carloancelotti – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Liverpool empata clássico e sofre na volta porque depende demais do ritmo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/21/liverpool-empata-classico-e-sofre-na-volta-porque-depende-demais-do-ritmo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/21/liverpool-empata-classico-e-sofre-na-volta-porque-depende-demais-do-ritmo/#respond Sun, 21 Jun 2020 20:27:45 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8669 O Liverpool de Jurgem Klopp ganhou a Europa e o mundo em 2019 depois de apurar o modelo de jogo e adicionar peças essenciais para o salto de qualidade, como Alisson na meta e Van Dijk na zaga.

Mas sempre com intensidade máxima, volume de jogo sufocante na maior parte do tempo. Mesmo aos poucos trabalhando mais a bola, controlando ritmo e dosando energias. O amadurecimento do “gegenpressing”, do futebol “rock’n’roll” do treinador alemão.

A pausa de mais de 90 dias foi inesperada e tirou tudo do contexto. Virou o mundo de ponta a cabeça e a melhor equipe do planeta foi junto no turbilhão. Havia, inclusive, o temor de que a conquista da Premier League, prioridade na temporada, fosse ameaçada pelo fim precoce da competição sem um campeão.

A volta foi um alento, mas obviamente gerando um problema: como retomar a essência do modelo de jogo com tanto tempo parado e um período curto de preparação? E já no clássico de Liverpool  contra o Everton. Mesmo sem perder para o rival local desde 2010, era um desafio para os Reds. Porque depende demais do ritmo de jogo para funcionar.

Com Salah no banco e Robertson de fora, o líder absoluto da liga adiantou as linhas, ficou com a bola e investiu no perde-pressiona, virando a chave rapidamente na transição defensiva. Mas a “ferrugem” era clara, apesar do domínio. Forçando naturalmente pela direita com Alexander-Arnold e Minamino, enquanto Milner descia menos no habitual improviso pela lateral esquerda.

O Everton de Carlo Ancelotti respondia com um 4-4-2 compacto e acelerando para sair logo da pressão do rival e entrar no campo de ataque. Acionando Richarlison e Calvert-Lewin, dupla na frente que buscava as infiltrações entre zagueiros e laterais adversários.

Domínio vermelho com posse de 70% e 85% de efetividade nos passes, porém com dificuldades para desequilibrar o sistema defensivo do Everton para criar a chance cristalina. Fazendo mais força pra jogar, o desgaste foi inevitável.

Os primeiros a sentir foram Milner e Minamino. Depois Matip saiu com problemas físicos. Klopp usou as cinco substituições tirando também Keita e Firmino. Com Joe Gomez, Oxlade-Chamberlain, Lovren, Wijnaldum e Origi, o nível caiu. Em todos os aspectos.

E o Everton terminou o jogo com menos posse e finalizações – nove contra dez, três no alvo para cada lado. Mas com a impressão de que poderia ter encerrado no Goodison Park com torcida virtual um jejum de uma década. Três oportunidades seguidas, a melhor na jogada de Richarlison pela esquerda que encontrou a letra de Calvert-Lewin para grande defesa de Alisson. No rebote, chute de Davies desviado em Gomez e tocando na trave direita.

O clássico naturalmente não teve o nível habitual de um jogo deste tamanho. A boa notícia para o Liverpool é que a vantagem sobre o Manchester City que pode cair para 20 pontos se o time de Guardiola vencer em casa o Burnley amanhã, no encerramento da rodada, parece imune a oscilações. Faltando oito rodadas.

Mesmo em um anticlímax, o fim de jejum de 30 anos está cada vez mais próximo.

(Estatísticas: Whoscored.com)

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Milan de Arrigo Sacchi: o futebol de 2020 jogado há trinta anos http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/10/milan-de-arrigo-sacchi-o-futebol-de-2020-jogado-ha-trinta-anos/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/10/milan-de-arrigo-sacchi-o-futebol-de-2020-jogado-ha-trinta-anos/#respond Fri, 10 Apr 2020 12:17:38 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8275

Foto: Bob Thomas/Getty Images

Final da Copa dos Campeões 1980/90 em Viena. O Benfica de Sven-Göran Eriksson desafia o Milan então campeão europeu, com os brasileiros Aldair e Ricardo Gomes na zaga – mais Valdo no meio-campo, todos convocados por Sebastião Lazaroni para a Copa do Mundo de 1990, na Itália.

Arrigo Sacchi, treinador rossonero, sabia que o time português marcava individualmente na defesa e arquitetou a jogada decisiva: de Carlo Ancelotti para Marco Van Basten, que recuou atraindo Aldair. Gullit, pela direita, arrastou Gomes e abriu um buraco por dentro. O passe do centroavante holandês encontrou o seu compatriota Frank Rijkaard, que infiltrou com liberdade às costas dos meio-campistas adversários para tocar na saída do goleiro Silvino.

O gol do título há trinta anos, mas que poderia ser 2020. Porque buscou o que Pep Guardiola, Jürgen Klopp e os grandes treinadores do futebol priorizam no trabalho ofensivo: a busca do homem livre por trás da linha defensiva. Seja em um jogo mais posicional ou em rápidas transições ofensivas. Todos, incluindo Sacchi, bebendo da mesma fonte: Rinus Michels no Ajax e na seleção holandesa.

Assim Sacchi revolucionou o futebol italiano com o time campeão nacional em 1987/88, primeira temporada em que comandou o time depois de deixar o Parma a convite de Silvio Berlusconi. Em uma de suas primeiras entrevistas, questionado por não ter sido um grande jogador, condição na visão de muitos para se tornar um bom treinador, Sacchi respondeu com sacada genial: “Não sabia que, para ser jóquei, era preciso ser cavalo antes”.

Era treinador desde os 27 anos, quando largou o futebol amador e a fábrica de sapatos do pai para comandar o time de sua cidade, Fusignano, depois equipes minúsculas na região da Romagna até assumir o Parma. Para alcançar a promoção á Série C do Calcio e eliminar o Milan de Nils Liedholm da Taça Itália 1986/87. Feito que convenceu Berlusconi a apostar naquele desconhecido.

Assim modelou uma equipe que viveria seu auge na temporada 1988/1989. Conquista da primeira Copa dos Campeões com atuações mágicas nos 5 a 0 sobre o Real Madrid de Schuster, Hugo Sánchez e Butragueño no San Siro pela semifinal, depois de 1 a 1 no Santiago Bernabéu, e na final em Barcelona contra o Steaua Bucarest: 4 a 0, com dois gols de Ruud Gullit e dois de Van Basten.

Os três holandeses eram as grandes estrelas e também a conexão que Sacchi queria com a escola do país, combinando com a inteligência defensiva dos italianos. Destaque para Franco Baresi que era chamado de “líbero”, mas na verdade era o lider da retaguarda de um time que marcava por zona, compactava os setores em não mais que 30 metros, estreitava o espaço de ação do adversário e abusava da tática de impedimento. Facilitada pelas regras da época, que consideravam em posição irregular qualquer atacante, inclusive os que não participavam da jogada, na mesma linha de último defensor.

O sistema era o 4-4-2 que parecia básico, mas fazia movimentos complexos. Coordenação era a palavra chave. A linha defensiva à frente do goleiro Giovanni Galli virou lenda: Tassotti, Costacurta, Baresi e Maldini. Todos penduraram as chuteiras pelo clube e os dois últimos aposentaram as camisas seis e três quando pararam de jogar. Só isso.

