espanha – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Os dez maiores jogadores do século 21 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/05/os-dez-maiores-jogadores-do-seculo-21/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/05/os-dez-maiores-jogadores-do-seculo-21/#respond Sun, 05 Apr 2020 12:27:36 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8253

Foto: Reuters

Antes que comece a gritaria é bom lembrar: “Melhor” tem relação exclusiva com a qualidade, quem joga mais. “Maior” tem a ver com feitos, conquistas dentro de um patamar igual ou bem próximo no talento.

Dito isso, vamos à lista:

1º – Cristiano Ronaldo – Ele não é melhor que Messi, mas compensa menos talento com mais força mental, trabalho, liderança positiva e conquistas. Em clubes e seleção. Venceu no Manchester United, no Real Madrid e agora na Juventus, ainda que apenas dentro da Itália. O “Mr. Champions”, com cinco conquistas. Pela seleção portuguesa, títulos da Eurocopa e Liga das Nações. Só tem uma Bola de Ouro a menos que Messi pela escolha “política” de Luka Modric em 2018. O maior jogador nascido na Europa em toda a história.

2º – Lionel Messi – O melhor que este que escreve viu jogar em quase quarenta anos acompanhando futebol. O maior jogador do grande clube do século 21. Mas para fazer rankings é preciso ter parâmetros e a escolha é pessoal. E o futebol de seleções ainda é muito relevante e aí está o grande porém da carreira do argentino. Mesmo sendo o maior artilheiro da albiceleste e descontando a bagunça da AFA e os gols perdidos pelos companheiros nas grandes decisões, a falta de uma conquista relevante pesa na disputa já lendária com CR7.

Cabe mais um parágrafo necessário sobre a dupla:

Sim, ainda falta uma Copa do Mundo para os dois. Pela maior tradição da Argentina, essa lacuna pesa mais para Messi. Mas rivalizar jogando em altíssimo nível e quebrando recordes por mais de uma década, só eles. Uma história que certamente será tema de filmes quando os dois se aposentarem. Nem precisa de distanciamento histórico para ter a dimensão do que fizeram, inclusive aumentar relevância da Liga dos Campeões no esporte.

Seguindo:

3º – Ronaldinho Gaúcho – Campeão mundial com o Brasil, da Liga dos Campeões pelo Barcelona e da Libertadores com o Atlético Mineiro. Currículo único, trajetória particularíssima. Talento puro que enquanto conseguiu ser competitivo encantou a ponto de concorrer ao Olimpo de Pelé e Maradona. A chance era ser bicampeão em 2006 com a seleção na Copa da Alemanha como protagonista. Mas falhou miseravelmente e algo se desconectou, vivendo de espasmos de genialidade. Uma pena.

4º – Ronaldo Fenômeno – Talvez não tenha sido melhor que Rivaldo em 2002. Mas a recuperação espetacular e o título mundial com artilharia absoluta depois de ter o joelho direito praticamente condenado para jogar no mais alto nível é a grande história do futebol deste século. De um atacante que até 1999 foi o Fenômeno que mudou a rotação do jogo. Depois viveu de lampejos e briga com a balança, mas ainda um atacante genial. Sem as grandes arrancadas, aprimorou a finalização para seguir brilhando.

5º – Zinedine Zidane – Outro que teve a chance de subir à primeira prateleira da história. A partir das oitavas em 2006, uma das grandes performances individuais em Copas do Mundo. Atuação magistral contra o Brasil favorito nas quartas. A chance da consagração na final, mas uma cabeçada na bola parou em Buffon e a que acertou em Materazzi encerrou o sonho e a carreira vitoriosa, com direito a gol antológico pelo Real Madrid na final da Champions 2001/02. O grande feito do francês no século.

6º – Xavi Hernández – Craque da Eurocopa 2008 na grande virada de chave histórica da Espanha. Da “Fúria” que passava longe das conquistas para a “Roja” bi do continente e campeã mundial em 2010. Fora os muitos títulos com o Barcelona. Com Pep Guardiola deu um salto de qualidade e se tornou ainda mais líder e o grande facilitador para o talento de Messi. Controlador do jogo e da bola. Toca e desloca, tic-tac. Uma pena ter se destacado na Era Messi x CR7. Merecia ao menos uma Bola de Ouro.

7º – Andrés Iniesta – Quatro anos mais novo que Xavi, viveu seu auge na Euro de 2012, com protagonismo na conquista. Sem contar o gol do título mundial na prorrogação contra a Holanda na África do Sul dois anos antes. Outro currículo impressionante de quem também jogou para ser melhor do mundo ao menos por uma temporada. Sabia ditar o ritmo como “oito”, mas também alternar pelos lados com intensidade. O estilo que dava liga a Xavi e Messi no Barcelona histórico.

8º – Kaká – O último Bola de Ouro antes do domínio de Messi e Cristiano Ronaldo. O único inquestionável na concorrência com os dois gênios. Pela temporada espetacular de 2006/07, a melhor da carreira. Imparável nos “sprints” que podiam ser de área a área, inteligente na movimentação ofensiva do 4-3-2-1 de Carlo Ancelotti no Milan. O último grande momento de uma carreira abreviada no mais alto nível por problemas físicos. Faltou também uma grande Copa do Mundo como protagonista.

9º – Toni Kroos – Mais um grande meio-campista do século. Multicampeão por Bayern de Munique, Real Madrid e seleção alemã. Capaz de executar no mais alto nível todas as funções no meio-campo, de área a área. Outro que seria mais reconhecido se não houvesse uma dupla de protagonistas tão absoluta. Os 7 a 1 são tratados sempre como a nossa tragédia, mas aquela tarde no Mineirão foi do meia alemão, com eficiência assombrosa em tudo que executou. Cracaço!

10º Andrea Pirlo – O “regista” do Milan bicampeão da Champions e da Itália campeã mundial de 2006. Ainda levou a Azzurra nas costas até a final da Euro 2012, aos 33 anos. Três anos depois estaria em uma final de Champions pela Juventus contra o Barcelona. O camisa dez que foi recuando e influenciou no jogo ao mostrar que os espaços mais atrás para organizar e articular poderiam ser preciosos e decisivos. Passes curtos e longos, acelerando e cadenciando. Um monstro!

 

]]>
0
Os dez maiores treinadores do século 21 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/30/os-dez-maiores-treinadores-do-seculo-21/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/30/os-dez-maiores-treinadores-do-seculo-21/#respond Mon, 30 Mar 2020 11:45:52 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8231

Foto: Darren Staples / Reuters

1º – Pep Guardiola 

O que melhor combinou conquistas, desempenho das equipes e influência no jogo. Suas ideias e transformações ao longo do tempo puxaram fila entre os treinadores e fez o esporte evoluir trinta anos em dez. O melhor time do século, o Barcelona de 2010/11, carrega sua forte assinatura. O mais vencedor em ligas por pontos corridos, quando o melhor trabalho quase sempre se impõe. São sete em nove disputadas. Dominante na Espanha, Alemanha e Inglaterra.

