barcelona – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Caminho do PSG na Champions será bem mais complicado do que parece http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/10/caminho-do-psg-na-champions-sera-bem-mais-complicado-do-que-parece/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/10/caminho-do-psg-na-champions-sera-bem-mais-complicado-do-que-parece/#respond Fri, 10 Jul 2020 13:18:37 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8750

Foto: Harold Cunningham / UEFA / AFP

Tão logo saiu os cruzamentos no sorteio das quartas de final da Champions, ainda que faltando três dos oito classificados, a primeira impressão foi de que o Paris Saint-Germain seria o grande “vitorioso”.

Afinal, o time de Neymar saiu da reta das grandes camisas e dos campeões dos últimos anos – excetuando o atual, Liverpool. Sem Real Madrid, Barcelona e Bayern de Munique no caminho até a grande final. “Fugindo” também  do Manchester City de Guardiola e da Juventus de Cristiano Ronaldo, que ainda enfrenta o Lyon pelas oitavas.

Primeiro a Atalanta. Se passar, o vencedor de Leipzig e Atlético de Madrid. Sem dúvida, se olharmos a história do torneio continental, é uma trilha teoricamente menos pesada. E desse enrosco pode sair um finalista inédito – só o Atlético já esteve em uma final.

Só que não estamos dentro de uma normalidade. Longe disso. E são justamente essas mudanças no cenário que tornam o caminho do PSG bem mais complicado do que parece.

Acima de tudo pela inatividade do time francês, que é sem precedentes em uma fase tão avançada da competição. Entre março e agosto, a previsão de apenas duas partidas oficiais: as decisão das copas nacionais – Saint-Etienne na Copa da França no dia 24 e Lyon na Copa da Liga Francesa no dia 31. Mais quatro amistosos contra adversários bem abaixo do nível de enfrentamento que espera o time de Paris.

Com a Ligue 1 encerrada, a equipe de Thomas Tuchel terá o benefício do menor risco de lesões e desgaste, mas o enorme déficit em um aspecto fundamental no futebol atual: intensidade. Por mais que os treinos hoje reproduzam o ritmo e a velocidade na tomada de decisão do jogo, a falta do nível alto de competição pode prejudicar bastante. Principalmente pela disparidade de forças na França que já prejudicou o PSG no sonho de ganhar a Champions em outras temporadas.

E a Atalanta de Gian Piero Gasperini não é um time qualquer. Longe disso. Mostra personalidade, com volume de jogo sufocante e capaz também de surpreender jogando em rápidas transições ofensivas. Atropelou o Valencia nas oitavas e vem de onze vitórias consecutivas. É o melhor entretenimento do futebol atual.

É preciso pesar que essa disputa da Champions acontecerá em um ambiente mais “puro”, sem a “contaminação” da atmosfera. Campo neutro, em Lisboa, e sem torcida. Nem a vantagem do conhecimento e da vivência no próprio estádio será possível. Fatores que costumam estabelecer essa coisa metafísica e difícil de descrever que é a “camisa pesada”.

Todo esse contexto definindo a vida em 90, 120 minutos ou nos pênaltis. Para ficar ainda mais imprevisível. E o PSG ainda carregará a tensão do favoritismo, já que para o time de Bergamo a simples presença nas quartas já é histórica e digna de celebração na cidade, se houvesse a possibilidade de aglomeração de pessoas.

Se conseguir chegar às semifinais, as dificuldades serão praticamente as mesmas. Só um pouco mais nivelado na intensidade pelo jogo forte das quartas. Caso o adversário seja o Leipzig, a missão será encarar um “novato” ainda mais motivado a fazer história e que também joga em ritmo fortíssimo. Ainda assim, talvez seja melhor para Neymar e companhia, já que o time alemão também sofrerá um pouco agora com a falta de jogos oficiais por conta do fim da Bundesliga 2019/20.

Encarando o Atlético de Madrid, o estilo do time de Simeone pode expor as fragilidades defensivas que o PSG costuma apresentar em jogos grandes. E mesmo sem a força do mando, a “casca” construída pelo clube espanhol nos últimos anos em fases avançadas da competição pode fazer diferença.

Não será tão simples ou menos complicado. E o projeto PSG nunca mostrou consistência para se impor em qualquer cenário na Europa. O desafio continua enorme, mesmo sem gigantes pelo caminho.

[Sobre o outro lado do chaveamento:

Juventus tende a se aproveitar da inatividade do Lyon e tirar a desvantagem em Turim. O Manchester City deve confirmar contra o Real Madrid, embora sem torcida o mando tenha perdido força. Se passar, a equipe de Guardiola é ligeiramente favorita contra o time de Cristiano Ronaldo para seguir em busca do título inédito.

Barcelona já deve ter problemas contra o Napoli. Jogo contra o time de Genaro Gattuso não será tranquilo, mesmo no Camp Nou. Se passar, a menos que o Bayern de Munique tenha uma queda brusca por conta da inatividade, o risco de ser surrado pelo octampeão alemão como em 2013 é considerável. Só o “fator Messi” pode mudar o destino do time catalão.]

 

 

 

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Era Jürgen Klopp é de futebol intenso, mas também inteligente e adaptável http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/26/era-jurgen-klopp-e-de-futebol-intenso-mas-tambem-inteligente-e-adaptavel/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/26/era-jurgen-klopp-e-de-futebol-intenso-mas-tambem-inteligente-e-adaptavel/#respond Fri, 26 Jun 2020 12:37:57 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8690

Foto: Reuters

Há recortes históricos que com um mínimo distanciamento do tempo podem ser definidos como uma mudança de paradigma. Mesmo em um esporte tão complexo e instável como o futebol.

O Barcelona foi para o intervalo em Anfield perdendo por 1 a 0 pelo jogo de volta da semifinal da Liga dos Campeões 2018/19. Havia vencido por 3 a 0 no Camp Nou e ainda tinha uma boa vantagem a administrar fora de casa. Se fizesse um gol o Liverpool teria que fazer mais quatro.

E a imagem no vestiário do time catalão era de absoluto desespero. Ainda que o trauma da eliminação na edição anterior do torneio continental para a Roma também ecoasse,  estava claro no semblante de Messi, Suárez, Jordi Alba e outros que a tragédia parecia inevitável. O discurso, sem muita convicção, era de que era preciso retomar o ritmo no estilo Barcelona, de posse de bola. Mas todos sabiam que na prática isso seria impossível. Os 4 a 0 no final foram apenas a consequência natural.

