atleticodemadri – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Os dez maiores treinadores do século 21 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/30/os-dez-maiores-treinadores-do-seculo-21/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/30/os-dez-maiores-treinadores-do-seculo-21/#respond Mon, 30 Mar 2020 11:45:52 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8231

Foto: Darren Staples / Reuters

1º – Pep Guardiola 

O que melhor combinou conquistas, desempenho das equipes e influência no jogo. Suas ideias e transformações ao longo do tempo puxaram fila entre os treinadores e fez o esporte evoluir trinta anos em dez. O melhor time do século, o Barcelona de 2010/11, carrega sua forte assinatura. O mais vencedor em ligas por pontos corridos, quando o melhor trabalho quase sempre se impõe. São sete em nove disputadas. Dominante na Espanha, Alemanha e Inglaterra.

Influenciado por Rinus Michels, Johan Cruyff, Juan Manuel Lillo, Marcelo Bielsa, Arrigo Sacchi e também assimilando conceitos de seus contemporâneos, Guardiola se reinventa o tempo todo, adicionando intensidade e se adaptando ao ritmo da Premier League. Só não negocia a posse de bola, a pressão pós-perda para recuperá-la o mais rápido possível e a volúpia ofensiva de suas equipes. Um gênio.

2º – José Mourinho

O melhor do mundo indiscutível de 2003 a 2008. Contra Guardiola teve que se provar e protagonizou os grandes duelos dos últimos dez anos, vencendo com a Internazionale a Liga dos Campeões 2009/10 e La Liga em 2011/12 com campanhas históricas. Mas caindo com o Real Madrid na sequência de superclássicos de 2010/11, superado nas ligas nacional e continental, só vencendo a Copa do Rei.

Nem o ocaso recente diminui os grandes feitos e também a contribuição para o futebol. Sim, a sua “retranca inteligente” também ajudou a fazer o jogo evoluir. Uma pena ter assumido de forma exagerada o personagem “Darth Vader da bola”, se esforçando tanto para ser o anti-Guardiola que seus trabalhos estagnaram no exagero defensivo, no “park the bus”, e também na tensão exagerada da gestão do vestiário.

3º – Carlo Ancelotti

A liderança tranquila. Um gestor de talentos por excelência. Identifica os líderes, técnicos e anímicos, de um elenco e agrega ao trabalho, criando um clima amistoso, mesmo na imensa pressão do futebol em alto nível. Amado por figuras díspares, como Kaká, Ibrahimovic e Cristiano Ronaldo.

Mas também deu sua contribuição tática, com a “Árvore de Natal”, o 4-3-2-1 do Milan campeão europeu e mundial em 2006/07 que tinha Pirlo como “regista” e Kaká mais solto para rasgar as defesas adversárias com força e velocidade. Também o Real Madrid de “La Decima”, dando a melhor resposta ao estilo de Pep Guardiola ao massacrar o Bayern de Munique com 5 a 0 no agregado e um futebol de compactação defensiva e contragolpes demolidores.

4º – Alex Ferguson

O homem que fez o Manchester United tomar do Liverpool o posto de maior vencedor na Inglaterra, com 20 títulos. O Rei da Premier League, com 13 conquistas. Sete neste século. Cinquenta títulos na carreira. E os Red Devils tentam até hoje reencontrar um caminho de volta às glórias.

Ferguson não era nenhum gênio tático, mas tinha a capacidade de desenvolver seus jogadores, como fez com Cristiano Ronaldo, Wayne Rooney, David Beckham, Ryan Giggs e tantos outros. Influenciado pelos treinadores estrangeiros que chegaram a Inglaterra, soube criar variações e apostar na versatilidade dos atletas. Apostava também na força mental, especialmente no final dos jogos, que criou o mito do “Fergie Time”, arrancando vitórias improváveis que construíram uma carreira mais que vencedora.

5º – Jurgen Klopp

O melhor treinador da atualidade. O grande algoz de Guardiola, criando problemas para o catalão desde os duelos do Bayern contra o Borussia Dortmund que comandou e construiu uma hegemonia no início desta década na Alemanha com seu futebol “rock’n’roll”.

Estilo personalíssimo, de intensidade máxima e rapidez nas transições, mas que aprendeu a trabalhar a bola para acrescentar pausas e não exaurir sua equipe. Assim deu o salto competitivo que fez o Liverpool duas vezes finalista da Champions, último campeão e agora com o tão sonhado título de Premier League dos Reds encaminhado e barrado apenas pelo Covid-19. Além de ótimo profissional, um cara boa gente. Carismático, adorado por seus jogadores e respeitado pelos adversários.

6º – Arsène Wenger

Não se prenda à imagem final do francês no Arsenal decadente. Wenger revolucionou não só o clube, mas também o futebol inglês. Sepultou o “kick and rush” e adicionou leveza e valorização da técnica. Com erros e acertos, também marcou seu trabalho pela descoberta e desenvolvimento de jovens talentos. Assim ajudou o clube a se estruturar financeiramente e construir o Emirates Stadium.

O grande momento, indiscutivelmente, foi o título invicto da Premier League em 2003/04. Os “Invincibles” das rápidas transições ofensivas e do fulgor da dupla Dennis Bergkamp e Thierry Henry no ataque, bem assessorados por Ljungberg, Pires, Vieira e Ashley Cole. Faltou o título europeu, que parou no Barcelona de Ronaldinho em 2005/06, mas a trajetória é marcante na história.

7º -Jupp Heynckes

O “pai” do futebol mais inteligente da atualidade, com times versáteis, capazes de mudar de estratégia nas partidas sem alterar a escalação. Em 2012/13, o Bayern de Munique da tríplice coroa foi o segundo time com mais posse na Europa, mas atropelou o Barcelona, líder no controle da bola, na semifinal da Champions com 7 a 0 no agregado e 40% de posse na média das duas partidas.

O time de Robben e Ribéry que podia encurralar o adversário em seu campo ou atrair e atropelar com transições ofensivas avassaladoras. Superando a doída derrota nos pênaltis para o Chelsea na final europeia em Munique e fazendo da temporada de despedida do treinador veterano uma aventura épica que deixou marcas tão profundas que fez Heynckes retornar da aposentadoria em 2018 para reerguer o clube e levá-lo a novo título da Bundesliga, aos 73 anos.

8º – Zinedine Zidane

Um gênio dos campos que fez história em sua primeira experiência como treinador em um grande time. Tricampeão da Champions, um feito que, mesmo com oscilações no desempenho e beneficiado por algumas arbitragens bastante questionáveis, é difícil de mensurar sem o devido distanciamento histórico.