Inesquecíveis não só pelas conquistas e por conta dos serviços prestados por décadas, mas pelo trabalho espetacular e inovador que executavam. Já com conceitos de bola coberta/descoberta e coragem para se adiantar, ficar próxima da linha de meio-campistas e também participar da construção do jogo. Com noção perfeita do tempo para ultrapassagens dos laterais e coberturas na saída de trás de Baresi.

No meio-campo, muita versatilidade de Rijkaard, que podia ser zagueiro ou meio-campista central, sempre jogando de área a área com vigor e inteligência. Mas também de Roberto Donadoni e Ancelotti, que atuavam em qualquer das quatro funções, por dentro ou abertos. O homem que completava o setor podia ser Angelo Colombo ou Diego Fuser pela direita, ou ainda Alberigo Evani à esquerda.

Na frente, Gullit e Van Basten formavam uma das maiores duplas de ataque da história. Força, técnica, elegância e poder de decisão em jogadas individuais, de trocas de passes rasteiros ou nas jogadas aéreas, muito trabalhadas por Sacchi com bola parada ou rolando. Muitas delas com origem em escanteios curtos que chegavam a Donani e dali saíam cruzamentos precisos para os atacantes.

O elenco era curto, outra inovação na época. Contava com Fillipo Galli, irmão do goleiro Giovanni, para a zaga – quando Sacchi não apelava para o recuo de Rijkaard e preenchia o meio-campo com opções mais confiáveis. Na frente, primeiro o veterano Pietro Paolo Virdis era a opção mais utilizada, depois Danielle Massaro e Marco Simone passaram a ser mais requisitados quando um dos atacantes estava ausente – não raro, já que conviviam com muitos problemas físicos.

Duas vezes campeão da Europa e do mundo, feito que só seria repetido em 2017 pelo Real Madrid de Zinedine Zidane que ainda seria tri. Por privilegiar o torneio continental, não construiu uma dinastia no país. Também porque a então liga mais competitiva do planeta oferecia duros adversários, como a Internazionale comandada por Giovanni Trapatonni e liderada em campo por Matthaus, Brehme e Klinsmann campeã absoluta em 1988/89 e o Napoli de Maradona, Careca e Alemão, vencedor em 1989/90.

Maradona que merece um parágrafo como o grande algoz de Sacchi e comandados. Porque era gênio e sabia explorar os “pontos cegos” do maior rival à época: os espaços entre defesa e meio-campo para acionar os atacantes ou tentar a jogada individual; a inversão de jogo rápida e precisa para encontrar o companheiro livre no lado oposto; a infiltração de trás para surpreender e quebrar a tática de impedimento. Um pesadelo para Baresi e sua defesa, mas que em alguns momentos foi devidamente encaixotado por um trabalho defensivo concentrado e intenso.

Intensidade é a palavra que une o Milan do final dos anos 1980 ao futebol atual. Não só na pressão, mas também na rapidez com que circulava a bola para definir os ataques. Sacchi não matou o “catenaccio”, a famosa retranca italiana. Até porque o país viu times ofensivos na primeira metade da década de 1980, como a Juventus que contava com a base da seleção italiana campeã mundial de 1982 e ainda as estrelas Platini e Boniek e também a Roma de Nils Liedholm que tinha Paulo Roberto Falcão e Bruno Conti.

Talvez tenha mudado o “gioco all’italiana”, a marca da equipe de Enzo Bearzot na Copa do Mundo na Espanha. Com o líbero Scirea, o “stopper” Collovati, o “ala tornante” Conti, o “terzino fluidificante” Cabrini e Antognoni como uma mistura de “regista” e “trequartista”. Funções muito específicas e características, além do Gentile cão-de-guarda, que sempre deixava a lateral direita para perseguir o craque do adversário, como fez com Maradona e Zico. Na marcação que podia ser individual ou mista.

Sacchi acreditava em versatilidade e o time baseado em movimentos coletivos. Quando questionado por que não conseguiu repetir os feitos naquele Milan quando comandou a seleção italiana e depois no retorno ao clube, na passagem por Atlético de Madri e na volta ao Parma, o treinador alega que nunca mais conseguiu reunir aquela combinação de grandes homens e ótimos jogadores.

Não por acaso, muitos deles viraram treinadores. Carlo Ancelotti, o melhor deles. Aproveitando muito do que aprendeu, mas adaptando e incluindo uma liderança tranquila que nem sempre foi a marca de Sacchi. Uma vez, ao ter o modelo de jogo questionado por Van Basten, o colocou no banco na partida seguinte para que ele ficasse ao lado dele para explicar onde o técnico estava errando. Hoje treinador, o atacante reconhece a importância de Sacchi em sua carreira, apesar da relação pessoal desgastante.

O Milan da obsessão pela perfeição fez história. Depois do bicampeonato mundial em 1990, vencendo o Olimpia por 3 a 0 em Tóquio, Tassotti falou para Sacchi: “somos os melhores do mundo!” A resposta do treinador foi emblemática: “Sim, mas só até a meia-noite. Amanhã começa tudo de novo”.

Só que o futebol italiano e mundial nunca mais foi o mesmo. Ou só veríamos algo parecido quase trinta anos depois. Por isso é histórico e merece ser sempre lembrado.

 

[Confira o especial sobre o Milan de Sacchi no podcast “Triangulação”, com os colegas Eugenio Leal e Rodrigo Coutinho.]

 

O 4-4-2 do Milan de Sacchi: básico, mas com movimentos complexos que compactavam setores, movimentavam peças, pressionavam os adversários e defendiam e atacavam com incrível coordenação (Tactical Pad).

 

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Os dez maiores treinadores do século 21 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/30/os-dez-maiores-treinadores-do-seculo-21/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/30/os-dez-maiores-treinadores-do-seculo-21/#respond Mon, 30 Mar 2020 11:45:52 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8231

Foto: Darren Staples / Reuters

1º – Pep Guardiola 

O que melhor combinou conquistas, desempenho das equipes e influência no jogo. Suas ideias e transformações ao longo do tempo puxaram fila entre os treinadores e fez o esporte evoluir trinta anos em dez. O melhor time do século, o Barcelona de 2010/11, carrega sua forte assinatura. O mais vencedor em ligas por pontos corridos, quando o melhor trabalho quase sempre se impõe. São sete em nove disputadas. Dominante na Espanha, Alemanha e Inglaterra.

Influenciado por Rinus Michels, Johan Cruyff, Juan Manuel Lillo, Marcelo Bielsa, Arrigo Sacchi e também assimilando conceitos de seus contemporâneos, Guardiola se reinventa o tempo todo, adicionando intensidade e se adaptando ao ritmo da Premier League. Só não negocia a posse de bola, a pressão pós-perda para recuperá-la o mais rápido possível e a volúpia ofensiva de suas equipes. Um gênio.

2º – José Mourinho

O melhor do mundo indiscutível de 2003 a 2008. Contra Guardiola teve que se provar e protagonizou os grandes duelos dos últimos dez anos, vencendo com a Internazionale a Liga dos Campeões 2009/10 e La Liga em 2011/12 com campanhas históricas. Mas caindo com o Real Madrid na sequência de superclássicos de 2010/11, superado nas ligas nacional e continental, só vencendo a Copa do Rei.