Porque vivemos a Era Jürgen Klopp no futebol. O que não quer dizer necessariamente que seja o treinador que vence tudo que disputa. Não foi assim com Rinus Michels, nem Cruyff, Arrigo Sacchi, Alex Ferguson ou José Mourinho. Talvez Pep Guardiola, com currículo impressionante e único, seja a exceção. Ainda assim, já se vão quase nove anos sem vencer a Champions.

Notamos a ascendência das ideias de um treinador no esporte quando praticamente em qualquer partida é possível notar as digitais dele no que acontece em campo.

Repare que cada vez falamos menos em posse de bola como critério para observar o domínio de uma equipe sobre a outra. Melhor dizendo, ter a bola ainda é um indício, mas cada vez mais importante é atacar com volume e agredindo o adversário. Não tocando e circulando sem “machucar”.

O Jurgen Klopp do Borussia Dortmund e do início do trabalho no Liverpool era do futebol “rock’n’roll”. Intensidade máxima, “gegenpressing” e uma fome como se houvesse amanhã. Só que em muitas partidas isso tudo virava pressa, ansiedade. Ou um desperdício de energia que cobrava o preço ao final do jogo ou do campeonato.

Mas Klopp é inteligente e tem sensibilidade para notar a direção dos ventos. Também sabe ouvir, embora não abra mão de suas convicções. Estava nítido que seria preciso se adaptar ao que pede cada jogo. Como ele percebeu na própria Premier League com outros treinadores, como Antonio Conte e o próprio Guardiola, que venceu no Manchester City combinando elementos inegociáveis do seu modelo de jogo com a intensidade do futebol praticado na Inglaterra. Também com a eletricidade de Klopp.

Pausas. Era preciso ter momentos de circulação da bola para variar a intensidade do jogo. Passar de lado para abrir o campo e as linhas do oponente não é pecado. Klopp fez o Liverpool voltar a ser temido. Junto com a camisa pesada, natural que alguns adversários apelassem para retrancas. Linha de cinco, dez jogadores atrás da linha da bola e protegendo a própria área. Acelerar o tempo todo muitas vezes significava dar de cara com o muro. Em loop, até cansar.

Klopp viu a solução nas inversões de bola de seus laterais: Alexander-Arnold e Robertson fazem a troca de corredor com frequência e eficiência. Também se juntam na frente ao tridente Salah-Firmino-Mané. Com o brasileiro recuando para colaborar na articulação e os dois ponteiros buscando as infiltrações em diagonal. Cabe aos zagueiros e aos meio-campistas se impor fisicamente, mas também colaborar com a manutenção da posse quando é preciso. Henderson cresceu demais nesta proposta, tanto como volante mais fixo como um meia pela direita.

Antes o treinador alemão queria um ambiente difícil de respirar em campo. Agora ele entende que há momentos em que é preciso encher e esvaziar os pulmões para pensar melhor e fazer o que é necessário em campo. Sem a loucura de antes, que lembrava o piloto inglês Nigel Mansell nos anos 1980/90 na F-1: batia recordes seguidos de volta mais rápida para perder a prova por falta de combustível ou em uma manobra arriscada e pouco inteligente.

É claro que o talento continua sendo fundamental. Sem Alisson e Van Dijk é bem provável que o Liverpool continuasse com a defesa como elo fraco e comprometedor no mais alto nível competitivo. Mas encontrar as peças certas que o dinheiro pode comprar também é sinal de amadurecimento.

Isso tudo constroi o Liverpool campeão inglês, depois de 30 anos. A primeira conquista na Era Premier League. Com sete rodadas de antecedência, 23 pontos de vantagem sobre o então bicampeão City. Time de Guardiola que caiu diante do Chelsea por 2 a 1. Justamente os Blues, algozes dos Reds em 2014, no lendário escorregão de Steven Gerrard que negou mais uma vez a conquista do título. Como o pontinho da temporada passada.

Desta vez não houve margem para erro. Cada jogo da liga foi tratado como uma decisão. Com a natural oscilação que os times ingleses costumam sofrer quando disputam o Mundial de Clubes. Viagem, desgaste, os jogos seguidos na virada do ano. Cobrou o preço nas copas nacionais e também na Champions. Mas estava claro desde o início que esta temporada era a da dedicação aos pontos corridos. Da redenção.

Veio em meio a uma pandemia. A retomada do campeonato serviu para fazer justiça ao melhor time. E também a Klopp, a mente dominante desta era do futebol intenso, vertical. Mas também inteligente e adaptável. De acordo com a demanda. A do Liverpool andava reprimida, agora é só alegria. Ou alívio, pelo contexto do mundo.

Mas em qualquer campo onde a bola role haverá o toque de Jürgen Klopp. Carisma incrível, sorriso franco, uma certa loucura cativante. Mas acima de tudo um grande treinador de futebol. O melhor do planeta. Agora o “zeitgeist”, ou o espírito do tempo, está com ele.

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Até quando dura o domínio no piloto automático do Barcelona na Espanha? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/19/ate-quando-dura-o-dominio-no-piloto-automatico-do-barcelona-na-espanha/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/19/ate-quando-dura-o-dominio-no-piloto-automatico-do-barcelona-na-espanha/#respond Fri, 19 Jun 2020 22:39:22 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8665 O Barcelona voltou goleando o Mallorca por 4 a 0 e superando o Leganés por 2 a 0. Imposição natural sobre equipes lutando contra o rebaixamento. “Receita” do time catalão no domínio recente na liga espanhola: evitar perder pontos para os de menor investimento para ter tranquilidade na disputa contra os grandes.

Mas bastou um jogo mais duro, fora de casa contra o terceiro colocado Sevilla, para o Barça mostrar que, apesar do resgate de mais elementos de jogo de posição com a chegada de Quique Setién, a essência, com virtudes e defeitos, continua a mesma dos tempos de Ernesto Valverde: um time que tem posse, baixa intensidade e dependência de Ter Stegen atrás e de Messi na frente.

Em jogos maiores, quase invariavelmente armado em um 4-4-1-1 que mantém Suárez na frente, Messi com liberdade de circulação e as demais peças precisando se encaixar no sistema e no modelo. Com Rakitic já em uma reta final de carreira, cabe a Arturo Vidal cumprir a função sacrificante de fechar o lado direito e dar opção de profundidade e força no setor. Porque Semedo é outro elo fraco e Sergi Roberto não entrega tanta consistência como lateral.