Herdeiro da liderança tranquila de Ancelotti, de quem foi auxiliar no próprio time merengue, o francês ajustou um timaço que sabia trabalhar no campo de ataque, mas também nos contragolpes. A temporada 2016/17 foi perfeita, não só pelo título espanhol, mas pela armação do 4-3-1-2 móvel que tinha Isco ora se juntando a Casemiro, Modric e Kroos no meio-campo, ora formando um trio no ataque com Cristiano Ronaldo e Benzema. Atuação magnífica nos 4 a 1 sobre a Juventus na final da Champions.

9º – Vicente Del Bosque

Dois grandes feitos no século: o único treinador que conseguiu fazer o time galáctico do Real Madrid, com todas as estrelas – Roberto Carlos, Figo, Zidane, Raúl e Ronaldo – faturar um título: a liga espanhola 2002/03. Apenas sem o Fenômeno ganhou a Champions da temporada anterior, com o gol antológico de Zidane na final contra o Bayer Leverkusen.

Ainda o primeiro título mundial da Espanha em 2010. Combinando com sabedoria o legado de Aragonés no título da Eurocopa 2008 com a influência de Pep Guardiola no Barcelona que era a base da seleção. Sabendo que não contava com o gênio Messi, apostou em uma posse obsessiva e defensiva, que trabalhava a bola no ritmo de Xavi e Iniesta para ser menos incomodado pelos adversários. Del Bosque também era um sábio gestor de vestiário que criava um clima sereno para as estrelas brilharem.

10º – Diego Simeone

O argentino não poderia deixar de figurar nesta lista apenas por ter conquistado uma liga espanhola superando o Barcelona de Messi e o Real Madrid de Cristiano Ronaldo – simplesmente dois dos maiores times da história de clubes gigantes. Na temporada 2013/14 que ainda teve final da Champions que escapou nos últimos segundos.

Mas Simeone fez muito mais. Podemos dividir a história do Atlético de Madri antes e depois do treinador. Não só pelos dois títulos de Liga Europa e uma Copa do Rei, além da liga espanhola já citada, mas pelo resgate da autoestima e do orgulho do clube. Capaz de feitos como o mais recente, eliminando o campeão Liverpool da Liga dos Campeões. Você pode não apreciar o estilo, mas tem que respeitar o que conseguiu sem os mesmos recursos dos gigantes espanhois.

 

 

 

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Atacante brasileiro mais subestimado não é Careca, Rivaldo nem Bebeto http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/27/atacante-brasileiro-mais-subestimado-nao-e-careca-rivaldo-nem-bebeto/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/27/atacante-brasileiro-mais-subestimado-nao-e-careca-rivaldo-nem-bebeto/#respond Fri, 27 Mar 2020 12:16:14 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8213

Foto: Arquivo / CBF

O tema surgiu novamente, até pela pausa no futebol em todo mundo, e vale uma contextualização sem paixões, nem memórias afetivas.

É dever reconhecer que Rivaldo, de fato, é menos reverenciado do que deveria. Importante em duas Copas do Mundo, decisivo em 2002. Craque da Copa América de 1999 também. Talvez não tenha sabido mesmo vender a própria imagem e foi eclipsado por Romário, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho.

Mas quem ganhou Bola de Ouro, justa premiação pelo ano mágico de 1999, não pode ser chamado de “esquecido” ou subestimado. O período foi prolífico de talentos no ataque e Rivaldo tinha uma característica bastante peculiar: era de lampejos e oscilava bastante dentro das próprias partidas. Capaz de sumir do jogo, às vezes prender demais a bola…mas de repente aparecer no estalo do craque.

Em alguns momentos, porém, o lampejo não apareceu e o desempenho caiu vertiginosamente. Como em 1996, nas Olimpíadas de Atlanta. Convocado como um dos acimas de 23 anos ao lado de Aldair e Bebeto, teve atuação trágica na eliminação para a Nigéria. Nada que não tenha sido compensado posteriormente, em clubes e seleção.

O mais subestimado também não é Careca. Longe disso. Idolatrado por são-paulinos e torcedores do Napoli, teve momentos brilhantes, de fato. Campeão brasileiro “precoce” com 19 anos em 1978, craque e artilheiro da principal competição nacional em 1986. Grande parceiro de Maradona em Nápoles. Autor do gol contra o Chile no Maracanã que classificou o Brasil para o Mundial de 1990.

Mas, objetivamente, falhou na seleção quando teve a chance de ser protagonista em Copas do Mundo. Seja fugindo das cobranças de pênalti nas quartas de final contra a França em 1986, sendo o artilheiro brasileiro com cinco gols. Ou quando se esperou demais dele, em 1990, porém foi eliminado nas oitavas pela Argentina – pior classificação brasileira desde 1966 – e perdendo um gol feito no início da partida.

Careca foi camisa nove e referência da seleção de 1986 a 1992. O único título conquistado no período foi a Copa América de 1989, disputada no Brasil. Careca ficou de fora, lesionado. O título veio com gol de Romário na final contra o Uruguai no Maracanã.

Muito bem assessorado por Bebeto, outro que poderia ser mais reconhecido. Craque do torneio continental há 31 anos, fundamental em 1994. O melhor companheiro de ataque de Romário, parceria que nasceu com a prata olímpica em Seul-1988.

Chave do sucesso das duas equipes, por ser um atacante com visão de jogo de armador. Compensava com criatividade os meias que jogavam muito mais como “secretários” dos laterais: Silas e Valdo em 1989, Mazinho e Zinho em 1994. Bebeto recuava e procurava Romário. Ainda marcava gols importantes, como contra os Estados Unidos na Copa do Mundo, e antológicos, como o de voleio sobre a Argentina no Maracanã.

Talvez tenha faltando um pouco mais de personalidade. Difícil imaginar Romário aceitando um tapa do treinador Carlos Alberto Silva em 1987. Bebeto também pagou por uma decisão equivocada no retorno ao Brasil: a volta ao Flamengo em 1996 não conquistou rubro-negros, ainda magoados pela saída para o Vasco em 1989, e ainda revoltou cruzmaltinos, que o alçaram à condição de ídolo e nunca imaginaram que ele pudesse escolher o grande rival. Outro impacto em sua imagem.

O atacante brasileiro mais subestimado da história chama-se Edvaldo. Edvaldo Izídio Neto. Ou Vavá. Ou “Peito de Aço”. Ou “Leão da Copa”. Pernambucano como Rivaldo, centroavante como Careca, discreto como Bebeto.

Bicampeão mundial em 1958/1962, as duas únicas Copas que disputou. Marcando nove gols, como Jairzinho e Ademir Menezes, só superados por Pelé e Ronaldo Fenômeno. Único da história a marcar em duas finais consecutivas, contra Suécia e Tchecoslováquia.