Nem o ocaso recente diminui os grandes feitos e também a contribuição para o futebol. Sim, a sua “retranca inteligente” também ajudou a fazer o jogo evoluir. Uma pena ter assumido de forma exagerada o personagem “Darth Vader da bola”, se esforçando tanto para ser o anti-Guardiola que seus trabalhos estagnaram no exagero defensivo, no “park the bus”, e também na tensão exagerada da gestão do vestiário.

3º – Carlo Ancelotti

A liderança tranquila. Um gestor de talentos por excelência. Identifica os líderes, técnicos e anímicos, de um elenco e agrega ao trabalho, criando um clima amistoso, mesmo na imensa pressão do futebol em alto nível. Amado por figuras díspares, como Kaká, Ibrahimovic e Cristiano Ronaldo.

Mas também deu sua contribuição tática, com a “Árvore de Natal”, o 4-3-2-1 do Milan campeão europeu e mundial em 2006/07 que tinha Pirlo como “regista” e Kaká mais solto para rasgar as defesas adversárias com força e velocidade. Também o Real Madrid de “La Decima”, dando a melhor resposta ao estilo de Pep Guardiola ao massacrar o Bayern de Munique com 5 a 0 no agregado e um futebol de compactação defensiva e contragolpes demolidores.

4º – Alex Ferguson

O homem que fez o Manchester United tomar do Liverpool o posto de maior vencedor na Inglaterra, com 20 títulos. O Rei da Premier League, com 13 conquistas. Sete neste século. Cinquenta títulos na carreira. E os Red Devils tentam até hoje reencontrar um caminho de volta às glórias.

Ferguson não era nenhum gênio tático, mas tinha a capacidade de desenvolver seus jogadores, como fez com Cristiano Ronaldo, Wayne Rooney, David Beckham, Ryan Giggs e tantos outros. Influenciado pelos treinadores estrangeiros que chegaram a Inglaterra, soube criar variações e apostar na versatilidade dos atletas. Apostava também na força mental, especialmente no final dos jogos, que criou o mito do “Fergie Time”, arrancando vitórias improváveis que construíram uma carreira mais que vencedora.

5º – Jurgen Klopp

O melhor treinador da atualidade. O grande algoz de Guardiola, criando problemas para o catalão desde os duelos do Bayern contra o Borussia Dortmund que comandou e construiu uma hegemonia no início desta década na Alemanha com seu futebol “rock’n’roll”.

Estilo personalíssimo, de intensidade máxima e rapidez nas transições, mas que aprendeu a trabalhar a bola para acrescentar pausas e não exaurir sua equipe. Assim deu o salto competitivo que fez o Liverpool duas vezes finalista da Champions, último campeão e agora com o tão sonhado título de Premier League dos Reds encaminhado e barrado apenas pelo Covid-19. Além de ótimo profissional, um cara boa gente. Carismático, adorado por seus jogadores e respeitado pelos adversários.

6º – Arsène Wenger

Não se prenda à imagem final do francês no Arsenal decadente. Wenger revolucionou não só o clube, mas também o futebol inglês. Sepultou o “kick and rush” e adicionou leveza e valorização da técnica. Com erros e acertos, também marcou seu trabalho pela descoberta e desenvolvimento de jovens talentos. Assim ajudou o clube a se estruturar financeiramente e construir o Emirates Stadium.

O grande momento, indiscutivelmente, foi o título invicto da Premier League em 2003/04. Os “Invincibles” das rápidas transições ofensivas e do fulgor da dupla Dennis Bergkamp e Thierry Henry no ataque, bem assessorados por Ljungberg, Pires, Vieira e Ashley Cole. Faltou o título europeu, que parou no Barcelona de Ronaldinho em 2005/06, mas a trajetória é marcante na história.

7º -Jupp Heynckes

O “pai” do futebol mais inteligente da atualidade, com times versáteis, capazes de mudar de estratégia nas partidas sem alterar a escalação. Em 2012/13, o Bayern de Munique da tríplice coroa foi o segundo time com mais posse na Europa, mas atropelou o Barcelona, líder no controle da bola, na semifinal da Champions com 7 a 0 no agregado e 40% de posse na média das duas partidas.

O time de Robben e Ribéry que podia encurralar o adversário em seu campo ou atrair e atropelar com transições ofensivas avassaladoras. Superando a doída derrota nos pênaltis para o Chelsea na final europeia em Munique e fazendo da temporada de despedida do treinador veterano uma aventura épica que deixou marcas tão profundas que fez Heynckes retornar da aposentadoria em 2018 para reerguer o clube e levá-lo a novo título da Bundesliga, aos 73 anos.

8º – Zinedine Zidane

Um gênio dos campos que fez história em sua primeira experiência como treinador em um grande time. Tricampeão da Champions, um feito que, mesmo com oscilações no desempenho e beneficiado por algumas arbitragens bastante questionáveis, é difícil de mensurar sem o devido distanciamento histórico.

Herdeiro da liderança tranquila de Ancelotti, de quem foi auxiliar no próprio time merengue, o francês ajustou um timaço que sabia trabalhar no campo de ataque, mas também nos contragolpes. A temporada 2016/17 foi perfeita, não só pelo título espanhol, mas pela armação do 4-3-1-2 móvel que tinha Isco ora se juntando a Casemiro, Modric e Kroos no meio-campo, ora formando um trio no ataque com Cristiano Ronaldo e Benzema. Atuação magnífica nos 4 a 1 sobre a Juventus na final da Champions.

9º – Vicente Del Bosque

Dois grandes feitos no século: o único treinador que conseguiu fazer o time galáctico do Real Madrid, com todas as estrelas – Roberto Carlos, Figo, Zidane, Raúl e Ronaldo – faturar um título: a liga espanhola 2002/03. Apenas sem o Fenômeno ganhou a Champions da temporada anterior, com o gol antológico de Zidane na final contra o Bayer Leverkusen.

Ainda o primeiro título mundial da Espanha em 2010. Combinando com sabedoria o legado de Aragonés no título da Eurocopa 2008 com a influência de Pep Guardiola no Barcelona que era a base da seleção. Sabendo que não contava com o gênio Messi, apostou em uma posse obsessiva e defensiva, que trabalhava a bola no ritmo de Xavi e Iniesta para ser menos incomodado pelos adversários. Del Bosque também era um sábio gestor de vestiário que criava um clima sereno para as estrelas brilharem.

10º – Diego Simeone

O argentino não poderia deixar de figurar nesta lista apenas por ter conquistado uma liga espanhola superando o Barcelona de Messi e o Real Madrid de Cristiano Ronaldo – simplesmente dois dos maiores times da história de clubes gigantes. Na temporada 2013/14 que ainda teve final da Champions que escapou nos últimos segundos.

Mas Simeone fez muito mais. Podemos dividir a história do Atlético de Madri antes e depois do treinador. Não só pelos dois títulos de Liga Europa e uma Copa do Rei, além da liga espanhola já citada, mas pelo resgate da autoestima e do orgulho do clube. Capaz de feitos como o mais recente, eliminando o campeão Liverpool da Liga dos Campeões. Você pode não apreciar o estilo, mas tem que respeitar o que conseguiu sem os mesmos recursos dos gigantes espanhois.

 

 

 

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Futebol em Quarentena – Seis partidas que mudaram a história do jogo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/19/futebol-em-quarentena-seis-partidas-que-mudaram-a-historia-do-jogo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/19/futebol-em-quarentena-seis-partidas-que-mudaram-a-historia-do-jogo/#respond Thu, 19 Mar 2020 14:36:55 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8183

Foto: Filippo Monteforte / Getty Images

Dando continuidade à série “Futebol em Quarentena” no blog, uma reflexão olhando para trás enquanto a bola não volta a rolar, seguem os seis jogos que mudaram a história do jogo.

