CBF – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Volta do mata-mata no Brasileiro é tudo que os clubes não precisam agora http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/09/volta-do-mata-mata-no-brasileiro-e-tudo-que-os-clubes-nao-precisam-agora/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/09/volta-do-mata-mata-no-brasileiro-e-tudo-que-os-clubes-nao-precisam-agora/#respond Thu, 09 Apr 2020 11:04:45 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8269 É tão óbvio que nem deveria ser passível de discussão no momento.

Mas no Brasil há os nada democráticos “ditadores da emoção”. Não basta ter Copa do Brasil, Libertadores, Sul-Americana, estaduais e, pela TV, a possibilidade de se deleitar com a Liga dos Campeões da Europa, a maior competição de clubes do planeta. Todos em mata-mata. O Brasileiro também não pode escapar!

Bastou parar o futebol por causa da pandemia e começou a surgir aqui e ali a campanha pela volta do mata-mata. Sim, volta! Porque uma vez alterada a fórmula, mesmo por conta de um grande contratempo, a pressão para mantê-la nos anos seguintes seria enorme. A isca, como sempre, é a tal da emoção. Fundamental, sim, mas já com campeonatos demais para entregá-la.

“Ah, a NBA é a maior competição esportiva do mundo e tem playoffs!” O primeiro ponto óbvio é que não é futebol, mas basquete. O segundo é que simplesmente não há outro torneio para os atletas da modalidade disputarem nos Estados Unidos. É um mundo à parte. Por aqui o que não falta é disputa eliminatória.

Por causa dessa tal emoção várias edições do Brasileiro no passado foram caóticas. Inchadas, com regulamentos confusos, muitos jogos irrelevantes até a tão aguardada fase decisiva. Que permitia lucro ou ao menos fechar o ano sem prejuízos apenas para quatro times. Às vezes nem isso. Os mais populares ainda se salvavam rodando o Brasil em excursões de jogos caça-níquel e mesmo assim aumentaram suas dividas.

Muitos conseguiram sobreviver, mesmo com gestões irresponsáveis, por causa das antecipações de receitas de TV justamente pela segurança da garantia de 38 jogos nas séries A e B. Vejam só, o tal patinho feio segurando as pontas…

Gostem ou não, os pontos corridos fazem a roda girar no negócio futebol. Permitem planejamento com programas de sócios-torcedores e previsão de receita de TV, incluindo o pay-per-view – Globo e Turner pagam quase R$ 2 bilhões pelos direitos de transmissão. É o que mantém a cadeia produtiva garantindo calendário.

E deveria se estender a mais clubes, com outras séries também por pontos corridos, como C e D. Mais uma série E, aí sim regionalizada. Para evitar que os clubes hoje sem divisão, mas que defendem os estaduais porque querem a chance de enfrentar os grandes, agora batam na porta da CBF querendo paridade no tratamento. A CBF tem receita para fomentar o futebol nacional de forma muito mais racional.

Racionalidade. Viu como é importante? Por isso clubes e emissoras são unânimes na defesa dos pontos corridos no Brasileiro e que esta competição deve ser priorizada na volta, nem que seja preciso entrar dezembro com jogos até o Natal ou varar 2021 se adequando ao calendário europeu.

Tudo que os times, já sofrendo com o planejamento do ano furado, não precisam agora é de uma possibilidade de prejuízo com menos jogos transmitidos e a maioria alijada das fases finais. Com emoção, mas sem inteligência e chorando os cofres vazios.

Uma simples questão de lógica.

 

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O campeonato brasileiro do mimimi existe desde sempre http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/30/o-campeonato-brasileiro-do-mimimi-existe-desde-sempre/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/30/o-campeonato-brasileiro-do-mimimi-existe-desde-sempre/#respond Mon, 30 Sep 2019 09:28:12 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7353

Imagem: Reprodução TV Globo

“O futebol brasileiro é uma armação contra o meu time, mas continuo torcendo/treinando/dirigindo/jogando porque quando eu vencer será contra tudo e contra todos”. Eis o resumo do pensamento vigente de praticamente todos os agentes do esporte no país: torcedores, técnicos, dirigentes e atletas.

É assim desde que este blogueiro acompanha futebol. Todos os times lendários foram campeões com acusações de favorecimento. Flamengo de Zico, São Paulo de Telê Santana, Palmeiras da Parmalat, Corinthians de Luxemburgo…O curioso é que muitos ainda na ativa que diziam que essas equipes só ganhavam “roubado”, agora, entregues ao saudosismo, exaltam os esquadrões.

Mesmo os campeões recentes, como o São Paulo tricampeão brasileiro, o Cruzeiro bi, o Corinthians de Tite e o Palmeiras vencedor em 2016 e 2018, ganham asteriscos dos rivais. Beneficiados por CBF, arbitragem, TV Globo…E os torcedores campeões, claro, têm certeza de que venceram superando a “armação” para um rival alinhado com os poderosos. Quer reclamar? “Chola mais”. Em tempos de redes sociais isso se amplifica ainda mais.

Agora o Palmeiras reclama do gol anulado no final do empate por 1 a 1 com o Internacional no Beira-Rio. Lance polêmico porque o texto da nova orientação cria uma espécie de prioridade na marcação: caso o atacante toque com mão ou o braço, mesmo involuntariamente, o lance deve ser invalidado. Na disputa, porém, houve uma carga no Willian Bigode e também toque no braço do zagueiro Klaus.

A arbitragem deu vantagem, Bruno Henrique fez o gol que seria o da virada. Analisando todo o lance com o VAR, o toque de Willian anulou o ataque. Bem discutível. Mas é motivo para sugerir uma grande conspiração a favor do Flamengo, como fizeram Mano Menezes e o presidente Maurício Galiotte?