Influenciado por Rinus Michels, Johan Cruyff, Juan Manuel Lillo, Marcelo Bielsa, Arrigo Sacchi e também assimilando conceitos de seus contemporâneos, Guardiola se reinventa o tempo todo, adicionando intensidade e se adaptando ao ritmo da Premier League. Só não negocia a posse de bola, a pressão pós-perda para recuperá-la o mais rápido possível e a volúpia ofensiva de suas equipes. Um gênio.

2º – José Mourinho

O melhor do mundo indiscutível de 2003 a 2008. Contra Guardiola teve que se provar e protagonizou os grandes duelos dos últimos dez anos, vencendo com a Internazionale a Liga dos Campeões 2009/10 e La Liga em 2011/12 com campanhas históricas. Mas caindo com o Real Madrid na sequência de superclássicos de 2010/11, superado nas ligas nacional e continental, só vencendo a Copa do Rei.

Nem o ocaso recente diminui os grandes feitos e também a contribuição para o futebol. Sim, a sua “retranca inteligente” também ajudou a fazer o jogo evoluir. Uma pena ter assumido de forma exagerada o personagem “Darth Vader da bola”, se esforçando tanto para ser o anti-Guardiola que seus trabalhos estagnaram no exagero defensivo, no “park the bus”, e também na tensão exagerada da gestão do vestiário.

3º – Carlo Ancelotti

A liderança tranquila. Um gestor de talentos por excelência. Identifica os líderes, técnicos e anímicos, de um elenco e agrega ao trabalho, criando um clima amistoso, mesmo na imensa pressão do futebol em alto nível. Amado por figuras díspares, como Kaká, Ibrahimovic e Cristiano Ronaldo.

Mas também deu sua contribuição tática, com a “Árvore de Natal”, o 4-3-2-1 do Milan campeão europeu e mundial em 2006/07 que tinha Pirlo como “regista” e Kaká mais solto para rasgar as defesas adversárias com força e velocidade. Também o Real Madrid de “La Decima”, dando a melhor resposta ao estilo de Pep Guardiola ao massacrar o Bayern de Munique com 5 a 0 no agregado e um futebol de compactação defensiva e contragolpes demolidores.

4º – Alex Ferguson

O homem que fez o Manchester United tomar do Liverpool o posto de maior vencedor na Inglaterra, com 20 títulos. O Rei da Premier League, com 13 conquistas. Sete neste século. Cinquenta títulos na carreira. E os Red Devils tentam até hoje reencontrar um caminho de volta às glórias.

Ferguson não era nenhum gênio tático, mas tinha a capacidade de desenvolver seus jogadores, como fez com Cristiano Ronaldo, Wayne Rooney, David Beckham, Ryan Giggs e tantos outros. Influenciado pelos treinadores estrangeiros que chegaram a Inglaterra, soube criar variações e apostar na versatilidade dos atletas. Apostava também na força mental, especialmente no final dos jogos, que criou o mito do “Fergie Time”, arrancando vitórias improváveis que construíram uma carreira mais que vencedora.

5º – Jurgen Klopp

O melhor treinador da atualidade. O grande algoz de Guardiola, criando problemas para o catalão desde os duelos do Bayern contra o Borussia Dortmund que comandou e construiu uma hegemonia no início desta década na Alemanha com seu futebol “rock’n’roll”.

Estilo personalíssimo, de intensidade máxima e rapidez nas transições, mas que aprendeu a trabalhar a bola para acrescentar pausas e não exaurir sua equipe. Assim deu o salto competitivo que fez o Liverpool duas vezes finalista da Champions, último campeão e agora com o tão sonhado título de Premier League dos Reds encaminhado e barrado apenas pelo Covid-19. Além de ótimo profissional, um cara boa gente. Carismático, adorado por seus jogadores e respeitado pelos adversários.

6º – Arsène Wenger

Não se prenda à imagem final do francês no Arsenal decadente. Wenger revolucionou não só o clube, mas também o futebol inglês. Sepultou o “kick and rush” e adicionou leveza e valorização da técnica. Com erros e acertos, também marcou seu trabalho pela descoberta e desenvolvimento de jovens talentos. Assim ajudou o clube a se estruturar financeiramente e construir o Emirates Stadium.

O grande momento, indiscutivelmente, foi o título invicto da Premier League em 2003/04. Os “Invincibles” das rápidas transições ofensivas e do fulgor da dupla Dennis Bergkamp e Thierry Henry no ataque, bem assessorados por Ljungberg, Pires, Vieira e Ashley Cole. Faltou o título europeu, que parou no Barcelona de Ronaldinho em 2005/06, mas a trajetória é marcante na história.

7º -Jupp Heynckes

O “pai” do futebol mais inteligente da atualidade, com times versáteis, capazes de mudar de estratégia nas partidas sem alterar a escalação. Em 2012/13, o Bayern de Munique da tríplice coroa foi o segundo time com mais posse na Europa, mas atropelou o Barcelona, líder no controle da bola, na semifinal da Champions com 7 a 0 no agregado e 40% de posse na média das duas partidas.

O time de Robben e Ribéry que podia encurralar o adversário em seu campo ou atrair e atropelar com transições ofensivas avassaladoras. Superando a doída derrota nos pênaltis para o Chelsea na final europeia em Munique e fazendo da temporada de despedida do treinador veterano uma aventura épica que deixou marcas tão profundas que fez Heynckes retornar da aposentadoria em 2018 para reerguer o clube e levá-lo a novo título da Bundesliga, aos 73 anos.

8º – Zinedine Zidane

Um gênio dos campos que fez história em sua primeira experiência como treinador em um grande time. Tricampeão da Champions, um feito que, mesmo com oscilações no desempenho e beneficiado por algumas arbitragens bastante questionáveis, é difícil de mensurar sem o devido distanciamento histórico.

Herdeiro da liderança tranquila de Ancelotti, de quem foi auxiliar no próprio time merengue, o francês ajustou um timaço que sabia trabalhar no campo de ataque, mas também nos contragolpes. A temporada 2016/17 foi perfeita, não só pelo título espanhol, mas pela armação do 4-3-1-2 móvel que tinha Isco ora se juntando a Casemiro, Modric e Kroos no meio-campo, ora formando um trio no ataque com Cristiano Ronaldo e Benzema. Atuação magnífica nos 4 a 1 sobre a Juventus na final da Champions.

9º – Vicente Del Bosque

Dois grandes feitos no século: o único treinador que conseguiu fazer o time galáctico do Real Madrid, com todas as estrelas – Roberto Carlos, Figo, Zidane, Raúl e Ronaldo – faturar um título: a liga espanhola 2002/03. Apenas sem o Fenômeno ganhou a Champions da temporada anterior, com o gol antológico de Zidane na final contra o Bayer Leverkusen.

Ainda o primeiro título mundial da Espanha em 2010. Combinando com sabedoria o legado de Aragonés no título da Eurocopa 2008 com a influência de Pep Guardiola no Barcelona que era a base da seleção. Sabendo que não contava com o gênio Messi, apostou em uma posse obsessiva e defensiva, que trabalhava a bola no ritmo de Xavi e Iniesta para ser menos incomodado pelos adversários. Del Bosque também era um sábio gestor de vestiário que criava um clima sereno para as estrelas brilharem.