Ou os que marcaram alterações táticas mais significativas dentro de um esporte que felizmente se transforma constantemente, mesmo que muitas vezes só percebamos depois, com o tão necessário distanciamento histórico.

Vamos a eles!

Inglaterra 3×6 Hungria – Amistoso, 1953

A alcunha de “Jogo do Século” hoje soa um exagero até absurdo. Mas foi o grande primeiro impacto no futebol a imposição dos húngaros campeões olímpicos em 1952, nos Jogos de Helsinke.

A Inglaterra no WM e vivendo das ações individuais, especialmente de Stanley Matthews, foi engolida pela gênese do 4-2-4, com Hidegkuti com a camisa nove recuando para articular, abrindo espaços para os goleadores Kocsis e Puskas e desmontando a marcação individual do “English Team”, invicto em seus domínios contra seleções não britânicas.

O legado foi o de transformações que iam do aquecimento antes da partida, do uso de chuteiras mais leves e simples até a utilização de quatro defensores na última linha que o Brasil aproveitaria em 1958 com Vicente Feola, auxiliar do húngaro Béla Guttmann no São Paulo.

Brasil 1×0 Inglaterra – Copa do Mundo, 1970

Não era confronto eliminatório, mas o duelo no Estádio Jalisco, no México, carregava o simbolismo de colocar frente a frente os vencedores das últimas três Copas do Mundo.

Os “inventores” do futebol e então campeões, representando o chamado “futebol-força” – embora houvesse muita técnica nos Bobbies (Moore e Charlton) – e os precursores do 4-4-2 que viraria padrão no futebol britânico contra os brasileiros trazendo um jogo mais artístico, porém sustentados pelo planejamento tático mais cuidadoso de Zagallo, se defendendo num 4-5-1, e uma preparação física de vanguarda para a época.

A jogada fantástica de Tostão pela esquerda que passou por Pelé e chegou a Jairzinho no gol da vitória e a defesa portentosa de Gordon Banks em cabeçada de Pelé ficaram para a história, mas naquela partida a melhor seleção de todos os tempos consolidou sua maneira de jogar em uma espécie de “batismo de fogo” e ganhou confiança para buscar o tri.

Itália 3×2 Brasil – Copa do Mundo, 1982

Talvez a partida mais representativo de todas. O jogo que marcou gerações e, de certa forma, pauta o futebol brasileiro até hoje. Criando a falsa dicotomia “ganhar feio ou perder bonito”.

O confronto entre a seleção de Telê Santana que sonhava combinar a dinâmica do “Carrossel Holandês” de 1974 com o improviso canarinho e a Azzurra de Enzo Bearzot, que ainda acreditava no “gioco all’italiana”: Scirea como líbero, marcação individual no craque adversário (Gentile x Zico) e os demais por encaixe, Conti como “ala tornante” (ponta que volta), Cabrini o “terzino fluidificante” (lateral que apoia) e Antognioni sendo uma mistura de “regista” (maestro) e “trequartista” (ponta-de-lança).

Assim superaram o Brasil encantador de Leandro, Júnior, Sócrates, Zico, Falcão e Éder, porém irregular e com sérios problemas defensivos – em especial, as muitas falhas de Junior no posicionamento como lateral que resultaram em dois dos três gols de Paolo Rossi. Para muitos, a vitória italiana resultou no futebol mais defensivo que viveu seu ápice (ou anticlímax) na Copa do Mundo de 1990.

Barcelona 1×0 Internazionale – Liga dos Campeões 2009/10

Aqui um enorme salto no tempo, de quase três décadas, e a mudança de protagonismo do futebol de seleções para o de clubes. E da Copa do Mundo para a Liga dos Campeões.

O Barcelona venceu, mas não levou a vaga para a decisão contra o Bayern de Munique. A Internazionale de José Mourinho havia superado o time de Pep Guardiola, que assombrara o mundo vencendo a tríplice coroa em sua primeira temporada num time de primeira divisão combinando elementos das escolas holandesa, espanhola e argentina, por 3 a 1 em Milão.

Aos 28 minutos no Camp Nou, Thiago Motta foi expulso e Mourinho apelou para uma linha “de handebol” que chegou a aglutinar oito jogadores guardando a meta de Julio César. A “retranca inteligente”, negando os espaços mais perigosos ao oponente, passou a ser utilizada em larga escala depois disso, com os quatro defensores ficando mais próximos e centralizados e os dois pontas voltando como laterais. Tudo para evitar as infiltrações. Xeque-mate do português sobre o catalão.

Barcelona 5×0 Real Madrid – La Liga, 2010/11

A resposta de Guardiola no ano seguinte. Aproveitando a arrogância de Mourinho, que acreditou que com Cristiano Ronaldo e o elenco milionário do Real Madrid poderia encarar um Barcelona ainda melhor coletivamente no Camp Nou.

Levou um “rondo” de 90 minutos, com Messi deitando e rolando entre a defesa e o meio-campo do rival e servindo seus companheiros. Pedro, Xavi, Villa duas vezes e o jovem Jeffren para fechar a “maneta” e esfregar na cara dos merengues o sucesso de sua cantera. O estado de arte do jogo posicional com posse, pressão pós-perda e a ocupação perfeita dos espaços sem deixar o adversário respirar.

O maior espetáculo de melhor time que vi em ação. E saiu barato para o Madrid. Mourinho tentou resgatar a retranca da Inter nos confrontos seguintes, mas só foi bem sucedido na final da Copa do Rei. No duelo mais importante, pela semifinal da Champions, Messi desequilibrou com dois gols no Santiago Bernabéu. Os 5 a 0, porém, foram mais emblemáticos.

Bayern de Munique 0x4 Real Madrid – Liga dos Campeões 2013/14

A resposta mais completa e avassaladora a Guardiola não foi de Mourinho, nem de Klopp – o treinador que mais venceu o catalão, porém em jogos quase sempre muito duros, parelhos.

Carlo Ancelotti conseguiu com o Real Madrid que venceria “La Decima” fechar espaços à frente da própria área como a Inter de 2010. Com duas linhas de quatro muito próximas e Gareth Bale se desdobrando fechando espaços pela direita, mas se juntando a Benzema e Cristiano Ronaldo em um tridente ofensivo que atropelou o Bayern num 4-2-4 e com posse de bola inócua.

Contragolpes demolidores, com passes rápidos e objetivos para fugir da pressão pós-perda do time alemão. E eficiência na bola parada procurando o implacável Sergio Ramos. Guardiola até hoje admite ser sua pior derrota pelos erros que cometeu. Mas a estratégia de Ancelotti, mais versátil e completa, serviu como mais uma transformação no futebol que graças a esses treinadores evoluiu 30 anos na última década.

 

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Por que Gareth Bale é um “patinho feio” no Real Madrid? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/29/por-que-gareth-bale-e-um-patinho-feio-no-real-madrid/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/29/por-que-gareth-bale-e-um-patinho-feio-no-real-madrid/#respond Tue, 29 Oct 2019 10:38:56 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7502

Foto: Laurence Griffiths / Getty Images

Gareth Bale chegou ao Real Madrid em 2013 com a pompa da contratação mais cara da história na época: cerca 101 milhões de euros. Mas também questionamentos sobre a qualidade do atacante vindo do Tottenham que justificasse tamanho investimento. Inclusive este que escreve chegou a chamá-lo de “Sávio galês”, em referência ao repertório que parecia limitado a cortar para fora pela esquerda e cruzar ou para dentro à direita e finalizar, como era o do ex-jogador do Flamengo e do próprio Real, que evoluiu tecnicamente mais na reta final da carreira.