O mesmo Fla que protestou na semana passada, com Jorge Jesus e o diretor de futebol Marcos Braz, por conta da convocação de Rodrigo Caio e Gabriel Barbosa, além de Reinier para a sub-17, e sugerindo nas entrelinhas favorecimento aos concorrentes que tiveram apenas um ou nenhum chamado, inclusive o Palmeiras. Munição para torcedores colocarem todas as suspeitas possíveis sobre o campeonato.

A grande questão é: se acreditam mesmo em algo encomendado por que ainda participam/ acompanham a competição? Ou a intenção é só reclamar mesmo? Para ser beneficiado mais à frente ou, se tudo der errado, já ter “argumentos” para rebater as provocações do vencedor e encobrir os próprios erros?

A única certeza é que a mesma vontade de protestar não se vê na disposição de resolver os problemas. Profissionalizar a arbitragem? Para quê? Não há interesse, até porque o que seria da maioria dos debates sem os erros dos apitadores, VAR incluso. Imagine passar duas horas falando apenas sobre…futebol!

Discutir o calendário para que as datas FIFA sejam respeitadas? Não, bem mais cômodo chorar e transferir responsabilidades. Sem contar que os estaduais salvam o ano de muitos times que se dizem grandes, mas não têm a mínima capacidade de disputar os grandes títulos. Por incompetência administrativa e, muitas vezes, corrupção mesmo. No entanto é mais fácil culpar a receita de TV ou o patrocínio “suspeito” dos clubes dominantes.

Todos querem a bengala, o colo quentinho e macio para abrir o berreiro. É o campeonato brasileiro do mimimi que sempre existiu. Talvez reclamassem lá no passado do domínio do Vasco “Expresso da Vitória”, do Santos de Pelé, do Botafogo de Garrincha, do Palmeiras da Academia, do Cruzeiro de Tostão, do Internacional de Falcão…O esporte preferido por aqui é o chororô. Quem será a vítima na próxima rodada?

 

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Sem discutir calendário não há como questionar convocações http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/21/sem-discutir-calendario-nao-ha-como-questionar-convocacoes/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/21/sem-discutir-calendario-nao-ha-como-questionar-convocacoes/#respond Sat, 21 Sep 2019 05:01:47 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7299

Foto: divulgação / CBF

As datas FIFA incomodam os grandes clubes da Europa. Como são verdadeiras seleções mundiais, os jogadores partem para servir suas seleções e os treinadores perdem quase dez dias de trabalho. Guardiola, Klopp, Simeone, Conte…todos já reclamaram em algum momento da desmobilização deste período e os dirigentes fazem eco. Não por acaso a Liga das Nações foi criada pela UEFA para minimizar as queixas.

Agora imagine dizer para qualquer um deles que no Brasil o calendário sequer oferece a pausa nas competições para os jogos de seleções. Ou seja, o mínimo. Depois querem que os melhores do mundo venham para cá comprovar a competência…

Não há como debater seriamente quase nenhuma questão do futebol brasileiro sem discutir o calendário. Inchado pelos estaduais para manter uma estrutura federativa arcaica e que pouco contribui para o esporte que deveria ser gerenciado pelos clubes. Mas Copa União e Primeira Liga estão na história para mostrar que é difícil, quase impossível haver parcerias, mesmo em torno de interesses comuns.

Por isso a CBF decide com a Rede Globo o calendário e os clubes obedecem. E se aceitam fica difícil reclamar de qualquer coisa. Mesmo a opção de Tite de convocar dois jogadores do Flamengo (Rodrigo Caio e Gabriel Barbosa) e dois do Grêmio (Matheus Henrique e Everton) para a data FIFA de outubro, em meio a jogos decisivos do Brasileiro. E apenas um dos outros, incluindo o Palmeiras, atual campeão e vice-líder, com o goleiro Weverton. Para enfrentar Senegal e Nigéria em Cingapura. Sem contar as convocações pré-olimpica e sub-17.

É justo o protesto contra o desequilíbrio, ainda mais considerando que o atual líder terá também De Arrascaeta no Uruguai, Berrío na Colômbia e Reinier na sub-17. Cinco perdas.  O clube carioca ficou de se pronunciar depois do jogo contra o Cruzeiro no Mineirão e talvez alguma decisão seja tomada para minimizar os danos. O time gaúcho, priorizando totalmente a Libertadores, pode se aproveitar na carona. Outros também.

Mas só reclamar é o suficiente? Se há um clube capaz de desafiar essa estrutura carcomida é o Fla. Maior torcida do Brasil, saúde financeira, enorme exposição midiática – incluindo engajamento em redes sociais –  e domínio estadual suficiente para encarar a FFERJ. Como organizar um Carioca sem o “trem pagador”, ainda mais considerando os problemas financeiros dos rivais locais Vasco, Fluminense e Botafogo? Há margem para sozinho exigir redução do número de jogos e respeito às datas FIFA, levando às últimas consequências e pagando para ver com coragem. Mas há interesse?

A receita de TV do Carioca é boa e agora, depois de um período como oposição da CBF na gestão Bandeira de Mello, houve uma tentativa de reaproximação com o convite para Rodolfo Landim chefiar a delegação brasileira na Copa América. Agora muitos torcedores rubro-negros criam teorias de conspiração sobre um suposto favorecimento aos clubes que apoiaram Rogério Caboclo na eleição – só Flamengo, Corinthians e Athletico não votaram no atual presidente da entidade máxima do futebol nacional. O time paranaense teve o goleiro Santos convocado e o Corinthians nenhum.

É óbvio que Tite poderia ter feito diferente e chamado um de cada clube brasileiro. Ou nenhum, se limitando a convocar jogadores atuando na Europa. Mas coerência tem passado longe do técnico da seleção há algum tempo. Ou desde que aceitou o convite de Marco Polo Del Nero, em 2016.

