dorivaljunior – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Palmeiras-1996 e Santos-2010, os “meteoros” de 100 gols e futebol mágico http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/03/palmeiras-1996-e-santos-2010-os-meteoros-de-100-gols-e-futebol-magico/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/03/palmeiras-1996-e-santos-2010-os-meteoros-de-100-gols-e-futebol-magico/#respond Wed, 03 Jun 2020 14:39:20 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8584

Foto: Ricardo Saibun / Santos

Em 2014, Djalminha foi o convidado do “Bola da Vez” na ESPN Brasil e respondeu a este blogueiro sobre a montagem do Palmeiras de 1996. Segundo o próprio meia, o melhor time pelo qual atuou se encaixou muito rápido: “Foi mágica. No primeiro treino a gente já se olhava rindo, sem acreditar. Começamos goleando times amadores em jogos-treinos, mas quando começou o Paulista continuamos passando por cima de todo mundo”.

O entrevistado esqueceu de mencionar os 6 a 1 em Fortaleza sobre o Borussia Dortmund, campeão alemão de 1994/95 e que venceria a Liga dos Campeões de 1996/1997. Era janeiro e o Palmeiras já conquistava a Copa Euro-América.

Um “click”. Por mais que se cobre, com toda razão, que clubes e seleções respeitem processos e valorizem trabalhos a longo prazo, às vezes acontece de um time se encaixar muito rapidamente e jogar futebol encantador. A história mostra que o “efeito colateral” é durar pouco também.

Chega e vai logo embora. Um “meteoro”. Assim foi o Palmeiras comandado por Vanderlei Luxemburgo. O time de Cafu e Júnior voando pelas laterais, Djalminha organizando, Rivaldo infiltrando no espaço deixado pelo “pivô” Muller e Luizão na área para finalizar. Volúpia ofensiva compensada por Amaral e Flávio Conceição, os protetores dos zagueiros Sandro e Cléber. Velloso na meta.

Palmeiras de Luxemburgo no 4-2-2-2 típico dos anos 1990, mas com volúpia ofensiva incomum (Tactical Pad).

Combinação perfeita de características que fez tudo fluir no Paulista e até a decisão da Copa do Brasil. Foram 102 gols em 30 partidas no Paulista, mais 24 na Copa do Brasil. 27 vitórias, dois empates e apenas uma derrota no estadual. 83 pontos em 90 possíveis, 28 a mais que o vice São Paulo. Goleadas marcantes como os 7 a 1 sobre o Novorizontino, 8 a 0 no Botafogo, 6 a 0 no Santos. Apenas 19 gols sofridos. Estética e eficiência. Um time que fez o blogueiro faltar algumas aulas e também deixar de ver o time de coração.

No mata-mata nacional, 8 a 0 no Sergipe, 8 a 1 no agregado sobre o Atlético Mineiro nas oitavas, 5 a 1 no Paraná nas quartas. 100% de aproveitamento até cruzar com o Grêmio de Luiz Felipe Scolari, campeão da Libertadores no ano anterior e que venceria o Brasileiro naquele mesmo 1996. Vitória por 3 a 1 em São Paulo e revés por 2 a 1 em Porto Alegre. Na decisão contra o Cruzeiro, empate em Minas por 1 a 1 que fez do Palmeiras o favorito absoluto para a volta no Parque Antárctica.

A ausência de Muller, porém, diminuiu consideravelmente a fluência ofensiva. O “garçom” do ataque preferiu voltar ao São Paulo e foi desfalque sentido. Mesmo assim, o ataque palmeirense fez de Dida o melhor da final vencida pelo time mineiro comandado por Levir Culpi. De virada por 2 a 1. Foi o que faltou ao Palmeiras para tornar mais marcante aquele primeiro semestre espetacular.

O Santos teve melhor sorte, 14 anos depois. Mais um “raio” que caiu na Vila Belmiro. Novamente o clube sem capacidade para investir em grandes contratações resolveu investir nos jovens formados no clube. Paulo Henrique Ganso, com 20 anos, mas desde os 18 atuando no profissional, e Neymar, com dezoito completos em fevereiro, eram as esperanças da equipe comandada por Dorival Júnior, contratado no final de 2009.

De novo o “click”, o engate quase imediato. Em entrevista ao Uol Esporte, o treinador revelou uma conversa com o elenco antes do primeiro treinamento: “Reuni os jogadores embaixo de uma mangueira que temos lá no centro de treinamento do Santos e falei: ‘Quero falar uma coisa para vocês aqui, hoje, no nosso primeiro dia de trabalho. Esse time pode marcar a história do Santos Futebol Clube’.”

Com Robinho, emprestado pelo Manchester City, fazendo um papel parecido com o de Muller no Palmeiras em 1996. Um facilitador para os companheiros. Alternando com Neymar pelas pontas, se aproximando de Ganso para tabelas e contribuindo para um volume de jogo sufocante. André se mexia também, embora ficasse mais na área adversária para finalizar.

Pará e Alex Sandro nas laterais, Arouca um pouco mais fixo na proteção a Edu Dracena e Durval e Wesley se juntando ao quarteto ofensivo. Mas até o camisa cinco aparecia na frente. Dorival tentava fazer o time reagir rápido sem bola pressionando para recuperar logo a posse e voltar a atacar. Quando encaixava era arrebatador. E bonito de ver.

O Santos voltado para o ataque comandado por Dorival Júnior. No 4-2-3-1 que tinha Ganso na articulação e Robinho como um facilitador, alternando nos flancos com Neymar (Tactical Pad).

No Paulista, 15 vitórias, dois empates e duas derrotas na primeira fase. 61 gols marcados, média superior a três por jogo. Dez pontos na frente do Santo André, que seria o vice-campeão em uma final mais equilibrada que o previsto, até pelo “sapeca” santista sobre o São Paulo na semifinal: 6 a 2 no agregado. Na decisão, uma vitória por 3 a 2 para cada lado, título santista pela melhor campanha geral. No total, foram 72 gols marcados e 31 sofridos.

Na Copa do Brasil, os 10 a 0 sobre o Naviraiense foram o destaque logo na primeira fase, mas o time passou por Remo (4 a 0 sem necessidade de volta), Guarani – com destaque para os 8 a 1 na ida – e Atlético Mineiro antes da final contra o Vitória. Assim como na semifinal contra o Grêmio, derrota como visitante e vitória em casa, se impondo no saldo de gols. Um time instável, mas bem sucedido naquele período.