Bale mostrou que era muito mais que isso e na primeira temporada ajudou o time merengue a conquistar a tão sonhada “La Decima”. Pela direita deu a liga à variação do 4-3-3 para o 4-4-2 de Carlo Ancelotti, fazendo função dupla, indo e voltando para dar liberdade a Cristiano Ronaldo do lado oposto. Marcou o gol do título da Copa do Rei em arrancada espetacular de “jogador mais rápido do mundo” e fez também o da virada, na prorrogação, sobre o Atlético de Madrid na final da Liga dos Campeões 2013/14.

Rafa Benítez sucedeu o treinador italiano e tentou adaptar Bale como meia central em um 4-2-3-1. O camisa onze até marcou alguns gols, não se saiu mal. Mas a equipe não se acertou e Zinedine Zidane chegou para apaziguar os ânimos no início de 2015 e resgatar ideias de Ancelotti, já que havia sido seu auxiliar. Mas Isco acabou crescendo e contribuindo na ligação do meio-campo com o ataque e o francês acabou mudando o sistema tático para uma espécie de 4-3-1-2 “móvel”. Bale virou o reserva imediato da dupla de ataque formada por Benzema e Cristiano Ronaldo.

É dever ressaltar que entre 2013 e 2018, Bale teve 25 lesões que o tiraram de 78 jogos do Real. Não é pouco. Mas quando esteve em campo quase sempre foi importante, como no gol antológico na final da Champions em 2018 sobre o Liverpool que sacramentou o inédito tricampeonato no fim do ciclo vitorioso de uma equipe lendária.

Com a saída de Cristiano Ronaldo, a expectativa era pelo protagonismo de Bale. Ele até foi o melhor jogador e artilheiro da última conquista relevante, o Mundial de Clubes no ano passado. Mas com a volta de Zidane e as chegadas de Hazard, Jovic e Rodrygo, além do retorno de James Rodríguez, o atacante volta a ser relegado a segundo plano. As informações de bastidores da imprensa espanhola é que o treinador mal se dirige a Bale e surgem novos rumores, agora mais fortes, de saída.

“Marca” e “As” dão como certa uma transferência do atleta de 30 anos já em janeiro, na janela de inverno. Na melhor das hipóteses, um retorno ao futebol inglês. Se não der certo,  o mercado chinês parece mais atraente em termos financeiros. Apesar das cifras milionárias é jogador ainda com potencial para entregar desempenho em alto nível.

Difícil é compreender por que o Real Madrid descarta um atacante com 14 títulos em cinco temporadas e meia. Quatro Champions marcando gols em duas decisões e na semifinal de 2015/16 contra o Manchester, o único no placar agregado. Em 238 jogos, marcou 104 gols e serviu 64 assistências. Sim, o tempo passa para todos. Mas soa como ingratidão do clube.

Entre tantos astros que passaram pelo Santiago Bernabéu e até hoje são tratados como grandes ídolos mesmo sem ter entregado grandes conquistas, Bale é um jogador cuja chegada pode ser tratada como divisor de águas na história do clube mais vencedor do planeta. Agora a tendência é sair pela porta dos fundos, como “patinho feio”. Vai entender…

 

 

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Carlo Ancelotti, o doutrinador dos melhores técnicos do mundo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/18/carlo-ancelotti-o-doutrinador-dos-melhores-tecnicos-do-mundo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/18/carlo-ancelotti-o-doutrinador-dos-melhores-tecnicos-do-mundo/#respond Wed, 18 Sep 2019 10:18:55 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7276

Imagem: Reprodução/Napoli

Em 2013/14, Pep Guardiola era considerado o melhor treinador do mundo depois de construir em Barcelona uma das maiores e melhores equipes da história do futebol e conseguir, já na primeira temporada no Bayern de Munique, imprimir suas digitais no estilo de um time que havia faturado a tríplice coroa com Jupp Heynckes.

Mas na semifinal da Liga dos Campeões foi atropelado pelo Real Madrid com um 5 a 0 no agregado, sendo quatro na casa dos bávaros. Está registrado no livro “Guardiola Confidencial”, de Martí Perarnau (Editora Grande Área), o arrependimento do treinador catalão por ter mandando a campo uma formação muito ofensiva – com Robben, Muller, Mandzukic e Ribéry no ataque –  e deixado espaços generosos para os contragolpes merengues.

O que não tira o enorme mérito de Carlo Ancelotti. Um treinador mais reconhecido por sua liderança serena e pela capacidade de fazer seus comandados correrem por ele do que pelo gênio tático ou estratégico. Mas que entregou a resposta mais avassaladora ao “método Pep”.

Um 4-4-2 no posicionamento defensivo com linhas muito compactas e estreitas. Gareth Bale e Angel Di María recuando praticamente como laterais e a entrada da própria área bastante congestionada, com os laterais Carvajal e Coentrão, mais Xabi Alonso e Modric protegendo Pepe e Sergio Ramos.

Na retomada, uma transição ofensiva em altíssima velocidade com poucos toques e sempre verticais para explorar os espaços às costas dos defensores e acionar Benzema e, principalmente, Cristiano Ronaldo, autor de dois gols. Sem contar a força na bola parada com Sergio Ramos para descomplicar o jogo e abalar o oponente já no primeiro tempo. Um 4 a 0 que colocou o Real na final que daria a tão sonhada “La Decima” ao maior vencedor do torneio continental.

Quatro anos depois, o treinador italiano volta à cena para enquadrar outro técnico consagrado como o melhor do planeta: Jurgen Klopp, campeão europeu com o Liverpool depois de amadurecer e aprimorar o modelo de jogo mais influente da atualidade, inclusive impactando o próprio Guardiola. Baseado em volume construído com pressão no campo adversário, ataques rápidos e contundentes com mobilidade dos jogadores e muita gente chegando na área para finalizar.

O Napoli de Ancelotti já havia sido um duro adversário na temporada passada, também na fase de grupos, depois de levar 5 a 0 em um amistoso de pré-temporada. Dois jogos equilibrados, com uma vitória para cada lado por 1 a 0. Em Anfield, o Napoli teve a bola do empate e da classificação com Milik, mas Alisson salvou com uma defesa espetacular. Os Reds ficaram com a segunda vaga, atrás do PSG, graças aos gols marcados, já que fizeram campanha similar à do time italiano, inclusive no confronto direto e no saldo. Por pouco o time que venceria a edição da Champions não parou na Liga Europa.

O sorteio da fase de grupos para a atual temporada voltou a colocar Napoli e Liverpool no mesmo grupo, mas desta vez sem outro favorito para transformar em “grupo da morte”, embora o Red Bull Salzburg tenha demonstrado sua força nos 6 a 2 sobre o Genk. E Ancelotti aprimorou a resposta a Klopp no San Paolo.

Como Salah, Firmino e Mané se caracterizam pela mobilidade e por se procurarem no ataque, o Napoli não se importou em desorganizar a sua última linha defensiva, formada por Di Lorenzo, Manolas, Koulibaly e Mario Rui, contanto que evitasse os deslocamentos dos atacantes adversários com liberdade. Não raro foi ver Koulibaly, o melhor em campo, sair de sua posição com zagueiro pela esquerda e bloquear Salah do lado oposto.