Com Griezmann sem condições para 90 minutos, Setién começou com Martin Braithwaite. Um atacante que poderia ser um contraponto de intensidade e infiltração para furar linhas de marcação, mas dentro de uma proposta de circulação de bola sofre muito tecnicamente para dar sequência às jogadas.

Sobra Jordi Alba, a inesgotável opção de profundidade pela esquerda. Arthur não consegue sequência, nem alternar passes de controle com os necessários de ruptura. Na defesa adiantada, Piqué e Lenglet se viram em coberturas, antecipações e evitando erros de passe na saída quando pressionados.

Porque o Sevilla de Julen Lopetegui se arriscou em seus domínios. Adiantando a marcação, alternando os ponteiros Ocampos e Munir pelos flancos e mudando constantemente o desenho no meio-campo, ora com Fernando e Jordán como volantes e Oliver Stones mais solto, ora fixando Fernando e subindo Jordán alinhado a Oliver. Pressão no adversário com a bola e transição rápida. Também valorizando a posse em muitos momentos, como gosta Lopetegui.

No segundo tempo dobrando a aposta em contragolpes ao rearrumar a retaguarda com linha de cinco depois da entrada do sérvio Gudelj na defesa. Também Banega, Vázquez, Suso e En-Nesyn. Finalizou oito vezes, metade no alvo. Mas é difícil vencer Ter Stegen.

Mas não foi tão complicado parar Messi, que muitas vezes não tem um parceiro conectado com seu raciocínio rápido e, nas partidas mais pegadas, também sofre fisicamente. Resta recuar, tentar uma tabela ou encontrar as entrelinhas, cada vez mais raras, para cortar da direita para dentro e finalizar. Até as cobranças de falta estão mapeadas. No caso do Sevilla, com o zagueiro francês Koundé auxiliando o goleiro Vaclik na cobertura de um dos ângulos. O 700º gol na carreira ficou para outra ocasião.

A cultura de vitória de oito conquistas nas últimas onze edições da competição não foi suficiente desta vez para arrancar os três pontos na moral, à forceps. E o empate sem gols era tudo que o Real Madrid esperava. Com a vantagem no confronto direto por conta do empate fora e a vitória em Madrid, o time de Zidane pode igualar em pontos na liderança e de lá não mais sair.

Até porque parece mais regular no desempenho que o grande rival. É claro que a disputa segue muito aberta e enfrentar a Real Sociedad como visitante não será tão simples para a equipe merengue na 30ª rodada, faltando oito para o final da liga.

Mas até quando vai durar esse domínio no piloto automático do Barcelona? O Real de Zidane parece próximo de repetir a queda de hegemonia que impôs em 2016/17.

(Estatísticas: Whoscored.com)

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São Paulo não venceu melhor da Europa em 2005, mas méritos são inegáveis http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/24/sao-paulo-nao-venceu-melhor-da-europa-em-2005-mas-meritos-sao-inegaveis/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/24/sao-paulo-nao-venceu-melhor-da-europa-em-2005-mas-meritos-sao-inegaveis/#respond Sun, 24 May 2020 20:49:44 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8542

Foto: Martin Rickett / Getty Images

Em dezembro de 2005, o melhor time da Europa já era o Barcelona de Ronaldinho. Líder do Espanhol, melhor campanha da fase de grupos da Liga dos Campeões 2005/06, superando Arsenal e Lyon no saldo de gols. Em novembro, massacrara o Real Madrid de Vanderlei Luxemburgo no Santiago Bernabéu por 3 a 0, na memorável atuação do brasileiro camisa dez blaugrana, que arrancou aplausos da torcida do maior rival. Ao final da temporada seria campeão nacional e europeu, no auge do trabalho de Frank Rijkaard no comando técnico.

Mas o Liverpool de Rafa Benítez era forte. Na Premier League, caçava o líder Chelsea, campeão da temporada anterior e comandado por José Mourinho. Os Blues também foram adversários dos Reds na fase de grupos da Champions. Empataram em 0 a 0 os dois jogos. O time vermelho vinha de uma invencibilidade de 11 jogos, sem sofrer gols, e carregavam uma confiança quase inquebrantável por conta da reação na final contra o Milan, saindo de um 3 a 0 contra, empatando e vencendo nos pênaltis. O “Milagre de Istambul”.

Na semifinal do Mundial, passaram com facilidade pelo Deportivo Saprissa, o surpreendente time da Costa Rica que vencera a Liga dos Campeões da CONCACAF. Três a zero e o campeão europeu carregava um favoritismo natural para a segunda edição do torneio organizado pela FIFA. O retrospecto recente, nos dez anos de 1995 a 2005, já mostrava um domínio do Velho Continente: foram oito conquistas a três, considerando as duas edições de 2000.

Também porque o São Paulo enfrentara mais dificuldades contra o Al-Ittihad na vitória por 3 a 2. O campeão da Libertadores que, depois do título sul-americano, passou o segundo semestre oscilando, chegou a flertar com a zona de rebaixamento no Brasileiro, mas terminou na 11ª colocação. Exatamente o meio da tabela na edição com 22 clubes.

Justificava os cuidados defensivos da equipe comandada por Paulo Autuori na final em Yokohama, reprisada pela TV Globo neste domingo, para São Paulo. Especialmente depois do gol de Mineiro, aos 27 minutos do primeiro tempo. O auge do único momento real de equilíbrio na partida.

O Liverpool, que fazia um jogo mais direto, terminou com 53% de posse porque impôs seu volume de jogo, buscando Morientes e Luis Garcia nas ligações diretas e jogo aéreo. Finalizou 21 vezes contra apenas quatro dos sul-americanos. Oito a dois na direção da meta.

Três ataques que terminaram com a bola nas redes bem anulados pela arbitragem, atuação portentosa de Rogerio Ceni, especialmente na antológica defesa em cobrança de falta de Steven Gerrard. Já ídolo e líder em Anfield, grande destaque da equipe inglesa que empurrou o São Paulo para um 5-2-2-1 com os alas Cicinho e Junior mais recuados e Josué e Mineiro se desdobrando à frente da defesa. Amoroso e Danilo ajudavam a fechar espaços e Aloísio, depois Grafite, lutando sozinho contra os zagueiros Carragher e Hyypia.