Por outro lado, ele foi contratado para cuidar do seu trabalho de convocar, treinar e jogar, não minimizar os danos do calendário. Até porque a prioridade da CBF sempre foi a seleção. E quando Tite diz que a Copa do Brasil tem preponderância sobre o Brasileiro pode soar absurdo, mas é uma sinalização dos próprios clubes, que mandam a campo equipes só com reservas na competição por pontos corridos.

Inclusive o Flamengo, nos tempos de Abel Braga. Justamente por considerar os pontos recuperáveis. Os mesmos que estão sendo tão valorizados agora por conta da convocação. Como levar tão a sério? Um olhar ainda mais cético pode até desconfiar que a intenção da gritaria é apenas criar um álibi ou muleta em caso de insucesso no final.

Definitivamente é uma história sem mocinhos, herois ou vítimas. Tipicamente brasileira. Alguém ousaria perguntar a Guardiola se ele encararia?

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Tite é um porto seguro demais para Neymar http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/08/16/tite-e-um-porto-seguro-demais-para-neymar/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/08/16/tite-e-um-porto-seguro-demais-para-neymar/#respond Fri, 16 Aug 2019 18:02:31 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7051

Foto: Lucas Figueiredo/ CBF

A convocação da seleção brasileira para os amistosos contra  Colômbia e Peru em setembro é a mais tranquila de Tite desde que assumiu o comando técnico. Em 2016 a missão era recolocar na zona de classificação nas eliminatórias, depois garantir vaga na Copa do Mundo na Rússia. No ano seguinte se fazer competitivo contra as principais seleções da Europa e em 2018 a preparação final para o Mundial.

Com a eliminação para a Bélgica era necessário reiniciar o ciclo com bons resultados, mesmo se o desempenho fosse oscilante. A velha aura brasileira do “campeão mundial de amistosos”. Em 2019, a “obrigação” de vencer a Copa América. Com a meta cumprida é possível ousar e experimentar.

Sempre haverá questionamentos. Deste que escreve, por exemplo, a ausência de Renan Lodi na lateral esquerda. Mas é compreensível e até saudável que ele siga se adaptando ao futebol espanhol e à equipe de Diego Simeone. Melhor ser testado primeiro na seleção olímpica comandada por André Jardine.

A oportunidade dada a Jorge, do Santos, é válida e o reconhecimento ao bom trabalho no líder do Brasileiro. A grande questão de convocar jogadores atuando no país é que o calendário inchado da CBF não tem pausas nas datas FIFA e acaba prejudicando os clubes. Como sempre haverá reclamações, mesmo deixando de fora jogadores envolvidos nas semifinais da Copa do Brasil.

A grande incógnita continua sendo Neymar. Mesmo sem jogar pelo PSG e com destino indefinido em mais um capitulo de sua carreira mal conduzida, se pensarmos no potencial de extra-classe, top 3 do futebol mundial.

Tite disse que ele está feliz. E, de fato, parece. Difícil compreender o que passa pela cabeça do jogador. Treina em separado no clube em que não quer mais atuar, mas está sempre sorrindo e brincando com companheiros, especialmente Mbappé. Ainda tentou sair na foto da conquista da Supercopa da França, mesmo sem jogar, e foi empurrado para longe pela joia da seleção campeã do mundo.  Zero preocupação com o futuro. Nenhum constrangimento por estar muito perto da terceira troca de clube turbulenta na carreira. Parece alienação.

E ainda assim convocado para a seleção brasileira. Aconteça o que acontecer, pelo visto. O máximo que aconteceu foi perder a faixa de capitão que nunca demonstrou fazer muita questão. Pode agredir torcedor, desprezar o clube que pagou uma fortuna na maior transação da história do esporte e aparecer mais como celebridade do que pelos feitos em campo que seu status é intocável. “Não vou prescindir nunca de um atleta como ele”, diz o técnico a serviço da CBF.

Difícil prever a resposta de Neymar a tamanha lealdade do treinador. Fidelidade e “dar a vida por ele”, como já disse em uma entrevista ou a acomodação da certeza da impunidade? Tite perdeu uma boa oportunidade de suscitar uma reflexão mais que necessária sobre o que o atacante talentoso quer da vida. Preferiu ser o porto seguro mais uma vez. Só que às vezes segurança demais atrapalha.

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Mano Menezes está seguindo a “cartilha “Darth Vader” de José Mourinho? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/05/20/mano-menezes-esta-seguindo-a-cartilha-darth-vader-de-jose-mourinho/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/05/20/mano-menezes-esta-seguindo-a-cartilha-darth-vader-de-jose-mourinho/#respond Mon, 20 May 2019 10:17:51 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6559

Foto: Vinícius Silva/Cruzeiro

Em 180 minutos entre Fluminense e Cruzeiro no Maracanã, disputas por Copa do Brasil e Brasileiro, foram 40 finalizações do Flu contra quatro do time mineiro, que teve uma média de apenas 40% de posse de bola nas duas partidas, segundo números do Footstats. Cinco gols do tricolor, apenas dois da equipe celeste. Apesar dos três anos de trabalho de Mano Menezes contra os cinco meses de Fernando Diniz. Sem contar o abismo de estrutura e capacidade de investimento entre os clubes.

Depois de bons resultados e algumas atuações animadoras na conquista do título mineiro e na boa campanha da fase de grupos na Libertadores, a dura realidade chegou no Brasileiro: em três jogos grandes, contra Flamengo, Internacional e o próprio Flu, derrotas com dez gols sofridos e apenas três anotados. O mais incômodo, porém, é a firme convicção de que a proposta de jogo extremamente cautelosa e reativa é a única possível, apesar do discurso do treinador no início do ano admitindo a necessidade de ter mais a bola e agora reconhecendo que o time segue devendo.