10º – Diego Simeone

O argentino não poderia deixar de figurar nesta lista apenas por ter conquistado uma liga espanhola superando o Barcelona de Messi e o Real Madrid de Cristiano Ronaldo – simplesmente dois dos maiores times da história de clubes gigantes. Na temporada 2013/14 que ainda teve final da Champions que escapou nos últimos segundos.

Mas Simeone fez muito mais. Podemos dividir a história do Atlético de Madri antes e depois do treinador. Não só pelos dois títulos de Liga Europa e uma Copa do Rei, além da liga espanhola já citada, mas pelo resgate da autoestima e do orgulho do clube. Capaz de feitos como o mais recente, eliminando o campeão Liverpool da Liga dos Campeões. Você pode não apreciar o estilo, mas tem que respeitar o que conseguiu sem os mesmos recursos dos gigantes espanhois.

 

 

 

]]>
0
Quem dera Fernando Diniz fosse “guardiolista”… http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/11/13/quem-dera-fernando-diniz-fosse-guardiolista/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/11/13/quem-dera-fernando-diniz-fosse-guardiolista/#respond Wed, 13 Nov 2019 09:40:12 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7559

Foto: Assessoria de Imprensa / Fernando Diniz

Bastaram duas derrotas do São Paulo, contra Fluminense e Athletico, para Fernando Diniz voltar a ser alvo das críticas de sempre: muita posse de bola, pouca efetividade, fragilidade defensiva…”Muita teoria, pouco resultado”.

Uma crítica que até tem fundamento, já que o aproveitamento de Diniz nos três clubes citados acima, justamente os que comandou na Série A, comprovam que sua proposta de jogo não entrega os resultados esperados. Ainda que os números tenham melhorado: no Athletico e no Fluminense ganhou 26% dos pontos, no Tricolor do Morumbi chegou a 51.5%  – cinco vitórias, dois empates, quatro derrotas. Mesmo assim insuficiente para as expectativas criadas em relação ao elenco que ganhou Juanfran e Daniel Alves.

O problema é o conteúdo dessas ressalvas ao trabalho do treinador. Principalmente a comparação no estilo com Pep Guardiola. Apesar da visita ao treinador catalão quando Diniz esteve na Europa e apontar algumas semelhanças que  vê nas ideias de jogo, ele nunca citou diretamente como influência. Sempre falou em resgate da essência do futebol brasileiro, o lado lúdico dos jogadores.

Quando chegou ao São Paulo lembrou Telê Santana, mas em entrevista ao nosso Bolívia, no Youtube, falou em Diego Simeone como referência. Nada, ou bem pouco a ver com que suas equipes apresentam. Muito provavelmente pela cultura muito enraizada no futebol brasileiro, que analisa tudo a partir das individualidades, de que o grande treinador é o que consegue formar um grande time, ou ao menos um muito competitivo, sem grandes orçamentos. Como se o Atlético de Madrid fosse um pobre diabo na Europa…

As velhas máximas “treinador bom é o que não atrapalha”, “com craques é só distribuir as camisas” e “quero ver o Guardiola ser campeão da Série B no Brasil” que não têm nenhuma conexão com a realidade atual. Como se um grande chef fosse obrigado a fazer um prato sofisticado e saboroso em uma cozinha mambembe, sem recursos e um mínimo de higiene.

Diniz parece um tanto confuso entre suas convicções e o que necessita entregar em termos de resultado. Estreou se fechando contra o Flamengo e garantindo o empate sem gols que tornou o São Paulo a única equipe do campeonato a não ser derrotada pelo líder absoluto e virtual campeão brasileiro – no turno, 1 a 1 contra os reservas rubro-negros, ainda comandados por Abel Braga.

Depois deu a impressão de que tentaria combinar a solidez defensiva demonstrada com Cuca com mais posse e qualidade no ataque. Mas seu trabalho parece seguir o curso dos anteriores: com o tempo as ideias se estagnam, sem maiores variações. O método não consegue entregar a evolução de desempenho e também fica a impressão de que com o desgaste dos revezes a gestão do vestiário se perde.

Para complicar, o São Paulo segue em seu “limbo” no futebol brasileiro. Nem redenção, nem fundo do poço. É um clube morno, mesmo afundado em seguidas crises políticas. Não chega ao topo, nem enfrenta uma crise institucional séria – como um rebaixamento, por exemplo – para unir todos em torno do clube e virar as costas de vez para o passado, criando uma versão moderna e vencedora de um dos clubes brasileiros com mais conquistas nacionais e internacionais.

Diniz sofre sem resultados e para muita gente a “culpa” é de Guardiola. Agora então com o City em momento menos brilhante e vendo o Liverpool disparar na Premier League… O equívoco maior é associar o técnico do time azul de Manchester a um “tiki-taka” que ficou para trás no Barcelona. O próprio criador do melhor time que este que escreve viu jogar diz que aquele modelo já foi atualizado. Quem viu o Bayern de Munique e agora assiste aos jogos do time inglês sob o comando de Pep nota em cinco minutos se olhar com atenção.

Guardiola muitas vezes sofre críticas por trabalhos influenciados pelo seu estilo. Como a Espanha bicampeã da Europa e vencedora no Mundial de 2010, na África do Sul. Seleção comandada por Vicente Del Bosque com base do Barcelona e proposta diferente da equipe comandada por Luis Aragonés. Uma posse mais defensiva de quem sabia não ter em Villa e Fernando Torres os artilheiros de dois anos antes e optou ficar com a bola no ritmo de Xavi e Iniesta. Mas com diferenças bem nítidas do time blaugrana, além da ausência de um Messi para desequilibrar.

Talvez os paralelos que se criam entre Diniz e Guardiola sejam fruto de uma visão bastante equivocada sobre as fontes de Pep. Só porque um dia, depois de ver seu Barça enfiar 4 a 0, fora o baile, no Santos em 2011 na final do Mundial, o treinador foi gentil com os jornalistas brasileiros e disse que seu time jogava o que seu avô falava sobre o futebol cinco vezes campeão do mundo, o mito de que ele tem como influência o estilo brasileiro foi criado.

Basta uma breve pesquisa sobre Pep para perceber que, quando ele resolveu viajar para amadurecer suas ideias antes de iniciar a nova carreira, ele não veio ao Brasil. Pode ter conversado muito com Pepe sobre o Santos de Pelé no final da carreira de jogador no Catar e declarar amor pela seleção de 1982, mas no momento em que sentiu necessidade foi expor suas ideias a Marcelo Bielsa, Arrigo Sacchi, César Menotti, Louis Van Gaal, Juan Manuel Lillo e outros treinadores.