Cinco gols em 1958. Dois contra a União Soviética que impediram a eliminação na fase de grupos. O que abriu o placar na semifinal contra a França e os dois que decretaram a virada para 2 a 1 que terminaria em 5 a 2 na final. Mais quatro em 1962, sendo um dos seis artilheiros do Mundial no Chile. O mesmo número de bolas nas redes de Garrincha, o craque daquela edição.

Ainda seria campeão por Vasco, Palmeiras e América do México. Teve também sucesso na Europa, critério que os mais jovens utilizam para medir jogadores do passado. No Atlético de Madri, conquistou a Copa do Rei em 1960 e 1961 vencendo o Real Madrid nas duas finais. Ainda foi o artilheiro da então Copa dos Campeões da Europa em 1958/59. Só voltou ao Brasil em 1961 para jogar no Palmeiras para facilitar a convocação para a Copa no ano seguinte.

Morreu em 2002, aos 67 anos, sem o devido reconhecimento. Também frustrado por não ter sido treinador do Vasco, paixão desde menino.

Para a “geração internet” é um desconhecido. Na foto que ilustra o post, certamente será o menos reconhecido ao lado de Garrinha, Didi, Pelé e Zagallo. É claro que havia outros protagonistas na seleção bicampeã, mas Vavá foi fundamental. Não só com gols, mas também com movimentação que abria espaços para Pelé, depois Amarildo. Com o ponta “formiguinha” mais recuado, o centroavante caía pela esquerda e deixava o corredor central para o os companheiros infiltrarem. Também por isso colocou Mazzola e Coutinho no banco em duas Copas.

Não era um primor técnico, mas compensava com vigor, inteligência, fibra, boa colocação na área e precisão nas finalizações. Imagine em tempos midiáticos um jogador com seus feitos. Por isso vale a lembrança para fazer justiça a quem de fato merece.

 

 

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Barcelona precisa de um Zidane, Real Madrid de um Messi http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/01/10/barcelona-precisa-de-um-zidane-real-madrid-de-um-messi/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/01/10/barcelona-precisa-de-um-zidane-real-madrid-de-um-messi/#respond Fri, 10 Jan 2020 11:18:17 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7813

Foto: Instagram / Zidane

A final da Supercopa da Espanha será entre Real Madrid e Atlético de Madri. A competição que tem como objetivo reunir os campeões da liga e da Copa no país, justamente no primeiro ano em um novo formato, terá o dérbi da capital da Espanha, deixando de fora Barcelona, vencedor de La Liga, e Valencia, campeão da Copa do Rei.

Uma espécie de “punição” para um torneio que ganhou caráter estritamente comercial: colocou mais um jogo no calendário dos finalistas, foi disputado na controversa Arábia Saudita e tinha como claro objetivo forçar a realização de mais um superclássico na temporada. Novamente a equipe de Diego Simeone foi a “intrusa” para atrapalhar os planos. E tudo isso sem estádios lotados. Bem feito.

Mas a competição serviu para reforçar impressões sobre os dois gigantes do futebol globalizado que têm visto suas equipes, depois de um domínio mais nítido entre 2014 e 2018, perderem competitividade no mais alto nível. Algo que sempre tem impacto em suas marcas. Afinal, os dois não trabalham e investem para ver o Liverpool ostentar o poder de melhor time da Europa e do planeta.

O Barcelona escancara de vez a necessidade de um treinador com mais ideias que Ernesto Valverde. O time catalão muda peças, mas não consegue sair da variação do 4-3-3 para o 4-4-2 no sistema tático, da fragilidade defensiva por conta da baixa intensidade na pressão logo após a perda da bola e do espaçamento entre os setores e, finalmente, da dependência excessiva de Lionel Messi para criar no ataque.

Valverde coloca Arturo Vidal na função sacrificante de meio-campista pela direita no Barça. Precisa ajudar o lateral na recomposição e também nas ações ofensivas, ainda preencher o meio quando o time é atacado do lado oposto e aparecer na área para finalizar. Não há quem aguente.

E foi justamente no esgotamento físico por jogar desorganizado, e também perder chances ao longo da partida, que o time blaugrana acabou levando a dura virada. Depois de sair atrás no gol de Koke e virar com Messi e Griezmann. Morata, de pênalti, e Correa, no contragolpe, definiram a vaga na decisão espanhola.

Contra o Real Madrid, que superou o Valencia no dia anterior por 3 a 1. Em um inusitado 4-3-2-1 que preencheu o meio-campo por conta das ausências de Hazard, Benzema e Bale e da opção de Zinedine Zidane por deixar os jovens brasileiros Rodrygo e Vinicius Júnior na reserva.

Casemiro, Valverde e Kroos no tripé e Modric e Isco com mais liberdade para se aproximar de Jovic. Os laterais Carvajal e Mendy abriam o campo e buscavam a linha de fundo, enquanto os meias se procuravam no meio para articular. Novamente com o ótimo uruguaio Federico Valverde se apresentando como opção pela direita e também de infiltração. Com 21 anos, é quem coloca intensidade em um setor envelhecido.

Mas ainda capaz de lances geniais, como na cobrança de escanteio pela esquerda de Toni Kroos que surpreendeu o goleiro Doménech no gol olímpico. Também no lindo toque de três dedos de Luka Modric fechando o placar. Parejo marcou de pênalti para o atual campeão da Copa do Rei e Isco encerrou um jejum de 23 partidas sem ir às redes.

Mais uma prova da versatilidade de Zinedine Zidane, que alterna sistemas e propostas buscando sempre a melhor solução para sua equipe. Talvez a “árvore de Natal” consagrada no Milan por Carlo Ancelotti, referência como treinador do francês que foi auxiliar do italiano no próprio Real, possa ser usada no futuro, mesmo com o retorno dos titulares. Com Isco e Hazard articulando atrás de Benzema.

Em qualquer cenário, a carência do time merengue, apesar dos resultados consistentes na temporada e de uma invencibilidade que chega a 15 partidas, continua sendo de um talento realmente desequilibrante no mais alto nível. Que faltou, por exemplo, no empate sem gols contra o Barcelona no Camp Nou para consolidar no placar a superioridade nos 90 minutos. Um extraclasse para garantir vitórias e taças. O que era Cristiano Ronaldo.

O que é Messi no Barça. E seria ainda mais se tivesse uma equipe forte para suportá-lo. Falta um grande treinador ao Barça. Falta um Zidane, que teria um Real ainda mais poderoso se contasse com um gênio como o argentino. Nesse vácuo, o Atlético pode surpreender nesta estranha final no domingo.