Mas tendo a Copa do Brasil como álibi e trunfo. Pelo bicampeonato e a chance de decidir em casa a vaga nas quartas e continuar na busca do tricampeonato. Mais a fé em melhor campanha na Libertadores. O Cruzeiro é mais um que prioriza o mata-mata relegando os pontos corridos à terceira opção na temporada. Ou quarta, abaixo até do estadual de forte rivalidade com o Atlético.

Quem tem boa memória e vê Mano Menezes tão convicto na aposta de um modelo de jogo tão pouco propositivo não reconhece o técnico que sempre prezou a solidez defensiva e é um dos “arquitetos” da identidade corintiana nos últimos anos, mas armou equipes ofensivas. Como o Grêmio vice-campeão da Libertadores em 2007, o próprio Corinthians de Ronaldo Fenômeno campeão paulista invicto e da Copa do Brasil em 2009 e até a seleção brasileira, especialmente na reta final do trabalho em 2012, com o quarteto ofensivo formado por Hulk, Oscar, Kaká e Neymar como atacante móvel.

Mano prezava a posse de bola. Em entrevista ao nosso Mauro Beting que foi incluída no livro sobre o Flamengo de 1981 em parceria com este blogueiro lançado em 2011 pela editora Maquinária, o treinador reverenciava a técnica e a versatilidade do time multicampeão liderado por Zico. Especialmente a capacidade de ocupar o campo de ataque e trabalhar com toques curtos.

O que mudou na cabeça deste profissional? Difícil construir uma tese irrefutável, mas há alguns indícios. Como a demissão traumática da CBF no momento em que começava a encontrar uma seleção que enfim aliasse desempenho e resultados. Acabou trocado por Luiz Felipe Scolari, com filosofia bem diferente da que vinha aplicando, embora ambos venham da escola gaúcha – Mano mais Enio Andrade, Felipão mais Carlos Froner.

Uma passagem controversa pelo Flamengo, com saída intempestiva e até hoje não tão bem explicada e a volta ao Corinthians em 2014. Ali já foi possível notar uma mudança nas ideias. Linhas compactas, transições rápidas, Paolo Guerrero retendo a bola na frente esperando os companheiros e tendo o jovem Malcom como o outro desafogo, mas na velocidade.

No Cruzeiro, a primeira Copa do Brasil em 2017 com vitória nos pênaltis sobre o Flamengo depois de 180 minutos de posse de bola do rival e pragmatismo absoluto até na disputa decisiva no Mineirão. Com a conquista, o paradigma foi quebrado de vez, contrariando até a escola do time mineiro, de Tostão, Dirceu Lopes, Alex…Proposta ratificada com o segundo título do mata-mata nacional.

Além da mudança na visão de futebol, uma alteração também no comportamento. À beira do campo e nas entrevistas. Reclamações exageradas com arbitragem, muito desvio de foco nas derrotas, ironias e mensagens “subliminares” para adversários e desafetos.

Impossível não lembrar de José Mourinho. Ambos com os mesmos 56 anos – Mano é apenas seis meses mais velho. O português que também sempre teve a organização defensiva como base de seu trabalho, mas que não abria mão de atacar. No Porto que venceu a Champions em 2004, no Chelsea bicampeão da Premier League em 2005 e 2006 e na Internazionale que dominou a Série A italiana de 2009 e 2010.

O provável “turning point” foi o duelo com o Barcelona de Pep Guardiola no Camp Nou pela semifinal da Liga dos Campeões 2009/10. Depois da coragem de atacar o time de Messi, Xavi e Iniesta em Milão na vitória por 3 a 1, a retranca “handebol” por necessidade após a expulsão de Thiago Motta, chegando a alinhar sete jogadores na defesa para proteger a meta de Júlio César. Mesmo derrotado por 1 a 0, a classificação para a final marcou o sucesso daquela estratégia que virou tendência. A ponto do próprio Mourinho definir aquela semifinal como a mais bela disputa dos últimos 50 anos no futebol. Certamente uma das mais simbólicas e influentes do esporte.

Triunfo que acabou rendendo ao português um contrato com o poderoso Real Madrid. Na Espanha, mais disputas com Guardiola. Polêmicas, tensas, com “jogos mentais” que atraíram os olhos do mundo e também desgastaram os dois treinadores, então os melhores do planeta. A ponto do catalão deixar o Barça para um “ano sabático” e Mourinho esgotar mentalmente seus comandados e ruir a gestão de grupo em 2012/13.

Embate que norteou a postura do português nas temporadas seguintes. Abraçando o personagem sarcástico fora de campo e o técnico que “estaciona o ônibus” e virou símbolo de retranca. Afirmando a imagem de anti-Guardiola, como dois lados da mesma moeda. Assim reafirmando a rivalidade, que em um primeiro momento foi resgatada com ambos dirigindo os rivais de Manchester, mas depois acabou diluída, principalmente pela ascensão de Jurgen Klopp e a queda de Mourinho, demitido pelo United.

Mano Menezes parece seguir a mesma “cartilha Darth Vader”. Do personagem “maldito” como o da saga “Guerra nas Estrelas”. Talvez com Tite como o “Guardiola” do técnico do Cruzeiro, mas em outro contexto. Sucessor no Corinthians depois de uma passagem infeliz de Adilson Batista, comandou o time na sonhada conquista da Libertadores em 2012. Mano também carrega uma mágoa por não ter seguido no clube em 2015 e Tite, de novo herdando a vaga, conquistar outro Brasileiro, pavimentando o caminho para a seleção brasileira – mais uma frustração do treinador cruzeirense.

É possível que não seja acaso que quando Tite se reciclou e passou a buscar protagonismo pela posse de bola e um estilo mais criativo, Mano Menezes tenha procurado a direção oposta. Um “outsider” como José Mourinho. Nada contra, é legítimo e pode entregar bom futebol e conquistas. Os excessos, porém, custaram caro ao português, que ficou longe de repetir as conquistas do auge da carreira.