Também superando os 100 gols. Foram 105 nas duas competições. E, mais importante, levando as taças para a Baixada Santista. Ciclo encerrado com a demissão de Dorival depois de briga pública com Neymar. Mas consolidado como time histórico com Muricy Ramalho, ganhando pragmatismo e solidez defensiva que equilibrou o talento na frente. Já sem Robinho, mas com um Neymar mais maduro para decidir a Libertadores de 2011. O Palmeiras seguiu caminho parecido a partir de 1997 com Luiz Felipe Scolari, mas só alcançou a consagração no continente em 1999.

O encantamento, porém, ficou com os “meteoros”. Times que atraíam os olhares até de torcedores de outros clubes. Pelo arrojo, por atacar como se não houvesse amanhã. Sem administrar resultado, com ímpeto incomum. Por isso tão difícil de esquecer.

 

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Flamengo campeão no “jogo da memória”, com virtudes bem conhecidas http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/16/flamengo-campeao-no-jogo-da-memoria-com-virtudes-bem-conhecidas/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/16/flamengo-campeao-no-jogo-da-memoria-com-virtudes-bem-conhecidas/#respond Sun, 16 Feb 2020 16:04:09 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7982 O Flamengo não jogou bem no Mané Garrincha, considerando o alto padrão de 2019. Nem era esperado, já que era apenas o quarto jogo dos titulares na temporada e o time de Jorge Jesus nem teve pré-temporada com treinamentos. Com oito dias já estava no Maracanã enfrentando o Resende.

Para complicar, a partida iniciada às 11h da manhã, o que sempre compromete muito a intensidade. Ainda mais de uma equipe que adianta as linhas, pressiona com todos os jogadores sem bola e se movimenta demais quando ataca.

A grande vantagem nos 3 a 0 sobre o Athletico que rendeu o título da Supercopa do Brasil foi o entrosamento. O entendimento do modelo de jogo. A confiança pelas conquistas do ano passado. E a concentração para não perdoar erros do adversário.

O time paranaense, agora comandado por Dorival Júnior, tentou jogar o tempo todo. Também avançando a marcação em vários momentos, apostando igualmente em mobilidade de um ataque sem referência, com Nikão, Marquinhos Gabriel e Rony. Mas da equipe campeã da Copa do Brasil saíram peças importantes como Léo Pereira, Renan Lodi, Bruno Guimarães, Marcelo Cirino e Marco Ruben. Não por acaso, a direção do clube promete três contratações para Dorival.

Difícil contra um time superior e que joga “de memória”. Expressão popularizada por Tite, mas que na prática facilita tudo. Os movimentos coletivos são sincronizados, cada um sabe o espaço a ocupar. E atacar, como Bruno Henrique se projetando no tempo certo para não entrar impedido para receber a assistência de Gabriel Barbosa e abrir o placar.

Assim como a atenção para não perdoar erros do adversário. Márcio Azevedo falhou no recuo para Santos que Gabriel se antecipou para marcar seu quarto gol no mesmo número de partidas na temporada. E aproveitar os espaços deixados pela defesa avançada do oponente para Bruno Henrique acelerar e só parar em Santos, mas De Arrascaeta aproveitando o rebote. De novo o trio artilheiro rubro-negro.

Mas boa parte do jogo foi de controle, administração. Com erros técnicos ainda incomuns e cedendo oportunidades cristalinas ao adversário valoroso – era a estreia de Rodrigo Caio no ano e Gustavo Henrique ainda vai se adaptando à mecânica da última linha defensiva.

Porém com uma boa notícia: o nítido crescimento de Filipe Luís. Com férias depois de emendar Copa América e volta ao Brasil no ano passado, parece mais inteiro para mostrar a habitual inteligência na leitura de jogo e dos espaços para apoiar. Aguentou bem 87 minutos e saiu para a entrada de Renê.

Jorge Jesus ainda trocou Arrascaeta e Everton Ribeiro por Michael e Diego. Nos minutos finais, o time se repaginou no 4-2-3-1. Mais uma das muitas variações táticas. No primeiro tempo, a equipe chegou a atuar numa espécie de 4-3-3 com Gabriel e Bruno Henrique abertos e Arrascaeta como “falso nove”. Testes necessários para não deixar o time “manjado”.

Mas a vitória foi construída com virtudes bem conhecidas. Do time que se conhece e mantém a fome por mais taças na temporada.

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Dorival Júnior: “Sucesso do Flamengo é fruto do trabalho dos últimos anos” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/14/dorival-junior-sucesso-do-flamengo-e-fruto-do-trabalho-dos-ultimos-anos/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/14/dorival-junior-sucesso-do-flamengo-e-fruto-do-trabalho-dos-ultimos-anos/#respond Fri, 14 Feb 2020 10:56:22 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7969

Foto: Miguel Locatelli / Site Oficial

Dorival Júnior deixou o comando técnico do Flamengo em dezembro de 2018 e o ano passado foi dedicado a estudos e cuidados com a saúde.

Agora está de volta ao futebol no Athletico e a “estreia” com visibilidade nacional será na Supercopa do Brasil, domingo contra o próprio Flamengo no Mané Garrincha, em Brasília.

Por exigência do clube paranaense,  não pudemos fazer a entrevista diretamente por telefone. Enviamos as perguntas à assessoria do clube por e-mail e recebemos as respostas do treinador em áudios pelo WhatsApp.

BLOG – Qual o significado para você de ter como primeiro adversário em um confronto nacional justamente o Flamengo, último time que comandou antes de assumir o Athletico?

DORIVAL – Fico feliz porque acompanhei o início e a finalização do trabalho da diretoria anterior, do presidente Bandeira de Mello. O quanto o clube cresceu, foi estruturado e agora vivendo um novo momento, com o presidente Rodolfo Landim também fazendo um belo trabalho. Um clube preparado para grandes vitórias e conquistas. É uma satisfação. Chego ao Athletico e também estou satisfeito por encontrar um clube numa crescente, conseguindo se aproximar muito dos maiores clubes do futebol brasileiro.

BLOG – O Athletico tinha um modelo de jogo assimilado com Tiago Nunes e mesmo depois da saída do treinador, na reta final do Brasileiro. O que você pretende mudar ou acrescentar a este estilo?

DORIVAL – O modelo foi muito vitorioso, bem trabalhado nos últimos anos pelo Tiago Nunes, sucedendo o trabalho do Fernando Diniz. Isso levou o Athletico a outro patamar. Tivemos a perda de alguns jogadores – cinco titulares e sete que vinham entrando com frequência – importantes para o grupo. Contratamos até o momento três jogadores e estamos buscando no mercado novas situações. Mas estamos trabalhando com dedicação, muita entrega e buscando encontrar um novo modelo para a equipe, próximo daquilo que foi feito, mas que tenha também as características que nós gostamos em uma equipe de futebol, como foram os últimos trabalhos.

