campeonatoespanhol – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Vinícius Júnior ganha confiança com o Real Madrid líder e ofensivo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/24/vinicius-junior-ganha-confianca-com-o-real-madrid-lider-e-ofensivo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/24/vinicius-junior-ganha-confianca-com-o-real-madrid-lider-e-ofensivo/#respond Wed, 24 Jun 2020 21:56:30 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8687 O pênalti sofrido por Vinícius Júnior nos 2 a 1 sobre a Real Sociedad na rodada em que o Real Madrid assumiu a liderança foi um tanto duvidoso. Difícil avaliar se o toque sofrido foi o suficiente para desequilibrar o atacante. Na prática “salvou” o brasileiro que novamente teve personalidade e habilidade para a jogada individual, mas no acabamento costuma comprometer o ataque.

Zinedine Zidane aposta na velocidade para acelerar as transições ofensivas e também nessa capacidade de desequilibrar nos duelos com os marcadores. Transmite confiança e procura lapidar um talento que só precisa tomar melhores decisões na hora de definir ou servir os companheiros. Também acertar mais tecnicamente no último toque.

O Real Madrid não costumava dar esse tempo a jovens promissores, mas foi justamente o treinador francês quem mudou essa visão imediatista no clube. Ganhando o histórico tricampeonato da Liga dos Campeões e um título espanhol apostando em continuidade e oportunidades para a maioria dos jogadores.

Até Gareth Bale, titular nos 2 a 0 sobre o Mallorca no Estádio Alfredo Di Stéfano. Dentro de uma formação mais ofensiva com o galês e Vinicius nas pontas, Hazard por dentro se aproximando de Benzema. Em vários momentos quase num 4-2-4.

E ainda Luka Modric, que recebeu livre pela esquerda e esperou a passagem de Vinícius Júnior. Com liberdade à frente do goleiro, enfim a tranquilidade para tocar por cima e abrir o placar. Golaço que teve origem numa falta de Carvajal ignorada pela arbitragem. Mais um motivo de reclamação para Piqué na eterna “guerra fria” de bastidores entre Barcelona e Real Madrid.

Pouco antes, Vinicius recebeu de Hazard, mas finalizou em cima de um defensor. Minutos depois, quase a consagração com uma cavadinha que parou no travessão. O segundo gol do líder de “La Liga” viria no segundo tempo, em bela cobrança de falta de Sergio Ramos.

O “clean sheet” teve participação fundamental de Courtois, até porque a proposta ofensiva cedeu espaços ao Mallorca. A ausência de Casemiro, suspenso, também pesou. A imposição técnica, porém, foi protocolar. Com Zidane, o Real não costuma vacilar e deixar pontos irrecuperáveis pelo caminho.

Assim deve seguir na ponta da tabela, até porque a missão em Manchester contra o City na Champions parece quase impossível. Zidane valoriza os pontos corridos como a competição em que o trabalho do treinador e do time são mais valorizados por não dependerem de uma noite boa ou ruim. Vence o mais regular.

É o que busca Vinicius Júnior. Mais consistência e constância. Com paciência e minutos em campo, o Real Madrid pode tomar a hegemonia do Barça e colher uma estrela para a próxima década.

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Até quando dura o domínio no piloto automático do Barcelona na Espanha? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/19/ate-quando-dura-o-dominio-no-piloto-automatico-do-barcelona-na-espanha/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/19/ate-quando-dura-o-dominio-no-piloto-automatico-do-barcelona-na-espanha/#respond Fri, 19 Jun 2020 22:39:22 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8665 O Barcelona voltou goleando o Mallorca por 4 a 0 e superando o Leganés por 2 a 0. Imposição natural sobre equipes lutando contra o rebaixamento. “Receita” do time catalão no domínio recente na liga espanhola: evitar perder pontos para os de menor investimento para ter tranquilidade na disputa contra os grandes.

Mas bastou um jogo mais duro, fora de casa contra o terceiro colocado Sevilla, para o Barça mostrar que, apesar do resgate de mais elementos de jogo de posição com a chegada de Quique Setién, a essência, com virtudes e defeitos, continua a mesma dos tempos de Ernesto Valverde: um time que tem posse, baixa intensidade e dependência de Ter Stegen atrás e de Messi na frente.

Em jogos maiores, quase invariavelmente armado em um 4-4-1-1 que mantém Suárez na frente, Messi com liberdade de circulação e as demais peças precisando se encaixar no sistema e no modelo. Com Rakitic já em uma reta final de carreira, cabe a Arturo Vidal cumprir a função sacrificante de fechar o lado direito e dar opção de profundidade e força no setor. Porque Semedo é outro elo fraco e Sergi Roberto não entrega tanta consistência como lateral.

Com Griezmann sem condições para 90 minutos, Setién começou com Martin Braithwaite. Um atacante que poderia ser um contraponto de intensidade e infiltração para furar linhas de marcação, mas dentro de uma proposta de circulação de bola sofre muito tecnicamente para dar sequência às jogadas.

Sobra Jordi Alba, a inesgotável opção de profundidade pela esquerda. Arthur não consegue sequência, nem alternar passes de controle com os necessários de ruptura. Na defesa adiantada, Piqué e Lenglet se viram em coberturas, antecipações e evitando erros de passe na saída quando pressionados.

Porque o Sevilla de Julen Lopetegui se arriscou em seus domínios. Adiantando a marcação, alternando os ponteiros Ocampos e Munir pelos flancos e mudando constantemente o desenho no meio-campo, ora com Fernando e Jordán como volantes e Oliver Stones mais solto, ora fixando Fernando e subindo Jordán alinhado a Oliver. Pressão no adversário com a bola e transição rápida. Também valorizando a posse em muitos momentos, como gosta Lopetegui.

No segundo tempo dobrando a aposta em contragolpes ao rearrumar a retaguarda com linha de cinco depois da entrada do sérvio Gudelj na defesa. Também Banega, Vázquez, Suso e En-Nesyn. Finalizou oito vezes, metade no alvo. Mas é difícil vencer Ter Stegen.