Basicamente das escolas holandesa, espanhola e argentina. Nem sinal de Brasil, para desespero dos orgulhosos que acham que tudo ainda gira em torno do nosso “jogo bonito”. Na essência, a referência de Guardiola é Johan Cruyff, treinador que moldou seu jogo como atleta no início dos anos 1990. Mesmo paradigma, aliás, de Jorge Jesus, outro que hoje é apontado como o técnico responsável por “resgatar” o futebol brasileiro. Com um modelo tipicamente europeu, mas obviamente adaptado à cultura local e ao que o português chama de “jogar a Flamengo”.

Guardiola se diz um “ladrão de ideias”. Hoje o City que comanda quer a bola e adianta as linhas, mas entende a necessidade de velocidade nas transições, de um jogo mais direto, principalmente quando recupera a bola no campo de ataque. A decisão da jogada precisa ser imediata. É obrigatório trabalhar com carinho as bolas paradas, de ataque e defesa. O técnico quer vencer e empilha novas influências, inclusive do grande rival Jurgen Klopp.

O alemão também mostra que sabe combinar ideias. Hoje seu Liverpool tem momentos em que valoriza a posse para tirar um pouco a aleatoriedade do jogo de bate e volta na intensidade máxima. Bebe também em Pep. No mundo em que a informação circula ficar parado é pedir para ser atropelado.

Fernando Diniz hoje só parece um treinador no meio do caminho entre o que acredita e o que julga fundamental para prosperar na carreira. No São Paulo não entrega ideias, nem desempenho, muito menos os resultados esperados. Quem dera fosse “guardiolista” mesmo e estivesse contribuindo de fato para a evolução do nosso jogo…

 

]]>
0
Copa América reforça: futebol moderno em alto nível é dos clubes europeus http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/24/copa-america-reforca-futebol-moderno-em-alto-nivel-e-dos-clubes-europeus/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/24/copa-america-reforca-futebol-moderno-em-alto-nivel-e-dos-clubes-europeus/#respond Mon, 24 Jun 2019 09:46:56 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6749

França campeã mundial, Portugal vencedor da Eurocopa e Chile bi da Copa América. Qual destas seleções demonstrou um futebol de fato consistente dentro de suas propostas, independentemente da questão estética?

Pois é. Tirando um ou outro espasmo, aqui como lá, o desempenho médio ficou muito aquém do futebol moderno realmente em alto nível. Hoje privilégio dos grandes clubes europeus, mais especificamente a Liga dos Campeões. Ainda que a última final da maior competição continental que contou com ótimo rendimento ao menos de uma das equipes tenha sido a de 2016/17, com o espetáculo do Real Madrid nos 4 a 1 sobre a Juventus em Cardiff.

Nas duas últimas, muita tensão pelo que havia em jogo e uma disputa mais mental que técnica ou tática. É de se pensar se o período sem jogos entre o fim das ligas e a grande decisão europeia paradoxalmente não vem atrapalhando corpos e mentes acostumados a constante atividade.

Pode ser também um dos fatores que prejudicam o futebol de seleções. Os jogadores vêm de seus clubes carregando todos os condicionamentos, jogadas executadas sem pensar, até por conta do tempo e do espaço reduzidos, e precisam rememorar os movimentos praticados com seus compatriotas. Isso quando há uma base montada.

É bem provável que a Copa América 2019 tenha hoje o seu primeiro jogo realmente de bom nível, entre Chile e Uruguai no Maracanã, fechando o Grupo C e a primeira fase do torneio. A Celeste com o trabalho de Óscar Tabárez desde 2006 e a busca de um maior repertório além das jogadas aéreas e do jogo direto para Cavani e Suárez; a Roja tentando o tricampeonato com o terceiro treinador diferente – Sampaoli, Pizzi e agora Reinaldo Rueda. Mantendo, porém, uma base experiente e qualificada, a melhor da história do país. Apesar da decepcionante campanha nas Eliminatórias que limou a participação na Copa do Mundo na Rússia.

Equipes que tentam aproximar suas propostas: o Uruguai busca ficar mais com a bola, o Chile procura solidez defensiva e competitividade, mas sem abrir mão das próprias virtudes. Futebol versátil, de acordo com a demanda. Porque é o que a “elite” faz, mas com a possibilidade do dia a dia. Treina, repete, corrige, repensa, aprimora. Há tempo. Também o alto faturamento, no caso dos clubes mais ricos, para contratar quem possa adicionar talento e casar melhor com as características dos companheiros. Sem a “barreira” da pátria.

Para tornar tudo mais complicado, os principais torneios entre seleções acontecem no final da temporada europeia. Cada vez mais desgastante para pernas e cérebros, só deixando os “bagaços” para as seleções. Outro obstáculo para desenvolver um jogo mais elaborado. No torneio sul-americano disputado no Brasil, os gramados ruins são mais uma dificuldade.

Eis o ponto. É mais simples montar as retrancas modernas, com linhas compactas, sincronia de movimentos para negar espaços principalmente no “funil” e muita intensidade, pressionando o adversário com a bola. As seleções com mais camisa, tradição e/ou talento precisam de entrosamento, sintonia para se instalar no campo de ataque e criar as brechas para furar esses blocos cada vez mais sólidos. Uma solução seria a marcação por pressão perto da área adversária, para roubar a bola e acelerar com campo livre. Mas cadê as pernas para isso entre junho e julho, quando a maioria deveria estar de férias?

Não por acaso, Espanha e Alemanha conseguiram se impor em 2010 e 2014 com um jogo mais eficiente e plástico que o da França no ano passado. Trazendo suas bases de Barcelona/Real Madrid e Bayern de Munique/Borussia Dortmund, o “jogar sem pensar” dentro de uma proposta mais posicional, de controle pela posse, ficou mais viável e até proporcionando algum espetáculo. Aos franceses, com jogadores espalhados pela Europa e pela pressão por conta do fracasso em casa na final da Euro 2016, restou o pragmatismo, apelando para bola parada, velocidade de Mbappé e os lampejos de Griezmann e Pogba.

Por isso e também pela questão financeira, Guardiola, Klopp, Simeone, Pochettino, Ancelotti, Sarri e outros treinadores das prateleiras mais altas não se aventuram no futebol de seleções. Em momento de baixa, José Mourinho até considerou a hipótese, mas ainda com mercado e Fernando Santos em alta com as conquistas recentes por Portugal é bem possível que volte ao cenário em um grande clube. Até porque o salário não é baixo.

A Copa América deve “pegar” agora na reta final e a tendência é que termine deixando uma melhor impressão. Mas o futebol de seleções, que no início dos anos 1980 fez este blogueiro se apaixonar pelo esporte antes mesmo de escolher o time de coração, hoje vive um dilema. O jogo moderno exige uma fluidez que só é possível com treinos e jogos seguidos. Trabalho diário e no auge físico e técnico. Tudo que falta a treinadores e jogadores que representam seu países.

O nível mais baixo de desempenho não é “falta de amor” ou ser “mercenário”. Os mais abastados, na prática, nem precisam de suas seleções. Antes, sim, a presença na lista de convocados proporcionava contratos mais vantajosos. Hoje pode ser até um grande problema na avaliação individual de uma temporada – Messi é o maior exemplo. A realidade é dura e só tende a ficar mais complexa com o futebol mais intenso e o calendário inchado.