BLOG– O que você percebe de diferente entre o Flamengo atual e o que comandou no final de 2018 além das muitas contratações?

DORIVAL – O Flamengo vinha se aproximando, participando de semifinais e finais das grandes competições no Brasil, com equipe forte que foi vice-campeã brasileira em 2018. Agora vencendo merecidamente a Libertadores e o Brasileiro, além do vice-campeonato mundial em 2019. Isso mostra o elevado nível que alcançou, o crescimento que teve. O sucesso é fruto do bom trabalho que teve nos últimos anos.

BLOG -.O fato do Flamengo não ter os jogos do Carioca transmitidos pela TV criou alguma dificuldade para analisar o desempenho do adversário na Supercopa do Brasil?

DORIVAL – Não, nós acompanhamos esses jogos, assim como o Flamengo mandou observadores para os nossos jogos. Hoje em dia é um fato normal, natural. Faz parte do trabalho de cada um e quantos mais dados você tiver, a possibilidade de ser surpreendido diminui consideravelmente.
BLOG – O que esperar do Athletico para 2020, em desempenho e resultados?
DORIVAL – Temos que ter calma, continuar esse trabalho. Não colocar uma pressão excessiva em um grupo que teve que ser remodelado, mas conta com jovens promessas, valores que com certeza crescerão muito. É natural a necessidade de um tempo para que tudo isso se encaixe. Eu espero fazer o máximo pelo Athletico para que tenhamos um ano em que a gente consiga atingir todas as metas do clube.

 

 

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Cinco anos depois do auge, Cruzeiro e Atlético flertam com o fundo do poço http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/27/cinco-anos-depois-do-auge-cruzeiro-e-atletico-flertam-com-o-fundo-do-poco/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/27/cinco-anos-depois-do-auge-cruzeiro-e-atletico-flertam-com-o-fundo-do-poco/#respond Fri, 27 Sep 2019 10:05:22 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7336

Foto: Rodney Costa / Eleven

Em novembro, a conquista da Copa do Brasil pelo Atlético Mineiro completa cinco anos. Vencendo sob o comando de Levir Culpi a única final mineira em competição nacional. Superando o Cruzeiro de Marcelo Oliveira que seria bicampeão brasileiro em 2014. No ano anterior, o Galo conquistara a Libertadores com Cuca e Ronaldinho Gaúcho. Ou seja, Minas Gerais dominava o futebol brasileiro como nunca. O auge, ao menos neste século.

A lembrança torna ainda mais chocante a realidade atual. A dupla convive com sérias dificuldades financeiras, problemas para quitar as folhas de pagamento, erros graves de gestão e, principalmente, péssimos resultados esportivos. O Cruzeiro ocupa a 17ª colocação da tabela no Brasileiro e demite Rogério Ceni, apenas um mês e meio depois da contratação, por não conseguir melhorar o desempenho médio em relação ao antecessor Mano Menezes. Mas principalmente pelos atritos com jogadores veteranos ao tentar implantar um modelo de jogo com pressão, intensidade e movimentação.

Thiago Neves –  amigo do vice de futebol Itair Machado, a quem dedicou um gol contra o São Paulo no auge da crise envolvendo o dirigente no clube – primeiro acusou Ceni de colocar em campo uma formação na volta da semifinal da Copa do Brasil contra o Internacional improvisada e sem treinar. Depois foi sacado no intervalo da derrota por 2 a 1 para o Flamengo no Mineirão e não saiu do banco de reservas no empate sem gols com o Ceará no Castelão. Dedé reclamou da ausência do meia, Ceni não aceitou e o próprio Itair “sugeriu” que o treinador se demitisse.

O blog apurou que Dorival Júnior foi sondado, mas tem uma cirurgia marcada para o dia 1º de outubro e não teria como assumir. Olhando para o cenário criado, apenas dois profissionais disponíveis no país teriam “casca” e respaldo total para administrar os conflitos, conciliar as lideranças e controlar o vestiário: Abel Braga e Luiz Felipe Scolari. Mas qual é a chance de um deles aceitar assumir um time no Z-4, sem tempo para trabalhar com dois jogos por semana e garantia de salários pagos para poder cobrar?

Já o Atlético não vive o mesmo drama na tabela com a décima colocação, mas vem de seis derrotas seguidas desde a vitória por 2 a 1 sobre o Fluminense na 14ª rodada. Muito por priorizar a Copa Sul-Americana, a chance de título em 2019. E internacional, garantindo vaga direta na Libertadores. Em vão. Derrota fora e vitória em casa sobre o Colón, 17º na liga argentina com 24 clubes, por 2 a 1 e revés nos pênaltis, dentro do Mineirão, por 4 a 3 com Rever e Cazares desperdiçando as cobranças.

Elenco que é um “frankenstein” com veteranos em declínio, jovens buscando espaço em meio ao caos e estrangeiros que oscilam demais o desempenho, embora salvem muitas vezes o time – como os gols de Chará e Di Santo sobre o Colón. O time não dá liga e Rodrigo Santana, treinador promissor, parece sem estofo e vivência para administrar a crise que agora virá mais forte sem a esperança de conquista. Só resta se recuperar no Brasileiro para fechar o ano sem grandes sustos.

A má notícia é que hoje os oitos pontos que separam a equipe do São Paulo, último do G-6, são os mesmos que a distanciam do rival Cruzeiro na zona de rebaixamento. Com um jogo a menos, exatamente o adiado contra o Vasco no Independência para o time definir a semifinal continental. Se não interromper a série de derrotas em casa contra o Ceará no domingo a coisa pode se complicar de vez.

Uma queda surreal para quem há cinco anos se vangloriava, com razão, da estrutura e solidez dos grandes de Minas Gerais. Rivalidade que atraiu os olhos do país, quase sempre voltados para São Paulo e Rio de Janeiro. Agora lamentando o flerte com o fundo do poço. Triste retrato de quem acreditou em fórmula mágica ou receita de bolo, não atualizou as práticas nem planejou a longo prazo. A conta chegou.