O São Paulo se virou como pôde e teve méritos inegáveis. O maior deles foi o de resistir. Sem vergonha de se reconhecer inferior na partida e defender a vantagem conquistada. No final, a justa celebração apoteótica, no Japão e no Brasil.

Porque definitivamente não venceu qualquer um no tricampeonato mundial inédito para brasileiros e, por isso, histórico.

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Por que possível volta de Neymar ao Barcelona não é garantia de sucesso http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/04/por-que-possivel-volta-de-neymar-ao-barcelona-nao-e-garantia-de-sucesso/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/04/por-que-possivel-volta-de-neymar-ao-barcelona-nao-e-garantia-de-sucesso/#respond Mon, 04 May 2020 16:59:23 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8429

Foto: Getty Images

A informação é do jornal “Mundo Deportivo”: Neymar recusou “luvas” de 100 milhões de euros para renovar o contrato com o Paris Saint-Germain para além do atual, que termina em junho de 2022. Mantendo os 50 milhões de euros por ano em salários.

Segundo a publicação, a negativa tem como pano de fundo o interesse do craque brasileiro em voltar a Barcelona. Estaria disposto, inclusive, a reduzir o salário pela metade para realizar o sonho de retornar ao clube catalão.

Desejo legítimo, que faz parte do negócio e do esporte. Mas a possível transferência, ainda mais complicada em tempos de crise pela pandemia, não é garantia de sucesso para o brasileiro, nem para o time de Lionel Messi comandado hoje por Quique Setién.

Primeiro porque os quase seis de distância em relação à temporada perfeita de Neymar no Barça, a 2014/15, no futebol atual é uma eternidade. O jogo evoluiu, os protagonistas envelheceram. O trio MSN, incluindo Luís Suárez, não seria mais uma novidade e a proposta de jogo de Luis Enrique não é mais a que vigora em Barcelona.

Na última temporada, 2016/17, a coisa já não fluía tão bem, com Neymar insatisfeito por se sacrificar para a equipe aberto na ponta e com maiores atribuições defensivas. Significava evolução com jogador, mas a sensação de ser cada vez mais coadjuvante pesava contra.

O próprio Neymar mudou. Muito mais meia articulador que atacante, buscando menos a linha de fundo ou a infiltração em diagonal para finalizar. No PSG, Neymar é o “Messi” de Mbappé. Difícil voltar a ser a “flecha” com mais cinco anos e também um histórico de lesões pesando nas pernas. Sem contar a antipatia de boa parte da torcida e má vontade da imprensa catalã que não existia em 2015.

E ainda a obrigação de colocar intensidade atacando, defendendo e pressionando após a perda para compensar a letargia cada vez mais acentuada do camisa dez e estrela máxima assim que a equipe entra em transição defensiva.

Não é tarefa simples. No campo, pode ser tão complexa quanto a operação financeira e convencer o PSG a abrir mão de uma das estrelas do projeto ambicioso do clube. Por ora segue como especulação, mas cabe a reflexão sobre o “pensamento” mágico que muitas vezes se impõe no futebol. Que desconsidera contexto e acha que o que deu certo em uma época será sempre bem sucedido.

A história mostra que não é assim, mas há quem nunca aprenda. Às vezes o “déjà-vu” fica só na vontade.

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Dezoito dias, quatro jogos. O maior evento esportivo do século 21 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/27/dezoito-dias-quatro-jogos-o-maior-evento-esportivo-do-seculo-21/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/27/dezoito-dias-quatro-jogos-o-maior-evento-esportivo-do-seculo-21/#respond Mon, 27 Apr 2020 12:18:08 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8390

Foto: AP

Os dois maiores times do mundo e grandes rivais do mesmo país. Com os dois melhores treinadores e os dois grandes craques do planeta com forte antagonismo. Decidindo liga e copa nacionais e ainda uma vaga em final continental. Tudo isso em menos de um mês. Dezoito dias, para ser mais preciso.

Um sonho para qualquer fã de futebol, não? Pois é, aconteceu há nove anos. E como o ápice no duelo mais marcante em um dia 27 de abril como hoje.

Barcelona e Real Madrid. Pep Guardiola versus José Mourinho. Lionel Messi contra Cristiano Ronaldo. Em 16 de abril no jogo mais importante do campeonato por pontos corridos, quatro dias depois decidindo a Copa do Rei. Nos dias 27 de abril e três de maio, definindo uma vaga na decisão da Liga dos Campeões contra o Manchester United.

Para aumentar o fogo da panela de pressão, em novembro o Barça havia enfiado 5×0 no Camp Nou. A “maneta” humilhante que mostrou para Mourinho que, mesmo com elenco estelar, não era possível encarar de peito aberto a equipe de Guardiola. Como fizera com a Internazionale da tríplice coroa na temporada anterior em Milão, no San Siro: vitória por 3 a 1 em disputa equilibrada.

A receita para o próximo encontro era encontrar um meio termo entre a proposta corajosa em casa e a retranca “handebol” do time italiano depois que perdeu Thiago Motta no jogo de volta em Barcelona e administrou a derrota por 1 a 0 que garantiu vaga aos neroazzurri na decisão da Champions 2009/10.

O problema era enfrentar o time catalão em sua melhor versão. No 4-3-3 e com o jogo posicional que tinha o comando de Xavi Hernández e o ponto de desequilíbrio com Messi voando na função de “falso nove” totalmente assimilada e destruindo os adversários nas entrelinhas, entre a defesa e o meio-campo. Quem marcaria o gênio argentino: os volantes ou os zagueiros?

Mourinho definiu que um jogador ocuparia esse espaço e o negaria ao craque do rival. Primeiro foi Pepe, depois Xabi Alonso. Quem não preenchesse a “zona Messi” fecharia com Khedira por dentro a linha de quatro no 4-1-4-1 compacto que tinha Ozil e Di María pelas pontas e Cristiano Ronaldo na frente.

Mas o treinador português sabia que não bastava o duelo técnico e tático. Os “jogos mentais” seriam muito necessários para desestabilizar o outro lado. Provocações antes e durante as partidas tensas, com momentos de violência no jogo e fora dele. Entre atletas e comissões técnicas, Uma guerra.

Apesar da surpresa com a mudança radical de estratégia do rival, o Barcelona se deu melhor no primeiro duelo: empate por 1 a 1 no Santiago Bernabéu, gols de pênalti de Messi e Cristiano Ronaldo, na partida que manteve os oito pontos de vantagem e encaminhou o tricampeonato de La Liga. Resultado comemorado, mesmo sem conseguir manter a vantagem no placar e numérica depois da expulsão do zagueiro Albiol na penalidade máxima cometida sobre Villa.