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Casemiro, o insubstituível. No Real Madrid e na seleção brasileira http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/08/16/casemiro-o-insubstituivel-no-real-madrid-e-na-selecao-brasileira/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/08/16/casemiro-o-insubstituivel-no-real-madrid-e-na-selecao-brasileira/#respond Thu, 16 Aug 2018 15:38:27 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5077

31 minutos do segundo tempo da decisão em jogo único da Supercopa da Europa em Tallinn, Estônia. Mais um clássico de Madri valendo taça. O placar aponta 2 a 1 para o Real Madrid, com atuação relativamente segura do tricampeão da Liga dos Campeões. Até que a placa de substituição sinaliza que Casemiro, exausto e sentindo problemas musculares pelo esforço depois de um curto período de treinos na volta das férias, deixará o campo para a entrada de Daniel Ceballos.

Dois minutos depois, Marcelo tenta um lençol para trás na linha lateral (!), o Atlético recupera a bola, Sergio Ramos tenta cobrir o setor, mas sai a jogada que termina no empate com Diego Costa. Para em seguida o time de Diego Simeone, comandado pelo auxiliar Germán Burgos à beira do campo, tomar conta do clássico e voar na prorrogação para  fazer 4 a 2 e garantir o título. Com muito volume no meio-campo e gols de Koke e Saúl Níguez.

O primeiro triunfo dos colchoneros na “Era Simeone” sobre o time meregue numa decisão ou confronto de mata-mata continental gerou repercussão imediata. Primeiro exaltando a capacidade de competir do Atlético, com trabalho mais que consolidado e agora um elenco equilibrado e homogêneo para brigar em todas as frentes.

Mas principalmente sugerindo que o revés seria o primeiro símbolo do declínio depois das saídas de Zinedine Zidane do comando técnico, substituído por Julien Lopetegui, e de Cristiano Ronaldo. O treinador mais vencedor, na média de taças e anos no comando, e o maior artilheiro da história do clube mais vencedor do planeta.

Óbvio que é um baque para qualquer equipe e fica difícil vislumbrar o que será do Real nesta temporada. Mas ao menos a história do primeiro jogo oficia poderia ter sido bem diferente se Casemiro tivesse condições para seguir em campo.

Porque o volante brasileiro é o grande pilar de sustentação do trabalho defensivo. Principalmente para fazer o balanço, se defendendo dos contragolpes. Pela esquerda, Marcelo desce com tranquilidade porque sabe que Sergio Ramos sairá na cobertura e Casemiro vai recuar e fechar a zona de conclusão do adversário na própria área.

Eis a maior virtude de Casemiro: o senso de colocação e a imposição física para estar sempre no lugar certo e bloquear a finalização ou o passe decisivo do oponente. Simplesmente estar com seu corpo no espaço exato para impedir ou inibir a ação mais contundente.

Não é por acaso que a mudança de Zidane ao efetivar Casemiro à frente da defesa adiantando Luka Modric e Toni Kroos tenha dado tão certo e se mantido ao longo de toda a trajetória vencedora. Carlo Ancelotti e Rafa Benítez tentaram firmar a dupla Kroos-Modric à frente da defesa para ter controle de jogo através da posse de bola. Mas a retaguarda sofria demais.

A troca equilibrou o time. Ainda que seja preciso haver compensações, principalmente na saida de bola. Um dos meias recua para qualificar o passe e Casemiro se adianta. Na prática, muito mais para não atrapalhar do que para contribuir. Não que seja fraco no fundamento mais importante para um meio-campista. Mas como é mais alto e forte não tem a mesma agilidade e precisão de seus companheiros de setor para sair da pressão. E também pode contribuir mais à frente, se juntando ao quarteto ofensivo e até aparecendo na zona de conclusão.

Com a saída de Mateo Kovacic para o Chelsea, o Real Madrid ficou sem um substituto com características ao menos parecidas. Na derrota para o Atlético, mesmo com Modric entrando apenas na segunda etapa, o meio-campo fez água sem a bola e deu espaços demais ao rival. É mais um problema para a temporada. E dos grandes. Casemiro é simplesmente insubstituível.

No clube e também na seleção brasileira. Na Copa do Mundo, o volante foi fundamental para cobrir os espaços deixados por Paulinho e Phillipe Coutinho no meio-campo. Também fechava o meio da área quando Miranda saía na cobertura de Marcelo. Suspenso contra a Bélgica, viu Fernandinho entrar e cumprir uma atuação desastrosa depois do gol contra que marcou. Impossível não imaginar como teria sido o duelo pelas quartas-de-final com o camisa cinco em campo.

O novo ciclo de Tite deve partir da presença de Casemiro entre os convocados. Ainda que a renovação no setor seja inevitável, com Arthur, Paquetá, Fred e outros nomes que possam surgir. É dever também estudar uma reposição que não prejudique tanto o desempenho coletivo.

Porque Casemiro é único. Pode não ser o melhor volante do mundo, mas suas características atendem precisamente as necessidades de Real Madrid e seleção brasileira na função que executa. Outros podem ser as estrelas e chamar para si todas as atenções. Mas quando sua presença discreta se transforma em ausência tudo parece ruir.  Aconteceu de novo na Estônia. Melhor para o Atlético.

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Santos de Jair Ventura é o time mais previsível do Brasil http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/05/25/santos-de-jair-ventura-e-o-time-mais-previsivel-do-brasil/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/05/25/santos-de-jair-ventura-e-o-time-mais-previsivel-do-brasil/#respond Fri, 25 May 2018 13:38:18 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4635

O Santos está nas quartas de final da Copa do Brasil e terminou com líder do Grupo 6 da Libertadores. Começou mal o Brasileiro, mas em seis rodadas e com uma parada para a Copa do Mundo pela frente o impacto é menor. O clube, porém, vive uma crise. Quase existencial.

Jair Ventura fala em “cobrança por show”, Gabigol critica vaias da torcida. Mas o fato é que a desconfiança que existia em relação à capacidade do treinador fazer sua equipe jogar com posse de bola no campo de ataque quando necessário, mesmo com elenco mais qualificado em relação ao Botafogo, se transformou num fato. Inquestionável.

Muito simples jogar tudo na conta da ausência de um “camisa dez” para justificar a criatividade quase nula e dependência de espaços e falhas do adversário para chegar na frente em condições de finalizar. Mas o que falta ao time, de fato, é o chamado jogo entre linhas.

Eduardo Sasha e Gabigol, mais que o garoto Rodrygo, tentam compensar voltando pelo centro para ajudar Vitor Bueno ou Jean Mota na articulação. Mas há pouca mobilidade e fluência entre a defesa e o meio-campo adversários. Sem triangulações, busca do homem livre. O time roda a bola, que chega nos laterais Daniel Guedes ou Victor Ferraz e Dodô e sai o cruzamento. Ou a tentativa de um lançamento às costas da defesa para um dos três atacantes. Ou tentar na bola parada. Sem espaços o time toca, gira e até finaliza, mas não consegue criar a chance cristalina, que facilita a conclusão.