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Espetáculo é só no teatro ou circo? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/26/espetaculo-e-so-no-teatro-ou-circo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/26/espetaculo-e-so-no-teatro-ou-circo/#respond Fri, 26 Jul 2019 15:53:51 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6946

Foi Muricy Ramalho quem eternizou a frase “quem quiser ver espetáculo que vá ao teatro”. Treinador vencedor no futebol brasileiro, sem dúvidas. Na história também por ter recusado o convite de Ricardo Teixeira para comandar a seleção brasileira. Mas sejamos sinceros: você o citaria em uma lista de dez grandes técnicos da história no país? Qual o grande time comandado por ele que merece ser lembrado?

O São Paulo tricampeão brasileiro? Talvez. Mas em uma conversa com torcedores do clube é mais fácil o time dos “menudos” de Cilinho – com Muller, Silas, Careca, Pita e Sidnei na linha de ataque, que conquistou apenas um paulista em 1985 e foi a base para Pepe vencer o Brasileiro do ano seguinte – ser lembrado ao lado do maior da história do clube, o de Telê bicampeão da Libertadores e Mundial. O que melhor combinou arte e espírito vencedor.

Assim como o Santos que venceu a Libertadores em 2011 é histórico, mas no papo de bar a maioria dos santistas certamente se recordará com mais carinho da equipe campeão paulista e da Copa do Brasil do ano anterior, comandada por Dorival Júnior, com Robinho, Ganso e Neymar leves e soltos em campo.

Agora Thiago Neves resgata o bordão, trocando “teatro” por “circo”, em provocação desnecessária ao colega Mauro Cezar Pereira. Respondendo críticas ao Cruzeiro que nas últimas quinze partidas venceu apenas uma. Sim, uma vitória maiúscula no clássico com o Atlético pelas quartas da Copa do Brasil. Mas construída em um chute improvável de Pedro Rocha e depois com o atacante aproveitando falha grotesca do rival na saída de bola e servindo Thiago Neves. O terceiro, de Robinho, foi mera consequência. Mas garantiu a vaga na semifinal porque no Independência os 2 a 0 impostos pelo Galo deixou o time celeste no fio da navalha.

Até no pragmatismo dos números está devendo. Mas como o time de Mano Menezes é bicampeão do mata-mata nacional e está na  semifinal da atual edição, além de depender de uma vitória em casa para ir às quartas da Libertadores eliminando o atual campeão River, parece que tudo está muito bem. Mas o que sobrará se o resultado não vier desta vez?

Vale a reflexão: mesmo que o Cruzeiro atual fature outra Copa do Brasil ou mesmo vença a Libertadores, qual equipe você acha que ficará na memória do torcedor: a atual ou, por exemplo, a de Vanderlei Luxemburgo e Alex em 2003 que conquistou estadual, Copa do Brasil e Brasileiro com ótimo futebol? Ou, para os mais vividos, a que ganhou a Taça Brasil ganhando duas vezes do Santos de Pelé, com direito a goleada por 6 a 2 e show de Tostão e Dirceu Lopes?

Thiago Neves deveria recordar que em 2011 ele venceu apenas um Carioca com o Flamengo, mas participou como um ótimo coadjuvante de Neymar e Ronaldinho Gaúcho de uma das grandes partidas da história do esporte no Brasil: Santos 4×5 Flamengo. É bem possível que daqui a dois anos, quando completar uma década, haja mais lembranças e celebrações mais tocantes deste jogo disputado na Vila Belmiro que o título brasileiro do Corinthians e da Libertadores do próprio Santos, um tanto maculada pelos 4 a 0 com direito a chocolate do Barcelona de Guardiola na final do Mundial. Viu como o belo futebol marca mais?

E qual foi a maior atuação da carreira do meia? Em um jogo sem título, na derrota nos pênaltis do Fluminense para a LDU na final da Libertadores de 2008. Com três gols, mas desperdiçando a cobrança na decisão. Saiu do estádio chorando, mas com certeza hoje se orgulha do hat-trick em uma decisão continental, feito único na história.

Porque é o grande futebol que marca. Ganhar dando show é como aquele jantar que mata a fome, mas dá prazer. Melhor ainda quando traz afeto junto, com a companhia de quem se ama. O título com futebol mal jogado, no sufoco, pode trazer boas lembranças pelo sofrimento. Mas é como engolir um fast food no meio de um dia corrido. Resolve o problema imediato e não mais que isso. Ou alguém guarda na memória ou nas retinas um lanche rápido no Burger King?

Todo mundo quer vencer, competir está no DNA de qualquer atleta. Mas não pode ser apenas isso. A gente não quer só comida, como diz a canção. Nem é preciso lembrar da Hungria de 1954, da Holanda de 1974 ou do Brasil de 1982, muito mais citados, estudados e celebrados que os campeões mundiais que os venceram, para afirmar que espetáculo também se faz no campo. E é bem mais difícil esquecer. Até para Muricy e Thiago Neves.

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Desafio de Jorge Jesus é unir os pontos do que o Flamengo já fez de bom http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/27/desafio-de-jorge-jesus-e-unir-os-pontos-do-que-o-flamengo-ja-fez-de-bom/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/27/desafio-de-jorge-jesus-e-unir-os-pontos-do-que-o-flamengo-ja-fez-de-bom/#respond Thu, 27 Jun 2019 09:41:29 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6763

Foto: Alexandre Vidal/Site do Flamengo

Quando Jorge Jesus foi especulado e depois anunciado como novo treinador do Flamengo, sucedendo Abel Braga, este blog foi cauteloso na análise da contratação por dois motivos básicos: os trabalhos anteriores do profissional experiente servem como referência para avaliar o que o novo comandante pode fazer, mas o contexto do futebol brasileiro é muito particular. Ele provavelmente já sabe que terá que simplificar alguns processos e queimar etapas.

Ao mesmo tempo, pelo padrão de suas equipes, especialmente Benfica e Sporting, a possibilidade de contratação de jogadores com características específicas, particularmente um centroavante de maior força física para atuar na referência do ataque, é bem grande. Apesar de não ser um técnico adepto do jogo direto, com muitos lançamentos, é uma função importante em seu modelo de jogo.

Sem Cuéllar e De Arrascaeta, ainda envolvidos com a Copa América, é difícil vislumbrar um time base, mesmo considerando que este elenco deve rodar bastante para dar conta de Brasileiro e mais Libertadores e Copa do Brasil em afunilamento. Este que escreve também pensa que um meio-campista de área a área deveria ser tratado como prioridade por técnico e diretoria. Só Arão e Ronaldo podem não ser o suficiente para os duros confrontos que estão por vir.