A Liga dos Campeões já é do tamanho da Copa do Mundo e tende a ser maior e melhor a cada ano.

]]>
0
Casagrande, Tite, Neymar e um apelo: menos resultadismo em 2019! http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/12/28/casagrande-tite-neymar-e-um-apelo-menos-resultadismo-em-2019/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/12/28/casagrande-tite-neymar-e-um-apelo-menos-resultadismo-em-2019/#respond Fri, 28 Dec 2018 03:17:22 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5700 Há uma confusão de conceitos que marca o futebol brasileiro desde 1982: busca do resultado x resultadismo.

É óbvio que todos entram em campo para competir e vencer. A seleção de Telê Santana, tão criticada pela irresponsabilidade defensiva na derrota para a Itália, sofreu o terceiro gol com todos os jogadores dentro da própria área no escanteio para garantir o empate por 2 a 2 que garantiria a classificação para a semifinal da Copa do Mundo na Espanha.

O Brasil em Mundiais venceu e perdeu com os pragmáticos Parreira e Felipão. Até com Zagallo, o que melhor conseguiu combinar espetáculo e eficiência no título de 1970 no México. Telê não ganhou o mundo com a camisa verde e amarela, mas venceu tudo uma década depois no São Paulo.

Há formas e formas de vencer. Normalmente quem joga bem – diferente de jogar bonito, que é muito subjetivo e depende da visão do esporte de quem julga – está mais perto do triunfo. Mas no Brasil uma crença foi alimentada ao longo do tempo em uma espécie de “atalho” para conseguir os três pontos.

A ordem é simplificar. Fecha a casinha, bola no talento e se nada der certo aquele gol de bola parada, rebatida, meio ao acaso é o suficiente para detonar a catarse. Junte a isso a versão do torcedor de que “sofrido é mais gostoso” e temos o cenário perfeito para valorizar aquele um a zero suado…e mal jogado.

Mas o grande prejuízo vem nesse vício de construir toda a narrativa a partir do resultado puro e simples. Não há o jogo em si, com o imponderável e a interferência de todos os agentes. A menos que um erro da arbitragem seja decisivo. Então todo o debate se resume à decisão do apitador. Novamente o jogo fica em segundo plano. Só o resultado segue com seu protagonismo.

Parte dos jornalistas e ex-boleiros também alimentam esse reducionismo. Porque é mais simples para comentar e fácil de jogar para a galera. Se o time vence basta apontar os herois e não colocar nenhuma ressalva. Na derrota a tarefa é encontrar os vilões e colocar defeito até onde não existe.

Tite foi o primeiro convidado do programa “Grande Círculo” no Sportv e Casagrande, um dos entrevistadores, questionou o treinador sobre o corte de cabelo de Neymar na véspera da estreia da seleção na Copa do Mundo na Rússia contra a Suíça. Usando o exemplo de sua estreia em Mundiais no México em 1986 contra a Espanha, afirmou que todos no dia anterior pensavam apenas na partida, não na imagem.

É bem provável que a tentativa do comentarista fosse usar um gancho para arrancar de Tite um mea culpa sobre uma suposta falta de comando sobre o craque do time. Só que o paralelo não pareceu dos mais felizes. Até porque Casagrande já afirmou algumas vezes que quando jogava procurava se desligar e baixar a ansiedade ouvindo música e lendo livros na concentração. Também já admitiu que só assiste aos jogos que comenta, sem nenhuma pesquisa anterior.

Ainda que fosse um jogo especial para ele, o primeiro em Copas, o contexto era bem diferente. O Brasil devia ter informações bastante genéricas sobre a Espanha por conta dos recursos limitados da época. Em 2018, certamente na véspera o adversário já estava mais que estudado, dissecado por analistas, auxiliares e o próprio Tite. Os jogadores estavam municiados com todos os dados sobre cada adversário.

É quando entra o resultado. Casagrande certamente se sentiu mais seguro para usar seu exemplo para a comparação porque o Brasil venceu a então “Fúria” há 32 anos por 1 a 0, gol de Sócrates, e agora apenas empatou com a Suíça. Mas quem viu os dois jogos pode interpretar sem nenhum temor que a atuação em 2018 foi bem superior. Gol sofrido na bola parada em um lance esporádico, falha pontual de posicionamento. Boas oportunidades criadas para ir além do 1 a 1.

Já em 1986 foi um sufoco no Estádio Jalisco e o “apito amigo” ajudou mais uma vez o Brasil em Copas ao não validar um gol espanhol, ainda com 0 a 0 no placar, em chute de Michel que claramente cruzou a linha da meta do goleiro Carlos depois de bater no travessão. Casagrande? Atuação discreta, para ser generoso. Ao longo do torneio o centroavante perderia a vaga na dupla de ataque com Careca para Muller.

O resultado no Mundial também mudou o tom com Tite. Antes da Copa os elogios eram frequentes, os questionamentos, quando aconteciam, eram amenos. Só pergunta levantando a bola para o treinador cortar. Bastou perder para a Bélgica e, mesmo com o reconhecimento de que o trabalho merece um ciclo desde o início, as críticas chegam com outro peso.

A mais frequente de que o técnico teria levado um “nó tático” do espanhol Roberto Martínez no duelo pelas quartas de final da Copa. Mais uma vez a simplificação: se Martínez mexeu no time, posicionou Lukaku pela direita, De Bruyne como “falso nove” e terminou o primeiro tempo vencendo por 2 a 0 só pode ter sido a surpresa da mudança.

Mas basta rever o jogo com atenção para notar que a “barbeiragem” tática do técnico da Bélgica só não custou caro porque a sequência de acontecimentos da partida o beneficiou demais. Se houvesse surpresa isso ficaria claro nos primeiros minutos. Tite mandou recado para manter a maneira de jogar e o sistema tático.

Nos primeiros minutos, a superioridade numérica pela esquerda com Marcelo, Phillipe Coutinho e Neymar contra apenas Meunier e Fellaini, já que Lukaku não voltava para ajudar sem bola, criou uma finalização e o escanteio que terminou no toque de Thiago Silva que bateu no travessão de Courtois.

O que desequilibrou tudo foi o gol contra de Fernandinho. O substituto de Casemiro se perdeu no jogo e, aí sim, o sistema defensivo desmoronou. No segundo dos belgas, o rebote do escanteio gerou um contragolpe com Lukaku por dentro servindo De Bruyne pela direita. Chute forte e cruzado, 2 a 0. Qual a relevância das mudanças da Bélgica nos gols?

Tite pode e deve ser questionado por não ter sido mais prudente por conta da ausência de Casemiro, que nos jogos anteriores, especialmente nas oitavas contra o México, salvou vários erros de posicionamento de Paulinho e Coutinho no meio-campo. Poderia ter mantido Filipe Luís e deixado Marcelo, com seus problemas defensivos, no banco. Ou reforçado o meio. Aí entram dois equívocos correlatos: manter Fred lesionado no grupo sabendo que Renato Augusto não teria condições de entregar 100% em 90 minutos.

