brunohenrique – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Flamengo amplia repertório e Gerson ganha protagonismo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/01/flamengo-amplia-repertorio-e-gerson-ganha-protagonismo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/01/flamengo-amplia-repertorio-e-gerson-ganha-protagonismo/#respond Thu, 02 Jul 2020 02:29:02 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8714 A grande conquista do Flamengo em 2020 até aqui foi a Recopa Sul-Americana. Título continental superando o Independiente Del Valle por 3 a 0 no Maracanã, Também a atuação mais emblemática, por ter que se virar com um a menos desde os 23 minutos de jogo, depois da expulsão de Willian Arão, com 1 a 0 no placar.

O protagonista foi Gerson. Com apenas Gabriel Barbosa na frente, o camisa oito ganhou mais campo para chegar à frente por dentro. No 4-4-1, Thiago Maia entrou na vaga de Pedro e ficou mais fixo à frente da defesa. Everton Ribeiro e De Arrascaeta pelos lados e Gerson, que costuma organizar mais recuado, apareceu na área do time equatoriano para ir às redes duas vezes e fazer a diferença.

Não por acaso, nos jogos seguintes até a parada e agora na volta, contra Bangu e Boavista, Jorge Jesus vem trabalhando para fazer Gerson se juntar ao quarteto ofensivo com mais frequência. Sem Gabriel Barbosa, sentindo dores musculares, Pedro ficou na referência e, em vários momentos, Everton Ribeiro, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gerson buscaram passes mais rápidos por dentro para furar as linhas de marcação do adversário protegendo a própria área.

É o trabalho de ampliação do repertório, além de automatizar mais os movimentos coletivos. De saída da defesa com Arão e os zagueiros Rodrigo Caio e Léo Pereira; da circulação da bola mais rápida e colocar ainda mais intensidade e coordenação do trabalho de pressão logo após a perda da bola. Ainda jogadas ensaiadas com bola parada, outra arma para furar retrancas.

Diante de um adversário frágil, o volume de jogo foi sufocante. Mas ainda faltam a sintonia fina e a evolução técnica depois da longa inatividade. Bruno Henrique destoou um pouco, Pedro rondou a área do oponente, abriu o placar em bela combinação do ataque e se esforçou. Mas ainda precisa se adaptar mais à dinâmica ofensiva. Outros erros bobos, seja no último passe, seja na finalização.

Mas Gerson foi o destaque absoluto. Articulando, circulando, dando opção aos atacantes e infiltrando. Desviou na área para Pedro marcar o primeiro gol. Depois completou com um petardo no ângulo mais uma bela jogada. Com participação de Michael, que entrou na vaga de Everton Ribeiro no intervalo e criou jogadas pelas duas pontas, alternando com Vitinho, que substituiu Pedro.

As cinco substituições de Jorge Jesus fizeram o time manter o ritmo e o controle. Gerson deu lugar a Diego logo depois do golaço. Um luxo que o treinador português pode se dar pelo abismo entre o melhor time do país e do continente sobre os rivais locais.

Não foi uma exibição inspirada no Maracanã para o alto nível do Flamengo, nem poderia ser pelo contexto. Os 2 a 0, porém, confirmam a liderança geral nos dois turnos, possibilitando a conquista do Carioca se faturar a Taça Rio.

O espetáculo ficou por conta de Gerson. O “joker” versátil que desequilibrou mais uma vez. Com mais liberdade, um dos meio-campistas mais completos do país pode ser ainda mais influente no jogo rubro-negro.

]]>
0
Outro patamar? Jesus já trabalha para colocar Flamengo em nova dimensão http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/12/outro-patamar-jesus-ja-trabalha-para-colocar-flamengo-em-nova-dimensao/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/12/outro-patamar-jesus-ja-trabalha-para-colocar-flamengo-em-nova-dimensao/#respond Thu, 12 Mar 2020 10:18:04 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8146

Foto: Alexandre Vidal / Flamengo

Pouco antes da cobrança de pênalti convertida por Gabriel Barbosa, no segundo gol dos 3 a 0 aplicados pelo Flamengo sobre o Barcelona de Guayaquil no Maracanã, as câmeras da transmissão do Sportv mostravam os jogadores do time equatoriano não só exaustos, como desnorteados. Sem entender exatamente o que estava os atropelando em campo.

Provavelmente porque o treinador Fabián Bustos estudou o campeão brasileiro e sul-americano de 2019. Ou a equipe que enfileirou três taças em fevereiro deste ano. A má notícia para ele é que Jorge Jesus escolheu justamente a estreia na Libertadores em casa, com mais titulares em campo, para começar a colocar em prática uma espécie de Flamengo 2.0.

O português sabe que agora o time carioca é o mais visado e estudado no país e no continente. Por isso trabalha para criar novas soluções para surpreender os adversários. Não só adicionando características ao elenco, como as de Thiago Maia (primeiro volante construtor), Michael (ponta driblador) e Pedro (centroavante de referência), mas também acrescentando repertório ao modelo de jogo.

Começando pelo aumento da intensidade. Na pressão para roubar a bola mais rapidamente depois da perda e também na circulação dos passes. Com jogadores mais próximos e se movimentando para dar opção aos companheiros. Não raro ver Everton Ribeiro, Gabriel Barbosa, Bruno Henrique e De Arrascaeta em uma mesma faixa de campo.  Procurando a bola para combinar ou se projetando para receber em profundidade.

Outra adição é Gerson chegando mais à frente para finalizar, driblar ou acionar os atacantes. Influência dos 3 a 0 sobre o Independiente del Valle. Depois da expulsão de Willian Arão e com a entrada de Maia na vaga de Pedro, o campo se abriu para o camisa oito, que apareceu na área adversária para fazer dois gols. Jesus quer o meia repetindo esses movimentos de área a área. Mais um talento se mexendo e dando opção de passe.