O brasileiro, sem currículo tão robusto, pode corrigir a rota para não se tornar caricato. Os rótulos de “retranqueiro” e “polêmico” não costumam ser confortáveis, nem fáceis de ser desconstruídos. Ainda é tempo de mudar.

 

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Tite deve cair na cilada de preferir Neymar e deixar de lado a coerência http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/05/16/tite-deve-cair-na-cilada-de-preferir-neymar-e-deixar-de-lado-a-coerencia/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/05/16/tite-deve-cair-na-cilada-de-preferir-neymar-e-deixar-de-lado-a-coerencia/#respond Thu, 16 May 2019 18:21:47 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6536

Foto: Divulgação/CBF

No final de março de 2018, logo depois da seleção brasileira vencer a Alemanha por 1 a 0 em Berlim, com gol de Gabriel Jesus, Tite chegou ao auge de sua popularidade. Considerado exemplo de ética, responsabilidade e coerência, virou garoto-propaganda às vésperas da Copa do Mundo na Rússia vendendo produtos, mas também uma espécie de ideal de retidão de caráter através de frases simples, mas de efeito imediato em um país sem grandes referências.

O treinador da seleção brasileira virou exemplo de coerência, ainda que sempre pese sobre ele a decisão de trabalhar para a CBF mesmo depois de um posicionamento público contra a entidade e seu mandatário à época. E ainda aceitar um beijo de Marco Polo Del Nero na primeira coletiva em 2016.

Mas tudo no futebol brasileiro é esquecido com resultados. E volta à tona com força triplicada contra quando as vitórias desaparecem. Ou são negadas mesmo em um jogo igual, como na eliminação para a Bélgica nas quartas de final do Mundial. Tite virou alvo, mesmo dentro de um consenso que o mantinha no cargo e com o status de melhor treinador brasileiro.

É óbvio que a relação com Neymar – administrada na ponta dos dedos com o máximo de cuidado para fazer concessões públicas e cobranças internas, como a mudança de comportamento nos últimos jogos da Copa para evitar o segundo cartão amarelo – também seria alvo de cobranças e questionamentos. Justos pelos exageros e encenações durante os jogos. Dentro de uma estratégia pouco inteligente de tentar cavar faltas e cartões para os adversários, mas “pendurando” o próprio craque perante a arbitragem e o mundo.

Só que Tite precisa de Neymar. Agora ainda mais, com Philippe Coutinho em baixa e uma seleção que não consegue combinar características dos jogadores. Arthur, o meio-campista que poderia dar a liga à ideia de Tite de protagonizar os jogos com posse de bola, também oscila no Barcelona. Não há laterais afirmados para abrir o campo e chegar ao fundo em velocidade como requer a proposta de jogo. É bem provável que Daniel Alves volte a ser solução pela direita aos 36 anos.

Neymar agrediu um torcedor no caminho para receber na tribuna do Stade de France a medalha de vice-campeão da Copa da França. Um ato intempestivo e, de novo, pouco inteligente de quem parece ser mal assessorado e não entender a sua posição de atleta-celebridade, nem o déficit de imagem ainda da Copa do Mundo. “Não tenho sangue de barata”, afirmou. Nem bom senso para compreender que precisa desconstruir a pecha de mimado e infantil.

Douglas Costa ganhou uma “geladeira” de Tite por ter cuspido em um adversário na Itália. Agora é mais grave porque trata-se do capitão da seleção. Braçadeira que Neymar ganhou não por mérito, mas para “assumir responsabilidades”, segundo Tite. Pelo visto, o atleta nem sabe do que se trata.

E agora, o que Tite vai fazer? Não convocar o craque parece fora de questão, até porque ele precisa do título ou de uma ótima campanha na Copa América em casa para se tranquilizar no cargo até 2022. A solução mais óbvia e que deve se confirmar amanhã na convocação será tirar a faixa de capitão com explicações repletas de eufemismos para suavizar o impacto e não melindrar a “prima donna” do futebol brasileiro. Ou não.

Tite vai escorregar na coerência novamente. Uma cilada criada por ele mesmo. Porque é humano, imperfeito. Com idiossincrasias, indecisões. Não há como controlar tudo. Muito menos Neymar. Mas, sem querer ou não, ele vendeu essa ilusão que agora cobra alto. E se tudo der errado não é a estrela da seleção quem vai pagar com o emprego.

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Sampaoli e Diniz estão em prateleiras distantes, mas são nossos “respiros” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/05/03/sampaoli-e-diniz-estao-em-prateleiras-distantes-mas-sao-nossos-respiros/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/05/03/sampaoli-e-diniz-estao-em-prateleiras-distantes-mas-sao-nossos-respiros/#respond Fri, 03 May 2019 09:26:56 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6444

Imagem: Reprodução CBF

Se o Santos hoje conta com o trabalho de Jorge Sampaoli deve muito à AFA, que conseguiu seduzir o então treinador do Sevilla pelo típico orgulho latino de “servir à pátria”, e aos clubes brasileiros mais abastados que, por conta do fracasso da Argentina na Copa do Mundo de 2018, descartaram a grande oportunidade de ter um profissional de altíssimo nível em um momento de retomada da carreira.

Porque Sampaoli é técnico de segunda prateleira no futebol mundial. Abaixo de Guardiola, Mourinho (ainda), Klopp e outros poucos, mas dentro do grupo dos que interferem diretamente na evolução do esporte e são capazes de montar equipes competitivas em clubes dentro de qualquer liga. Como mostrou na Espanha, rapidamente colocando  sua equipe abaixo de Barcelona e Real Madrid, mas já duelando em pontos com as demais, inclusive o Atlético de Madrid de Diego Simeone.