Com isso temos o time mais previsível do Brasil entre os grandes clubes. Não é ser “retranqueiro”, mas sim sofrer para jogar como protagonista. Algo obrigatório na maioria dos jogos pela camisa santista, a condição de grande. O “DNA” vem na carona, na cultura do clube e na preferência do torcedor. A questão está longe de ser estética. O desempenho simplesmente não satisfaz, apesar dos resultados nos torneios de mata-mata que vão dando sobrevida ao treinador.

Jair sempre cita Diego Simeone como sua referência. O treinador argentino também conviveu com problemas para fazer seu Atlético de Madri criar espaços. Resolveu com mudança no perfil de contratações e de captação nas divisões de base, mas também na dinâmica da equipe. Hoje Griezmann é um dos “reis” do jogo entrelinhas na Europa, circulando fácil às costas do meio-campo do oponente. Questão de tempo, aprendizado, evolução.

É óbvio que a volta de Bruno Henrique e a contratação de um meia criativo podem dar um encaixe melhor à equipe e Jair Ventura, um jovem treinador em ascensão, pode evoluir e encontrar soluções criativas tornar a posse de bola da equipe mais objetiva. Mas o rendimento ofensivo até aqui beira a indigência.

Em um grupo que se mostrou acessível, apesar de clubes tradicionais como Estudiantes e Nacional, marcar apenas seis gols no mesmo número de partidas chega a ser ridículo. Nenhum no fraquíssimo Real Garcilaso. Apenas um ponto conquistado contra o time peruano. Justamente pela dificuldade por conta da obrigação de atacar. Sintomático.

Nas estatísticas do torneio continental é apenas o 18º que mais finaliza. Os melhores números estão nos passes certos: 92,2%  de efetividade, o sexto melhor. Muito por conta dos toques laterais, simples. Que são importantes, mas apenas como uma circulação de bola em busca do essencial: a infiltração. De preferência no funil, na zona mais perigosa – pode dentro ou nas penetrações em diagonal. Raridade no alvinegro praiano.

Uma das camisas que mais “fedem” a gol no planeta vive um período de ocaso. O primeiro passo para a mudança é admitir o problema, ainda que só internamente. A carência é de ideias, mais que de peças. O Santos precisa voltar a se reconhecer em campo.

(Estatísticas: Footstats)

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Sampaoli deve visitar Simeone. Argentina precisa de paixão e humildade http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/05/17/sampaoli-deve-visitar-simeone-argentina-precisa-de-paixao-e-humildade/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/05/17/sampaoli-deve-visitar-simeone-argentina-precisa-de-paixao-e-humildade/#respond Thu, 17 May 2018 11:46:47 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4591

Foto: Álex Marín

Jorge Sampaoli já disse que sente o futebol diferente de Diego Simeone. De fato, basta olhar para o campo e ver ideias de jogo bem distintas. Ambos intensos, mas um querendo a bola e se arriscando mais preenchendo o campo de ataque e outro mais focado no erro do adversário e abnegado na tarefa de defender a própria meta.

Mas pelo momento da seleção argentina, com menos de um ano de trabalho e as perspectivas na Copa do Mundo, já começando por um Grupo D longe de ser fácil com Islândia, Croácia e Nigéria, o atual treinador da albiceleste deve olhar para o trabalho de seu compatriota, novamente campeão no Atlético de Madri com a conquista da Liga Europa ao vencer o Olympique de Marselha por 3 a 0. Até visitá-lo para trocar impressões e adaptar convicções.

Porque está claro que não será possível seguir a linha de Sampaoli, fortemente influenciada pela dinâmica de Marcelo Bielsa. Da “soberania argentina”. O que deu certo no Chile. Faltando um mês para o Mundial na Rússia é preciso ser pragmático. Os 6 a 1 impostos pela Espanha, mesmo com todo o contexto e a ausência de Messi, deram um recado claro, cristalino: a trajetória tortuosa até aqui e o material humano pedem cuidados para ao menos honrar a camisa duas vezes campeã mundial e presente em cinco finais.

O 4-4-2 ou 4-4-1-1 de Simeone no Atlético é um bom início. Até pela semelhança com o de Alessandro Sabella no Brasil. Para diminuir os espaços dos adversários com linhas compactas e principalmente deixar Messi bastante confortável. Como nesta temporada no Barcelona campeão espanhol e da Copa do Rei comandado por Ernesto Valverde.

Porque é desperdício prender o gênio argentino pela direita ou deixá-lo como único atacante, a menos que seja um “falso nove” com dois ponteiros agudos infiltrando em diagonal. Melhor deixá-lo solto com uma referência na frente para tabelas e passes em profundidade. Pode ser Higuaín ou Aguero. Este que escreve apostaria em Mauro Icardi, mais jovem, rápido e sanguíneo, sem o peso do retrospecto negativo dos outros dois na seleção em jogos grandes.

A escolha dos demais nomes ficaria por conta dos treinamentos e da condição física depois de uma temporada europeia desgastante. Há uma base com Romero na meta, Otamendi na zaga, Biglia na proteção da retaguarda e Di María em um dos flancos na linha de meio-campo.

Mas duas características do Atlético de Simeone não podem faltar neste Mundial à albiceleste: paixão e humildade. A primeira para buscar o título que não vem desde a Copa América de 1993 e também jogar por Messi. Para a única grande conquista que falta a um dos melhores e maiores da história do esporte.

Mesmo que não se compare em idolatria a Maradona, até pelas personalidades diametralmente opostas, mas digno de um momento marcante, histórico. Para isto é fundamental colocar sangue nos olhos dos companheiros e do próprio Messi, com seu comportamento indecifrável em alguns momentos decisivos.

Por isso a humildade é essencial. Para entender limites e possibilidades. Compreender que ter a bola sem um plano bem assimilado e executado aumenta exponencialmente os riscos. Pressionar o tempo todo no campo de ataque sem coordenação e ainda contando com um Messi que costuma caminhar sem a bola é convidar o oponente para aproveitar espaços entre os setores. Humildade em Sampaoli para entender que será preciso ser mais Carlos Bilardo que César Menotti ou Bielsa. Mais Simeone. É o que o momento pede.

O sucesso dos treinadores argentinos na Europa é ótimo, mas provoca um efeito colateral: o melhor não está a serviço da seleção. Sampaoli aceitou interromper o sonho no Velho Continente para servir seu país. Agora precisa colocar de lado a vaidade de assinar um estilo.