Suportado por um Thiago Maia cada vez mais adaptado e já ameaçando a titularidade de Arão – embora Jesus deixe claro que o camisa cinco tem vantagem em um ou outro conceito já assimilado. E a nova dupla de zaga, formada por Gustavo Henrique e Léo Pereira, que transmitiu confiança a Jesus para deixar no banco Rodrigo Caio, titular voltando de lesão e que pouco jogou na temporada.

Um rolo compressor tático e mental que nos primeiros 45 minutos permitiu apenas 28% de posse de bola e 64% de efetividade nos passes de um Barcelona que mostrou nas fases anteriores à de grupo que não é uma equipe fraca. Porém não viu a bola no Maracanã e só não saiu para o intervalo com uma goleada porque o Flamengo, talvez pelas novidades implementadas ou por contar com jogadores voltando de lesão, como Rafinha e Bruno Henrique, e outros sentindo problemas físicos, como Arrascaeta, cometeu erros técnicos incomuns.

Como o contragolpe avassalador de cinco contra dois que Bruno Henrique desperdiçou à frente do goleiro Mendoza. Ou outras tentativas de passes que encontrariam o colega em condições de finalizar com liberdade. As tabelas mais curtas ainda não estão bem ensaiadas e muitas acabaram não progredindo. Mas já colocaram o oponente na roda e nas cordas pelo volume de jogo sufocante.

Para piorar o cenário do Barcelona, Jesus estudou muito bem as fragilidades dos equatorianos no jogo aéreo. Com bola parada ou rolando. Assim foram construídos os três gols. No escanteio curto pela direita que fez a bola chegar a Everton Ribeiro para cruzar na cabeça de Gustavo Henrique. Depois na cobrança de escanteio pela esquerda de Arrascaeta diretamente para Leo Pereira, que desviou e Jonatan Alvez tocou com o braço. Pênalti para Gabigol ir às redes pela 11ª vez no ano.

No início do segundo tempo, o uruguaio repetiria a cobrança pela esquerda na cabeça de Bruno Henrique para decidir o jogo e fazer os rubro-negros diminuírem um pouco o ritmo e só voltarem a acelerar na reta final, com Vitinho, Michael e Diego em campo. E Diego Alves fazer milagre no final em chute de Montaño, na segunda chance do Barcelona. A primeira foi aos sete minutos, em cobrança de falta de Fidel Martínez.

Entre as duas, um atropelamento de 67% de posse e 17 finalizações a cinco – nove contra duas no alvo. Sem necessariamente uma atuação de gala. O Flamengo de Jorge Jesus evolui coletivamente para precisar menos das individualidades. Ou potencializá-las ainda mais em benefício da equipe.

O próximo teste, se o torneio continental não parar por conta da pandemia de coronavirus, será na altitude novamente contra o Del Valle. Jogo decisivo para definir a classificação, a primeira colocação do Grupo A e, quem sabe, até a liderança geral com campanha 100% e a possibilidade de decidir o mata-mata sempre no Maracanã, sede da final em jogo único.

Disputa que vai cobrar mais inteligência e precisão, já que a intensidade fica comprometida pelo ar que falta nos pulmões. Mas o time parece cada vez mais pronto para encarar qualquer desafio, em qualquer campo e contexto. Porque Jorge Jesus no ano passado colocou o Flamengo em outro patamar. Agora trabalha para botar o time em outra dimensão de jogo e aumentar a distância para os rivais.

O primeiro “ensaio” foi promissor.

(Estatísticas: SofaScore)

]]>
0
Tite pensa como Jorge Jesus. Por isso trio do Flamengo não deve jogar http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/06/tite-pensa-como-jorge-jesus-por-isso-trio-do-flamengo-nao-deve-jogar/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/06/tite-pensa-como-jorge-jesus-por-isso-trio-do-flamengo-nao-deve-jogar/#respond Fri, 06 Mar 2020 17:37:35 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8107

Vasco 0 x 2 Flamengo – 14/04/2019 – (Final Campeonato Carioca)

Desde a primeira entrevista coletiva em 2020, Jorge Jesus tem afirmado que os jogadores que o Flamengo contratou para encorpar o elenco em 2020 estão atrás do time que fez história em 2019, incluindo aí Diego Ribas e Vitinho, reservas que entravam com frequência na equipe.

Uma questão de “hierarquia”, adaptação ao modelo de jogo, gestão de vestiário e outras questões que influenciam nas decisões do treinador. Difícil já chegar jogando, a menos que se abra uma vaga, como aconteceu com a saída de Pablo Marí e os reforços Gustavo Henrique e Léo Pereira disputam a posição.

A seleção brasileira não vive hoje o “hype” do campeão brasileiro com recorde nos pontos corridos e sul-americano (Libertadores e Recopa). Mas tem com Tite uma história de liderança absoluta nas últimas eliminatórias e título da Copa América disputada em casa no ano passado.

Há também jogadores com histórico de convocações, vivência em bons e maus momentos e experiência em disputas no continente. Sem contar a capacidade de competir em altíssimo nível, jogando grandes ligas nacionais e a Champions. É inegável que estão um degrau acima na escala de prioridades do técnico da seleção. E a lista mostra isso.

Mesmo buscando recuperação de desempenho no Bayern de Munique, Philippe Coutinho foi convocado para os jogos contra Bolívia e Peru. Gabriel Jesus está suspenso para a estreia na disputa pela vaga na Copa do Catar, por conta da expulsão na final da Copa América, mas Tite conta com o atacante, em alta no Manchester City, para a sequência do trabalho. Sem ele, a tendência é formar o trio de ataque com Richarlison, Firmino e Neymar.

No meio-campo, difícil fugir de Casemiro, Arthur ou Bruno Guimarães – este, sim, a grande nova por conta da maturidade na adaptação rápida ao Lyon – e Coutinho. Se Tite optar por recuar Neymar para articular jogadas, como tem feito rotineiramente no PSG, Everton, destaque na Copa América, tende a ganhar oportunidade na vaga do meia do time bávaro.