Mas não foi tão complicado parar Messi, que muitas vezes não tem um parceiro conectado com seu raciocínio rápido e, nas partidas mais pegadas, também sofre fisicamente. Resta recuar, tentar uma tabela ou encontrar as entrelinhas, cada vez mais raras, para cortar da direita para dentro e finalizar. Até as cobranças de falta estão mapeadas. No caso do Sevilla, com o zagueiro francês Koundé auxiliando o goleiro Vaclik na cobertura de um dos ângulos. O 700º gol na carreira ficou para outra ocasião.

A cultura de vitória de oito conquistas nas últimas onze edições da competição não foi suficiente desta vez para arrancar os três pontos na moral, à forceps. E o empate sem gols era tudo que o Real Madrid esperava. Com a vantagem no confronto direto por conta do empate fora e a vitória em Madrid, o time de Zidane pode igualar em pontos na liderança e de lá não mais sair.

Até porque parece mais regular no desempenho que o grande rival. É claro que a disputa segue muito aberta e enfrentar a Real Sociedad como visitante não será tão simples para a equipe merengue na 30ª rodada, faltando oito para o final da liga.

Mas até quando vai durar esse domínio no piloto automático do Barcelona? O Real de Zidane parece próximo de repetir a queda de hegemonia que impôs em 2016/17.

(Estatísticas: Whoscored.com)

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Recital sem gols de Benzema é destaque da volta do Real Madrid em “La Liga” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/14/recital-sem-gols-de-benzema-e-destaque-da-volta-do-real-madrid-em-la-liga/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/14/recital-sem-gols-de-benzema-e-destaque-da-volta-do-real-madrid-em-la-liga/#respond Sun, 14 Jun 2020 19:33:12 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8648 Quando Gabriel Jesus terminou a Copa do Mundo de 2018 sem gols o mundo caiu sobre o camisa nove brasileiro. No país de Romário e Ronaldo nos dois últimos títulos é inadmissível o centroavante não ir às redes.

Mas o torneio de seleções disputado na Rússia terminou com a França campeã e Giroud, o camisa nove, também sem marcar gols. Mas com intensa participação coletiva e usando a estatura e a força física para empurrar a última linha defensiva do adversário e abrir espaços para que o talento de Mbappé, Griezmann e Pogba prevalecesse no bicampeonato dos “Bleus”.

França que abriu mão da qualidade de outro centroavante por questões extra-campo, de gestão de vestiário. Mas que também teria muito a contribuir para a seleção, como costuma ser fundamental no clube.

Karim Benzema entrou para a história do Real Madrid como o grande assistente de Cristiano Ronaldo. Um facilitador pela mobilidade e inteligência para dar sequência aos ataques e permitir que a estrela desequilibrasse. Por isso o francês é tão subestimado. Onde já se viu o nove não ser o goleador máximo?

Com a saída do português, a responsabilidade de ser protagonista em uma transição complicada. Depois de um tricampeonato de Liga dos Campeões e o desgaste físico e anímico de uma geração vencedora que aos poucos é renovada. Em muitos jogos desde então faltou o craque decisivo.

Mas na volta do time merengue em “La Liga”, Benzema protagonizou um recital no primeiro tempo que encaminhou a vitória ao abrir 3 a 0 sobre o Eibar no Estádio Alfredo Di Stéfano, casa do Real durante a reforma no Santiago Bernabéu.

No 4-3-3 armado por Zidane, contando com Rodrygo e Hazard pelos flancos, porém com muita movimentação na frente. Benzema caiu pela esquerda e arquitetou a ação ofensiva que encontrou Kroos para um chute no ângulo do alemão.

Com espaços cedidos pelo 4-1-4-1 do Eibar que contava com Álvarez entre as linhas de quatro e Kike García na frente, os contragolpes ficaram mais frequentes. Faltava a qualidade na saída rápida. Rodrygo tentou pela direita e falhou. Hazard também errou do lado oposto.

Mas quando caiu nos pés de Benzema pela esquerda o passe saiu redondo para Hazard, deslocado pela direita. Do camisa sete para Sergio Ramos, que iniciou tudo com um desarme no campo do Real. Em seguida, um passe do camisa nove que clareou tudo novamente para Hazard à direita. O chute e o gol de Marcelo no rebote. Na comemoração, o brasileiro homeganeou George Floyd, vítima fatal de racismo nos Estados Unidos.

A boa vantagem foi a senha para a acomodação e o clima de treino, apesar da “torcida virtual” no estádio. O Eibar incomodou mais do que o recomendável no segundo tempo. Terminou com nove finalizações, cinco no alvo. Fez Courtois trabalhar, carimbou a trave e diminuiu para 3 a 1 com Bigas.

Falha de Ferland Mendy, que entrou na vaga de Carvajal e, canhoto, ficou todo torto pela direita e ainda deu condições para o adversário finalizar e contar com a falha de Courtois. Uma das mudanças de Zidane, que mandou a campo também Gareth Bale, Vinicius Júnior, Valverde – a surpresa na reserva por estar voando antes da parada pela pandemia – e Militão.

Cinco mudanças que afetaram diretamente o desempenho do time merengue, que pode ser relativizado pela longa inatividade. Apenas três finalizações em 45 minutos, uma no alvo. Benzema caiu de rendimento com a equipe, mas ainda apareceu para acionar Vinicius Júnior, porém o brasileiro errou na tomada de decisão e desperdiçou o contragolpe. A necessidade de evolução na leitura de jogo permanece.

Assim como a importância de Benzema na luta do Real pelo título espanhol. Com a eliminação na Copa do Rei e a derrota em casa para o Manchester City pela Liga dos Campeões é a chance de conquista do gigante espanhol na conturbada temporada 2019/20. Faltam dez rodadas com dois pontos atrás do líder Barcelona.

O retorno valeu pelos três pontos. Também pelo senso coletivo de seu camisa nove. Para os puristas pode parecer pouco, mas Benzema ajudou, e muito, a definir a primeira partida da “nova realidade”.