A resposta rápida que conseguiu em desempenho com o Santos não é acaso. Mesmo com tropeço na Sul-Americana e as goleadas sofridas no Paulista fica nítido que ele consegue extrair muito dos seus comandados em termos coletivos e fazê-los evoluir individualmente. Quem no início do ano imaginaria que Jean Mota se tornaria o craque e o artilheiro do Paulistão? Ou que, mesmo ficando fora da final, o time santista formaria com o campeão Corinthians a base da seleção do estadual?

No Brasileiro já é uma das equipes com 100% de aproveitamento. Vencendo por 2 a 1 o Grêmio de Renato Gaúcho, com titulares, em Porto Alegre e o Fluminense de Fernando Diniz na Vila Belmiro. Protagonizando duas das melhores partidas da temporada até aqui. Adaptando-se ao que os jogos pediam e, assim como contra o Red Bull Brasil no Paulista, sabendo se impor mesmo sem controlar a posse de bola.

Mas nunca abdicando do ataque. Intensidade na pressão sobre a saída de bola do Flu e aceleração nas transições ofensivas. Atacando os espaços com Rodrygo e Soteldo abertos, Eduardo Sasha por dentro, Sanchez, Jean Mota, Jorge e Diego Pituca chegando. Sete trabalhando ofensivamente com suporte dos zagueiros Lucas Veríssimo, Felipe Aguilar e Gustavo Henrique. Três para marcar Luciano e Yony González.

Para mudar na segunda etapa com a entrada de Victor Ferraz no lugar de Aguilar e retomar a linha de quatro. Matando o jogo com os gols de Sasha e Sánchez. Finalizando 21 vezes, 13 no alvo. Sofrendo no final o de Pedro, a boa nova do Fluminense que fez o que pôde na Vila. Terminou com 51% de posse, chegou a ter mais de 60%. Ocupou o campo adversário, abriu o jogo com Gilberto e Everaldo, se lançou à frente em busca da reação. Mas fecha a segunda rodada sem pontuar.

A distância na tabela do Brasileiro é menor do que entre as prateleiras de Sampaoli e Diniz. Um já carrega prestígio internacional e currículo robusto, incluindo título da Copa América pelo Chile. O outro ainda tenta moldar um estilo, no campo e no vestiário. Sofre com nossa sanha resultadista e imediatista, arrisca muito e, por enquanto, erra na mesma proporção em disputas no nível mais alto.

Deixou a semente no Athletico bem aproveitada por Tiago Nunes, que fez o time evoluir. No Flu esbarra em problemas estruturais do clube. Também na horrenda arbitragem de Dewson Freitas que interferiu diretamente no revés contra o Goiás no Maracanã. Mas conseguiu duelar com o milionário Flamengo no Carioca. Eliminado na semifinal sem derrota. Ainda assim, o cenário para o Flu na temporada desperta alguma preocupação.

Por que então Diniz é valorizado? Justamente por tentar fazer diferente. Talvez ainda falte encontrar a melhor tradução do que pensa em métodos de treinamento e o tom mais sereno no trato com os atletas. Mas se preocupa com o lado humano, com a valorização da técnica, do prazer de estar em campo. Tem algo a acrescentar. Por isso estava com Tite e Sampaoli recentemente em evento badalado organizado pela CBF. Havia o que dizer, mesmo sem ter vencido como seus companheiros de debate.

Alguns dirão que nos contentamos com pouco. Sim, quem gosta da essência do esporte no país do jogo pragmático se lambuza mesmo com migalhas. Ou com o banquete de Sampaoli. São nossos “respiros”, assim como Renato Gaúcho, Tiago Nunes, agora a tentativa do Botafogo com Eduardo Barroca e outras poucas iniciativas. Para suportar mais da mesma mediocridade no futebol brasileiro.

Já está mais do que provado na prática que apenas o resultado não basta. A gente não quer só comida.

(Estatísticas: Footstats)

 

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Flamengo veta limite de troca de técnicos. Devia ser o primeiro a aprovar http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/23/flamengo-veta-limite-de-troca-de-tecnicos-devia-ser-o-primeiro-a-aprovar/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/23/flamengo-veta-limite-de-troca-de-tecnicos-devia-ser-o-primeiro-a-aprovar/#respond Sat, 23 Feb 2019 15:17:39 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5999

1995. Ano do centenário do Clube de Regatas do Flamengo. O empresário e radialista Kléber Leite assume como presidente com planos ambiciosos. Contrata Romário e também o técnico bicampeão brasileiro pelo Palmeiras, Vanderlei Luxemburgo.

O novo mandatário arrotava projetos a longo prazo, mas bastou perder o Carioca para o Fluminense e o então melhor jogador do mundo bater de frente com o treinador para este ser demitido. O lado mais fraco, no caso. Na impossibilidade de contratar o campeão estadual Joel Santana, amigo de Romário, o clube trouxe Edinho, hoje comentarista e treinador sem um grande trabalho na carreira. E terminar um ano histórico com o radialista Washington Rodrigues, o “Apolinho”, improvisado no comando técnico. Sem conquistas.

Voltemos para 2019 e a reunião em que a CBF propunha aos clubes da Série A mudanças para a disputa do Campeonato Brasileiro. Entre elas o limite na troca de treinadores. Pois foi justamente o Flamengo que liderou o veto e foi seguido pelos demais, exceto o Atlético Mineiro.

Nos últimos 30 anos, o Flamengo teve 66 trocas de treinadores, sem contar os interinos. Média superior a dois por ano. Em 2005, o clube chegou ao recorde de ter cinco em 365 dias: Júlio César Leal, Cuca, Celso Roth, Andrade – entre indas e vindas como interino e depois efetivado – para se salvar do rebaixamento com Joel Santana.