E o trinca de convocados do Flamengo? A tendência é que os badalados Everton Ribeiro, Gabriel Barbosa e Bruno Henrique comecem no banco de reservas. Dos três, Gabriel parece com mais chance de disputar uma vaga na primeira partida, mas só por conta da ausência do xará Jesus.

Porque é assim que funciona quando o trabalho segue uma linha com um mínimo de coerência, até para não gerar grandes instabilidades. Até porque, a rigor, a seleção desde o segundo semestre de 2016 não sofreu nenhum abalo sísmico para virar tudo do avesso. Oscilações são naturais, mas eram amistosos. Quando valeu a Copa América, o Brasil correspondeu.

Por isso todo o barulho – do clamor da imprensa por uma “base” rubro-negra ao desespero da maior torcida do país pela perspectiva do time de coração perder por um tempo suas estrelas –  deve render bem pouco, na prática. Tite pensa como Jorge Jesus. E não está errado.

]]>
0
Empate em Quito é o mundo real que queriam esconder do Flamengo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/20/empate-em-quito-e-o-mundo-real-que-queriam-esconder-do-flamengo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/20/empate-em-quito-e-o-mundo-real-que-queriam-esconder-do-flamengo/#respond Thu, 20 Feb 2020 10:33:14 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8015

Foto: José Jácome / EFE

A noite do Flamengo no Estádio Atahualpa em Quito não foi das mais felizes.

Começando pelo impacto físico e anímico da altitude de 2.850 metros, passando pela escolha infeliz de Jorge Jesus para substituir o suspenso Gabriel Barbosa: Diego Ribas jogou como meia central no 4-2-3-1, atrás de um Bruno Henrique empurrado para a referência no ataque. Sacrificou os dois e tirou velocidade na transição ofensiva.

Para complicar ainda mais, a qualidade do Independiente Dei Valle, campeão da Copa Sul-Americana. Do jovem e ótimo treinador espanhol Miguel Angel Ramirez. Armado em um 4-3-3/4-1-4-1 que encontrava espaços às costas de Willian Arão e Gerson com Franco e Faravelli e, principalmente, no setor de Filipe Luís com a dupla Jhon Sánchez e Guerrero. Principalmente pela baixa intensidade do Flamengo na pressão no campo de ataque.

Assim a equipe mandante terminou com 53% de posse de bola e 16 finalizações – quatro no alvo. Um time organizado, que dominou boa parte do jogo e nunca esmoreceu.

Bem diferente do mundo de faz de conta que se criou para o Flamengo nos últimos dias. Adversários entregues, superioridade incontestável e tudo dando certo o tempo todo em campo. “Outro patamar” full time, em qualquer contexto.

Mas na prática a teoria é outra. Inclusive por conta da típica arbitragem “caseira” da América do Sul. Do uruguaio Leodan González Cabrera ao VAR bastante inconclusivo em um impedimento de Bruno Henrique no primeiro tempo. O camisa 27 pareceu partir do próprio campo até driblar o goleiro Pinos e ir às redes.

Pior ainda na marcação absurda do pênalti de Rafinha sobre Murillo – autor do primeiro gol em cobrança de falta que Diego Alves deixou passar no primeiro tempo. A cobrança precisa de Pellerano decretou os 2 a 2.

Sem contar uma certa permissividade com as entradas mais duras do time equatoriano. Inclusive do próprio Pinos sobre Bruno Henrique no primeiro gol rubro-negro que tirou o atacante do jogo e o colocou numa ambulância. Nem cartão amarelo levou.

O banco de reservas salvou Jorge Jesus. Primeiro com Vitinho no lugar de Diego, que sempre perde desempenho quando joga mais adiantado por prender demais a bola. Arrascaeta centralizou e Filipe Luís ganhou um apoio pela esquerda na segunda etapa.

Depois Pedro, que deveria ter sido o substituto natural de Gabriel, até porque foi contratado para isso. Mas o treinador português insiste em dar mais oportunidades neste início a quem já faz parte do trabalho desde o ano passado.

O centroavante, porém, mais uma vez correspondeu. Sem a explosão de Bruno Henrique, mas dando sequência às jogadas, pressionando a última linha do Del Valle e com presença de área para completar linda jogada de Everton Ribeiro pela direita no segundo gol do campeão brasileiro e da Libertadores.

Favorito também à conquista da Recopa Sul-Americana na volta, no Maracanã. Sem fratura constatada em exames, Bruno Henrique provavelmente estará em campo junto com Gabriel no ataque. Outra dúvida é Rodrigo Caio, que sentiu a coxa e saiu para a entrada de Thuler.

Com qualquer escalação, não deve ser um jogo fácil. Vale taça continental. Difícil entender esse cenário ideal que pintaram para o Flamengo. No esporte mais imprevisível, em um continente tão complicado e instável para se construir hegemonia. O mundo que tentaram esconder dos rubro-negros. Por ingenuidade ou a má intenção de colocar em um pedestal esperando desabar para transformar a queda em vexame.

O jogo real é bem mais duro.

(Estatisticas: SofaScore)

 

 

]]>
0
Flamengo campeão no “jogo da memória”, com virtudes bem conhecidas http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/16/flamengo-campeao-no-jogo-da-memoria-com-virtudes-bem-conhecidas/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/16/flamengo-campeao-no-jogo-da-memoria-com-virtudes-bem-conhecidas/#respond Sun, 16 Feb 2020 16:04:09 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7982 O Flamengo não jogou bem no Mané Garrincha, considerando o alto padrão de 2019. Nem era esperado, já que era apenas o quarto jogo dos titulares na temporada e o time de Jorge Jesus nem teve pré-temporada com treinamentos. Com oito dias já estava no Maracanã enfrentando o Resende.