No segundo tempo, um ajuste na retaguarda com Fagner e Miranda colando em Hazard e Lukaku, Fernandinho vigiando De Bruyne e Thiago Silva sobrando; Douglas Costa, Roberto Firmino e Renato Augusto em campo e domínio absoluto brasileiro. Várias finalizações, chances cristalinas (e imperdíveis num jogo eliminatório) de Coutinho e Renato Augusto, autor do único gol, e defesaça de Courtois em chute colocado de Neymar no ataque final.

Era jogo para 2 a 2 ou até virada brasileira, mas deu Bélgica. Eliminação e o ciclo de vilanização, especialmente de Tite e Neymar. Que merecem críticas, sim. Mas não atirando para qualquer lado. O Brasil podia ter passado à semifinal apesar dos problemas. A campeã França jogou tão melhor assim?

Neymar merece ser alvo, mas pelo motivo mais justo: o erro grave de preferir forçar o jogo individual para pendurar adversários com cartões e tentar cavar um vermelho simulando contusão e rolando no chão em vez de dar sequência, não cair e tentar definir finalizando ou servindo. Pouco inteligente, para dizer o mínimo.

Mas preferem focar no periférico, no cabelo. Tite já havia admitido a imaturidade de Neymar em uma pergunta simples e direta sobre o tema no “Bola da Vez” da ESPN Brasil. No Sportv diante de Casagrande deu a única resposta possível para uma pergunta mal formulada: o jogador tem a liberdade de cortar o cabelo na véspera de uma partida.

Ronaldo Fenômeno fez o corte “Cascão” nos dois últimos jogos em 2002. Na Copa das Confederações de 1997, jogadores tiveram suas cabeças raspadas em um trote absurdo que deixou sequelas no relacionamento entre alguns deles. Como a bola entrou e a taça foi levantada, tudo entra para o “folclore”. Se tivesse perdido…

Não pode ser só isso. O futebol é apaixonante justamente por suas nuances, imprevisibilidades. Pela beleza do futebol bem jogado, mas também pela possibilidade nada desprezível do time pior sair de campo vencedor. É simplista demais resumir todos os processos ao placar e à posição na tabela. Se o resultado fosse tudo não seria futebol.

Por isso, neste último texto em 2018, o blog faz um humilde apelo por obrigação de ofício e também amor ao jogo: menos resultadismo em 2019! Até lá!

 

]]>
0
Sneijder e Iniesta mereciam mais que Modric quebrar “duopólio” Messi/CR7 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/09/24/sneijder-e-iniesta-mereciam-mais-que-modric-quebrar-duopolio-messicr7/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/09/24/sneijder-e-iniesta-mereciam-mais-que-modric-quebrar-duopolio-messicr7/#respond Mon, 24 Sep 2018 19:46:32 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5261

Foto: AFP

Luka Modric é um meio-campista brilhante, dos melhores de todos os tempos. Joga de área a área, inteligente para fechar e abrir espaços, ditar o ritmo. Tem passe curto e longo quando necessário. Teve bom desempenho no Real Madrid tri da Liga dos Campeões e na Croácia vice-campeão do mundo.

Mas na visão deste blogueiro não foi sequer o melhor de seu time e de sua seleção em 2017/18. Ou ao menos isto é discutível. Para não citar Cristiano Ronaldo, nas estatísticas, Toni Kroos foi mais eficiente cumprindo a mesma função no tripé que forma com Casemiro no time merengue. Mais passes certos, finalizações, inversões de jogo, até desarmes. Na seleção croata, Perisic foi mais decisivo com gols e assistências. Craque da Copa? Para este blog, Kylian Mbappé. Nem foi o melhor Modric da carreira…

Como diz o ótimo colega Bruno Formiga, a impressão que tanto a UEFA quanto a FIFA dão ao entregar os prêmios individuais para Modric é de que resolveram premiar um roteiro de cinema. O menino da infância sofrida que ama seu país e chegou à glória aos 33 anos. Muito longe da meritocracia. E ainda dá margem para teorias da conspiração como a de que CR7 só não venceu porque saiu do poderoso gigante espanhol e partiu para a Juventus.

O fato é que chega ao fim o “duopólio” Messi /Cristiano Ronaldo. Cinco para cada lado. Sem dúvida um momento histórico, mas com protagonista que merece todo o respeito, mas não tem peso nem teve rendimento para tal feito. Talvez por isso a ausência dos dois recordistas na cerimônia. Eticamente discutivel, mas até justificável.

Se fosse para premiar um meio-campista com temporada brilhante neste período que fizessem com Sneijder em 2010. Tríplice coroa com a Internazionale como um dos protagonistas e o melhor holandês vice-campeão, um dos artilheiros do Mundial na África do Sul e que perdeu a final para a Espanha apenas na prorrogação.

Gol de Iniesta, outro que poderia ter sido contemplado em 2010 pelas conquistas com o Barcelona do Espanhol e da Copa do Rei, além do título mundial com direito ao gol que o transformou num mito não só na Catalunha, mas em todo o país. Ou em 2012, quando venceu a Euro sendo o craque da “Roja” e Messi acabou faturando pelo recorde de 91 gols em um ano.

Dois que jogaram mais que Modric. O croata não tem nada com isso e pode e deve comemorar muito com família, compatriotas e colegas de time. Mas é difícil, quase impossível entender os critérios da premiação se comparados com os de outros anos. Forçaram a barra e não foi pouco.

]]>
0
Messi precisa acordar! O mundo e o futebol mudaram, também por causa dele http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/09/03/messi-precisa-acordar-o-mundo-e-o-futebol-mudaram-tambem-por-causa-dele/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/09/03/messi-precisa-acordar-o-mundo-e-o-futebol-mudaram-tambem-por-causa-dele/#respond Mon, 03 Sep 2018 18:49:18 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5161

Foto: Reuters

Messi foi o melhor do mundo há oito anos sendo campeão espanhol e da Copa do Rei, caindo nas semifinais da Liga dos Campeões e nas quartas de final para a Alemanha na Copa do Mundo da África do Sul. Foi o ano da festa do Barcelona, com Xavi e Iniesta, campeões com a Espanha, formando a trinca de finalistas.

Era o período de encantamento com o argentino genial que evoluiu absurdamente sob o comando de Pep Guardiola. Mesmo sem marcar um gol no Mundial de seleções sua imagem de jogador de uma era seguiu intacta. Cristiano Ronaldo sofreu com lesão grave, eliminação nas oitavas da Champions e desempenho apenas razoável, para seu nível, com Portugal na Copa. Era a primeira temporada no Real Madrid.

Pouco valeu o brilho de Sneijder, que ganhou tudo com a Internazionale e foi um dos artilheiros da Copa pela Holanda, só perdendo o título na prorrogação da final. Sendo decisivo contra o Brasil nas quartas de final. Uma das maiores injustiças da premiação.