No entanto, a única partida valendo taça ao final da disputa foi vencida pelo Real Madrid. Na prorrogação, a Copa do Rei em Valencia, no Estádio Mestalla. Gol de Cristiano Ronaldo completando de cabeça um cruzamento de Di María pela esquerda.

Com o time branco incomodando ainda mais o rival com coragem, objetividade nas ações ofensivas e uma entrega absoluta sem a bola. Concentração total e resiliência para buscar a vitória, mesmo com a consciência de que não teria mais que 35% de posse no jogo. Faturando um título depois de três anos. O primeiro decidido por Cristiano Ronaldo em sua mítica passagem por Madri.

Tudo isso foi levado para a disputa mais importante, pela Champions. A ida no Bernabéu, há exatos nove anos, foi novamente muito nervosa. Aditivada por novas provocações de Mourinho que Guardiola prometeu responder no campo.

A solução de Pep foi proteger mais a bola e a defesa. Com Puyol improvisado na lateral esquerda e Keita entregando mais vigor físico no meio-campo. Também invertendo os ponteiros, com Villa à direita para cima de Marcelo e Pedro pela esquerda contra Arbeloa. O Real tinha Lass Diarra na vaga de Khedira no meio-campo, com Alonso fazendo o papel de negar a entrelinha a Messi e Pepe fazendo a função de meia por dentro à esquerda. Mais dinâmica na marcação, menos qualidade nas transições ofensivas.

O duelo mais importante, pela Liga dos Campeões no Bernabéu, teve o Barcelona no 4-3-3 com Puyol na lateral esquerda, Keita no meio-campo e inicialmente ponteiros invertidos – Villa à direita, Pedro pela esquerda. Mais posse e cuidados defensivos contra o Real no 4-1-4-1 de Mourinho, mas com Xabi Alonso entre as linhas vigiando Messi e a melhor saída pela esquerda, com Di María e Marcelo (Tactical Pad).

O escape de Mourinho de novo era o lado esquerdo com Marcelo fazendo Villa voltar para ajudar sem bola e Di María incomodando Daniel Alves. O lateral, que nunca teve a marcação como grande virtude, teve problemas e exagerou nas faltas. Até demorou a levar o cartão amarelo. E o pau quebrou também na saída para o vestiário, com o goleiro reserva do Barça, Pinto, dando um tapa no rosto de Arbeloa e jogadores e membros das comissões participando da briga.

A tensão seguiu no segundo tempo até a expulsão de Pepe pela entrada, no mínimo, imprudente em Daniel Alves. Força desproporcional que rendeu o cartão vermelho e o domínio do Barcelona sobre um Real que tinha voltado melhor no segundo tempo com Adebayor na vaga de Ozil. E Cristiano Ronaldo sempre dando trabalho para o goleiro Victor Valdés.

Com um a mais e o Real também sem Mourinho, expulso de tanto reclamar da arbitragem, a posse e a movimentação da equipe de Guardiola enfim encontraram espaços para acionar Messi.  Affelay entrou na vaga de Pedro, que havia voltado ao setor direito. Por ali o holandês com a camisa vinte aproveitou falha de Marcelo e cruzou para Messi abrir o placar.

O golpe final veio na arrancada irresistível do argentino passando por Diarra, Sergio Ramos, Albiol e Marcelo antes de tocar na saída de Casillas. Gol antológico que praticamente sacramentou a vaga na final europeia, confirmada com o empate por 1 a 1 no Camp Nou – gols de Pedro e Marcelo. O último e menos memorável dos quatro duelos históricos. O Barça venceria a Champions novamente contra o United, repetindo 2008/09. Desta vez com triunfo maiúsculo por 3 a 1 em Wembley. O grande recital do “Pep Team”.

Mas nada foi maior que aquela sequência de superclássicos. No esporte no século 21. Nem as Copas do Mundo ou Jogos Olímpicos. O mundo parou para ver o grande embate, o clássico ficou ainda maior com o passar dos anos, assim como o protagonismo de Messi e Cristiano Ronaldo.

Em tempos de bola parada pela pandemia, a saudade só aumenta.

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As dez maiores duplas de ataque da história http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/15/as-dez-maiores-duplas-de-ataque-da-historia/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/15/as-dez-maiores-duplas-de-ataque-da-historia/#respond Wed, 15 Apr 2020 11:10:28 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8305

Dupla de ataque é diferente de dupla de atacantes. Aqui entram jogadores que eram os mais avançados de suas equipes ou, dentro de um 4-3-3 ou 4-2-4, os que mais se procuravam para tabelas – o centroavante e o ponta-de-lança. Então duplas como Garrincha-Pelé, Ronaldo-Zidane ou Neymar-Messi, por exemplo, não fazem parte da lista. Questão de critério.

Então vamos ao “Top 10”, desta vez indo da décima à primeira colocação para os preguiçosos e/ou ansiosos ao menos passarem os olhos até o final.

[E, sim, este que escreve reconhece há um pouco de “pachequismo” envolvido, neste caso.]

10º – Bergkamp & Henry – Dos “Invincibles” de Arsène Wenger em 2003/04. Talento, velocidade, explosão, elegância e muita eficiência diante dos goleiros. Responsáveis por 34 gols e 17 assistências naquela campanha mágica.

9º Maradona & Careca – Um gênio e um grande centroavante fazendo história no Napoli mais vencedor, com título italiano e da Copa da UEFA, que hoje corresponde à Liga Europa. Foram a maior dor de cabeça de Arrigo Sacchi nos grandes duelos com o Milan no final dos anos 1980.

8º Ronaldo & Romário – Efêmera, porém espetacular, com os dois maiores atacantes do futebol brasileiro depois da Era Pelé, protagonistas nos dois últimos títulos mundias da seleção. Um bom entendimento em campo, especialmente no ano mágico de 1997.

7º Messi & Suárez – Desde 2014, viveram o melhor momento no Barcelona formando o tridente com Neymar que venceu a tríplice coroa e o Mundial de Clubes, mas ainda sintonizados e vencedores nas temporadas seguintes, com quatro ligas e quatro Copas na Espanha.