Então no momento o que cabe é uma reflexão sobre o que esse “novo” Flamengo deve ter como meta na volta da temporada 2019 no Brasil. Desde o segundo semestre de 2015, com a chegada da dupla Paolo Guerrero/Emerson Sheik, o patamar de contratações mudou e, consequentemente, de expectativas também. Só que o tempo passou e nenhuma conquista relevante afirmou no futebol essa reabilitação do clube em termos de gestão.

Porque sempre faltou algo ao time. Quando havia peso e experiência no comando técnico, com mentalidade vencedora ao menos no discurso, faltou o conteúdo no campo – Muricy Ramalho, Paulo César Carpegiani, Abel Braga e pontualmente de Reinaldo Rueda. Com Zé Ricardo e Mauricio Barbieri, conceitos mais atuais, porém inexperiência natural de jovens treinadores na condução de um vestiário complexo e muita pressão externa, contrastando com um certo paternalismo na direção do futebol.

A solidez defensiva que faltou tantas vezes veio de onde menos se esperava: o interino Marcelo Salles optou por uma formação com Arão mais próximo de Cuéllar (ou Piris da Motta) e entregou a equipe sem sofrer gols. Fundamental na vitória sobre o Corinthians por 1 a 0 que garantiu a classificação para as quartas de final da Copa do Brasil. Mais sete pontos no Brasileiro.

O trabalho mais completo, sem dúvida alguma, foi o de Dorival Júnior no final do ano passado. Mas dentro de um cenário muito particular: fim da gestão Bandeira de Mello, possibilidade de permanência apenas em caso de título brasileiro e só 12 jogos para duelar com o forte Palmeiras de Felipão. O Flamengo foi organizado, competitivo e teve posse de bola agressiva, sem “arame liso”. Venceu sete, empatou três e perdeu duas. 66% de aproveitamento.

A gestão de vestiário foi forte, peitando e colocando na reserva lideranças como os Diegos, Ribas e Alves. Mas a oscilação no aspecto mental pesou na derrota para o Botafogo, a despedida foi péssima com a fraca atuação diante do Athletico no Maracanã e ainda teve o chute na lua de Lucas Paquetá no confronto direto com os alviverdes. A dúvida que fica é se dentro de um contrato com prazo mais longo Dorival arriscaria tanto.

É evidente que não se exige de Jorge Jesus uma equipe perfeita. Ou melhor, os críticos da demissão de Abel e aqueles que torcem o nariz para estrangeiros treinando as principais equipes do país vão, sim, cobrar tudo do português. Mas o fato é que sempre houve um “gargalo” que impediu o time rubro-negro de alcançar o tão almejado título – cariocas à parte. Na técnica, na tática, no ânimo ou mesmo na gestão do futebol, permitindo, por exemplo, que o Fla chegasse a uma final de Copa do Brasil sem um goleiro confiável.

Cabe ao novo treinador juntar os pontos do que o Flamengo fez de bom nos últimos anos. É um desafio pela atmosfera muito particular do clube. A torcida quer tudo para ontem,  mas a base e o investimento são suficientes para tornar o time mais competitivo até o final de 2019. Vencedor ao menos em um dos campeonatos a disputar.

Com Rafinha, já integrado ao elenco e com a missão de cobrir uma carência de anos na lateral direita, além contribuir com sua experiência internacional. Provavelmente mais um zagueiro para jogar pela esquerda e um centroavante. Também Reinier, o jovem talento da base que pode ganhar oportunidades no meio-campo.

Conteúdo, qualidade, liderança, cobrança de profissionalismo, discurso forte e ambicioso. O Flamengo nunca pareceu tão pronto. Vejamos se passa da teoria à prática desta vez.

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Torcida não merece esse Flamengo. Atlético-PR merece título histórico http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/12/01/torcida-nao-merece-esse-flamengo-atletico-pr-merece-titulo-historico/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/12/01/torcida-nao-merece-esse-flamengo-atletico-pr-merece-titulo-historico/#respond Sat, 01 Dec 2018 23:20:26 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5607 Mais de 60 mil pessoas no Maracanã em uma partida que nada valia e marcava despedida de uma temporada sem conquistas. Para terminar o Brasileiro com a melhor média de público como mandante, acima dos 50 mil pagantes.

Por mais que Dorival Junior, em entrevista a este blog, tenha exaltado a recuperação e a força do elenco, não há como confiar na força mental desse Flamengo. Depois de um primeiro tempo com alguma intensidade no embalo do apoio da massa e o gol de Rhodolfo na cobrança de escanteio de Diego, a desconcentração total na segunda etapa que permitiu a virada.

Na última partida com a camisa do clube que o formou, Lucas Paquetá nada produziu de útil atuando pela esquerda, deixando Vitinho no banco. Mas o símbolo de mais uma derrota foi Willian Arão. Até criou algumas situações pela direita com Pará e Everton Ribeiro e arriscou um chute perigoso no segundo tempo. Para logo em seguida acabar expulso por duas faltas bobas com reclamações da arbitragem. Desconcentrado sem a bola, sobrecarregou Piris da Motta, que não tem o mesmo nível de desempenho nem o entrosamento com os companheiros de Cuéllar.

Derrota emblemática no final da gestão Bandeira de Mello. Transformadora nas finanças, porém incompetente e paternalista na condução do futebol. A torcida não merece esse Flamengo.

Já o Atlético Paranaense consolida uma maneira de jogar agora com a confiança por afastar de vez a imagem de que só rende na Arena da Baixada. Volta do Rio de Janeiro com duas vitórias utilizando praticamente todo o elenco. Ainda que tenha precisado de Pablo e Lucho González saindo do banco para construir a virada no segundo tempo. O centroavante na vaga de Cirino e o argentino para qualificar o toque no meio e surgir como elemento surpresa na construção dos dois gols.

Saída com bola no chão, inteligência para acelerar ou cadenciar o jogo quando necessário e golaços de Matheus Rossetto e Rony. O primeiro pela jogada coletiva e o derradeiro em chute espetacular. O atacante acabou expulso na confusão depois do vermelho para Arão. Rigor da arbitragem para fazer média e tirar um de cada lado. Nada que impedisse o grande triunfo da equipe paranaense.

Pela maneira como se reconstruiu na temporada, efetivando Tiago Nunes que aprimorou e complementou os ideais de Fernando Diniz adicionando mais rapidez e contundência no ataque, o Atlético faz por merecer o título da Copa Sul-Americana. Decide contra o Junior Barranquilla uma taça histórica.