 

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Principais ligas voltam na Europa, mas quem é capaz de superar o Bayern? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/07/principais-ligas-voltam-na-europa-mas-quem-e-capaz-de-superar-o-bayern/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/07/principais-ligas-voltam-na-europa-mas-quem-e-capaz-de-superar-o-bayern/#respond Sun, 07 Jun 2020 13:02:32 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8613

Foto: Getty Images

A liga espanhola volta na quinta-feira, dia 11. A Premier League no dia 17 e o Italiano no dia 20. Ótima notícia para quem gosta de futebol, obviamente respeitando todos os cuidados dentro de uma pandemia. Com os protocolos utilizados na Bundesliga como modelo para dar o máximo de segurança a atletas, comissões e todos os envolvidos em uma partida de futebol.

Mas o campeonato alemão também tem uma referência em desempenho dentro do campo. O Bayern de Munique, que parou no dia 8 de março já na liderança da competição e virtualmente classificado para as quartas da Liga dos Campeões depois de enfiar 3 a 0 no Chelsea em Londres, retomou as atividades com força total e já emendou cinco vitórias. Somando às quatro antes da parada já são nove seguidas.

Dezessete gols marcados, quatro sofridos. Sete pontos de vantagem sobre o Borussia Dortmund faltando quatro rodadas. O octacampeonato é questão de tempo e matemática. Mas o que salta aos olhos mesmo é o rendimento da equipe comandada por Hans-Dieter Flick.

Um rolo compressor que impressiona pelo volume de jogo. Fruto de um modelo que coordena bem a ocupação do campo de ataque trabalhando a bola e as transições ofensivas demolidoras. Sempre com muitos jogadores chegando à frente e mobilidade para descoordenar a marcação adversária.

Os laterais Pavard e Davies podem atacar por dentro ou por fora – e o lateral direito francês está cada vez melhor nas jogadas aéreas. Os pontas Coman e Gnabry alternam pelos flancos e também procuram o centro, alternando com Thomas Muller, destaque com 20 assistências e recuperando a capacidade de desequilibrar encontrando espaços para facilitar o trabalho coletivo.

No meio-campo, Kimmich e Goretzka jogam de área a área, organizando e também aparecendo para finalizar. Porque os zagueiros Boateng e Alaba também são geradores de jogo, até porque contam com a inteligência na cobertura de Neuer. Na frente, a máquina de gols Lewandowski, com trinta dos noventa marcados pela equipe em 30 rodadas.  44 em 38 partidas na temporada.

Por mais que se relativize a força dos concorrentes na Alemanha e considere a cultura de vitória dos bávaros que esmaga os rivais também mentalmente, o futebol do Bayern tem momentos de espetáculo cada vez mais frequentes. Como o golaço de Goretzka, o segundo nos 4 a 2 sobre o Leverkusen. Ou o de Lewandowski, completando linda combinação de Muller e Kimmich no terceiro dos 5 a 0 sobre o Fortuna Düsseldorf.

Individualidades potencializadas pelo trabalho da equipe de Flick, lembrando em vários momentos o time dominante da tríplice coroa comandado por Jupp Heynckes em 2012/13. É líder em posse de bola (62%), mas também em finalizações por jogo (18), segundo o site Whoscored.com.

Difícil prever o que pode acontecer na volta da Champions em agosto, ainda mais com a possibilidade de termos definição de vaga em jogo único. Mas considerando o crescimento do desempenho na volta é difícil imaginar uma outra equipe alcançando nível tão alto.

Um desafio para as incógnitas Real Madrid e Barcelona e a Juventus, dominante na Itália. Quem sabe Pep Guardiola não idealizou outra revolução durante a parada forçada e seu Manchester City volte surpreendendo?

A única certeza é que hoje o time a ser batido na Europa é o redivivo gigante bávaro. Unindo estética e eficiência, vencendo e encantando.

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Trocar o jogo pelo marketing foi o grande erro do Real Madrid “galáctico” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/15/trocar-o-jogo-pelo-marketing-foi-o-grande-erro-do-real-madrid-galactico/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/15/trocar-o-jogo-pelo-marketing-foi-o-grande-erro-do-real-madrid-galactico/#respond Fri, 15 May 2020 12:35:57 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8492

Foto: Getty Images

Uma estrela por temporada. Era a promessa de Florentino Pérez ao assumir o Real Madrid em 2000. Começou tirando Luís Figo do Barcelona. Em 2001, contratou Zinedine Zidane. E no ano seguinte, Ronaldo Fenômeno.

Era a temporada 2002/03. Depois de vencer a Liga dos Campeões no ano anterior, o Real Madrid alcançou o título mundial vencendo o Olimpia por 2 a 0 em Tóquio e faturou a liga espanhola, superando a surpresa Real Sociedad. Na Champions, eliminação nas semifinais para a Juventus, que seria vice-campeã.

Uma jornada que poderia ser considerada natural, mesmo com elenco estelar. A campanha nos pontos corridos não foi tão sólida, mas a equipe de Vicente Del Bosque se afirmou na reta final com maior entrosamento de Ronaldo com os companheiros e a consolidação de uma maneira de jogar.

O desenho tático, na prática, era um 4-2-3-1. O lado forte era o esquerdo, com Roberto Carlos apoiando no corredor deixado por Zidane, que era uma espécie de “ponta articulador”, circulando por todo campo. Ronaldo também caía muito por ali. Raúl ficava mais centralizado, como um ponta-de-lança à moda antiga.

Do lado oposto, Luis Figo atuava bem aberto, abusando das jogadas individuais em busca da linha de fundo. Contava com o apoio do brasileiro Flávio Conceição, já que Michel Salgado descia pouco. Fernando Hierro, com 34 anos, liderava a zaga com experiência e Helguera saía mais para cobrir Roberto Carlos.

À frente da defesa, Claude Makelele. 30 anos, posicionamento preciso. Inteligência na leitura dos espaços, senso se cobertura. Também sabia jogar, até pelo passado como ponta direita. Tinha drible e passe corretos. Porém discreto, sem grande marketing. Trabalhava para as estrelas brilharem. Equilibrava o time.

Não era o bastante para Florentino. “Não vendia camisas, por isso foi descartado”, afirmou Carlos Queiroz, o treinador do time merengue na temporada seguinte. Para Florentino, o volante não sabia cabecear e não arriscava passes mais longos que de três metros. Hierro discordava, considerando o francês o mais importante jogador da equipe naquele período.