Até porque Mario Rui muitas vezes esperava o apoio de Alexander-Arnold, deixando Insigne livre para os contragolpes, acelerando com Lozano pela esquerda. À direita, Callejón e Mertens faziam os mesmos movimentos rápidos tentando explorar os espaços às costas dos laterais do time inglês e obrigando Matip e Van Dijk a se exporem nas coberturas. O quarteto ofensivo também pressionava a saída de bola do time vermelho.

Allan e Fabian Ruíz protegiam a entrada da área contra Fabinho, Henderson, Milner e o movimento de recuo de Firmino buscando espaços às costas dos meio-campistas. Com a consciência de que é praticamente impossível conter totalmente o volume dos atuais campeões da Europa, que terminaram o jogo com 51% de posse e 12 finalizações contra dez do time da casa.

Mas dificultando a conclusão precisa do rival e, principalmente, buscando ser mais eficiente ofensivamente. O Napoli teve melhor aproveitamento nos passes (87% contra 85%) e nas finalizações  no alvo (5 a 4). Abriu o placar em um pênalti mais que duvidoso de Robertson em Callejón que Mertens converteu e matou no final com Llorente, que entrara na vaga de Lozano, em um raro vacilo de Van Dijk.

Para complicar um Liverpool que dá sinais desde o início da temporada, por declarações de jogadores e do próprio Klopp, de que a Premier League é a obsessão na jornada 2019/20. Depois do vice mesmo com a melhor campanha da história do clube, parece ser um consenso de que chegou a hora de encerrar o jejum que já dura 30 anos.

Mas ninguém em Anfield espera cair na fase de grupos da Champions. E não deve mesmo, apesar do Napoli que se apresenta novamente como uma incômoda pedra no sapato. No cumprimento logo após o apito final, o italiano brincou com o colega alemão dizendo que este não deveria ficar preocupado, porque perder novamente no San Paolo pode significar vencer mais uma vez a Champions.

Típico Carlo Ancelotti, o doutrinador dos melhores técnicos do mundo.

O 4-4-2 do Napoli de Ancelotti que não se importava em desorganizar a última linha para parar o trio Salah-Firmino-Mane. Na transição ofensiva, velocidade com Callejón e Mertens pela direita e Insigne e Lozano à esquerda (Tactical Pad).

(Estatísticas: UEFA)

 

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Como o “passe falso” de Dani Alves para Messi sintetiza o futebol da década http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/10/como-o-passe-falso-de-dani-alves-para-messi-sintetiza-o-futebol-da-decada/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/10/como-o-passe-falso-de-dani-alves-para-messi-sintetiza-o-futebol-da-decada/#respond Wed, 10 Jul 2019 11:26:02 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6844

Foto: AFP

– Por exemplo, eu tocava muito um passe que o Guardiola não gosta. Até hoje, eu acho que esse passe não progride, que é o passe da lateral ao ponta. Esse é um “passe falso”. Bola para extremo atacar e não perder a jogada é de meio para lateral e de lateral para meio. E, às vezes, eu conectava muito esse passe para o Messi. O Guardiola reclamava comigo. Eu respondia: “Não, mister, me desculpa. Mas se o Messi passar dois minutos sem tocar na bola, ele desconecta do jogo. Como o Messi tem que estar preparado para definir o jogo para a gente, então eu vou conectar ele no jogo”.Ele falou: ‘Tem razão!”

Este foi o trecho que mais chamou atenção da participação de Daniel Alves no programa “Bem, Amigos!” do Sportv. O destaque, obviamente, foi para a inteligência do lateral na fantástica parceria com o gênio argentino – até hoje é o jogador que mais serviu passes para gols de Messi – e também a moral que o atleta conquistou com um dos melhores treinadores da história do futebol mundial.

Mas se contextualizarmos o que foi dito é possível sintetizar todo o futebol em alto nível disputado nesta década. Ou desde 2008, no início do trabalho de Pep Guardiola no Barcelona. A época em que provavelmente aconteceu o diálogo entre atleta e técnico.

Porque, a rigor, Messi só foi ponta direita sob comando do catalão na primeira temporada da parceria que transformou o jogo para sempre. Formando o trio de ataque com Samuel Eto’o e Thierry Henry. Já dentro do jogo de posição, ou localização, que se transformaria na grande marca de Pep e a maior influência dele entre seus pares.

Resumindo bastante, seria um modelo em que o posicionamento dos jogadores é mais importante do que aquilo que realizam quando têm a bola. Nas palavras de Johan Cruyff, mentor de Guardiola, “se cada jogador tem a bola por, no máximo, três minutos em uma partida é porque o importante é o que ele faz nos outros 87”.

Messi era ponteiro pela direita, e o ponta no jogo de posição na maior parte do tempo tem como principal atribuição ficar aberto e dar amplitude aos ataques. Abrir o campo. Essa função também pode ser do lateral, e Dani Alves a executou algumas vezes com Guardiola. Henry fazia o mesmo do lado oposto. Cada um em sua posição e ganhando liberdade de movimentação ao se aproximar da área adversária para decidir. Confira AQUI uma explicação detalhada em vídeo do atacante francês aposentado, hoje também treinador.

A questão é que dependendo das circunstâncias da partida um ponteiro pode ficar algum tempo sem tocar na bola. Porque está bem marcado ou o jogo fluindo melhor no outro flanco. Por isso Daniel sentia necessidade de “conectar” Messi.

Por que o passe do lateral para o ponta é considerado “falso”? No jogo de posição, as triangulações são fundamentais. O atleta com a bola deve ter uma opção de passe para o lado, para trás ou em profundidade. Sempre buscando o homem livre. Para que a circulação da bola seja eficiente e mexa com a marcação adversária, ela deve se dar do lado para dentro e vice-versa. Naquele Barcelona, de Daniel Alves na lateral para Xavi no meio e deste para Messi na ponta. Para dominar de frente para o marcador, não de costas no caso do passe sair mais aberto. Conceito básico que vem desde o “rondo” no início dos treinos.

Talvez por isso Guardiola já na primeira temporada tenha trazido Messi para o centro do campo, como um misto de “enganche” tipicamente argentino e “falso nove”, função que também foi de Cruyff na Holanda e no próprio Barça. O craque do time precisava mesmo ser mais participativo, tocar mais na bola e receber com liberdade entre a defesa e o meio-campo do adversário. Como o centro de articulação e decisão. Dialogando com Xavi e Iniesta, mas também com os atacantes infiltrando em diagonal. Ou partindo sozinho para desequilibrar.

A versão mais vencedora do Barcelona de Pep foi a primeira, ganhando a tríplice coroa. Mas a que é considerada a melhor pelo treinador, por jogadores e também por muitos jornalistas ao redor do mundo é a da temporada 2010/11. Com o modelo assimilado e amadurecido, Messi por dentro sintonizado no jogo e com os companheiros e os ponteiros Pedro e Villa cumprindo suas funções no jogo de posição quase à perfeição.

No massacre da final do Mundial de Clubes contra o Santos de Muricy Ramalho, já uma versão diferente, com Fábregas se juntando ao trio Xavi-Iniesta-Messi por dentro e Daniel Alves e Thiago Alcântara abrindo o campo. Outra atuação mágica, mas para este que escreve inferior à dos 3 a 1 sobre o Manchester United na final da Liga dos Campeões. Do melhor time que este que escreve viu jogar em mais de trinta anos.