Se vencer servirá como bom exemplo de que não se deve recomeçar trabalhos praticamente do zero, descartando tudo do antecessor como acontece rotineiramente no futebol brasileiro. Mas principalmente para provar que é possível por estas bandas combinar  a competitividade e um jogo que agrada as retinas. No Maracanã fez bonito e não perdoou um time que sempre parece pronto para o fracasso.

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Dorival Júnior, exclusivo: “Flamengo é um time pronto para grandes títulos” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/11/30/dorival-junior-exclusivo-flamengo-e-um-time-pronto-para-grandes-titulos/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/11/30/dorival-junior-exclusivo-flamengo-e-um-time-pronto-para-grandes-titulos/#respond Fri, 30 Nov 2018 11:55:53 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5602

Foto: Getty Images

11 jogos, sete vitórias, três empates e uma derrota. 24 pontos conquistados. 72% de aproveitamento, acima dos 69,4% do campeão Palmeiras. Se contarmos o tempo em que trabalhou efetivamente, depois da estreia no empate contra o Bahia em Salvador um dia depois da confirmação como novo treinador, o aproveitamento de Dorival Júnior no Flamengo sobe para 77%. Atuações consistentes com a oscilação de desempenho no único revés, diante do Botafogo.

Contra o Atlético Paranaense no Maracanã encerra sua segunda passagem pelo clube, ao menos na gestão Bandeira de Melo. Sem a conquista almejada, porém com um novo patamar no mercado. Que corre por fora, mas com Renato Gaúcho renovando com o Grêmio e Abel Braga aberto a propostas de Santos e outros clubes, pode ser a solução “caseira” da chapa vencedora das eleições no dia oito de dezembro.

O rendimento da equipe e a gestão de grupo, recuperando jogadores como Willian Arão e a personalidade para enfrentar Diego Alves e convencer Diego Ribas, Everton Ribeiro e Lucas Paquetá a ficarem no banco e colaborarem são credenciais importantes para as metas a partir de 2019.

Esses são os principais pontos abordados nesta entrevista exclusiva para o blog, além de sua visão crítica sobre o futebol praticado no Brasil em relação aos grandes centros.

 

BLOG – Qual é o saldo desses dois meses de trabalho?

DORIVAL JÚNIOR – Não ficamos satisfeitos com a colocação final do campeonato. É uma frustração. Mas a alegria é grande pelo trabalho desenvolvido e a evolução dele em tão pouco tempo. Os atletas acreditaram na proposta, que já vinha com o Maurício Barbieri. Eu acrescentei um olhar de fora e dei umas pinceladas. Hoje a maior conquista, a meu ver, é eles perceberem que possuem uma qualidade superior ao que acreditavam ter. Acredito que é um grupo pronto para grandes conquistas que virão no momento certo.

BLOG – O time marcou 20 gols em 11 partidas sob seu comando, melhorando muito a média de gols – com Barbieri foram 38 em 26 partidas. Você saiu de Santos e São Paulo criticado porque seu time tinha a bola, porém infiltrava pouco. O que foi diferente agora, o time ou o Dorival?

DORIVAL JÚNIOR – O Santos em 2016, quando tive uma temporada completa de trabalho, criava de 12 a 16 chances de gol por partida. O ano seguinte foi complicado por muitas baixas num elenco que não era grande. No São Paulo o time saiu da zona de rebaixamento para a terceira melhor campanha no returno. Perdemos Hernanes e Pratto e emendamos o Paulista e estreia na Copa do Brasil com poucos treinamentos. Eu preciso do campo para trabalhar e no calendário brasileiro isso é impossível. Mas tive no Flamengo e focamos o trabalho em ajustar a última linha de defesa e, principalmente, o ataque através de tabelas, infiltrações, jogadores atacando espaços. Os atletas têm um cognitivo muito bom, pegaram rápido. Com a repetição de treinos e escalações veio a confiança.

BLOG – Você reclamou do calendário, mas quando aceita um trabalho num time grande brasileiro tem conhecimento das condições. Acaba virando um ciclo vicioso com transferência de responsabilidade. Como minimizar os problemas do excesso de jogos na prática?

DORIVAL JÚNIOR – O nosso trabalho é muito atropelado. No início do ano o jogador entra em campo longe das condições mínimas para estar atuando. É uma ciranda muito prejudicial e a gente acaba se acostumando, criando uma couraça. Entre jogos desgastantes fazemos treinos de posicionamento, sem intensidade, apenas de repetição de movimentos. O grande problema é que a maioria dos envolvidos não entende os processos e só cobram resultados imediatos. A pré-temporada ideal é de 40 a 45 dias. Tivemos um período de 28 a 30 dias e já foi bem melhor, mas agora regrediu novamente. Fica impossível trabalhar bem dessa forma.

BLOG – Uma solução seria escalar reservas e jovens da base nos estaduais, como o Atlético-PR faz durante todo o campeonato e o Flamengo com Carpegiani numa fase inicial para os titulares completarem os 30 dias de férias?

DORIVAL JÚNIOR – Seria uma adaptação. O ideal é que dirigentes, torcedores e jornalistas entendam e não pressionem por resultado já na primeira rodada. Eu sou defensor dos estaduais, acho fundamental para o surgimento de novos jogadores e sustentação dos times do interior. Mas já voltei de férias dia três de janeiro e no dia nove estava com o time disputando três pontos. Nós terminamos a temporada com 25 ou 26 jogos a mais que os principais times europeus. Aí dizem que o treinador brasileiro não tem qualidade. Precisamos debater isso melhor. Esses últimos jogos do Flamengo provam que com tempo a qualidade aparece.

BLOG – Nesses dois meses você teve um problema sério a solucionar: a insatisfação do Diego Alves com a reserva. O César virou titular contra o Paraná meio “no susto” e depois veio uma sequência de desentendimento com o goleiro e a pior série de resultados, com empates com Palmeiras e São Paulo e derrota para o Botafogo. Foi coincidência ou o problema disciplinar de um líder no elenco interferiu no rendimento da equipe?

DORIVAL JÚNIOR – A minha experiência diz que se tivesse que ocorrer algum problema seria no jogo contra o Paraná. Nós tivemos domínio das ações contra Palmeiras e São Paulo e criamos chances claras para vencer. Contra o Botafogo, sim, foi nosso pior momento. Honestamente não vejo nenhuma ligação. Sem contar a qualidade dos adversários, especialmente o campeão Palmeiras, time muito pragmático, que se defende muito bem e sabe acionar suas individualidades no ataque. A nossa tabela não foi fácil, com sete jogos como visitante em onze.

BLOG – Esse grupo de jogadores é muito criticado pela torcida por falhar em momentos decisivos. Que cenário você encontrou quando assumiu e qual a diferença hoje?