Para complicar, a partida iniciada às 11h da manhã, o que sempre compromete muito a intensidade. Ainda mais de uma equipe que adianta as linhas, pressiona com todos os jogadores sem bola e se movimenta demais quando ataca.

A grande vantagem nos 3 a 0 sobre o Athletico que rendeu o título da Supercopa do Brasil foi o entrosamento. O entendimento do modelo de jogo. A confiança pelas conquistas do ano passado. E a concentração para não perdoar erros do adversário.

O time paranaense, agora comandado por Dorival Júnior, tentou jogar o tempo todo. Também avançando a marcação em vários momentos, apostando igualmente em mobilidade de um ataque sem referência, com Nikão, Marquinhos Gabriel e Rony. Mas da equipe campeã da Copa do Brasil saíram peças importantes como Léo Pereira, Renan Lodi, Bruno Guimarães, Marcelo Cirino e Marco Ruben. Não por acaso, a direção do clube promete três contratações para Dorival.

Difícil contra um time superior e que joga “de memória”. Expressão popularizada por Tite, mas que na prática facilita tudo. Os movimentos coletivos são sincronizados, cada um sabe o espaço a ocupar. E atacar, como Bruno Henrique se projetando no tempo certo para não entrar impedido para receber a assistência de Gabriel Barbosa e abrir o placar.

Assim como a atenção para não perdoar erros do adversário. Márcio Azevedo falhou no recuo para Santos que Gabriel se antecipou para marcar seu quarto gol no mesmo número de partidas na temporada. E aproveitar os espaços deixados pela defesa avançada do oponente para Bruno Henrique acelerar e só parar em Santos, mas De Arrascaeta aproveitando o rebote. De novo o trio artilheiro rubro-negro.

Mas boa parte do jogo foi de controle, administração. Com erros técnicos ainda incomuns e cedendo oportunidades cristalinas ao adversário valoroso – era a estreia de Rodrigo Caio no ano e Gustavo Henrique ainda vai se adaptando à mecânica da última linha defensiva.

Porém com uma boa notícia: o nítido crescimento de Filipe Luís. Com férias depois de emendar Copa América e volta ao Brasil no ano passado, parece mais inteiro para mostrar a habitual inteligência na leitura de jogo e dos espaços para apoiar. Aguentou bem 87 minutos e saiu para a entrada de Renê.

Jorge Jesus ainda trocou Arrascaeta e Everton Ribeiro por Michael e Diego. Nos minutos finais, o time se repaginou no 4-2-3-1. Mais uma das muitas variações táticas. No primeiro tempo, a equipe chegou a atuar numa espécie de 4-3-3 com Gabriel e Bruno Henrique abertos e Arrascaeta como “falso nove”. Testes necessários para não deixar o time “manjado”.

Mas a vitória foi construída com virtudes bem conhecidas. Do time que se conhece e mantém a fome por mais taças na temporada.

]]>
0
Única vantagem do Flamengo sobre o Liverpool é não ter nada a perder http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/19/unica-vantagem-do-flamengo-sobre-o-liverpool-e-nao-ter-nada-a-perder/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/19/unica-vantagem-do-flamengo-sobre-o-liverpool-e-nao-ter-nada-a-perder/#respond Thu, 19 Dec 2019 12:57:28 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7754

Foto: Ali Haider / EPA

When you ain’t got nothing, you got nothing to lose” é um dos últimos versos da longa letra de “Like a Rolling Stone”, do cantor e compositor Bob Dylan, Nobel de Literatura em 2016. Algo como “quando você não tem nada, você nada tem a perder”.

O Flamengo tem muito. O melhor time da América do Sul, um treinador de bom nível, enorme torcida e a oportunidade de trabalhar a marca globalmente ao chegar à decisão do Mundial contra o campeão europeu.

Mas para grande parte do planeta, objetivamente, não passa de uma “zebra” contra o Liverpool. Fadado a ser o vice da sétima conquista consecutiva do vencedor da Liga dos Campeões no torneio da FIFA. Na grande maioria delas sem muito trabalho para o grande favorito.

Muitos podem não entender toda essa superioridade. Olham para o campo, não veem Messi e Cristiano Ronaldo para justificar todo esse temor. E talvez analisando jogador por jogador pelo potencial técnico, de fato, não haja tanta diferença assim. Só que a questão é outra, mais complexa.

O Liverpool é muito melhor porque tem em Jurgen Klopp um treinador de primeira prateleira no futebol mundial. Sem contar os quatro anos no clube que consolidam o trabalho que só veio a ser coroado com um título em maio na conquista da Champions, há um aperfeiçoamento constante dos processos.

Por conta do alto investimento em ciência e tecnologia para melhorar os treinamentos. Como é possível ganhar segundos e metros na circulação de bola para chegar mais rapidamente ao ataque? Ou a melhor maneira de estar distribuído em campo para recuperar a bola assim que a perde ao fazer pressão. Sem contar os recursos para mapear atletas com potencial, utilizando profissionais de scout no mundo todo.

E tudo é testado semanalmente no mais alto nível, no campeonato nacional e na Champions, contra times que possuem capacidade de investimento semelhante ou até bem superior. O jogo fica mais intenso e de melhor nível técnico e tático naturalmente. Por isso a disparidade.

Qual é a única vantagem do Flamengo para a final de sábado em Doha? Justamente não ter nada a perder. A responsabilidade do campeão da Libertadores é vencer a semifinal e o time rubro-negro já conseguiu. Agora é buscar a cereja do bolo em um ano histórico.

O fato de ser a última partida de 2019 pode ser a grande chave para Jorge Jesus tirar de um grupo desgastado em final de temporada força e concentração máximas para tentar fazer a partida perfeita e entregar o prometido ao “povo que pede o mundo de novo”. É deixar tudo em campo e partir para as férias com a sensação de dever cumprido.