6º Cristiano Ronaldo & Benzema – Nada menos que quatro títulos de Liga dos Campeões em cinco temporadas. Demoraram a engrenar, já que chegaram juntos ao Real Madrid para a temporada 2009/10. Afinaram a sintonia com Ancelotti e arrebentaram com Zidane.

5º Ronaldo & Rivaldo – Nem tanto por 1998, já que Bebeto é que formava a dupla com o Fenômeno. Mas em 2002 eram os mais avançados e acionados por Ronaldinho Gaúcho. Marcaram 13 dos 18 gols da seleção de Luiz Felipe Scolari e resolveram na decisão com a Alemanha.

4º Gullit & Van Basten – Ganharam tudo no Milan e ainda a Eurocopa de 1988 com a Holanda de Rinus Michels. Entendimento no olhar, movimentação inteligente, inteligência nas tabelas e força no jogo aéreo. Não fossem os muitos problemas físicos e teriam sido ainda mais espetaculares.

3º Di Stéfano & Puskas – Dois dos maiores jogadores da história vencendo juntos duas Copas dos Campeões da Europa e quatro títulos espanhois pelo Real Madrid. Sintonia perfeita em campo, com um abrindo espaços para o outro e ainda forte amizade na vida pessoal. Monstros.

2º Bebeto & Romário – Carregaram nas costas a responsabilidade de acabar com um longo jejum de títulos da seleção brasileira. Primeiro em 1989, na Copa América em casa; cinco anos depois o Mundial nos Estados Unidos. De quebra uma prata olímpica em 1988. Se entendiam no olhar e sem o suporte de grandes meio-campistas.

1º- Pelé & Coutinho – Sem eles essa lista talvez nem existisse. Criaram no imaginário popular do Brasil e do mundo o simbolismo da dupla de ataque, com tabelas espetaculares, gols em profusão e muitos títulos pelo Santos. Faltou o protagonismo de Coutinho também na seleção, mas ainda assim viraram lendas.

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Os dez maiores jogadores do século 21 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/05/os-dez-maiores-jogadores-do-seculo-21/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/05/os-dez-maiores-jogadores-do-seculo-21/#respond Sun, 05 Apr 2020 12:27:36 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8253

Foto: Reuters

Antes que comece a gritaria é bom lembrar: “Melhor” tem relação exclusiva com a qualidade, quem joga mais. “Maior” tem a ver com feitos, conquistas dentro de um patamar igual ou bem próximo no talento.

Dito isso, vamos à lista:

1º – Cristiano Ronaldo – Ele não é melhor que Messi, mas compensa menos talento com mais força mental, trabalho, liderança positiva e conquistas. Em clubes e seleção. Venceu no Manchester United, no Real Madrid e agora na Juventus, ainda que apenas dentro da Itália. O “Mr. Champions”, com cinco conquistas. Pela seleção portuguesa, títulos da Eurocopa e Liga das Nações. Só tem uma Bola de Ouro a menos que Messi pela escolha “política” de Luka Modric em 2018. O maior jogador nascido na Europa em toda a história.

2º – Lionel Messi – O melhor que este que escreve viu jogar em quase quarenta anos acompanhando futebol. O maior jogador do grande clube do século 21. Mas para fazer rankings é preciso ter parâmetros e a escolha é pessoal. E o futebol de seleções ainda é muito relevante e aí está o grande porém da carreira do argentino. Mesmo sendo o maior artilheiro da albiceleste e descontando a bagunça da AFA e os gols perdidos pelos companheiros nas grandes decisões, a falta de uma conquista relevante pesa na disputa já lendária com CR7.

Cabe mais um parágrafo necessário sobre a dupla:

Sim, ainda falta uma Copa do Mundo para os dois. Pela maior tradição da Argentina, essa lacuna pesa mais para Messi. Mas rivalizar jogando em altíssimo nível e quebrando recordes por mais de uma década, só eles. Uma história que certamente será tema de filmes quando os dois se aposentarem. Nem precisa de distanciamento histórico para ter a dimensão do que fizeram, inclusive aumentar relevância da Liga dos Campeões no esporte.

Seguindo:

3º – Ronaldinho Gaúcho – Campeão mundial com o Brasil, da Liga dos Campeões pelo Barcelona e da Libertadores com o Atlético Mineiro. Currículo único, trajetória particularíssima. Talento puro que enquanto conseguiu ser competitivo encantou a ponto de concorrer ao Olimpo de Pelé e Maradona. A chance era ser bicampeão em 2006 com a seleção na Copa da Alemanha como protagonista. Mas falhou miseravelmente e algo se desconectou, vivendo de espasmos de genialidade. Uma pena.

4º – Ronaldo Fenômeno – Talvez não tenha sido melhor que Rivaldo em 2002. Mas a recuperação espetacular e o título mundial com artilharia absoluta depois de ter o joelho direito praticamente condenado para jogar no mais alto nível é a grande história do futebol deste século. De um atacante que até 1999 foi o Fenômeno que mudou a rotação do jogo. Depois viveu de lampejos e briga com a balança, mas ainda um atacante genial. Sem as grandes arrancadas, aprimorou a finalização para seguir brilhando.

5º – Zinedine Zidane – Outro que teve a chance de subir à primeira prateleira da história. A partir das oitavas em 2006, uma das grandes performances individuais em Copas do Mundo. Atuação magistral contra o Brasil favorito nas quartas. A chance da consagração na final, mas uma cabeçada na bola parou em Buffon e a que acertou em Materazzi encerrou o sonho e a carreira vitoriosa, com direito a gol antológico pelo Real Madrid na final da Champions 2001/02. O grande feito do francês no século.

6º – Xavi Hernández – Craque da Eurocopa 2008 na grande virada de chave histórica da Espanha. Da “Fúria” que passava longe das conquistas para a “Roja” bi do continente e campeã mundial em 2010. Fora os muitos títulos com o Barcelona. Com Pep Guardiola deu um salto de qualidade e se tornou ainda mais líder e o grande facilitador para o talento de Messi. Controlador do jogo e da bola. Toca e desloca, tic-tac. Uma pena ter se destacado na Era Messi x CR7. Merecia ao menos uma Bola de Ouro.

7º – Andrés Iniesta – Quatro anos mais novo que Xavi, viveu seu auge na Euro de 2012, com protagonismo na conquista. Sem contar o gol do título mundial na prorrogação contra a Holanda na África do Sul dois anos antes. Outro currículo impressionante de quem também jogou para ser melhor do mundo ao menos por uma temporada. Sabia ditar o ritmo como “oito”, mas também alternar pelos lados com intensidade. O estilo que dava liga a Xavi e Messi no Barcelona histórico.