Em três décadas o Flamengo venceu dois Brasileiros, três Copas do Brasil, uma Copa Mercosul e a Copa dos Campeões em 2001. Os 12 títulos estaduais engrossam a lista de conquistas, mas justamente no período em que eles perderam a relevância de outrora. Pouco para o time mais popular do país.

Entre os torcedores há uma crença de que o Fla só dá certo com “bombeiros”, interinos efetivados em meio às crises. Carlinhos, Andrade e Jayme de Almeida são os personagens citados na defesa desta “tese” que não conta quantas vezes eles assumiram e não foram tão bem sucedidos – total de 16 tentativas do trio, como temporários ou não. Ou não conseguiram dar sequência aos trabalhos com qualidade e foram demitidos em seguida.

Ainda assim, o trabalho mais longo foi o de Carlinhos, de 1991 a 1993. Graças às conquistas do Carioca no primeiro ano e do Brasileiro no segundo. Mantendo uma linha de trabalho iniciada por Vanderlei Luxemburgo e preservando boa parte do elenco que tinha Júnior como grande líder e a melhor geração formada no clube depois da Era Zico – Marcelinho, Djalminha, Paulo Nunes, Marquinhos, Nélio, entre outros. Uma continuidade meio ao acaso que gerou frutos.

Deveria servir de lição, mas o clube quer ser livre para seguir demitindo e contratando a esmo, ou efetivando interinos em busca da “mágica” de outros tempos. Abel Braga já é questionado pela primeira derrota em 2019, para o Fluminense. Na semifinal da Taça Guanabara, primeiro turno do estadual que devia ser tratado como sequência da pré-temporada. Independentemente da qualidade do trabalho do treinador, não é um pouco demais?

No Flamengo, todo excesso parece um copo meio vazio.

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Quando vamos aceitar de vez que o futebol mudou e nos tirou do topo? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/05/quando-vamos-aceitar-de-vez-que-o-futebol-mudou-e-nos-tirou-do-topo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/05/quando-vamos-aceitar-de-vez-que-o-futebol-mudou-e-nos-tirou-do-topo/#respond Tue, 05 Feb 2019 11:02:46 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5850

Seleção brasileira sub-20 perde para o Uruguai por 3 a 2, não tem mais chances de título do Sul-Americano e, com apenas um ponto em três rodadas do hexagonal, complica até a vaga para o Mundial da categoria. Campanha lamentável até aqui que provoca as “reflexões” de sempre sobre o futebol cinco vezes campeão do mundo. Incluindo um “editorial” de Galvão Bueno no programa “Bem, Amigos!” do SporTV.

“Geração mimada”, “chuteiras coloridas, cabelos  exóticos”, “jogadores de empresários”, “falta ginga”, “CBF corrupta e incompetente” são algumas das explicações para os insucessos. Talvez com alguma razão em todos os pontos, mas sem focar na questão central: o futebol mudou e nos tirou do topo.

Galvão citou como último grande momento da seleção brasileira a conquista da Copa das Confederações em 2005. Sim, o torneio da ilusão que inebriou o país naquele ano e também nas duas edições seguintes, em 2009 e 2013.

Pois nas vitórias sobre Alemanha e Argentina há quase 14 anos, um dos destaques foi Robinho. Um ano antes chamado de mimado, marrento e irresponsável ao baixar o calção do amigo Diego Ribas e se transformar no culpado pela eliminação no Pré-Olímpico, tirando a chance de uma geração promissora disputar os Jogos de Atenas.

É evidente que tem faltado um trabalho nas divisões de base com respaldo e apoio da gestão da CBF. Edu Gaspar virou coordenador por ser o homem de confiança de Tite, em uma bizarra inversão de valores. A base caiu no seu colo e as decisões foram tomadas sem grande conhecimento. Agora chega Branco com a típica “boleiragem” que ataca o periférico, com churrascos e críticas veladas à qualidade da geração, e mais uma vez esquece do principal: o campo.

A última vez que o Brasil contou com um trabalho de real integração entre seleção principal e a base foi com Mano Menezes e Ney Franco. Interação, estudo e antenas ligadas ao que estava acontecendo no futebol pelo planeta. Não por acaso foram as últimas conquistas do torneio continental e também do Mundial no Sub-20, em 2011.

O jogo mudou e nos empurrou para fora do protagonismo. Nos títulos coletivos e, consequentemente, nos individuais. Guardiola, Mourinho, Klopp, Ancelotti, Simeone e outros tiraram os trunfos dos nossos craques no cenário mundial: tempo, espaço e marcação individual.

Com linhas compactas, pressão sobre o homem da bola e o bloqueio por zona o jogador precisa pensar e agir rápido, tomar as decisões certas. Nossa cultura ainda é de jogo intuitivo e condução da bola. O “pra cima deles!” de Galvão ainda é o nosso mote. Mas como, se no domínio já tem alguém pressionando e na hora de partir para o drible e “gingar” há um muro de oito ou nove jogadores em, no máximo, 30 metros?

O Brasil conta com ótima geração de dribladores: Neymar, Douglas Costa, Vinicius Júnior, David Neres, Willian…Só que a questão agora é saber a hora de tentar a vitória pessoal, com um trabalho coletivo para potencializar o talento. Os treinadores nos clubes europeus conseguem, já os daqui…

Impossível dizer se Romário, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho e Kaká, os brasileiros que ganharam os prêmios de melhor do mundo, conseguiriam se impor hoje. Mas é fato que Messi e Cristiano Ronaldo se adaptaram melhor ao contexto e sobraram por dez anos. Neymar tentou furar a bolha e se aproximar, mas sem sucesso. Luka Modric, que ganhou tudo em 2018, é o típico meio-campista que deixamos de formar. Arthur é a exceção à regra. Brotou meio ao acaso e deve gratidão eterna a Renato Gaúcho no Grêmio.