Porque será necessária uma concentração absurda da última linha de defesa para evitar as infiltrações de Salah e Mané em diagonal. Atenção total de Willian Arão e Gerson não só contra os meias dos Reds – que pode ser uma dupla entre Wijnaldum, caso se recupere, Milner, Oxlade-Chamberlain e Keita. Mas principalmente para bloquear a habitual movimentação de Roberto Firmino às costas dos volantes adversários.

E como conter os laterais Alexander-Arnold e Robertson? Everton Ribeiro e De Arrascaeta ou Bruno Henrique vão jogar de uma linha de fundo à outra? Ou Jesus vai estreitar os quatro defensores para que os meias pelos lados recuem como laterais formando uma linha de cinco ou seis protegendo a meta de Diego Alves? É viável mudar tanto o modelo de jogo correndo o risco de isolar e tirar Gabriel Barbosa do jogo?

Ou a solução mais lógica é arriscar tudo sem alterar a proposta, mantendo a defesa adiantada e buscar a superação na pressão constante sobre o adversário com a bola para conter o volume de jogo do Liverpool? River Plate e Al-Hilal tentaram fazer contra o próprio Flamengo e a conta veio salgada no segundo tempo com enorme desgaste que permitiu as viradas. O Monterrey também pregou na semifinal contra o “mistão” dos ingleses. Quando Klopp mandou os três titulares do banco para o campo não havia mais fôlego para lutar contra.

Deu para entender a missão inglória? O tamanho do desafio? A melhor notícia para o flamenguista é que se o triunfo improvável vier, o ano será o mais glorioso da história do clube. Talvez o maior de um time brasileiro em todos os tempos. Estadual, Brasileiro em 38 rodadas – e não em, no máximo, seis jogos, como o Santos de Pelé na Taça Brasil em 1962 e 1963 – e ainda Libertadores e um Mundial superando o time que efetivamente é o melhor da Europa. Em tempos de êxodo e seleções transnacionais dos clubes mais ricos do planeta.

O time de Jorge Jesus é franco-atirador e só volta a jogar em fevereiro de 2020. Já o Liverpool encara no “Boxing Day”, cinco dias depois da final no Catar, o Leicester City, vice-líder da Premier League, obsessão dos Reds na temporada. É preciso medir os esforços. Já o Flamengo parte para a epopeia. Pode deixar a vida em campo. Até porque há a possibilidade, que a direção luta bravamente contra, de ser a última vez que jogadores e treinador estarão juntos, diante do volátil mercado brasileiro e sul-americano.

Voltando aos versos de Dylan, na frase seguinte à citada no início deste texto, ele diz “You’re invisible now, you’ve got no secrets to conceal”. O Flamengo, de fato, nada tem a perder. Nem tem segredos a esconder. Só não estará invisível no sábado. Talvez termine mesmo como o coadjuvante da vez. No pior cenário um mero “sparring”. Mas se virar a história do avesso ganhará de vez a eternidade.

 

]]>
0
Flamengo vira no talento à prova de “zebra” e está na final do Mundial http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/17/flamengo-vira-no-talento-a-prova-de-zebra-e-esta-na-final-do-mundial/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/17/flamengo-vira-no-talento-a-prova-de-zebra-e-esta-na-final-do-mundial/#respond Tue, 17 Dec 2019 19:55:28 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7746 O primeiro tempo em Doha mostrou que o menosprezo de muitos ao Al-Hilal por conta do jogo do time misto no sábado contra o Esperánce era por pura arrogância e também desconhecimento. Não bastaram as quatro eliminações dos sul-americanos nas últimas dez semifinais do Mundial de Clubes para aprenderem a respeitar mais o futebol jogado em um mundo cada vez mais conectado, com informações circulando e conceitos atuais disponíveis para quem quiser aprender.

A equipe árabe de Razvan Lucescu, armada no 4-2-3-1, tentou emular a estratégia do River Plate contra o Flamengo na final da Libertadores: pressão no homem da bola liderada por Cuéllar, velocidade nas transições ofensivas e força pela direita com Carillo e o lateral Al-Burayk passando no corredor contra Filipe Luís, nem sempre auxiliado sem bola por De Arrascaeta.

Do lado oposto, força também com Al-Shahrani apoiando bem aberto e Al-Dawsari circulando por dentro e procurando Giovinco e Gomis nas costas de Willian Arão e Gerson. Muita intensidade e presença ofensiva.

E o gol muito semelhante ao marcado pelo River em Lima: chegada ao fundo pela direita, passe para trás e finalização no espaço entre defesa e meio. De Al-Dawsari, que havia desperdiçado chance à frente de Diego Alves e Gomis perdendo gol feito no rebote.

Para aumentar a tensão que sempre afeta os sul-americanos, pelo contexto da competição: uma estreia, contra o adversário leve por já ter jogado e tranquilo pela condição de “zebra”. Componente emocional que pesou até o final do primeiro tempo.

No entanto, assim como o River, o Al-Hilal não aproveitou o período de domínio e controle para definir a partida. O Flamengo voltou vivo do intervalo e foi crescendo. Bruno Henrique saiu da esquerda, invertendo com Arrascaeta no 4-1-3-2 habitual e foi jogar com Gabriel Barbosa na frente. Marcação adiantada, concentração e circulação de bola mais rápida, principalmente depois da entrada de Diego Ribas na vaga de Gerson, novamente abaixo do rendimento normal e sentindo a marcação de Carlos Eduardo.

E a descoberta do lado direito como o principal escape para chegar à área mais rapidamente. Bola que passou por Rafinha, chegou a Gabriel, que girou e atraiu a atenção da defesa que deixou espaços às costas para Bruno Henrique infiltrar e servir Arrascaeta livre. Enfim o talento floresceu e tudo funciona melhor no time rubro-negro quando esses três se aproximam.