Makelele quis um aumento de salário, Florentino alegou que não tinha recursos. Uma piada considerando que acabara de anunciar a quarta estrela da constelação: David Beckham, por 37,5 milhões de euros. O francês partiu para se consagrar no Chelsea, a partir da temporada 2004/05 com José Mourinho. A ponto de muitos na Inglaterra tratarem a função de primeiro volante como “Makelele role”.

E o Real? Bem, Florentino não foi tão feliz na reformulação do elenco. Hierro partiu para o fim da carreira no futebol árabe, atuando pelo Al-Rayyan. Carlos Queiroz queria Gabriel Milito, Luisão ou Pepe. Ficou com Pavón. Contava com Morientes, que foi parar no Monaco. Justamente o algoz da eliminação nas quartas-de-final do torneio continental.

E Beckham? Bem, na função que executava no Manchester United o Real já tinha Figo. A única vaga disponível era o volante apoiador pela direita, já que Flávio Conceição havia sido emprestado para o Borussia Dortmund. Sem Makelele, tentou Guti, Cambiasso, Solari e Raúl Bravo como parceiros do inglês no meio-campo. Mas o fato é que o time perdeu unidade.

Foi o auge da fase “Zidanes e Pavóns”. Estrelas na frente buscando encaixe e queimando na fogueira das vaidades, com espanhois de um lado liderados por Raúl, estrangeiros do outro. Ou europeus contra sul-americanos mais à frente, quando Vanderlei Luxemburgo assumiu e, com Robinho em 2005, encheu o elenco de brasileiros.

Na segunda metade de 2004/05, Luxemburgo tentou encontrar uma maneira de abrigar as estrelas, que ganhara Michael Owen para aquela temporada. Florentino pensou que poderia consertar a bobagem de dispensar Makelele contratando o dinamarquês Thomas Gravesen. Ele seria o “cão-de-guarda” protegendo a defesa.

Luxemburgo arriscou inicialmente um losango que teria Gravesen plantado, Beckham pela direita, Zidane à esquerda e Raúl como “enganche”. Na frente, Owen e Ronaldo. Figo perdia a vaga com o novo sistema tático. O time até conseguiu uma arrancada, mas não tirou o título do Barcelona de Ronaldinho Gaúcho. Apesar da boa exibição nos 4 a 2 sobre o rival catalão no Santiago Bernabéu.

Na Liga dos Campeões, nova eliminação para a Juventus. No famoso erro admitido por Luxemburgo que minou sua permanência em Madri: tirar Ronaldo no primeiro jogo e Zidane na partida de volta em Turim. Logo as grandes estrelas que dominaram a premiação de melhor do mundo naquele período. Os mais temidos. Beckham também foi sacado pelo treinador brasileiro.

Ainda assim, foi o melhor momento do Real com o camisa 23 até a conquista do titulo em 2006/07. Sem Florentino na presidência, com Fabio Capello no comando técnico e um elenco mais competitivo. Zidane se aposentara, Ronaldo partiria para o Milan na segunda metade, deixando o comando do ataque para Van Nistelrooy, artilheiro do time na temporada com 33 gols.

Foi a única conquista relevante de Beckham, que também vencera a Supercopa da Espanha assim que chegou ao clube. É claro que o inglês protagonizou belos lançamentos, chutes de média/longa distância e cobranças de falta. Também rendeu muito aos cofres do clube, especialmente no mercado asiático. Ajudou demais a reforçar a marca global.

Em campo, porém, dispensar Makelele e contratar Beckham se mostrou o grande erro de Florentino Pérez. A melhor definição foi de Zidane: “Para que aplicar mais uma camada de tinta dourada no Bentley se você acabou de perder o motor?”

O Real Madrid trocou o jogo pelo marketing. No futebol não costuma dar muito certo. Porque nada vende mais e melhor do que um time forte e vencedor.

 

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Dezoito dias, quatro jogos. O maior evento esportivo do século 21 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/27/dezoito-dias-quatro-jogos-o-maior-evento-esportivo-do-seculo-21/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/27/dezoito-dias-quatro-jogos-o-maior-evento-esportivo-do-seculo-21/#respond Mon, 27 Apr 2020 12:18:08 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8390

Foto: AP

Os dois maiores times do mundo e grandes rivais do mesmo país. Com os dois melhores treinadores e os dois grandes craques do planeta com forte antagonismo. Decidindo liga e copa nacionais e ainda uma vaga em final continental. Tudo isso em menos de um mês. Dezoito dias, para ser mais preciso.

Um sonho para qualquer fã de futebol, não? Pois é, aconteceu há nove anos. E como o ápice no duelo mais marcante em um dia 27 de abril como hoje.

Barcelona e Real Madrid. Pep Guardiola versus José Mourinho. Lionel Messi contra Cristiano Ronaldo. Em 16 de abril no jogo mais importante do campeonato por pontos corridos, quatro dias depois decidindo a Copa do Rei. Nos dias 27 de abril e três de maio, definindo uma vaga na decisão da Liga dos Campeões contra o Manchester United.

Para aumentar o fogo da panela de pressão, em novembro o Barça havia enfiado 5×0 no Camp Nou. A “maneta” humilhante que mostrou para Mourinho que, mesmo com elenco estelar, não era possível encarar de peito aberto a equipe de Guardiola. Como fizera com a Internazionale da tríplice coroa na temporada anterior em Milão, no San Siro: vitória por 3 a 1 em disputa equilibrada.

A receita para o próximo encontro era encontrar um meio termo entre a proposta corajosa em casa e a retranca “handebol” do time italiano depois que perdeu Thiago Motta no jogo de volta em Barcelona e administrou a derrota por 1 a 0 que garantiu vaga aos neroazzurri na decisão da Champions 2009/10.

O problema era enfrentar o time catalão em sua melhor versão. No 4-3-3 e com o jogo posicional que tinha o comando de Xavi Hernández e o ponto de desequilíbrio com Messi voando na função de “falso nove” totalmente assimilada e destruindo os adversários nas entrelinhas, entre a defesa e o meio-campo. Quem marcaria o gênio argentino: os volantes ou os zagueiros?