A Argentina clama por um plano de emergência. Mesmo com todos os problemas da AFA, o da última Copa só negou o título na prorrogação da decisão. Com Higuaín perdendo uma chance no primeiro tempo que podia ter mudado a história. Por que não repetir, incluindo a entrega e o “correr até a morte” de Simeone como o toque final para buscar a redenção com tons de drama, como bem gosta o seu povo?

 

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Messi, CR7 e Champions são “culpados” pela disparidade nas ligas europeias http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/05/15/messi-cr7-e-champions-sao-culpados-pela-disparidade-nas-ligas-europeias/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/05/15/messi-cr7-e-champions-sao-culpados-pela-disparidade-nas-ligas-europeias/#respond Tue, 15 May 2018 17:59:15 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4580

Foto: Sergio Perez / Agência Reuters

O Bayern de Munique garantiu o sexto título consecutivo da Bundesliga, conquista inédita, com cinco rodadas de antecedência. Na França, o Paris Saint-Germain retomou do Monaco a hegemonia também disparando e confirmando matematicamente faltando cinco rodadas. A Juventus na Itália teve mais dificuldades, porém superou o Napoli e faturou o heptacampeonato nacional.

Na Premier League há maior alternância de poder, mas o Manchester City de Pep Guardiola liderou de ponta a ponta e empilhou recordes: chegou aos 100 pontos em 38 jogos e ainda fez história com mais vitórias (32), triunfos consecutivos (18), gols marcados (105), saldo (+79) e os 19 pontos de vantagem sobre o segundo colocado.

Se somarmos tudo isso ao domínio do Barcelona nesta edição da liga espanhola, com a invencibilidade perdida apenas na penúltima rodada com vários reservas e uma atuação desastrosa do colombiano Yerri Mina nos 5 a 4 do Levante. mas título confirmado faltando quatro jogos, temos um cenário em que as principais ligas da Europa não reservaram disputas mais acirradas.

A senha para os disseminadores do “ódio ao futebol moderno”, muitos confundindo equilíbrio com qualidade, protestassem contra este cenário em que, para eles, apenas a disparidade econômica justifica essa vantagem dos campeões.

O grande equívoco é desprezar a enorme competência e know-how desses clubes. O Bayern ostenta a melhor geração de sua história ao lado da de Beckenbauer, Gerd Muller e Sepp Maier nos anos 1970. O mesmo vale para a Juventus. O PSG nem há como comparar e no caso do Manchester City há um retrospecto de conquistas na década, mas principalmente a presença do “rei das ligas” Guardiola, com sete conquistas em nove temporadas por três clubes e países diferentes.

Sem contar Barcelona e Real Madrid com os grandes times de sua história. E os maiores jogadores de todos os tempos nos dois clubes. Competindo na mesma época. Eis a chave para todo este cenário.

Messi e Cristiano Ronaldo venceram as quatro últimas edições da Liga dos Campeões. Se considerarmos desde 2007/08, dez anos, são sete: Manchester United com uma, Barcelona e Real Madrid com três. E os merengues em mais uma decisão podendo ampliar este retrospecto.

Em tempos recentes nunca houve nada parecido. Um fenômeno que subiu o patamar da Champions para níveis estratosféricos. De interesse, inclusive, pela sedução de se medir entre grandes da história. Com isso, o sarrafo foi parar no topo. Para desafiá-los é preciso estar em um nível de excelência em desempenho. Em todos os aspectos – físico, técnico, tático, mental, logística…

Resta aos desafiantes investir. Em elenco, comissões técnicas, estrutura…Internazionale, Chelsea e Bayern de Munique conseguiram superá-los, com os alemães ainda acumulando dois vices e os ingleses um. Manchester United, ainda com CR7, Borussia Dortmund, Juventus e Atlético de Madri chegaram às decisões, mas não conseguiram equilibrar forças em jogo único. PSG e City seguem lutando para furar a casca e entrar no grupo de clubes mais tradicionais. O Liverpool, finalista depois de onze anos, tenta voltar à elite. Mas não é fácil.

Com esse nível tão alto, quem não consegue acompanhar vai perdendo o bonde da história. E os gigantes trabalham para ficar cada vez melhores de olho no principal torneio de clubes, dominado por Messi e Cristiano Ronaldo com seus históricos Barcelona e Real Madrid, mesmo com o time blaugrana de fora das últimas três semifinais.

Como consequência sobram em seus países. Elenco numerosos, estruturas fantásticas, ótimas comissões técnicas. Nos casos específicos de Bayern de Munique e Juventus, os títulos consecutivos acontecem também porque não há como se acomodar com as conquistas nacionais. Não são a prioridade. Então mesmo sobrando os processos são revistos e aprimorados, o elenco ainda mais qualificado. O time que está ganhando se mexe e fica ainda melhor. Pensando em Barça e Real Madrid.

Mas não basta só dinheiro. Ou o Borussia Dortmund de Jurgen Klopp não seria bicampeonato alemão de 2010 a 2012, o Atlético de Madri não teria superado os gigantes na Espanha em 2014. O mesmo com o Monaco contra o PSG na temporada passada e, caso a Juve não tivesse deixado a Champions ainda nas quartas eliminada pelo Real Madrid e dividisse esforços por mais tempo, o Napoli poderia ter fôlego para terminar na frente. Sem contar o fenômeno Leicester City na liga mais valiosa do mundo em 2015/16. Se não jogar muito não vence. A tese do “piloto automático” é furada.

Mais do que nunca o futebol no mais alto nível exige superação constante. Com regularidade, consistência. “Culpa” de Messi, Cristiano Ronaldo e da Liga dos Campeões que levam o esporte para outra galáxia. Ainda bem que estamos vivos para ver a história sendo escrita. E até os que hoje reclamam vão sentir saudades, mesmo que não admitam.

 

 

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Champions: é justo avaliar a temporada por um torneio que envolve sorteio? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/03/15/champions-e-justo-avaliar-a-temporada-por-um-torneio-que-envolve-sorteio/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/03/15/champions-e-justo-avaliar-a-temporada-por-um-torneio-que-envolve-sorteio/#respond Thu, 15 Mar 2018 17:52:30 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4295

Foto: UEFA

Amanhã acontecerá em Nyon o sorteio das quartas-de-final da Liga dos Campeões. Real Madrid, Barcelona, Sevilla, Juventus, Roma, Manchester City, Liverpool e Bayern de Munique estarão nas bolinhas que definirão o destino de cada um.