O empate castigou mentalmente o time árabe que já vinha sentindo o desgaste do esforço nos primeiros 45 minutos. E tome bola no Rafinha! O inesgotável lateral de 34 anos disparou para colocar na cabeça de Bruno Henrique, o artilheiro dos jogos grandes. O destaque do futebol brasileiro em 2019 ainda encontrou espaço pela esquerda para receber de Diego e cruzar para Al-Bulayhi marcar contra. O craque do jogo.

Carillo perdeu a cabeça em falta sobre Arrascaeta e foi expulso. A exceção em um time que tentou jogar durante os 90 minutos. Com 43% de posse, finalizou 11 vezes contra nove – cinco a três no alvo. E pressionou no final, mesmo jogando com inferioridade numérica. Para cair de pé e reforçar a nossa necessidade de olhar para outros centros futebolísticos com mais respeito.

Jorge Jesus sabia da força do adversário e não faltou seriedade. Mas sobrou, além do condicionamento físico, a qualidade do campeão brasileiro e da Libertadores para despachar a chance de uma surpresa desagradável e, agora sim, poder pensar na final do Mundial. Amanhã o roteiro esperado depende do Liverpool contra o Monterrey.

(Estatísticas: Footstats)

]]>
0
O time que se recusa a perder http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/11/28/o-time-que-se-recusa-a-perder/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/11/28/o-time-que-se-recusa-a-perder/#respond Thu, 28 Nov 2019 04:53:46 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7645 Os seis titulares escalados de início davam a dimensão da seriedade com que Jorge Jesus tratava o jogo contra o Ceará no Maracanã. Com o time campeão brasileiro depois de um fim de semana mágico e histórico.

Um típico jogo em que a piada seria: “quem passar no teste do bafômetro entra em campo”. Uma dispersão, até maior que a demonstrada contra o CSA, quatro dias depois dos 5 a 0 sobre o Grêmio, seria mais que compreensível.

Não para Jorge Jesus, que trocou Reinier – de novo o substituto de Gabriel Barbosa, suspenso –  ainda no primeiro tempo. Já com o Ceará vencendo por 1 a 0, gol de Thiago Galhardo, em mais uma falha defensiva de Rodinei. O recado do treinador português era claro: quem não estivesse em condições ou disposto a entregar 100% de esforço estaria fora.

Porque com Jesus não tem refresco. No segundo tempo ainda tiraria Diego, voltando a prender muito a bola em algumas jogadas, para colocar Lincoln na área adversária.

Saindo da referência, Bruno Henrique apareceu como artilheiro. Indo às redes três vezes, chegando a 21 gols e igualando a marca de Zico que Gabriel superou contra o Grêmio, chegando a 22. A disputa pela artilharia do Brasileiro surpreendentemente esquentou.

Vitinho, em ação individual, fechou os 4 a 1. Mas o destaque, além de Bruno Henrique, foi Everton Ribeiro. Impressionante como sempre está em campo, mesmo com um problema no pé que gerou uma tendinite por pisar “torto”.

Inesgotável, como esse Flamengo que se recusa a perder. Chegando a 27 jogos de invencibilidade na temporada, 22 na competição nacional. Alcançando os 84 pontos, recorde no campeonato com 20 clubes por pontos corridos.

No final, a comemoração com a taça, medalhas e a torcida em êxtase. Nos últimos anos, o torcedor sofreu tantas vezes com um time que baixava a guarda, se entregava diante da menor dificuldade. “Pecho frio”, como dizem os argentinos. “Modo banana”, como acabou virando chacota. Derrotas eram encaradas com incrível naturalidade: “perder é normal”. O clube devia à torcida algo diferente.

Está pago com juros e correções. Mesmo de ressaca e sem precisar dos pontos, esse Flamengo já lendário é obcecado por vitórias. Não dá trégua, assim como Jorge Jesus. Para ele vale tudo, sempre.

]]>
0
Flamengo campeão no “milagre” de Lima em mais uma decisão mental http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/11/23/flamengo-campeao-no-milagre-de-lima-em-mais-uma-decisao-mental/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/11/23/flamengo-campeao-no-milagre-de-lima-em-mais-uma-decisao-mental/#respond Sat, 23 Nov 2019 23:44:45 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7616 O River Plate tinha os cinco anos de trabalho de Marcelo Gallardo, a confiança do título de 2018 vencendo na final o maior rival, Boca Juniors. E ainda achou o gol com Borré em uma combinação de falhas individuais e coletivas na defesa rubro-negra – Filipe Luís, Willian Arão e Gerson.

Com a vantagem, dobrou a aposta na pressão sobre a bola e aproveitou a força mental para tirar o Flamengo do jogo. Cortando as conexões de Everton Ribeiro, Gerson e De Arrascaeta e isolando Gabriel Barbosa e Bruno Henrique. Faltou contundência na frente para encaminhar o título. Sobrou também a preocupação em “picotar” o jogo, ganhar tempo com faltas seguidas e também tocando curto para tirar velocidade.

Mas os destaques dos primeiros 45 minutos estavam todos no time de Gallardo: Pinola, Enzo Pérez, Palácios e De La Cruz. No Flamengo, o erro era tentar dominar e girar para passar. Não havia espaços. Só no início, com alguns espaços, mas finalizou apenas uma vez, com Bruno Henrique de longe.

Segundo tempo de controle argentino, mas novamente da falta de força ofensiva. Piorou com a entrada de Lucas Pratto na vaga de Borré. O atacante, nitidamente fora de forma, encontrou espaços generosos com o avanço descoordenado do rival, mas não foi às redes para definir. Deu chance para a falta de sorte.

E o acaso começou a proteger o Flamengo de uma maneira improvável. Gerson, sufocado pela marcação de Palacios, saiu lesionado para a entrada de Diego Ribas. Com a camisa dez de Zico, porém contribuindo mais recuado. Dando a dinâmica e soltando rapidamente a bola como nunca fizera em sua passagem pelo Fla. Aproveitando também o desgaste natural do adversário depois de 65 minutos de intensidade máxima.

