo importante pela Champions.

O resultado: as duas taças em Madrid e todos voando no fim da temporada. Os titulares pelo descanso e os suplentes pela motivação e por conta do ritmo de competição. A dosagem certa para o futebol atual, que exige do atleta um enorme esforço mental – concentração absoluta para as tomadas de decisão corretas – e físico, com um aumento exponencial nas ações de alta intensidade – em especial os piques curtos para dar opção e receber a bola ou pressionar o adversário.

Flamengo, Palmeiras e Atlético Mineiro, pelo alto investimento em seus elencos e, por conta disso, não podendo descartar nenhuma competição na temporada, podem pensar em algo parecido. Envolvidos em três campeonatos, se tentarem insistir com os titulares em todos haverá esgotamento e desvantagem contra adversários que não estão na mesma maratona de jogos a cada três dias.

Já com equipes mistas, poupando apenas aqueles que os exames apontam próximos de estourar os músculos, o entrosamento sempre fica comprometido. Os famosos rodízios não têm dado muito resultado prático por conta da falta de sintonia entre os setores muito alterados.

Parece mais racional definir antes e escolher as partidas mais acessíveis. Não como o Grêmio fez, poupando contra Sport e Palmeiras fora de casa porque tinha jogos considerados prioritários no meio da semana. Pontos jogados fora que hoje fazem falta na luta para se aproximar do líder Corinthians.

É lógico que sempre é mais inteligente deixar alguns titulares no banco para alguma eventualidade. Mas mesmo concentrando e fazendo parte da logística da partida, não deixa de ser um repouso para pernas e mentes. Em clubes tão pressionados por conquistas é um alívio. Cobrar presença em todos os jogos para justificar os altos salários parece pouco inteligente. Porque o atleta não está cansado a ponto de não poder exercer seu ofício. A ausência é apenas para que ele mantenha o alto rendimento. Não são máquinas.

Já passou da hora dos clubes brasileiros deixarem de se preocupar tanto com decisões políticas, pautadas por reações de torcida e imprensa. Não há como controlar os resultados, por isso planejar para minimizar os equívocos parece sempre a melhor escolha. Inclusive surpresas agradáveis podem acontecer. Como os titulares do Real Madrid derrotados pelo Barcelona no Santiago Bernabéu, mas não deixando o rival se aproximar da liderança exatamente pelos pontos conquistados pelos reservas, inclusive em jogos longe de Madri.

Ninguém por aqui conta com uma seleção mundial no elenco. Mas o Brasileiro também não tem o nível do Espanhol – as competições internacionais mostram que Barça e Real não sobram por falta de rivais à altura, mas por estarem numa prateleira acima no futebol mundial pela competência dentro de campo.

Com a disputa ainda no primeiro turno é possível corrigir a rota e definir o planejamento. O Corinthians parece cada vez mais consciente que o “modo Chelsea” é o norte a seguir, mantendo a base e investindo em recuperação e treinamentos pensando no Brasileiro.

Já os que gastaram para rechear seus elencos precisam definir um caminho para não correrem o risco de terminar 2017 sem taças importantes para ostentar. O Real de Zidane ganhou a Espanha e a Europa com inteligência. É possível fazer parecido, mesmo sem tanto talento disponível.

 

 

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De Conte para Guardiola, mais uma aula de Premier League http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/04/05/de-conte-para-guardiola-mais-uma-aula-de-premier-league/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/04/05/de-conte-para-guardiola-mais-uma-aula-de-premier-league/#respond Wed, 05 Apr 2017 21:45:33 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=2500

Primeiro tempo de eficiência do Chelsea na frente com Hazard, mas problemas pela direita com Sané ganhando na velocidade de Zouma às costas de Azpilicueta, de volta à lateral direita (Tactical Pad).

O Stamford Bridge não viu uma grande atuação técnica ou arrasadora nos contragolpes como as que o Chelsea protagonizou para construir sua liderança absoluta no Campeonato Inglês.

Mas foi mais uma aula de Premier League que Antonio Conte, em sua primeira temporada, concede ao colega, também “debutante”, Pep Guardiola.

A palavra é eficiência. Mesma virtude dos 3 a 1 no Etihad Stadium, o triunfo que consolidou o time londrino como favorito ao título. Os Blues tiveram 40% de posse, finalizaram 10 vezes. Quatro no alvo. Três terminaram em gols. O primeiro de Hazard, em chute que desviou em Kompany e Caballero aceitou. No segundo do craque belga, a cobrança do pênalti – tolo, de Fernandinho em Pedro – que o goleiro argentino deu rebote e o próprio camisa dez aproveitou.

Outra lição é a de leitura de jogo para mexer no time, mesmo vencendo e não sendo a prática habitual do técnico que menos faz substituições na liga. Como Zouma sofria para conter a velocidade de Sané, Conte voltou Azpilicueta para sua função de zagueiro e recuou Pedro como ala. O zagueiro francês deu lugar a Matic, que foi preencher o meio com Kanté e Fábregas, que abria à direita apenas para conter os avanços esporádicos de Clichy.

Enquanto isso, Guardiola apostou na sua ideia de controlar a bola, trocar passes, buscar superioridade numérica no meio. Sem o passe vertical, porém. Finalizou 17 vezes, sete na direção da meta de Courtois. Mas, a rigor, chances reais foram apenas quatro: o gol de Kun Aguero no rebote do chute de David Silva em falha de Courtois na saída de bola; a infiltração de Sané às costas de Zouma que certamente influenciou a mexida de Conte na volta do intervalo.

Na segunda etapa, toques e mais toques dos citizens rondando a área. Mesmo sem criatividade e perspectivas de reação, só fez a primeira substituição aos 34 minutos da segunda etapa – Sterling na vaga do decepcionante De Bruyne. E oportunidades claras só nos acréscimos, com Aguero e o incrível gol perdido de Stones.

Muito pouco para quem ocupou o campo de ataque. Porque o controle do jogo foi do Chelsea, mesmo sem a bola. A última linha bem posicionada com um David Luiz mais uma vez chamando a atenção, paradoxalmente, pela discrição. Pouco aparece, para o bem e para o mal. Joga simples, como nunca.

A troca de Zouma por Matic devolveu Azpilicueta à zaga para cobrir Pedro contra Sané e preencher mais o meio com Fabregas fechando o centro e abrir eventualmente para cobrir os avanços esporádicos de Clichy. O s Blues controlaram o jogo sem a bola e Guardiola só mexeu no time no final (Tactical Pad).

O Chelsea não dá espetáculo e desta vez pouco acionou o pivô e artilheiro Diego Costa. Deixou o domínio, ainda que inócuo, para o adversário e foi pragmático para vencer, não permitir a aproximação do Tottenham depois da derrota na última rodada para o Crystal Palace em casa. A vantagem no topo da tabela segue nos sete pontos.

Pep Guardiola volta para Manchester com muito para pensar. Parece claro que não confia no elenco do City – a ponto de improvisar Jesús Navas na ala direita e deixar Zabaleta mofando no banco. Na próxima temporada, além da reformulação no grupo de jogadores, valem as lições de Conte: na “loucura” da Premier League, quando ataca é preciso ir às redes e no trabalho defensivo precisa controlar e negar espaços na zona de decisão.

O italiano aprendeu bem rápido. Ou já chegou pronto para dominar a liga.

(Estatísticas: BBC)

 

 

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