Tite conseguiu alguns espasmos de reação, com o título mundial do Corinthians em 2012 e tornando o Brasil competitivo, sobrando nas eliminatórias e equilibrando a disputa com as principais seleções do planeta. Mas ainda não é suficiente para recuperar protagonismo.

Já passou da hora de sermos humildes e aceitarmos que se o futebol brasileiro não tem vencido é porque outros estão trabalhando melhor. Não é saudável nem inteligente se agarrar a teses simplistas ou ao saudosismo. Porque aí seremos nós os mimados, não os jovens com potencial que viram alvos das críticas a cada revés.

A bola não é mais nossa e a saída é trabalhar, não choramingar sem tirar os olhos do próprio umbigo.

 

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Palmeiras B campeão será a “experiência de quase-morte” do Brasileirão http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/10/01/palmeiras-b-campeao-sera-a-experiencia-de-quase-morte-do-brasileirao/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/10/01/palmeiras-b-campeao-sera-a-experiencia-de-quase-morte-do-brasileirao/#respond Mon, 01 Oct 2018 11:17:04 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5289 Você consegue imaginar um Real Madrid valorizando mais a Copa do Rei do que La Liga ou o Bayern de Munique lamentando mais a eliminação da Copa da Alemanha do que ficar para trás na disputa pela salva de prata da Bundesliga?

Improvável, não? No Brasil, porém, funciona diferente. Além da Libertadores, a Copa do Brasil é tratada como prioridade pelos grandes clubes. Não só pelo alto valor da premiação, mas por uma simples questão de cultura. Se contarmos desde 1959, foram 43 anos de disputa do Brasileiro no mata-mata. Apenas 16 nos pontos corridos. De 1989 a 2002, as duas principais competições nacionais eram definidas em jogos eliminatórios e parecia ok pra todo mundo.

Os pontos corridos, mesmo com os lamentos de muita gente, chegaram a pegar por aqui. Assim como a visão de que a regularidade, valorizando todos os jogos, normalmente era a grande virtude do campeão.

Tudo mudou com Libertadores e Copa do Brasil passando a ser disputadas durante toda a temporada, como acontece na Europa. A possibilidade de ser campeão disputando menos partidas se transformou numa sedução quase irresistível. Os clubes com maior capacidade de investimento e elencos mais robustos agora disputam o Brasileiro utilizando várias vezes seus times reservas.

O que deveria ser a principal competição nacional virou, na prática, prêmio de consolação. Só passa a ser prioridade quando não há mais nada em disputa. Dependendo do clube, até a disputa da Sul-Americana pode ser colocada na frente. Também por conta do aumento de vagas para a Libertadores. Um G-6 que pode virar até G-9. Quase metade dos participantes…

Tudo isso cria um cenário de desvalorização que pode ganhar um capítulo dramático se o atual líder Palmeiras confirmar o título nas últimas onze rodadas. Desde a chegada de Luiz Felipe Scolari disputando a maioria das partidas com reservas. O experiente treinador usa a retórica para não admitir que é um time B e valorizar todos os jogadores. Mais que legítimo.

E vem dando certo. Usando três ou quatro titulares, normalmente no meio-campo e ataque, está invicto há onze rodadas: oito vitórias e três empates. Incríveis 82% de aproveitamento. Com Gustavo Gómez, Marcos Rocha, Lucas Lima, Hyoran e Deyverson se destacando, além de Felipe Melo e Dudu, tantas vezes pinçados do time A.

Todos os méritos para Felipão, comissão técnica e atletas. Mas um claro sintoma do achatamento técnico da competição. Não só pelo momento do futebol brasileiro já analisado tantas vezes neste blog, com equipes cada vez mais organizadas para defender e sem ideias quando precisam criar espaços diante de times compactos. E ainda tensas com a responsabilidade do favoritismo.

Incrível como o São Paulo caiu de rendimento depois que passou a ser de fato candidato ao título que não conquista há dez anos. Mesmo com desfalques importantes, a queda dos comandados de Diego Aguirre foi brusca. É possível notar em campo uma equipe travada pelos próprios nervos. Precisa vencer e não sabe bem como. A torcida fica ainda mais pilhada ao ver os grandes rivais da cidade em um momento tão bom em termos de resultados – Corinthians e Palmeiras são os últimos campeões brasileiros e seguem fortes no mata-mata.

O mesmo com o Internacional vindo da Série B e que de repente se viu disputando o topo da tabela. Outro time que precisa dar respostas diante da força do grande rival, o Grêmio campeão sul-americano e praticamente garantido nas semifinais do torneio continental em 2018. Mais uma equipe que sem brechas para infiltrar entra em parafuso e sofre mais do que devia, mesmo em jogos relativamente tranquilos contra times tentando se afastar do Z-4.

Por enquanto o Palmeiras está leve. Disputa as partidas sem maiores cobranças. Não só pelo crédito histórico de seu treinador, mas principalmente por também estar com a classificação bem encaminhada para as semifinais do principal torneio sul-americano. Buscando o bi com Felipão. A eliminação na Copa do Brasil teve seu impacto em um clube ávido por taças, mas sem gerar crise.

Esta tranquilidade somada ao desempenho com notável regularidade pode, sim, acabar em título. Ainda que a tabela reserve o clássico contra o São Paulo no Morumbi já na próxima rodada e depois duelos fora de casa contra Flamengo e Atlético Mineiro.

Se acontecer será uma espécie de “experiência de quase-morte” do Brasileirão. Um duro atestado de desvalorização. A dança com a prima no final da festa. Algo para CBF, clubes e até a TV Globo repensarem. Ainda que a audiência siga com bons números e até a média de público esteja mais alta, turbinada pelos programas de sócio-torcedor que estimulam a fidelidade. Mas fica cada vez mais cristalino que o foco é mata-mata.

As quartas estão mais nobres que os fins de semana. Sinal dos tempos.

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