Corte para 2018. Luka Modric ganha o prêmio da UEFA como melhor jogador da temporada europeia e está entre os três finalistas do Prêmio The Best da FIFA. Campeão da Champions e vice mundial, como Sneijder. Mohamed Salah, outro finalista dos dois prêmios, nem isso. Eliminado na fase de grupos com seu Egito, não chegou perto de ser campeão inglês com seu Liverpool e perdeu a final do principal torneio de clubes do mundo para o Real Madrid. Mesmo com o golpe sujo de Sergio Ramos que tirou o atacante da decisão ainda no primeiro tempo, não parece algo que chame tanto a atenção.

Mas é. Porque o mundo e o futebol mudaram. Muito. Também por causa do argentino. A Liga dos Campeões ganha um peso cada vez maior na temporada. Por conta da visibilidade e do nível cada vez mais alto do torneio europeu, os campeonatos nacionais perderam relevância. Até por conta dos supertimes que dominam seus países – leia-se Bayern de Munique, PSG e Juventus. Na Espanha, a tendência recente é o Real Madrid focar tudo na Champions e o Barcelona dividir esforços.

Eis o ponto que marca esse novo olhar. Messi foi novamente protagonista no domínio espanhol do Barça. Liga e Copa. Chuteira de Ouro com 34 gols na liga. 46 no total e mais 18 assistências. Mas e daí? O seu talento é que fez subir o sarrafo, o nível de cobrança. Não é mais o suficiente. Pior ainda com a eliminação para a Roma, time de poder de investimento muito inferior e em outra prateleira do cenário mundial. Derrota vexatória por 3 a 0. Mais uma vez ficando de fora até das semifinais.

Na Copa do Mundo, novamente um desempenho bem abaixo de sua excelência. Sua Argentina caiu nas oitavas de final. Para a campeão França justamente na melhor atuação da equipe de Pogba, Griezmann e Mbappé na Copa. Por 4 a 3, sem vexame. Porém não basta mais para Messi. Espera-se muito dele e se decepciona sua avaliação cai a ponto de ficar abaixo de jogadores sem números e conquistas semelhantes.

Imaginava-se que ficaria ao menos entre os três finalistas, como em todas as edições desde 2007. Nem isso. Um momento simbólico, que pede reflexão a Messi. Sua rivalidade com Cristiano Ronaldo fez história e jogou no teto o nível do futebol de clubes na elite europeia nestes dez anos. O mundo cobra Messi que seja campeão da Champions ou do mundo com a albiceleste. Ele precisa ver que mudou. Acordar para uma nova realidade, caso ainda queira ser competitivo no topo, individual e coletivo.

Sua personalidade aponta dois caminhos. Ou o “sangue nos olhos” de 2015, depois do grito de Cristiano Ronaldo (o lendário Síiiiii!) na celebração do prêmio de melhor de 2014 desafiando o rival, para liderar o trio MSN na conquista da tríplice coroa. Ou se conformar em seguir reinando no Barça, aumentando ainda mais os números como o grande jogador da história do clube que o acolheu, pagou seu tratamento para crescer e formou o homem e o atleta. Jogar por gratidão.

Se houver espaços para ele jogar como gosta vem o brilho. Se o adversário nega, Messi circula pelo campo sem produzir grande coisa e vê seu time derrotado. Foi assim nas últimas três temporadas. Começa assim a atual: adversários fáceis na liga, quatro gols e duas assistências. Sem Cristiano Ronaldo, a tendência é nadar de braçadas no Espanhol.

Pode bastar para ele, não para o planeta bola. Messi não vai a Zurique desta vez. Pode estar irado, aliviado ou mesmo indiferente. Quem é capaz de entender o argentino?

]]>
0
Rússia segue por seu povo e pela retranca com bola da Espanha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/01/russia-segue-por-seu-povo-e-pela-retranca-com-bola-da-espanha/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/01/russia-segue-por-seu-povo-e-pela-retranca-com-bola-da-espanha/#respond Sun, 01 Jul 2018 17:18:32 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4817 Aos 12 minutos do primeiro tempo, o gol contra do zagueiro russo Ignashevich em disputa com Sergio Ramos após cobrança de escanteio de Asensio pela direita deixava o duelo pelas oitavas de final à feição da Espanha. Mais uma vez na Copa do Mundo, a bola parada descomplicava o trabalho do time obrigado a atacar contra uma retranca com linhas de handebol.

Mas a Espanha optou desde a escalação inicial por ser cuidadosa com a transição defensiva. Por isso Nacho na lateral direita no lugar de Carvajal, Koke na vaga de Iniesta e Asensio substituindo Thiago Alcântara. Depois do sofrimento na fase de grupos com apenas Busquets protegendo Piqué e Sergio Ramos era até compreensível a cautela na primeira disputa eliminatória.

Só não precisava apelar para uma exacerbação do “tiki taka” da conquista da Copa do Mundo em 2010 e da Eurocopa de 2012 com Vicente Del Bosque. Uma posse defensiva, para evitar os contragolpes do oponente. Estratégia legítima, mas pouco inteligente diante da Rússia assustada e ainda fechada num 5-4-1, só arriscando um pouco com os alas Mario Fernandes e Zhirkov  e Samedov e Golovin tentando se aproximar de Dzyuba no pivô.

Quando Piqué saltou com os braços esticados para bloquear a cabeçada de Dzyuba e cometeu um pênalti tolo convertido pelo centroavante, a Espanha tinha 75% de posse e nenhuma finalização. A Rússia já tinha três, mesmo praticamente sem atacar.

O empate encheu a seleção da casa de confiança para seguir na sua proposta. A Espanha passou a arriscar mais, buscar mobilidade dos meias para acionar Diego Costa e finalizar mesmo sem infiltração. A tônica no segundo tempo e na prorrogação com um pouco mais de agressividade com Rodrigo Moreno e Iago Aspas no ataque, além de Carvajal na lateral direita e Iniesta, que entrou no lugar de David Silva.

Foram 74% de posse no total e 25 finalizações, nove no alvo. Mas nenhuma chance cristalina. Faltou o acabamento preciso – assistência e conclusão. De novo “arame liso”. A Rússia foi cansando física e mentalmente jogando sem a bola. Mesmo com Cheryshev não conseguiu arquitetar o contragolpe esperado. No mesmo 5-4-1 com linhas compactas guardando a própria área até o fim. Correndo e lutando contagiada pelo apoio no estádio em Moscou.

Nos pênaltis, os erros de Koke e Aspas que consagraram Akinfeev. Os russos nem cobraram tão bem, mas De Gea, que levou um frango na estreia em chute de Cristiano Ronaldo, pareceu sem confiança. Explosão no estádio com uma classificação inimaginável antes da competição. Mas justa. Por e para um povo que abraçou o evento.

Porque a Espanha foi covarde quando teve a chance de matar o jogo ou encaminhá-lo muito bem. Preferiu a posse defensiva e inócua. Ou retranca com bola. Mais uma favorita que volta para casa, pagando também pela crise no comando técnico que terminou com Lopetegui demitido e Fernando Hierro como um mero “bombeiro”. Pouco para um torneio tão duro, parelho e imprevisível.