Mourinho definiu que um jogador ocuparia esse espaço e o negaria ao craque do rival. Primeiro foi Pepe, depois Xabi Alonso. Quem não preenchesse a “zona Messi” fecharia com Khedira por dentro a linha de quatro no 4-1-4-1 compacto que tinha Ozil e Di María pelas pontas e Cristiano Ronaldo na frente.

Mas o treinador português sabia que não bastava o duelo técnico e tático. Os “jogos mentais” seriam muito necessários para desestabilizar o outro lado. Provocações antes e durante as partidas tensas, com momentos de violência no jogo e fora dele. Entre atletas e comissões técnicas, Uma guerra.

Apesar da surpresa com a mudança radical de estratégia do rival, o Barcelona se deu melhor no primeiro duelo: empate por 1 a 1 no Santiago Bernabéu, gols de pênalti de Messi e Cristiano Ronaldo, na partida que manteve os oito pontos de vantagem e encaminhou o tricampeonato de La Liga. Resultado comemorado, mesmo sem conseguir manter a vantagem no placar e numérica depois da expulsão do zagueiro Albiol na penalidade máxima cometida sobre Villa.

No entanto, a única partida valendo taça ao final da disputa foi vencida pelo Real Madrid. Na prorrogação, a Copa do Rei em Valencia, no Estádio Mestalla. Gol de Cristiano Ronaldo completando de cabeça um cruzamento de Di María pela esquerda.

Com o time branco incomodando ainda mais o rival com coragem, objetividade nas ações ofensivas e uma entrega absoluta sem a bola. Concentração total e resiliência para buscar a vitória, mesmo com a consciência de que não teria mais que 35% de posse no jogo. Faturando um título depois de três anos. O primeiro decidido por Cristiano Ronaldo em sua mítica passagem por Madri.

Tudo isso foi levado para a disputa mais importante, pela Champions. A ida no Bernabéu, há exatos nove anos, foi novamente muito nervosa. Aditivada por novas provocações de Mourinho que Guardiola prometeu responder no campo.

A solução de Pep foi proteger mais a bola e a defesa. Com Puyol improvisado na lateral esquerda e Keita entregando mais vigor físico no meio-campo. Também invertendo os ponteiros, com Villa à direita para cima de Marcelo e Pedro pela esquerda contra Arbeloa. O Real tinha Lass Diarra na vaga de Khedira no meio-campo, com Alonso fazendo o papel de negar a entrelinha a Messi e Pepe fazendo a função de meia por dentro à esquerda. Mais dinâmica na marcação, menos qualidade nas transições ofensivas.

O duelo mais importante, pela Liga dos Campeões no Bernabéu, teve o Barcelona no 4-3-3 com Puyol na lateral esquerda, Keita no meio-campo e inicialmente ponteiros invertidos – Villa à direita, Pedro pela esquerda. Mais posse e cuidados defensivos contra o Real no 4-1-4-1 de Mourinho, mas com Xabi Alonso entre as linhas vigiando Messi e a melhor saída pela esquerda, com Di María e Marcelo (Tactical Pad).

O escape de Mourinho de novo era o lado esquerdo com Marcelo fazendo Villa voltar para ajudar sem bola e Di María incomodando Daniel Alves. O lateral, que nunca teve a marcação como grande virtude, teve problemas e exagerou nas faltas. Até demorou a levar o cartão amarelo. E o pau quebrou também na saída para o vestiário, com o goleiro reserva do Barça, Pinto, dando um tapa no rosto de Arbeloa e jogadores e membros das comissões participando da briga.

A tensão seguiu no segundo tempo até a expulsão de Pepe pela entrada, no mínimo, imprudente em Daniel Alves. Força desproporcional que rendeu o cartão vermelho e o domínio do Barcelona sobre um Real que tinha voltado melhor no segundo tempo com Adebayor na vaga de Ozil. E Cristiano Ronaldo sempre dando trabalho para o goleiro Victor Valdés.

Com um a mais e o Real também sem Mourinho, expulso de tanto reclamar da arbitragem, a posse e a movimentação da equipe de Guardiola enfim encontraram espaços para acionar Messi.  Affelay entrou na vaga de Pedro, que havia voltado ao setor direito. Por ali o holandês com a camisa vinte aproveitou falha de Marcelo e cruzou para Messi abrir o placar.

O golpe final veio na arrancada irresistível do argentino passando por Diarra, Sergio Ramos, Albiol e Marcelo antes de tocar na saída de Casillas. Gol antológico que praticamente sacramentou a vaga na final europeia, confirmada com o empate por 1 a 1 no Camp Nou – gols de Pedro e Marcelo. O último e menos memorável dos quatro duelos históricos. O Barça venceria a Champions novamente contra o United, repetindo 2008/09. Desta vez com triunfo maiúsculo por 3 a 1 em Wembley. O grande recital do “Pep Team”.

Mas nada foi maior que aquela sequência de superclássicos. No esporte no século 21. Nem as Copas do Mundo ou Jogos Olímpicos. O mundo parou para ver o grande embate, o clássico ficou ainda maior com o passar dos anos, assim como o protagonismo de Messi e Cristiano Ronaldo.

Em tempos de bola parada pela pandemia, a saudade só aumenta.

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Futebol em Quarentena – Seis partidas que mudaram a história do jogo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/19/futebol-em-quarentena-seis-partidas-que-mudaram-a-historia-do-jogo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/19/futebol-em-quarentena-seis-partidas-que-mudaram-a-historia-do-jogo/#respond Thu, 19 Mar 2020 14:36:55 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8183

Foto: Filippo Monteforte / Getty Images

Dando continuidade à série “Futebol em Quarentena” no blog, uma reflexão olhando para trás enquanto a bola não volta a rolar, seguem os seis jogos que mudaram a história do jogo.

Ou os que marcaram alterações táticas mais significativas dentro de um esporte que felizmente se transforma constantemente, mesmo que muitas vezes só percebamos depois, com o tão necessário distanciamento histórico.

Vamos a eles!

Inglaterra 3×6 Hungria – Amistoso, 1953

A alcunha de “Jogo do Século” hoje soa um exagero até absurdo. Mas foi o grande primeiro impacto no futebol a imposição dos húngaros campeões olímpicos em 1952, nos Jogos de Helsinke.