Era desorganizado, mas persistente. E foi empurrando o então campeão sul-americano para trás. Poderia ter empatado com Everton Ribeiro em uma “blitz” na área argentina. Jesus arriscou tudo trocando Arão por Vitinho. Com muita gente na frente e fazendo a bola chegar mais rapidamente ao ataque, Bruno Henrique, o melhor da Libertadores, achou um passe de Arrascaeta para o meia uruguaio, como atacante, servir Gabriel para o empate aos 43 minutos.

O River ainda lamentava o gol sofrido quando levou a virada histórica em um ataque com zero construção. Gabriel ganhou a disputa da bola longa com os zagueiros para construir, aos 45, algo que só há paralelo em termos de “roteiro de filme épico” com a virada do Manchester United sobre o Bayern de Munique na final da Liga dos Campeões 1998/99.

A pior atuação do Flamengo depois de Jorge Jesus estruturar a equipe e iniciar uma série invicta que agora chega a 26 partidas teve um desfecho inimaginável. Para colocar o “meteoro” de cinco meses na eternidade. Em outra decisão mais mental que técnica ou tática. O River foi racional e inteligente, mas o Fla transformou a emoção em gols quando o rival baixou a guarda. E “Gabigol” entra para a lista de ídolos rubro-negros.

O “milagre” de Lima não será esquecido tão cedo.

]]>
0
Do quintal ao Olimpo: o que esperar do “meteoro” Flamengo contra o River? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/11/22/do-quintal-ao-olimpo-o-que-esperar-do-meteoro-flamengo-contra-o-river/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/11/22/do-quintal-ao-olimpo-o-que-esperar-do-meteoro-flamengo-contra-o-river/#respond Fri, 22 Nov 2019 13:43:34 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7603

Foto: Buda Mendes / Getty Images

A cobrança de Queiroz que bateu no travessão de Diego Alves na decisão por pênaltis no Maracanã, eliminou o Emelec e colocou o Flamengo nas quartas de final da Libertadores é o grande ponto de virada na temporada rubro-negra.

Parece que foi há muito tempo, mas aconteceu no dia 31 de julho. Três semanas depois da estreia de Jorge Jesus no comando técnico. Era apenas a quarta partida de Gerson na equipe, a segunda de Pablo Marí. Filipe Luís poderia nem ter participado do torneio continental caso o time tivesse caído nas oitavas. Só Rafinha, dentre as contratações para o segundo semestre, havia participado dos jogos contra o Athletico pela Copa do Brasil. Traumática eliminação nos pênaltis.

Uma fase de transição complexa, com treinador e jogadores chegando em meio a jogos decisivos. Mas o Flamengo sobreviveu. Passou pela “ressaca” contra o Bahia em Salvador três dias depois, com a estreia precipitada de Filipe Luís, mas ganhou o que precisava: tempo. Para encaixar as contratações e ajustar a equipe.

Semana cheia para trabalhar, jogo para ganhar confiança contra os reservas do Grêmio de Renato Gaúcho. 3 a 1 no Maracanã e mais sete dias de preparação para encarar o Vasco em Brasília. 4 a 1 e já a volta à competição sul-americana para encarar o Internacional. Igualando a melhor campanha nos últimos dez anos – em 2010, o Fla foi eliminado nas quartas pela Universidad de Chile.

Vitória por 2 a 0 com domínio, mas oscilando e definindo com Bruno Henrique na reta final da partida. Depois de Filipe Luís passar a articular por dentro e convencer Jesus de que assim seria mais útil. No fim de semana, a chegada à liderança pela vantagem no saldo de gols sobre o Santos com os 3 a 0 em cima do Ceará em Fortaleza. A bicicleta de Arrascaeta no lance final foi a primeira obra de arte e um sinal de que a confiança chegava para ficar.

Empate em Porto Alegre depois de um grande primeiro tempo, mas que não se refletiu no placar por conta das chances claras desperdiçadas por Gabriel Barbosa. O gol de Rodrigo Lindoso e a pressão do Inter chegaram a apresentar algum risco de nova eliminação, mas a arrancada de Bruno Henrique encontrou o camisa nove para se redimir com o gol da classificação. Na despedida de Cuéllar, já de saída, mas que aceitou como última missão entrar na vaga do suspenso Willian Arão antes de partir para o “mundo árabe”.

No fim de semana, o duelo com o Palmeiras de Felipão. Atual campeão brasileiro que nas nove primeiras rodadas antes da pausa para a Copa América havia colocado oito pontos na frente. Saiu zonzo do Maracanã e com o treinador demitido depois dos 3 a 0. A partida em que Jorge Jesus encontrou os onze “de gala”.

A reunião das quatro contratações de janeiro – Rodrigo Caio, De Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabriel Barbosa – com as quatro do meio do ano: Rafinha, Pablo Marí, Filipe Luís e Gerson. Mais Diego Alves e Everton Ribeiro, os grandes reforços de 2017. E Willian Arão, transformado em volante mais fixo com Jesus, a custo de muitas orientações e broncas. Como esquecer do “Tá mal, Arão!” no primeiro jogo-treino?

Combinando características, como o lado direito com Rafinha apoiando mais aberto e Everton Ribeiro circulando e procurando o jogo pelo centro, deixando o corredor para o lateral. Do lado oposto, Filipe Luís construindo por dentro e Arrascaeta ou Bruno Henrique buscando o fundo ou as infiltrações em diagonal. Zagueiros e meio-campistas centrais qualificando o passe desde a saída de bola.