DORIVAL JÚNIOR – São grandes jogadores e a resposta sempre foi positiva. Posso citar o exemplo do Diego Ribas. De início discordou da minha decisão de colocá-lo no banco porque estava voltando de contusão. Expliquei meus motivos e pedi a ele que continuasse treinando e acreditasse no que estava dizendo. Era uma decisão técnica e tática, não má vontade. Ele foi leal, correto e profissional. Trabalhou, não reclamou externamente e voltou a ganhar oportunidades pelos próprios méritos. Foi fundamental nessa reta final.

BLOG – E o Paquetá, reagiu da mesma forma ao voltar da expulsão contra o Sport no banco?

DORIVAL JÚNIOR – Ele reconheceu que errou. O jogador é inteligente e sabe quando se equivoca. O Everton Ribeiro ficou no banco contra o Sport e nos ajudou demais no segundo tempo com um homem a menos. Aí entra a importância do exemplo. Como o Paquetá poderia reclamar de ficar fora depois de um erro se o Diego aceitou voltando de lesão e modificou jogos a nosso favor saindo do banco?

BLOG – Mas no geral o grupo é forte mentalmente?

DORIVAL JÚNIOR – São profissionais abertos a melhorar conceitos. No aspecto de liderança, jogadores como Rever, Rhodolfo e Rômulo dão muita sustentação ao grupo pela experiência. Todos são atletas de bom nível de concentração e que aos poucos foram acreditando no trabalho. Não ficamos satisfeitos com o segundo lugar, mas temos que reconhecer os muitos méritos do campeão. Somos o segundo melhor ataque, a segunda defesa menos vazada. Só uma derrota, recorde de pontos do clube nos pontos corridos, acima até do título que conquistou em 2009. Logicamente com muitos méritos também do Barbieri, a quem agradeço pelo trabalho que é alinhado à minha forma de pensar futebol. Repito: é um grupo pronto para grandes títulos muito em breve.

BLOG – Você é fã do Guardiola, que desde o Bayern de Munique e agora no Manchester City procura ampliar o repertório em relação ao Barcelona. Tem posse, mas agora adiciona contra-ataques e jogadas aéreas. O futebol mundial parece caminhar para a versatilidade, com treinadores intensos como Klopp e Simeone buscando mais controle do jogo com a bola quando necessário. Você também busca esse jogo mais inteligente, capaz de se adaptar às demandas de uma partida?

DORIVAL JÚNIOR – Há formas e formas de ganhar partidas e campeonatos. Eu tenho 13 anos de carreira e dez títulos conquistados. Tirei equipes de rebaixamentos praticamente certos. Meus times sempre buscaram essa versatilidade. O Santos de 2015/16 tinha posse, mas também um contra-ataque veloz que foi considerado o mais rápido do mundo, por chegar à área adversária em pouco tempo e com poucos passes. Para isso você precisa dos jogadores certos, que foi o que faltou no São Paulo. Sem velocidade tentávamos infiltrar com trocas de passes. No Flamengo eu tenho o Berrío que ataca espaços em velocidade e tento aproveitar o máximo de minutos que ele pode estar em campo com alta intensidade.

Quanto ao Guardiola é uma evolução natural. Tudo depende do grupo de atletas. Se eu fosse o Klopp também jogaria acelerando para acionar o seu trio de ataque com Salah, Firmino e Mané. No Bayern e agora no City o Guardiola coloca mais intensidade na pressão assim que a equipe perde a bola. Os jogadores estão sempre muito próximos. É uma maneira competitiva e agradável de jogar desde os tempos de Barcelona. Exatamente o que busco nos meus times. Mas para isso o tempo é essencial. Guardiola implantou seu modelo na primeira temporada na Inglaterra e só foi vencer na segunda. Aqui teria essa chance? No Brasil é utopia. Nossos contratos deveriam ser semanais e não anuais. Treinamos mais os reservas, porque os titulares quase sempre estão no regenerativo. Aqui cobram qualidade na quantidade. A grande pergunta que gostaria de deixar para refletirmos é: você está satisfeito com o nível de futebol apresentado em nosso país?

BLOG – E o futuro?

DORIVAL JÚNIOR – É o jogo contra o Atlético Paranaense no sábado para terminarmos bem o ano e deixarmos o nosso torcedor satisfeito com o rendimento, já que o resultado esperado não veio. Depois veremos.

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O mea culpa necessário sobre Diego, Berrío e Dourado na vitória do Flamengo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/11/15/o-mea-culpa-necessario-sobre-diego-berrio-e-dourado-na-vitoria-do-flamengo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/11/15/o-mea-culpa-necessario-sobre-diego-berrio-e-dourado-na-vitoria-do-flamengo/#respond Thu, 15 Nov 2018 23:04:55 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5522 O goleiro César foi o personagem da vitória do Flamengo sobre o Santos no Maracanã por 1 a 0. Venceu o duelo com Gabriel Barbosa, artilheiro do Brasileiro, ao defender no segundo tempo um chute do atacante sem marcação e depois pegar o pênalti cobrado pelo camisa dez do alvinegro praiano já no final do jogo.

O triunfo não muda nada na briga pelo título, mas ajuda na luta pela vaga no G-4 e, consequentemente, na fase de grupos da Libertadores 2019. Internacional, Grêmio e São Paulo agora são os rivais, não mais o campeão Palmeiras esperando apenas a matemática para receber a taça.

Mas é dever deste blog fazer um mea culpa sobre os três jogadores rubro-negros envolvidos no gol única da partida.

Diego Ribas foi e ainda é criticado por atrasar os ataques da equipe ao prender demais a bola e quase sempre precisar dar um giro para só depois pensar no que fazer. Por aqui você já leu que era uma falácia ele ser o meia criativo do Fla. Esta crítica, no geral, continua sendo justa.

Mas é preciso reconhecer que em vários momentos não houve uma opção confiável para um passe em profundidade. Seja por falta de velocidade, erro de posicionamento ou de tomada de decisão do atacante para receber a bola às costas da defesa adversária. Muito ligado em estatísticas, Diego não gosta de errar passes, por isso costuma esperar e fazer a escolha mais segura. Nem sempre a mais produtiva.

Já Orlando Berrío, quando foi contratado em 2017, foi avaliado neste espaço como um erro da diretoria. Não pelo que o colombiano poderia produzir, mas pelas características. Zé Ricardo, treinador à época, disse a este blogueiro na virada do ano que precisava de um ponteiro de bom drible e finalizador. Vitinho já era o alvo, mas não foi possível.