A Inglaterra no WM e vivendo das ações individuais, especialmente de Stanley Matthews, foi engolida pela gênese do 4-2-4, com Hidegkuti com a camisa nove recuando para articular, abrindo espaços para os goleadores Kocsis e Puskas e desmontando a marcação individual do “English Team”, invicto em seus domínios contra seleções não britânicas.

O legado foi o de transformações que iam do aquecimento antes da partida, do uso de chuteiras mais leves e simples até a utilização de quatro defensores na última linha que o Brasil aproveitaria em 1958 com Vicente Feola, auxiliar do húngaro Béla Guttmann no São Paulo.

Brasil 1×0 Inglaterra – Copa do Mundo, 1970

Não era confronto eliminatório, mas o duelo no Estádio Jalisco, no México, carregava o simbolismo de colocar frente a frente os vencedores das últimas três Copas do Mundo.

Os “inventores” do futebol e então campeões, representando o chamado “futebol-força” – embora houvesse muita técnica nos Bobbies (Moore e Charlton) – e os precursores do 4-4-2 que viraria padrão no futebol britânico contra os brasileiros trazendo um jogo mais artístico, porém sustentados pelo planejamento tático mais cuidadoso de Zagallo, se defendendo num 4-5-1, e uma preparação física de vanguarda para a época.

A jogada fantástica de Tostão pela esquerda que passou por Pelé e chegou a Jairzinho no gol da vitória e a defesa portentosa de Gordon Banks em cabeçada de Pelé ficaram para a história, mas naquela partida a melhor seleção de todos os tempos consolidou sua maneira de jogar em uma espécie de “batismo de fogo” e ganhou confiança para buscar o tri.

Itália 3×2 Brasil – Copa do Mundo, 1982

Talvez a partida mais representativo de todas. O jogo que marcou gerações e, de certa forma, pauta o futebol brasileiro até hoje. Criando a falsa dicotomia “ganhar feio ou perder bonito”.

O confronto entre a seleção de Telê Santana que sonhava combinar a dinâmica do “Carrossel Holandês” de 1974 com o improviso canarinho e a Azzurra de Enzo Bearzot, que ainda acreditava no “gioco all’italiana”: Scirea como líbero, marcação individual no craque adversário (Gentile x Zico) e os demais por encaixe, Conti como “ala tornante” (ponta que volta), Cabrini o “terzino fluidificante” (lateral que apoia) e Antognioni sendo uma mistura de “regista” (maestro) e “trequartista” (ponta-de-lança).

Assim superaram o Brasil encantador de Leandro, Júnior, Sócrates, Zico, Falcão e Éder, porém irregular e com sérios problemas defensivos – em especial, as muitas falhas de Junior no posicionamento como lateral que resultaram em dois dos três gols de Paolo Rossi. Para muitos, a vitória italiana resultou no futebol mais defensivo que viveu seu ápice (ou anticlímax) na Copa do Mundo de 1990.

Barcelona 1×0 Internazionale – Liga dos Campeões 2009/10

Aqui um enorme salto no tempo, de quase três décadas, e a mudança de protagonismo do futebol de seleções para o de clubes. E da Copa do Mundo para a Liga dos Campeões.

O Barcelona venceu, mas não levou a vaga para a decisão contra o Bayern de Munique. A Internazionale de José Mourinho havia superado o time de Pep Guardiola, que assombrara o mundo vencendo a tríplice coroa em sua primeira temporada num time de primeira divisão combinando elementos das escolas holandesa, espanhola e argentina, por 3 a 1 em Milão.

Aos 28 minutos no Camp Nou, Thiago Motta foi expulso e Mourinho apelou para uma linha “de handebol” que chegou a aglutinar oito jogadores guardando a meta de Julio César. A “retranca inteligente”, negando os espaços mais perigosos ao oponente, passou a ser utilizada em larga escala depois disso, com os quatro defensores ficando mais próximos e centralizados e os dois pontas voltando como laterais. Tudo para evitar as infiltrações. Xeque-mate do português sobre o catalão.

Barcelona 5×0 Real Madrid – La Liga, 2010/11

A resposta de Guardiola no ano seguinte. Aproveitando a arrogância de Mourinho, que acreditou que com Cristiano Ronaldo e o elenco milionário do Real Madrid poderia encarar um Barcelona ainda melhor coletivamente no Camp Nou.

Levou um “rondo” de 90 minutos, com Messi deitando e rolando entre a defesa e o meio-campo do rival e servindo seus companheiros. Pedro, Xavi, Villa duas vezes e o jovem Jeffren para fechar a “maneta” e esfregar na cara dos merengues o sucesso de sua cantera. O estado de arte do jogo posicional com posse, pressão pós-perda e a ocupação perfeita dos espaços sem deixar o adversário respirar.

O maior espetáculo de melhor time que vi em ação. E saiu barato para o Madrid. Mourinho tentou resgatar a retranca da Inter nos confrontos seguintes, mas só foi bem sucedido na final da Copa do Rei. No duelo mais importante, pela semifinal da Champions, Messi desequilibrou com dois gols no Santiago Bernabéu. Os 5 a 0, porém, foram mais emblemáticos.

Bayern de Munique 0x4 Real Madrid – Liga dos Campeões 2013/14

A resposta mais completa e avassaladora a Guardiola não foi de Mourinho, nem de Klopp – o treinador que mais venceu o catalão, porém em jogos quase sempre muito duros, parelhos.

Carlo Ancelotti conseguiu com o Real Madrid que venceria “La Decima” fechar espaços à frente da própria área como a Inter de 2010. Com duas linhas de quatro muito próximas e Gareth Bale se desdobrando fechando espaços pela direita, mas se juntando a Benzema e Cristiano Ronaldo em um tridente ofensivo que atropelou o Bayern num 4-2-4 e com posse de bola inócua.

Contragolpes demolidores, com passes rápidos e objetivos para fugir da pressão pós-perda do time alemão. E eficiência na bola parada procurando o implacável Sergio Ramos. Guardiola até hoje admite ser sua pior derrota pelos erros que cometeu. Mas a estratégia de Ancelotti, mais versátil e completa, serviu como mais uma transformação no futebol que graças a esses treinadores evoluiu 30 anos na última década.