Mas que mudou o esporte também por conta das transformações que causou nos rivais por necessidade de respostas competitivas. Da retranca com linhas chapadas, “de handebol”, de José Mourinho na Internazionale, passando pelo ferrolho com contragolpe letal do Chelsea em 2012 até chegar à perfeição de Carlo Ancelotti no Real Madrid de “La Décima”, impondo a Guardiola sua derrota mais emblemática, já no Bayern: 4 a 0 em Munique e a vaga perdida para a final continental. Com rigor tático sem a bola, mas muita velocidade e toques verticais nos contragolpes acionando Bale, Benzema e Cristiano Ronaldo, além da força da jogada aérea com bola parada de Sergio Ramos.

Um jogo mais adaptado à demanda da partida. O time merengue que Ancelotti entregaria a Zidane, que foi auxiliar do treinador italiano, depois de um “hiato” com Rafa Benítez, sabia jogar no campo de ataque e também recuando linhas e explorando os espaços às costas das defesas oponentes. Se necessário arrancava um gol “á forceps” numa falta ou escanteio. Um jogo mais intuitivo, baseado no talento e no controle mental, mas sabendo usar a força da camisa mais pesada do futebol mundial para se impor e faturar quatro Champions em cinco temporadas.

Padrão e intuição que norteiam o trabalho de Jurgen Klopp no Liverpool. Derrotado pelo Real de Zidane em 2018, mas garantindo o título da Champions com pragmatismo na vitória sobre o Tottenham na final inglesa disputada no Wanda Metropolitano, em Madrid. Pressão no campo de ataque, aceleração e intensidade máximas, mas também sabendo criar espaços na frente e amassando o adversário psicologicamente. Uma fórmula que funciona muito bem no mata-mata.

O Barcelona e Guardiola buscam evoluir e adaptar o jogo de posição à realidade do futebol atual e seguem dominando as ligas nacionais. Desde a saída de Pep em 2012 foram cinco títulos espanhois para o clube. Já o treinador faturou cinco taças na Alemanha e na Inglaterra, só perdendo em 2016/17, primeira temporada no Manchester City. Supremacia nos pontos corridos e acrescentando intuição e contexto ao modelo que considerava perfeito na Catalunha há uma década.

Porque tudo muda e exige inteligência e sensibilidade. Como mostra Daniel Alves, campeão e craque da Copa América, jogador mais vencedor da história com 40 conquistas aos 36 anos. Como foi feliz dez anos atrás ao “quebrar” o sistema do Barcelona com um passe, em tese, improdutivo para manter Messi ligado no jogo e construir uma história que nunca mais se repetiu.

 

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Zidane volta ao Real “à la Cuca”. Foi bombeiro, agora será arquiteto? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/03/11/zidane-volta-ao-real-a-la-cuca-foi-bombeiro-agora-sera-arquiteto/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/03/11/zidane-volta-ao-real-a-la-cuca-foi-bombeiro-agora-sera-arquiteto/#respond Mon, 11 Mar 2019 19:44:48 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6116 A surpresa da volta de Zinedine Zidane ao comando técnico do Real Madrid se dá mais pelas fortes especulações na Europa de que o francês já teria um acerto encaminhado com a Juventus para suceder Massimiliano Allegri. Porque o retorno para o clube no qual foi tricampeão da Liga dos Campeões como treinador não é difícil de entender.

No Brasil tivemos um exemplo parecido recentemente: Cuca saiu do Palmeiras campeão brasileiro de 2016, ainda com Paulo Nobre na presidência e algum desgaste no relacionamento com jogadores e diretoria. Mauricio Galiotte era o novo presidente, da situação, mas o treinador preferiu deixar o clube, também por questões particulares. Que cinco meses depois ficou claro que não eram tão sérias assim, já que voltou para suceder Eduardo Baptista. Depois de uma campanha traumática no Campeonato Paulista.

Nos dois casos, a sacada é voltar com muito mais moral em um clube por baixo. Desafetos, críticos e céticos em silêncio e estendendo tapete vermelho. Zidane não é tão “sanguíneo” quanto Cuca, mas trabalhar com Florentino Pérez não deve ser algo muito confortável. É bem provável que a relação conflituosa da direção do clube merengue com Cristiano Ronaldo, o que culminou com sua saída para a Juventus, tenha empurrado também Zidane para fora.

E o futuro? Bem, Zidane foi um “bombeiro” no Real Madrid quando assumiu na virada para 2016, sucedendo Rafa Benítez. Havia sido auxiliar de Carlo Ancelotti, conhecia e contava com o respeito e a amizade dos jogadores e fez o simples: reconstruiu o vestiário e resgatou os conceitos do técnico italiano que levou o time à décima Champions e fez a equipe jogar um grande futebol no segundo semestre de 2014. Acabou demitido basicamente por não impedir que o Barça de Messi, Suárez e Neymar faturasse a tríplice coroa em 2015.

Nas duas temporadas e meia praticamente não foi ao mercado, investiu mais na manutenção do bom ambiente evitando contratações midiáticas para não gerar ciúmes e apostou nas divisões de base. Abraçou o lema “a melhor notícia é não ter notícia”. Acabou alcançando um feito inédito: ganhou duas Ligas dos Campeões com a mesma escalação inicial: Navas; Carvajal, Varane, Sergio Ramos e Marcelo; Casemiro, Modric e Kroos; Isco; Cristiano Ronaldo e Benzema.

Todos seguem no clube, exceto a estrela máxima. Mas parece claro que o ciclo de muitos já se encerrou e é preciso reformular, corrigir a rota. Ou pavimentar um novo caminho. Aí está o grande desafio de Zidane. Agora terá que ser arquiteto: planejar a construção de um novo elenco. Combinando características e casando perfis para encontrar a química. A chama que feneceu. Será capaz?

No Palmeiras, Cuca não chegou no final de 2017 para planejar o ano seguinte. Precisou trabalhar e buscar os títulos com um elenco diferente e contratações que não indicou. Zidane chega com a terra arrasada por Julen Lopetegui e Santiago Solari e com poucas boas notícias – basicamente, a ascensão de Reguilón, Llorente e Vinícius Júnior. O final de temporada será para cumprir a obrigação de assegurar vaga para a próxima Champions, avaliar o que deu errado e quais peças precisam ser trocadas.

Agora com ainda mais moral pelo status de treinador mais vencedor dos últimos anos e orçamento milionário para movimentar o mercado de transferências no verão. Um novo cenário que, a rigor, mantém Zidane como o que era quando assumiu pela primeira vez: uma grande incógnita.

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Quando vamos aceitar de vez que o futebol mudou e nos tirou do topo? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/05/quando-vamos-aceitar-de-vez-que-o-futebol-mudou-e-nos-tirou-do-topo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/05/quando-vamos-aceitar-de-vez-que-o-futebol-mudou-e-nos-tirou-do-topo/#respond Tue, 05 Feb 2019 11:02:46 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5850

Seleção brasileira sub-20 perde para o Uruguai por 3 a 2, não tem mais chances de título do Sul-Americano e, com apenas um ponto em três rodadas do hexagonal, complica até a vaga para o Mundial da categoria. Campanha lamentável até aqui que provoca as “reflexões” de sempre sobre o futebol cinco vezes campeão do mundo. Incluindo um “editorial” de Galvão Bueno no programa “Bem, Amigos!” do SporTV.