Pressão pós-perda sufocante, transição rápida assim que retoma a bola em busca do gol. Defesa em linha e adiantada para compactar setores e colocar o adversário mais longe da própria área. Muita mobilidade do quarteto ofensivo e variações táticas em função do adversário ou do contexto do jogo. Bruno Henrique pode ser ponta ou atacante, de movimentação ou fixo. O mesmo com Gabriel Barbosa, assim como Everton Ribeiro ou De Arrascaeta pode armar por dentro. Em um 4-2-3-1, 4-3-3, 4-1-4-1…

Assim construiu uma invencibilidade de 25 partidas. 21 no Brasileiro, quatro na Libertadores. Incluindo as contra o Grêmio na semifinal. Primeiro tempo com autoridade, porém sem gols em Porto Alegre. Segundo tempo arrasador no Rio de Janeiro para construir os 6 a 1 inquestionáveis no agregado e chegar à decisão da Libertadores depois de 38 anos. Eram 34 sem disputar a fase semifinal.

Um feito histórico e muito acima do projetado pela nova diretoria. Ainda mais com a troca de comando técnico no meio do ano. Com um profissional estrangeiro trabalhando com elenco reformulado. Mantendo a meta de janeiro: uma conquista nacional e boa campanha na competição sul-americana. Mas compreendendo se o segundo semestre de 2019 se transformasse em um grande laboratório para o ano seguinte.

Era mesmo difícil imaginar um rápido e amplo domínio no futebol brasileiro. Transformando os jogos da equipe no Maracanã sempre cheio no grande evento do Rio de Janeiro. Abrindo treze pontos na liderança, com um jogo a mais, e podendo comemorar o título nos pontos corridos com quatro rodadas de antecedência caso o Palmeiras seja derrotado pelo Grêmio no domingo em São Paulo. Melhor ataque com  73 gols, 39 dos dois artilheiros do campeonato: Gabriel com 22, Bruno Henrique com 18. Mais 11 de Arrascaeta.

O país virou um grande quintal para os rubro-negros, tamanha a superioridade imposta sobre os principais concorrentes. Incluindo os adversários da Libertadores, superados também no Brasileiro. O único confronto internacional do Flamengo de Jorge Jesus foi o Emelec, lá em julho.

De repente o salto direto, um voo sem escalas para o Olimpo do continente: a primeira final em jogo único em Lima contra o atual campeão. O River Plate de Marcelo Gallardo, time já histórico pelas conquistas desde 2014. Começando com a Sul-Americana e já com duas Libertadores – 2015 e 2018. A última superando o rival Boca Juniors na grande decisão.

Uma equipe forte, versátil, inteligente, com mentalidade vencedora e experiência em grandes jogos. Segundo o jornalista Diego Borinsky, autor de duas biografias sobre Gallardo, em entrevista para o podcast “Triangulação”, que este que escreve participa com os colegas Eugenio Leal e Rodrigo Coutinho, é a melhor versão dos times comandados por “El Muñeco” em cinco anos.

Maturidade, modelo de jogo assimilado. Com Enzo Pérez recuando para ajudar Martínez Quarta e Pinola na saída de bola. Os laterais Montiel e Casco se projetam à frente e abrem o campo. Assim como no Fla, o parceiro pela direita costuma ser um meia canhoto: Ignácio Fernández, o mais talentoso da equipe argentina. Do lado oposto, Casco muitas vezes apoia por dentro, deixando o corredor para De La Cruz buscar o fundo. Segundo o Footstats, o uruguaio, irmão de Carlos Sánchez do Santos, só driblou menos que Everton Cebolinha no torneio.

Palacios, 21 anos, é o meia que ajuda Pérez a fechar o meio quando a equipe se reagrupa em duas linhas de quatro e se transforma em mais um articulador com a bola – mesma função de Gerson no Fla. Na frente, mobilidade e rapidez com Borré e Matías Suárez. Dupla que vai buscar as infiltrações em diagonal às costas da defesa do Flamengo. Entre Rafinha e Rodrigo Caio de um lado, no espaço deixado por Marí e Filipe Luís do outro.

O treino aberto testando a formação com três zagueiros utilizada na primeira partida da última final de Libertadores contra o Boca parece mais um blefe ou algo para utilizar no segundo tempo administrando uma possível vantagem no placar. Paulo Díaz entraria na vaga de Palacios ou De La Cruz. Solução que pode ser interessante para reforçar a defesa contra o poderio ofensivo rubro-negro, sempre elogiado por Gallardo. Também acrescentar estatura para se proteger nas jogadas aéreas, problema na semifinal contra o Boca. Ainda liberaria Montiel e Casco para atacar pelos lados batendo com Rafinha e Filipe Luís e deixando Borré e Suárez no mano contra Rodrigo Caio e Pablo Marí.

Mas também poderia deixar muitos espaços entre as intermediárias para Everton Ribeiro, De Arrascaeta e Gerson trabalharem por dentro. Além de, ao menos na teoria, entregar simbolicamente o controle para o time brasileiro. Improvável para um início de decisão. O River costuma se impor em técnica, tática e estratégia, mas também na força mental.

O grande desafio e também a grande incógnita em relação ao Flamengo. Como disse Filipe Luís na zona mista após o treino de quinta-feira em Lima, “será diferente de tudo que já enfrentamos”. Totalmente. Porque o Fla por enquanto é um “meteoro” de cinco meses. Ou menos de quatro, se contarmos a partir da construção da invencibilidade. Algo como o Palmeiras de 1996 ou o Santos de 2010, só que no segundo semestre encarando Brasileiro e Libertadores. Um nível acima.

Foi tão bem que consegue chegar à final sul-americana e ninguém consegue apontar como “zebra”. O favoritismo do River, que deveria ser tão claro, soa injusto ou inapropriado. Mas o fato é que não há precedentes para tentar vislumbrar o que o time rubro-negro será capaz de entregar em Lima. Como será o amanhã? Ninguém pode responder. Ainda.

As prováveis formações para a final da Libertadores: equipes no 4-4-2 /4-1-3-2, disputando posse e controle do jogo com, pressão pós-perda, proposta ofensiva e muita mobilidade na frente. O duelo mais interessante pode ser entre Gerson e Palacios no meio-campo, atacando e defendendo entre as intermediárias (Tactical Pad).

(Estatísticas: Footstats)

 

 

]]>
0