 

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O melhor e o pior de Vinicius Junior no gol que salvou o Superclássico http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/01/o-melhor-e-o-pior-de-vinicius-junior-no-gol-que-salvou-o-superclassico/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/01/o-melhor-e-o-pior-de-vinicius-junior-no-gol-que-salvou-o-superclassico/#respond Sun, 01 Mar 2020 22:46:51 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8067 Um tempo de domínio para cada time no Superclássico do returno de La Liga no Santiago Bernabéu.

Mas parecia que, assim como no turno, a falta de contundência dos ataques puniria Real Madrid e Barcelona com uma marca histórica: nunca houve dois empates sem gols no confronto em uma mesma edição do campeonato espanhol. O zero a zero no Camp Nou já fora o primeiro desde 2002!

Seria ainda mais simbólico com Cristiano Ronaldo presente no estádio. Vendo Messi desperdiçar três chances que em outros tempos e disputas o gênio argentino não perderia. A mais clara, curiosamente, no segundo tempo de superioridade merengue.

Porque na primeira etapa o Barça, armado em um 4-4-2, foi superior com boa movimentação de Arthur, que também perdeu chance à frente de Courtois. Messi circulava e encontrava espaços às costas de Casemiro, que também formava uma segunda linha de quatro no meio do Real, liberando Isco para se aproximar de Benzema e abrindo Valverde à direita para ajudar Carvajal no cerco a Alba.

Em jogada típica do Barça pela esquerda, de novo com Jordi Alba como única opção de profundidade, Griezmann finalizou mal a ação que costuma encontrar Messi como alvo. Definitivamente, uma noite infeliz do time catalão nas conclusões. Foram nove, quatro no alvo.

Contra 13 do Real Madrid. Oito em um segundo tempo de recuperação do time de Zidane, fundamental na mudança tática: desmontou o 4-2-3-1, reorganizou no 4-1-4-1 e puxou Valverde para dentro, adiantando Kroos, plantando Casemiro para fechar os espaços entre as linhas para Messi e abrindo Isco pela direita. Só não mudou a melhor opção ofensiva: Vinicius Júnior pela esquerda.

No primeiro tempo errou ao buscar o fundo quando havia tempo e espaço para infiltrar em diagonal e finalizar. Na segunda etapa, o gol que mostrou o melhor e o pior do jovem atacante: demorou a ler a jogada e só infiltrou quando Toni Kroos sinalizou antes do passe. Mas foi para dentro, sem medo de Piqué à sua frente.

Finalizou mal, fraco e na direção de Ter Stegen. O desvio do zagueiro, porém, colocou força na bola e tirou do goleiro,  premiando a coragem do jovem atacante. Cada vez mais confiante, mas ainda precisando de mais capricho e tranquilidade no acabamento das jogadas.

Discussão para outra ocasião, porque o importante para os merengues foi salvar o clássico de outro zero a zero e acabar de desmanchar um Barcelona que ainda tentou responder com Braithwaite na vaga de Vidal, mas a atmosfera no Bernabéu e o bom desempenho do rival engoliram qualquer possibilidade de reação.

No último ataque, Mariano, que acabara de substituir Benzema, muito mais para Zidane ganhar tempo, disparou pela direita e fechou os 2 a 0 que devolvem a liderança ao Real Madrid e encerram uma sequência de sete clássicos sem vitória. Para redimir do revés contra o City na Champions.

Pode também ser o marco para o salto tão esperado de Vinicius Júnior. Ainda com 19 anos, agora com um feito de respeito no currículo.

(Estatísticas: SofaScore)

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Casemiro e Vinícius Júnior são as boas notícias do dérbi de Madri http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/01/casemiro-e-vinicius-junior-sao-as-boas-noticias-do-derbi-de-madri/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/01/casemiro-e-vinicius-junior-sao-as-boas-noticias-do-derbi-de-madri/#respond Sat, 01 Feb 2020 17:31:46 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7891 O craque do jogo para La Liga foi Federico Valverde. Justo, por mais uma grande atuação do meio-campista uruguaio. Incansável pela direita, de área a área.

Mas há mais boas noticias na vitória do Real sobre o Atlético no dérbi de Madri. Além do fim de um jejum de seis anos sem triunfos sobre o rival no Santiago Bernabeu, da ampliação da invencibilidade na temporada para 21 jogos e da liderança na liga.

Boa nova especialmente para quem admira o futebol brasileiro. Pela evolução de dois jogadores: um jovem, outro mais experiente.

Vinicius Júnior entrou na volta do intervalo, junto com Lucas Vazquez, mas vagas de Toni Kroos e Isco. Trocando um 4-2-3-1 com meio congestionado por um 4-3-3 mais agressivo e dando amplitude e profundidade aos ataques do time da casa.

A participação do jovem atacante pela esquerda foi mais efetiva. Com a “ambição” pedida por Zinedine Zidane. O grande momento, porém, foi na participação consciente no trabalho coletivo.

Passe decisivo para o lateral Mendy ultrapassar e servir Benzema, o artilheiro do Real na liga com 13 gols. Visão de jogo, tomada de decisão correta e precisão no gesto técnico. Justamente o que vem faltando para Vinicius se firmar na Europa.

Problema que Casemiro não tem. Multicampeão pelo Real Madrid, já é ídolo da torcida. Considerado o jogador que mudou a equipe de Zidane para buscar o tricampeonato europeu.

Mas que precisava evoluir, especialmente na saida de bola. Antes participava pouco, sofria quando pressionado e sobrecarregava  Modric e Kroos, obrigados a recuar para auxiliar Varane e Sergio Ramos.

Agora recua como um volante moderno, acerta passes e decisões. Com liderança e confiança reduziu bastante a margem de erro e ajuda na construção. Ainda aparece na frente para finalizar.

O Atletico de Diego Simeone foi competitivo novamente ao compactar duas linhas de quatro e usar as transições ofensivas com velocidade acionando Correa, Vitolo e Morata.

Mas o que parecia promissor com Renan Lodi e João Félix ganhou ares de estagnação e desgaste por Simeone não conseguir tornar o time mais versátil, sabendo jogar também com posse de bola e criando espaços. Por isso vai despencando na tabela.