8º – Kaká – O último Bola de Ouro antes do domínio de Messi e Cristiano Ronaldo. O único inquestionável na concorrência com os dois gênios. Pela temporada espetacular de 2006/07, a melhor da carreira. Imparável nos “sprints” que podiam ser de área a área, inteligente na movimentação ofensiva do 4-3-2-1 de Carlo Ancelotti no Milan. O último grande momento de uma carreira abreviada no mais alto nível por problemas físicos. Faltou também uma grande Copa do Mundo como protagonista.

9º – Toni Kroos – Mais um grande meio-campista do século. Multicampeão por Bayern de Munique, Real Madrid e seleção alemã. Capaz de executar no mais alto nível todas as funções no meio-campo, de área a área. Outro que seria mais reconhecido se não houvesse uma dupla de protagonistas tão absoluta. Os 7 a 1 são tratados sempre como a nossa tragédia, mas aquela tarde no Mineirão foi do meia alemão, com eficiência assombrosa em tudo que executou. Cracaço!

10º Andrea Pirlo – O “regista” do Milan bicampeão da Champions e da Itália campeã mundial de 2006. Ainda levou a Azzurra nas costas até a final da Euro 2012, aos 33 anos. Três anos depois estaria em uma final de Champions pela Juventus contra o Barcelona. O camisa dez que foi recuando e influenciou no jogo ao mostrar que os espaços mais atrás para organizar e articular poderiam ser preciosos e decisivos. Passes curtos e longos, acelerando e cadenciando. Um monstro!

 

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Saudosistas x “Geração Z”: uma briga insuportável http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/03/saudosistas-x-geracao-z-uma-briga-insuportavel/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/03/saudosistas-x-geracao-z-uma-briga-insuportavel/#respond Fri, 03 Apr 2020 12:06:16 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8249

Foto: AFA

Sem jogos e noticiário mais quente sobre futebol, as pautas e os debates se voltam um pouco para o passado e é muito comum a comparação entre passado e presente.

E como quase todo debate neste país, a polarização aparece. Se na política ela é até necessária porque o conflito está (ou deveria estar) intrínseco, no futebol muitas vezes surge para marcar território. Com todos se comunicando e produzindo conteúdo ao mesmo tempo, a radicalização é uma ferramenta para chamar atenção.

É daí que costuma emergir a guerra entre saudosistas e a “Geração Z”, ou aqueles que já nasceram dentro do mundo globalizado e conectado e acha que tudo que existia antes é jurássico e desconectado na realidade atual.

Ambos podem ser insuportáveis na discussão sobre futebol. Porque a nostalgia é mais que saudável. Se deixar transportar para momentos mais lúdicos, de proximidade com entes queridos que muitas vezes nem estão mais entre nós. A experiência infantil de ir ao estádio com o pai, de não ter preocupações no cotidiano e passar uma semana pensando naquele clássico.

Hoje o peso da responsabilidade de ganhar o dinheiro do ingresso (ou do plano de sócio-torcedor), de onde vai estacionar o carro e como vai garantir a segurança dos filhos, de fato, é capaz de tirar um pouco o prazer do programa. Sem contar o olhar adulto, que sabe do muito de podre que há por trás do esporte no campo. Não mais as retinas encantadas que só reparavam na grandiosidade do estádio, na festa das torcidas e nos movimentos dos craques.

Os agentes da época também têm suas razões para sentir saudades. Estavam no auge físico, no esplendor, na crista da onda. Eram procurados, tinham prestígio. Natural um jornalista mais experiente defender os profissionais veteranos ainda na ativa, ainda que ultrapassados. Questão de identificação.

Tudo isso é compreensível. Só não pode contaminar a observação sobre o jogo. Se aquele tempo era bom para você, indivíduo, não quer dizer que tenha visto um futebol melhor. O nosso narcisismo ajuda a colocar a época em que vivemos mais intensamente o esporte como algo superior e inalcançável para as gerações seguintes. “Quem viu, viu. Eu vi!”

Assim como os jovens que acham que o mundo começou no ano em que nasceram e tratam qualquer coisa que estejam testemunhando na TV e na internet como “maior da História”. Os craques, os jogos, as competições. Tudo é grandioso e precisa crescer ainda mais na histeria coletiva das redes. Para engajar.

E a cada semana surge um novo fenômeno sem precedentes, porque são movidos a hiperestímulos. E como precisam causar, chamar atenção, é obrigatório desafiar os ícones do passado.  E quase sempre descontextualizando e achando que a realidade atual sempre existiu.

Então se o Pelé não jogou em um grande time europeu, como ele poderia ser o melhor do mundo se hoje todos os premiados atuam no Velho Continente? Maior da história ganhando estaduais e Copa do Mundo, mas sem vencer a Liga dos Campeões? Impossível!

É aí que aparece o saudosista colocando o pé na porta e dizendo que os craques que brilham hoje no futebol europeu não conseguiriam sequer ser titulares nos times pequenos de São Paulo que enfrentaram o Pelé. Que o futebol era mais técnico e hoje é só físico. Daí para a falsa dicotomia “Raiz x Nutella” é um pulo. Cansativo…

O esporte evolui, como tudo. O que vemos como consequências que podem ser tratadas como negativas são resultados da complexidade. Se com a internet a informação está disponível e não há mais segredos nem surpresas, é natural que o jogo seja mais dinâmico e haja menos espaços. A evolução na preparação também contribui, o que gera uma reação em cadeia que influencia todo processo e cria novos problemas para resolver.

A “Geração Z” acha isso tudo natural e interessante. O saudosista até acompanha, mas como seu coração está em outro tempo a tendência é reclamar.

O fato é que nunca saberemos se Gerson, o “Canhotinha de Ouro” da Copa de 1970 que fazia aqueles lançamentos de trinta metros quase parado e com muito tempo para pensar, hoje seria um meio-campista de alto nível internacional ou um jogador anacrônico, como Paulo Henrique Ganso, por exemplo. Pela inteligência a chance de vingar seria grande, mas o atleta é um todo, cada vez mais mental. Como ele lidaria com o cenário atual?