Imaginemos um hipotético confronto Barcelona x Manchester City. Se o time de Messi ficar pelo caminho diante da ótima equipe de Pep Guardiola em confrontos parelhos e o Real Madrid, por exemplo, encarar a Roma ou o Sevilla e seguir adiante até a conquista do inédito tricampeonato na Era Champions, a temporada do argentino, mesmo com o provável título espanhol e a conquista da Copa do Rei, poderá ser tachada de fracassada? De novo as premiações individuais irão para Cristiano Ronaldo pelo simples fato de ter vencido o principal torneio de clubes do planeta?

E se Guardiola novamente for derrotado pelo time catalão, como aconteceu em 2015, sua jornada fantástica nos citizens com o título da Copa da Liga Inglesa e a conquista cada vez mais próxima da Premier League com uma campanha histórica carregará essa mancha? Por ter sido superado pela equipe que tem apenas uma derrota na temporada?

No jogo em si, o “se” é parte apenas da imaginação e sempre envolve competência no gol perdido, na falha do goleiro. Até a lesão muscular do craque do time, em tese, poderia ser evitada com uma avaliação melhor do departamento de fisiologia do clube. O sorteio, não. É sorte apenas. Ou a falta dela.

Voltemos à 2016. Um Real Madrid ainda hesitante no desempenho na transição de Rafa Benítez para o estreante Zinedine Zidane enfrentou Roma, Wolfsburg e Manchester City até a repetição da final de 2014 contra o Atlético, rival de Madri. Venceu e ganhou confiança e moral para no ano seguinte ganhar o espanhol e a Champions passando por Napoli, Bayern de Munique e Atlético de Madri até a decisão contra a Juventus.

Imaginemos que o roteiro fosse o inverso. aquele Real de 2016 encarando o Bayern de Guardiola nas quartas-de-final. Com o time alemão mais maduro no comando do treinador catalão e sedento por vingança da surra que levou na semifinal de 2014?

Será que passaria? Nunca saberemos. Mas é certo que o caminho diante de adversários menos tradicionais foram obstáculos menores à chegada à decisão. E olha que contra o time alemão foi preciso virar um 2 a 0 e contra o City foram duelos parelhos definidos no detalhe e com a vantagem mínima.

Nesta mesma temporada, se as bolinhas colocassem o City e não o Atlético de Madri no caminho de Guardiola e seu Bayern de Munique, haveria, sim, a saia justa do treinador enfrentar a equipe com que estava acertado para trabalhar a partir da temporada seguinte. Mas as chances de chegar à decisão e buscar o título que faltou na passagem pela Baviera aumentariam exponencialmente.

Todos esses exercícios de mexer com as bolinhas e tentar adivinhar o desfecho podem ser estendidos a todas as temporadas. A partir das quartas, já que nas oitavas ao menos a colocação na fase de grupos é levada em campo. Continua sendo imaginação. O que aconteceu, obviamente, é o que está na história.

A questão é: ainda que seja o torneio que reúne o melhor do futebol mundial é justo ganhar um peso tão grande, ultimamente maior do que a Copa do Mundo, para avaliar equipes e jogadores? A impossibilidade de todos se enfrentarem em ida e volta não deveria ser levada em conta na hora de avaliar os desempenhos coletivo e individual?

Apenas uma reflexão. Pois, na prática, quem quiser terminar a temporada no topo do planeta bola terá que superar o que aparecer pela frente. Cristiano Ronaldo, Messi, Ben Yedder, Buffon, Dzeko, Salah, De Bruyne e Lewandowski. Os treinadores. Todos à expectativa do sopro da ventura na Suíça.

O amanhã pode sinalizar com força o caminho até 26 de maio no Estádio Olímpico de Kiev.

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Messi 600 e histórico! Mas dependência do Barcelona já passa do ponto http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/03/04/messi-600-e-historico-mas-dependencia-do-barcelona-ja-passa-do-ponto/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/03/04/messi-600-e-historico-mas-dependencia-do-barcelona-ja-passa-do-ponto/#respond Sun, 04 Mar 2018 17:49:03 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4220 O jogo decisivo da temporada para o Atlético de Madri reforça a impressão de que o modelo de Diego Simeone está desgastado depois de sete temporadas.

No Camp Nou, repetiu a estratégia de sempre contra o Barcelona: adianta linhas e pressiona saída de bola. Se o adversário ultrapassa esse bloqueio, se recolhe em duas linhas de quatro compactas para negar espaços, principalmente para Messi.

Mas com cinco pontos atrás na tabela era preciso mais e o time visitante não entregou. Só no segundo tempo, perdendo por 1 a 0, partiu para o desespero mantendo o 4-4-2, porém com Correa na ponta direita e Gameiro fazendo dupla com Diego Costa.

E Griezmann…Depois de sete gols nas últimas duas partidas era de se esperar mais do francês. Assumir o protagonismo, tentar algo diferente. Mas o camisa sete foi o atacante com liberdade atrás de Diego Costa e depois o ponteiro pela esquerda. A rigor, nada produziu.

Melhor para o Barcelona pragmático de Ernesto Valverde. Treinador que voltou a sacrificar Philippe Coutinho de início pela direita na linha de meio-campo. Só inverteu de lado por causa da lesão de Iniesta ainda no primeiro tempo.

Paulinho estava no banco, mas entrou…André Gomes. O blogueiro já desistiu de entender. Não melhora a produção pelo flanco, com ou sem a bola. É lento, tanto para buscar espaços às costas da defesa quanto para fazer a bola circular. Um corpo estranho em campo. Com Suárez lutando, mas pouco inspirado na luta contra Giménez e Godín, sobrou para Messi.

Qualquer time no planeta dependeria do argentino. Na história do esporte poucas equipes não teriam o genial camisa dez como seu maior destaque. Mas este Barcelona tem passado do ponto. Não é por acaso que é o artilheiro da liga espanhola com 24 gols e líder também em assistências, com doze.

Messi recua para organizar e distribuir. Se avança e encontra espaços entre a defesa e o meio do adversário parte para a decisão da jogada. Ou arranca e serve o último passe, ou toca rápido e aparece na área para finalizar.

Ou tenta resolver tudo sozinho. No clássico que encaminha o título espanhol foi o que aconteceu. Buscou a jogada individual, sofreu a falta e cobrou com a precisão que só aumenta. Terceiro gol seguido desta forma, tirando do alcance do ótimo goleiro Oblak.

O 600º gol na carreira em partidas oficiais. Histórico. Mas ele não é super homem, embora pareça um extraterrestre. Muito menos com 30 anos. Não dá para depender tanto, ainda que o talento transborde.

Abrindo oito pontos no topo da tabela, mais a vantagem no confronto direto, é o momento de descansar um pouco Messi. Administrar a liderança na liga e focar na Champions. Mas principalmente buscar soluções ofensivas para não viver de seu craque maior. A inversão de bola para Jordi Alba já está manjada pelos rivais. Sobra muito pouco.