“Geração mimada”, “chuteiras coloridas, cabelos  exóticos”, “jogadores de empresários”, “falta ginga”, “CBF corrupta e incompetente” são algumas das explicações para os insucessos. Talvez com alguma razão em todos os pontos, mas sem focar na questão central: o futebol mudou e nos tirou do topo.

Galvão citou como último grande momento da seleção brasileira a conquista da Copa das Confederações em 2005. Sim, o torneio da ilusão que inebriou o país naquele ano e também nas duas edições seguintes, em 2009 e 2013.

Pois nas vitórias sobre Alemanha e Argentina há quase 14 anos, um dos destaques foi Robinho. Um ano antes chamado de mimado, marrento e irresponsável ao baixar o calção do amigo Diego Ribas e se transformar no culpado pela eliminação no Pré-Olímpico, tirando a chance de uma geração promissora disputar os Jogos de Atenas.

É evidente que tem faltado um trabalho nas divisões de base com respaldo e apoio da gestão da CBF. Edu Gaspar virou coordenador por ser o homem de confiança de Tite, em uma bizarra inversão de valores. A base caiu no seu colo e as decisões foram tomadas sem grande conhecimento. Agora chega Branco com a típica “boleiragem” que ataca o periférico, com churrascos e críticas veladas à qualidade da geração, e mais uma vez esquece do principal: o campo.

A última vez que o Brasil contou com um trabalho de real integração entre seleção principal e a base foi com Mano Menezes e Ney Franco. Interação, estudo e antenas ligadas ao que estava acontecendo no futebol pelo planeta. Não por acaso foram as últimas conquistas do torneio continental e também do Mundial no Sub-20, em 2011.

O jogo mudou e nos empurrou para fora do protagonismo. Nos títulos coletivos e, consequentemente, nos individuais. Guardiola, Mourinho, Klopp, Ancelotti, Simeone e outros tiraram os trunfos dos nossos craques no cenário mundial: tempo, espaço e marcação individual.

Com linhas compactas, pressão sobre o homem da bola e o bloqueio por zona o jogador precisa pensar e agir rápido, tomar as decisões certas. Nossa cultura ainda é de jogo intuitivo e condução da bola. O “pra cima deles!” de Galvão ainda é o nosso mote. Mas como, se no domínio já tem alguém pressionando e na hora de partir para o drible e “gingar” há um muro de oito ou nove jogadores em, no máximo, 30 metros?

O Brasil conta com ótima geração de dribladores: Neymar, Douglas Costa, Vinicius Júnior, David Neres, Willian…Só que a questão agora é saber a hora de tentar a vitória pessoal, com um trabalho coletivo para potencializar o talento. Os treinadores nos clubes europeus conseguem, já os daqui…

Impossível dizer se Romário, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho e Kaká, os brasileiros que ganharam os prêmios de melhor do mundo, conseguiriam se impor hoje. Mas é fato que Messi e Cristiano Ronaldo se adaptaram melhor ao contexto e sobraram por dez anos. Neymar tentou furar a bolha e se aproximar, mas sem sucesso. Luka Modric, que ganhou tudo em 2018, é o típico meio-campista que deixamos de formar. Arthur é a exceção à regra. Brotou meio ao acaso e deve gratidão eterna a Renato Gaúcho no Grêmio.

Tite conseguiu alguns espasmos de reação, com o título mundial do Corinthians em 2012 e tornando o Brasil competitivo, sobrando nas eliminatórias e equilibrando a disputa com as principais seleções do planeta. Mas ainda não é suficiente para recuperar protagonismo.

Já passou da hora de sermos humildes e aceitarmos que se o futebol brasileiro não tem vencido é porque outros estão trabalhando melhor. Não é saudável nem inteligente se agarrar a teses simplistas ou ao saudosismo. Porque aí seremos nós os mimados, não os jovens com potencial que viram alvos das críticas a cada revés.

A bola não é mais nossa e a saída é trabalhar, não choramingar sem tirar os olhos do próprio umbigo.

 

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Liverpool elimina Napoli com futebol no volume máximo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/12/11/liverpool-elimina-napoli-com-futebol-no-volume-maximo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/12/11/liverpool-elimina-napoli-com-futebol-no-volume-maximo/#respond Tue, 11 Dec 2018 22:46:56 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5650 Na penúltima rodada o PSG deu uma aula de fibra, comunhão com a torcida e estratégia pensada especialmente para um jogo grande e decisivo em casa. Derrotado, restava ao Liverpool se impor em casa diante do Napoli, então líder do Grupo C da Liga dos Campeões.

O time de Carlo Ancelotti entrou no Anfield Road pensando em jogar, desde a manutenção do 4-4-2 com Insigne formando a dupla de ataque com Mertens até a proposta de evitar as ligações diretas na saída da bola.

Mas foi empurrado para o próprio campo pelo time da casa com a essência da visão de futebol de Jurgen Klopp: intensidade máxima, pressão absurda no adversário com a bola em todo campo e volume ofensivo chegando na área adversária com o trio Salah-Firmino-Mané, mais os laterais Alexander-Arnold e Robertson e os meias Wijnaldum e Milner, protegidos por Henderson mais fixo à frente de Matip e Van Dijk.

Os Reds chegaram a ter 60% de posse jogando num ritmo alucinante, acelerando e simplificando os passes para chegar mais rápido na área do oponente. Diante de tamanho domínio, o gol único de Salah ganhando de Mário Rui e Koulibaly e aproveitando o erro do goleiro Ospina que “telegrafou” a saída da meta para cortar o cruzamento pareceu barato para o time italiano.

Napoli que adiantou suas linhas naturalmente na segunda etapa, mas com muitos erros técnicos e alguns jogadores sentindo nitidamente o peso do jogo, como Fabián Ruiz. Ancelotti trocou o meia espanhol, Mario Rui e Mertens por Ghoulam, Zielinski e Milik. Considerando o histórico dos times de Klopp, o 1 a 0 parecia pouco e o risco do desgaste chegar e o time acabar cedendo o empate era grande.

Mas era decisão e os jogadores deixaram tudo em campo. Só na reta final entraram Lovren, Fabinho e Keita nas vagas de Alexander-Arnold, Milner e Firmino. Com muita entrega e velocidade absurda nos contragolpes, com a bola sempre passando por Salah na referência, empilhou chances desperdiçadas. Mané perdeu dois gols feitos que poderiam ter definido o jogo e a vaga mais cedo.

Quase pagou nos acréscimos, quando Milik, no abafa, apareceu livre diante de Alisson. O brasileiro, porém, foi perfeito no movimento rápido e ampliando o próprio espaço para que a bola batesse em seu corpo. Defesaça do grande goleiro que fez falta na temporada passada.

No futebol não existe justiça. Mas foram 21 finalizações dos Reds contra apenas oito. Domínio sem controle e eficiência, já que foram só cinco conclusões no alvo. Mesmo errando tecnicamente à frente de Ospina, o Liverpool sobrou em espírito e entendimento do tamanho da partida e do que estava em jogo.

Com a segunda vaga do grupo, as chances de um novo duelo grande nas oitavas são enormes. Se repetir o futebol no volume máximo pisando fundo no acelerador, o atual vice-campeão do torneio deve dar trabalho para quem aparecer do outro lado no sorteio. Melhor para a Champions.

(Estatísticas: UEFA)

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