Assim como é difícil imaginar Messi ou Cristiano Ronaldo na realidade dos anos 1960/70. Com uniformes de baixa qualidade, bola pesada, gramados maltratados, menos proteção de arbitragem agora com VAR e as múltiplas câmeras de TV em jogos transmitidos para o mundo todo. Poderiam suportar e vencer ou simplesmente desistir lá no início da trajetória.

Comparar o futebol de épocas diferentes só vale como diversão. Ou para alimentar o sonho de ver os craques juntos. Como jogariam Messi e Maradona na seleção argentina? Ou como seria uma dupla de ataque formada por Cristiano Ronaldo e Di Stéfano no Real Madrid. Ou tentar pensar na livre circulação dos talentos do passado se houvesse Lei Bosman. Ou o gostoso exercício de adivinhação sobre quem ganharia em um jogo entre um esquadrão de quarenta anos atrás e um timaço atual.

Dá para entender a irritação de quem viu muitos craques testemunhar na internet os mais jovens desprezando tudo que não conhecem. E com jogos na íntegra disponíveis essa falta de curiosidade (ou preguiça mesmo) incomoda muito. Pior ainda é outro hábito dessa geração: opinar sem conhecer. O achismo se naturalizou e tudo virou questão de opinião.

Mas o nariz permanentemente torcido e o desdém dos saudosistas também são difíceis de aturar. É de se questionar como seguem torcendo ou até trabalhando com futebol se não há mais nenhum prazer envolvido. Muitos veem apenas para ter como argumentar contra e manter seus ídolos em um pedestal. Deve ser triste viver assim…

Impossível ter respostas exatas. Ainda bem. A única certeza é que essa briga, virtual ou real, é chata demais. Fuja dela, mesmo não tendo muito o que fazer trancado em casa. É inútil e só irrita.

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Dez livros sobre futebol para ler ou reler http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/02/dez-livros-sobre-futebol-para-ler-ou-reler/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/02/dez-livros-sobre-futebol-para-ler-ou-reler/#respond Thu, 02 Apr 2020 12:52:18 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8243  

Imagem: Editora Grande Área

“A Pirâmide Invertida” (2008) – Jonathan Wilson 

Simplesmente a “Bíblia” da evolução tática do futebol. O incansável jornalista mergulha em uma pesquisa sem precedentes na história do esporte, desde o caos total na origem da formação dos times até a inversão do desenho tático, com apenas um atacante e mais jogadores protegendo a própria meta – o que não produziu, necessariamente, um jogo pior. Leitura obrigatória.

“A Bola Não Entra Por Acaso” (2009) – Ferran Soriano

O ex-presidente do Barcelona e atual CEO do Manchester City merece ser lido quando os temas são gestão de futebol e desenvolvimento de uma marca global. Mesmo com o Barça hoje não vivendo momento tão iluminado e o City punido pela UEFA por burlar o fairplay financeiro. Interessante para entender um pouco das estratégias fora do campo de clubes com estruturas gigantescas.

“Febre de Bola” (1992) – Nick Hornby

Não é um livro sobre o Arsenal, como a capa dá a entender. Mas sobre como o futebol pode ser o guia da vida de muita gente e um clube a grande válvula de escape para as nossas derrotas e os empates de todo dia. Quem nunca associou uma data importante a um jogo do seu time de coração? A originalidade da escrita de Hornby para a época torna o livro ainda mais especial.

“Guardiola Confidencial” (2014) / “A Evolução” (2017) – Martí Perarnau

Perarnau simplesmente teve acesso quase irrestrito ao cotidiano de trabalho do maior treinador deste século e um personagem intrigante. Com conhecimento sobre futebol para observar e fazer as perguntas certas e as anotações relevantes sobre a trajetória de Pep Guardiola no Bayern de Munique e no Manchester City. Mesmo com alguns exageros no “culto” ao personagem, são duas obras “gêmeas” e espetaculares.

“Como o Futebol Explica o Mundo” (2004) – Franklin Foer

A melhor pesquisa até hoje realizada para explicar como o futebol se tornou o esporte mais popular do planeta, ganhando uma dimensão maior do que se poderia imaginar para algo que é um jogo, na essência. Jornalismo em estado de arte, talvez o melhor livro-reportagem sobre o futebol, com relatos que apenas comprovam a sua inserção no contexto sócio-político do planeta.

“O Barça” (2012) – Sandro Modeo

Em meio a tantos livros para descrever o maior time do século 21, o de Modeo é o mais completo em relação à base de ideias e ideais que construíram a “identidade Barça”. A filosofia de Johan Cruyff atualizada e combinada com outras influências por Pep Guardiola, mas passando por figuras menos conhecidas, como Laureano Ruiz e Vic Buckinham.

“Os 55 maiores jogos das Copas do Mundo” (2010) – Paulo Vinícius Coelho

O maior mérito da pesquisa do PVC foi fugir da tentação brasileira de fechar no próprio umbigo as narrativas sobre os jogos das Copas do Mundo. Nas quais o Brasil ou venceu, ou foi o “campeão moral”, ou “perdeu para si mesmo”.  As entrevistas com jornalistas de Itália, Argentina, França e Holanda lançam um olhar diferente sobre partidas históricas. Brilhante pesquisa.

“11 Cidades” (2017) – Axel Torres

“Para cada viagem, um só destino: o futebol”. Este é o mote do jornalista espanhol para descrever sua paixão pelo esporte e por viagens. Seguindo um roteiro um tanto improvável atrás de personagens díspares, o autor é mais um a mostrar com genialidade o futebol como fenômeno cultural e paixão coletiva. De Londres a Assunção, no Paraguai. Sem fronteiras.

“O Negro no Futebol Brasileiro” (1947) – Mário Filho

O maior clássico da literatura brasileira sobre futebol pela pena do homem que dá nome ao Maracanã não poderia ficar de fora. Apesar do natural, para a época, foco no futebol carioca e da necessidade de contextualização histórica. O relato da entrada do negro em um esporte criado pelos brancos e a forte identidade do país cinco vezes campeão mundial por conta disso, apesar do nosso racismo estrutural.

“Mourinho: Porquê Tantas Vitórias?” (2006) – Nuno Amieiro e vários

Hoje o título pode soar um tanto anacrônico, mas na época do lançamento virou o livro de cabeceira de muitos treinadores e analistas para entender a metodologia e as ideias do então melhor treinador do planeta. Para isso, Nuno e os outros três autores acompanharam Mourinho por uma temporada inteira no Chelsea. Ainda vale muito a leitura, até para entender o que acontece hoje com o português.

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