Veio Berrío, ponta de velocidade espantosa, mas que não tem o drible nem a conclusão como pontos fortes – apesar da jogada espetacular e surpreendente que terminou no gol de Diego sobre o Botafogo na semifinal da Copa do Brasil do ano passado. Ou seja, o treinador pediu uma coisa e a diretoria trouxe outra.

Só que a saga rubro-negra sem grandes conquistas mostrou que Berrío, quando esteve em campo, deu à equipe a alternativa de velocidade, aceleração e capacidade de explorar as costas da retaguarda do oponente. Só inferior à de Vinicius Júnior em seus momentos mais inspirados. Uma pena que quando mostrava estar mais bem adaptado ao clube e ao futebol brasileiro teve uma contusão grave e só retornou no segundo semestre de 2018, mas ganhando confiança e ritmo de competição bem aos poucos.

Henrique Dourado chegou ao Flamengo por conta da artilharia do Brasileirão 2017 pelo rival Fluminense. Outra contratação equivocada de Rodrigo Caetano pelas características do centroavante. Jogador de último toque, não de pivô para participar de ações ofensivas mais elaboradas em um time que se propõe a se instalar no campo adversário e trabalhar. Difícil dar sequência às jogadas com bola no chão. Por isso as críticas frequentes nas análises sobre o time. Ficaram apenas os 100% de aproveitamento nas cobranças de pênalti.

No gol que decidiu a partida, um contraponto ao maior problema do Fla nos últimos anos: a difícil combinação de características dos jogadores em campo. Diego arriscou e acertou o passe longo porque Berrío apareceu às costas da linha defensiva santista. O colombiano foi preciso na assistência porque Dourado estava na área para finalizar. E a bola foi parar nas redes de Vanderlei porque o centroavante teve liberdade para concluir, justamente porque a jogada foi surpreendente e bem executada.

Lance único em um universo de 19 finalizações, apenas quatro no alvo. Domínio inócuo do Flamengo na primeira etapa, com Everton Ribeiro, Diego e Vitinho cortando da ponta para dentro em jogadas já mapeadas pelos rivais e que dificilmente terminam em uma chance cristalina. Só com as mudanças de Dorival Júnior o time voltou a sair de campo com os três pontos depois de três partidas.

É final da gestão Bandeira de Mello e os candidatos à presidência já sinalizaram uma mudança profunda no elenco para o ano que vem. É bem provável que Diego, um dos símbolos dessa fase sem conquistas, deixe o clube. Mesmo sendo exemplo de comportamento com Dorival Júnior ao aceitar a reserva e lutar no campo para recuperar a titularidade, a passividade em entrevistas depois de derrotas importantes mancharam a imagem do meia junto à torcida. O futuro de Berrío e Dourado são grandes incógnitas, vai depender do novo treinador.

De qualquer forma, fica o registro desse mea culpa. Talvez em equipes com outras propostas de jogo e elencos mais ajustados ao que o time pretende fazer em campo esse trio possa render o que se espera. No Flamengo, o gol do triunfo foi raridade. Talvez um presente tardio no aniversário dos 123 anos do clube.

(Estatísticas: Footstats)

 

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Só um improvável “efeito São Paulo” pode tirar o título do Palmeiras http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/11/05/so-um-improvavel-efeito-sao-paulo-pode-tirar-o-titulo-do-palmeiras/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/11/05/so-um-improvavel-efeito-sao-paulo-pode-tirar-o-titulo-do-palmeiras/#respond Mon, 05 Nov 2018 08:51:35 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5461 As chances de reação do Flamengo de Dorival Júnior em busca do título voaram longe como os chutes de Lucas Paquetá contra o Palmeiras e Vitinho diante do São Paulo no Morumbi. Fraqueza mental que deve minar ainda mais as forças em uma tabela complicada nos seis jogos que restam – Botafogo, Sport e Cruzeiro como visitante e Santos, Grêmio, Atlético-PR em casa.

Sobra o Internacional, novo vice-líder depois da virada dramática sobre o Atlético-PR no Beira-Rio com gol no final em pênalti mais que discutível sobre Rossi. Com o ânimo de quem chegou mais longe que imaginava pode sonhar com uma virada. A tabela é acessível: América, Atlético-MG e Fluminense em Porto Alegre e Ceará, Botafogo e Paraná fora.

Mas depois da vitória no sábado sobre o Santos por 3 a 2 em um jogo maluco com gol de falta de Victor Luis num frango de Vanderlei quando o adversário parecia mais próximo da virada, é impossível não ver o título se encaminhando para Luiz Felipe Scolari e seus comandados.

A única chance de surpresa desagradável seria um “efeito São Paulo”. Ou seja, cair vertiginosamente de produção quando passa a se dedicar exclusivamente ao Brasileiro por conta de eliminações no mata-mata. As semanas cheias jogando contra pelo tempo para pensar no peso do favoritismo. A ansiedade sufocante fazendo o desempenho despencar e os resultados seguirem a trilha ladeira abaixo.

Algo bastante improvável. Primeiro porque o Palmeiras, mesmo carregando a pressão por grandes conquistas depois que o investimento no elenco aumentou,  foi campeão brasileiro há dois anos. Não carrega o fardo de falta de títulos do Tricolor do Morumbi. Ainda há no grupo remanescentes da conquista de 2016 com Cuca. E mesmo que Felipão não tenha um título por pontos corridos no país, a experiência do treinador para lidar com essa responsabilidade também cria ambiente mais sereno. Há um escudo.

Sem contar a qualidade. É claro que a ausência de Dudu, por exemplo, seria um duro golpe, mas não do tamanho da de Everton para Diego Aguirre pela falta de reposição. Com todos à disposição é possível armar o time em função de cada adversário.

Nada muito complicado: visita Atlético-MG, Paraná e Vasco e enfrenta Fluminense, América e Vitória em São Paulo. Com cinco pontos de vantagem sobre o Inter. Uma rodada e mais dois pontos. Fruto da campanha espetacular no returno até aqui: dez vitórias e três empates. Incríveis 85% de aproveitamento. Para perder o título teria que cair para 66% – ou seja, ganhar apenas 12 dos 18 que restam –  e o Internacional responder com 100%.

Se derrapar só não será mais vexatório que em 2009, quando o time comandado por Muricy Ramalho era favorito absoluto e perdeu até a vaga na Libertadores. Nada leva a crer que possa acontecer. Parece questão de tempo. A tendência é que a matemática faça seu serviço na antepenúltima ou penúltima rodada.

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