Perdeu no detalhe, mas não pode dizer que foi injusto. Porque o Real novamente se impôs. Com Valverde individualmente acima de todos, mas Casemiro e Vinícius Junior como protagonistas.

Bom para Zidane. E também para Tite.

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Setién, o “cruyffista” para resgatar mais a coragem que o DNA do Barcelona http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/01/14/setien-o-cruyffista-para-resgatar-mais-a-coragem-que-o-dna-do-barcelona/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/01/14/setien-o-cruyffista-para-resgatar-mais-a-coragem-que-o-dna-do-barcelona/#respond Tue, 14 Jan 2020 16:58:40 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7827

Foto: Reuters

Quando Luis Enrique conseguiu repetir em 2014/15 o feito de Pep Guardiola e, em sua primeira temporada como treinador do Barcelona, alcançou a tríplice coroa com os títulos de La Liga, da Copa do Rei e da Liga dos Campeões, além do tridente ofensivo sul-americano formado por Messi, Suárez e Neymar, chamava atenção as mudanças no estilo de jogo da equipe.

A titularidade de Ivan Rakitic, colocando a bandeira Xavi Hernández no banco de reservas, apontava uma busca por mais intensidade e jogo vertical. As marcas da escola do clube ainda estavam lá, porém com um pouco mais de rapidez na decisão das jogadas e também organização defensiva para, se fosse o caso, jogar em velozes transições na frente. A bola chegando rapidamente a Messi, que acionava Suárez e Neymar ou partia para decidir sozinho cortando da direita para dentro.

Foi a consolidação da variação do 4-3-3 para o 4-4-2, repetindo o que Carlo Ancelotti fizera no Real Madrid na temporada anterior. No time merengue, o objetivo era liberar Cristiano Ronaldo. Na equipe catalã, Messi era quem ganhava liberdade. Rakitic abria pela  direita e Neymar recuava à esquerda, formando a segunda linha de quatro com Busquets e Iniesta.

Ideia mantida por Ernesto Valverde quando assumiu a equipe em 2017 vindo do Athletic Bilbao. Com Messi mais velho, menos participativo fisicamente, porém muito influente nas ações de ataque, qualificando passes e aprimorando finalizações. Gradativamente, a ideia de um Barcelona pragmático e letal nos contragolpes com o argentino e Suárez na frente foi ficando cada vez mais sedutora.

Também problemática, já que a posse de bola foi se tornando inócua, a transição ofensiva mais lenta e a intensidade diminuindo, justamente na contramão do futebol mundial. Jogadores como Piqué e Busquets tentam compensar na técnica e na experiência, mas em algumas partidas são atropelados fisicamente. As derrotas com eliminações para Roma e Liverpool nas últimas duas edições da Liga dos Campeões deixaram isso bem claro.

Justamente os reveses que pesaram contra Valverde e a derrota de virada por 3 a 2 para o Atlético de Madrid na semifinal da Supercopa da Espanha foi apenas a gota d’água de uma relação que já vinha se deteriorando. Apesar dos bons números – 74% de aproveitamento com 97 vitórias, 32 empates e 16 derrotas – e os dois títulos espanhois e um da Copa do Rei.

A condução da demissão não foi das mais corretas, com o clube admitindo publicamente o contato com Xavi Hernández no Catar e Valverde comandando o treinamento na segunda-feira para depois ser comunicado. Mas o fim de ciclo era nítido. Porque o Barcelona tinha perdido praticamente toda a essência, tudo que transformou a equipe em sinônimo de conquistas e também entretenimento.

O que Johan Cruyff aprendeu com Rinus Michels, seu treinador no Barcelona e na seleção holandesa, e passou para Pep Guardiola. Ainda influenciou tanta gente pelo mundo. Como Quique Setién, treinador de 61 anos que chega sem títulos no currículo, porém carregando as convicções que foram a linha mestra do Barça: controle pela posse de bola e a inegociável proposta de jogar voltado para o ataque.

Um “Cruyffista” incorrigível. Ciente das novas responsabilidades, mas seguro. Como deixou claro na coletiva de apresentação: “Sempre escuto a todos, mas é difícil de me tirar coisas da cabeça, se estou convencido. E todos sabemos como jogam minhas equipes. Sou o primeiro a defender meu time e morrer com minhas ideias”.

Seus trunfos para ser lembrado por um gigante global foram o sexto lugar na liga espanhola do Real Betis em 2017/18 e uma vitória por 4 a 3 sobre o próprio Barcelona no Camp Nou. Jogando olho no olho, duelando pela posse de bola e atacando. A ponto de receber de Busquets uma camisa autografada e com elogios à “maneira de ver o futebol”. Com a coragem que faltou ao time de Valverde em momentos cruciais.

A mensagem é clara: quem tem o melhor jogador do mundo não pode se acovardar. Como no vídeo que viralizou do comportamento dos jogadores do time blaugrana no intervalo em Anfield dos trágicos 4 a 0. Perdendo por apenas 1 a 0, ainda com vantagem por ter vencido na ida por 4 a 1, e depois de um primeiro tempo relativamente equilibrado, o semblante dos jogadores era de fracasso inevitável. Com Jordi Alba chorando pela falha no gol de Origi. Inacreditável. E Valverde foi incapaz de transmitir confiança e fazer o time atacar para voltar a se impor no confronto.

O Barcelona sinaliza uma volta às raízes, ao DNA, à sua escola de futebol. Mas não é só isso, nem pode. Até porque o próprio Guardiola, que neste século simbolizou esse estilo, já trata aquele time lendário da virada da década passada como algo datado, revisto. Que Luis Enrique atualizou. Que Valverde primeiro estagnou, depois fez retroceder.

Com Setién se espera diversão e gols, mas, principalmente, a vontade inquebrantável de atacar. De “morrer atirando”, se for o caso. Não se resumir a Messi, que já é muito. Mas não o suficiente diante do que o Barça simboliza para o mundo. Reconquistar a Champions é importante, mas trazer de volta o brilho nas retinas de quem ama o futebol do clube é que é fundamental. O que marca a alma.

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