Valverde tem que abrir o leque. Ou rezar para o maior jogador da história do Barcelona seguir fazendo seus milagres. Até quando ele aguenta?

 

 

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Se fosse só dinheiro, Palmeiras ou Flamengo estariam no lugar do Grêmio http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/12/17/se-fosse-so-dinheiro-palmeiras-ou-flamengo-estariam-no-lugar-do-gremio/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/12/17/se-fosse-so-dinheiro-palmeiras-ou-flamengo-estariam-no-lugar-do-gremio/#respond Sun, 17 Dec 2017 14:16:24 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=3884 Transformação curiosa ocorreu depois do apito final do Mundial de Clubes em Abu Dhabi. Os mesmos que viam o Grêmio com condições de jogar de igual para igual e vencer o Real Madrid, que nas comparações posição por posição – algo cada vez mais sem sentido em um futebol cada vez mais coletivo – faziam projeções equilibradas (6×6, incluindo Renato Gaúcho melhor treinador que Zidane), de repente passaram a questionar o abismo de qualidade entre os clubes da Europa e os demais e sugerir até a mudança na fórmula de disputa da competição.

Entre os motivos apresentados, o mais presente é o poderio financeiro. Inegável, obviamente. Mas a própria temporada no Brasil mostrou que futebol não se faz só com dinheiro. Se fosse assim, Palmeiras ou Flamengo, que também disputaram a Libertadores, estaria no lugar do Grêmio. Nem é preciso apelar para a frieza dos números para provar a distância nos valores das receitas. E se colocarmos no bolo os demais clubes sul-americanos a vantagem é ainda maior. Mas só voltamos a vencer agora, depois de três anos sequer chegando à decisão.

Há muita competência na supremacia recente na Europa de Barcelona e Real Madrid. Passa por Messi e Cristiano Ronaldo, mas não só eles. São clubes que sabem vender sua marca para o mundo, construir uma identidade. A ponto de conquistar a preferência de jovens como Vinicius Júnior em detalhes como a força do time no videogame. Se outro time iguala a proposta, o menino prefere os gigantes espanhois.

Porque construíram times que estão entre os melhores da história dos clubes. Mas também já torraram muito dinheiro sem conseguir formar uma equipe competitiva. Basta lembrar o Real galáctico do início do século, ou mesmo o do primeiro ano da Era Cristiano Ronaldo, que não conseguiu superar as oitavas de final da Liga dos Campeões.

A resposta precisa vir no campo. Mesmo nesta fase gloriosa da dupla, em 2014 falharam na liga nacional e viram o Atlético de Madri campeão espanhol. Assim como o Bayern de Munique, soberano na Alemanha, viu o Borussia Dortmund de Jurgen Klopp ser bicampeão com orçamento bem inferior. Para não falar do Leicester City na Inglaterra no ano passado.

Por mais que o Grêmio tenha mostrado um futebol ofensivo e atual em 2017, ainda é um mero rascunho diante das equipes mais qualificadas do planeta. O Real, com a cabeça no Barcelona e freio de mão puxado, conseguia numa rápida ação de perder e pressionar retomar com facilidade. A circulação da bola é mais inteligente, fluida. Há mais leitura de jogo coletivo. Basta ver Modric em campo. A bola mal saiu de seus pés e o croata já se transforma em opção de passe no espaço certo.

Aqui a visão é ainda simplista: quem tem dinheiro compra os melhores e vence. Uma noção de futebol fragmentada e muito focada no individual. Só se falou na atuação ruim de Luan. Mas sua movimentação entre as linhas defensivas do adversário por aqui é mais facilmente bloqueada por quem está acostumado a enfrentar Messi, Neymar, De Bruyne e outros craques.

Por isso e tantos outros motivos o Kashima Antlers foi um adversário mais perigoso para o Real Madrid no ano passado. Vitória por 4 a 2, mas só na prorrogação. Arthur fez falta ao Grêmio, sim. Mas nunca saberemos se ele seria outro a sentir os efeitos deste abismo, ainda mais no setor de Casemiro, Modric, Kroos e Isco.

Nosso último título mundial veio pela feliz coincidência de termos o Corinthians de Tite, time mais sólido e organizado desta década, enfrentando o Chelsea que não era o melhor europeu nem quando venceu a Liga dos Campeões, estava em declínio sob o comando de Rafa Benítez e, ainda assim, fez do goleiro Cássio o melhor em campo. Méritos inegáveis dos brasileiros, mas o contexto há cinco anos ajudou.

Não adianta pregar ódio ao futebol moderno, ao menos dentro de campo. O esporte se transformou e não há como fugir. Precisamos evoluir na mentalidade, ter humildade. Não rir do nível técnico de outras ligas, especialmente a francesa, quando a nossa é desprezada pelo mundo. Por mais eurocentrista que seja o povo do Velho Continente, é ridículo que eles saibam tão pouco do Grêmio tricampeão sul-americano.

Que os clubes peitem a CBF, que só quer saber de vender a imagem da seleção brasileira. Que os profissionais se qualifiquem, aceitem que precisam aprender e não podem mais deixar tudo por conta do talento individual. Que os times criem uma identidade e a desenvolvam desde as divisões de base.  Que tomemos decisões mais técnicas e menos políticas e manchadas por corrupção em todos os níveis. Mais meritocracia e menos grife na hora de contratar. E, principalmente, que deixemos esse mimimi “ah, eles são ricos e nós os pobres neste mundo injusto e cruel!”

Ninguém vai revogar a Lei Bosman e dificilmente o real valerá mais que o euro ou o dólar. Ainda assim, podemos fazer melhor, sermos mais competitivos. Dar trabalho e não passar a vergonha de apenas uma finalização gremista na decisão do Mundial com o Real em ritmo de treino na maior parte do tempo. É muito pouco.

Não adianta encher a boca para falar dos cinco títulos em Copas do Mundo e esquecer que a grandeza do futebol de um país se mede pela força de seus clubes. A nós, jornalistas, cabe a tarefa de cobrar e conscientizar e não jogar para a galera um mundo fantasioso de “eles não são isso tudo!” e “isso aqui é Brasil!” É sedutor falar ou escrever o que o torcedor quer ouvir/ler, mas em nada contribui para o desenvolvimento do esporte.

Que o passeio do Real não seja minimizado pelo placar magro. O Grêmio teve dignidade, mas jogou mal. Porque o adversário é superior e não deixou, mas também porque as ideias para fazer melhor ainda são pobres. Não é só dinheiro, definitivamente. Só não vê quem não quer.

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