(Estatísticas: FIFA)

]]>
0
Sofrer como favorito e sobrar como “zebra”. Mais Uruguai impossível http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/06/25/sofrer-como-favorito-e-sobrar-como-zebra-mais-uruguai-impossivel/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/06/25/sofrer-como-favorito-e-sobrar-como-zebra-mais-uruguai-impossivel/#respond Mon, 25 Jun 2018 16:23:21 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4779 O treinador russo Stanislav Cherchesov facilitou um pouco a tarefa ao rodar o grupo e deixar titulares no banco. Compreensível pela intensidade absurda aplicada pelos donos da casa nas duas primeiras rodadas. Até porque o objetivo inicial era garantir classificação e, na prática, não há muita diferença em enfrentar nas oitavas Espanha ou Portugal, os prováveis classificados do Grupo B.

Mas o Uruguai acabou seguindo um roteiro bem conhecido de sua história. Quando entra como favorito, pela história ou por contar com mais qualidade técnica, costuma se complicar. Ainda mais esta seleção de Óscar Tabárez, dependente de espaços para acionar sua dupla Suárez-Cavani.

Contra Egito e Arábia Saudita, triunfos sem brilho. Na estreia, o sofrimento no gol no final de Giménez. Contra os árabes, expectativa de goleada frustrada mesmo com o gol de Suárez logo aos 20 minutos do primeiro tempo. O peso da responsabilidade não costuma fazer bem. Mais confortável a condição de “zebra” para colocar a tradicional fibra e o conhecido poder de superação.

Contra os russos, se a história de bicampeão mundial não permite ser tratado como uma seleção menor, o desempenho das equipes nas duas primeiras rodadas e, principalmente, a condição de visitante entregava ao Uruguai o papel de coadjuvante no espetáculo. Na prática, porém, os sul-americanos novamente subverteram tudo.

Os gols de Suárez e contra de Cheryshev, desviando chute de Laxalt, em 23 minutos condicionaram o jogo na Arena Samara e a expulsão de Smolnikov aos 36 minutos praticamente tirou qualquer chance de reação russa. O segundo tempo chegou a ter momentos de ritmo de treino.

Mas o Uruguai teve boa atuação, a melhor neste Mundial. Retornando a um desenho costumeiro de Tabárez neste ciclo de 12 anos na seleção: o 4-3-1-2, com meio-campo em losango formado por Torreira à frente da defesa, Nández pela direita, Vecino à esquerda e Betancur mais adiantado na ligação com o ataque. Pelas laterais, Cáceres mais contido à direita no suporte a Coates, substituto de Giménez, e Laxalt com liberdade para descer pelo corredor esquerdo.

O jogo ficou mais fluido, com volume e chegando mais vezes aos atacantes. Foram 56% de posse de bola com 87% de efetividade nos passes e 17 finalizações, sete na direção da meta de Akinfeev. Valeu também para Cavani marcar no fim, fechando os 3 a 0, e tirar a ansiedade do artilheiro sem ir às redes.

Tudo certo para as oitavas. Para ambos. É óbvio que os russos vão deixar tudo em campo contra quem vier, mas parece claro que há a sensação de missão cumprida como anfitriã. Já os uruguaios devem entrar bem confortáveis caso os favoritos confirmem suas vagas definindo a classificação pelo saldo de gols.

Diante de Cristiano Ronaldo e os campeões europeus ou da rediviva Espanha dos craques e da posse de bola, a Celeste jogará serena, no cenário que mais aprecia. Para contrariar as previsões.

(Estatísticas: FIFA)

]]>
0
As diferenças entre ferrolho, catenaccio, retranca e linha de handebol http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/06/21/as-diferencas-entre-ferrolho-catenaccio-retranca-e-linha-de-handebol/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/06/21/as-diferencas-entre-ferrolho-catenaccio-retranca-e-linha-de-handebol/#respond Thu, 21 Jun 2018 04:00:15 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4745 Como previsto neste blog antes mesmo da bola rolar na Rússia, a Copa do Mundo de 2018 vem trazendo nesta primeira rodada da fase de grupos e especialmente nas atuações da Islândia no empate com a Argentina por 1 a 1 e na do Irã, derrotada pela Espanha por 1 a 0, a marca de sistemas defensivos sólidos e organizados numa linha que costuma proteger a área com cinco, seis ou até sete jogadores.

Nas redes sociais e nos debates em TV, internet, rádio e na mesa de bar surge logo o termo “retranca”, normalmente reduzindo a estratégia das seleções que se fecham como um amontoado de jogadores guardando “covardemente” a própria meta.

Muito comum também recorrem a termos que orbitam o “glossário” habitual do futebol como “ferrolho” e “catenaccio” como sinônimos de estilos que privilegiam o trabalho defensivo. Como se fosse tudo a mesma coisa.

Não é. Até porque são práticas de épocas diferentes, com todas as suas particularidades. Seu “zeitgeist”, ou espírito do tempo. São de uma época que não volta mais, ainda que o legado de todos os eles sempre ajude a construir o que se pratica hoje.

Tudo começa no reconhecimento de que se um time tentar encarar o adversário de frente sendo inferior tecnicamente as chances de ser derrotado e até goleado aumentam exponencialmente. Jogar mal e deixa o oponente à vontade é um convite ao fracasso.

Não foi exatamente o que pensou Karl Rappan ao chegar ao Servette no final dos anos 1920 para ser jogador-técnico. Sua preocupação maior era a questão física, já que seu time era semiprofissional e iria enfrentar adversários totalmente dedicados ao esporte. Mas a questão técnica também era importante.

Por isso criou o “verrou”, ou “ferrolho”. Nada mais era que uma evolução diferente do 2-3-5 para o WM (3-2-2-3). Um defensor protegendo a linha de três zagueiros, um centro-médio à frente de dois meias, dois pontas e um centroavante. Uma espécie de 4-3-3 com líbero. Encaixando no sistema rival. Cada um marca o seu e um homem sobra. Com o olhar de hoje, nada demais.

O “ferrolho” da Suíça em 1938 que chamou atenção pela solidez defensiva. Basicamente um 4-3-3 com líbero (Tactical Pad).

Mas chamou atenção na época especialmente na Copa do Mundo de 1938, a última antes da Segunda Guerra Mundial. A Suíça de Rappan venceu a Inglaterra em um amistoso pré-Copa e na estreia superou os alemães. Acabou vencido pelos húngaros e voltaram para casa. Marcaram época, porém.

E o que marcaria o conceito de “retranca” também estava lá na Suíça. Não exatamente com quantos se defende, mas como se ataca. O time poderia jogar em qualquer sistema, mas se atacasse apenas em velocidade com bolas longas para seus atacantes, chegando com apenas três ou quatro na área adversária e marcasse poucos gols já era chamado de time “covarde”.

Como o Fluminense nos anos 1950, cujo grande destaque era o goleiro Castilho e vencia seus jogos por placares magros em tempos de gols em profusão. Por isso ganhou o apelido de “timinho”. Mas vencia.

Multicampeão foi Helenio Herrera, argentino que comandou a Internazionale de 1960 a 1968, mas com passagens pelas seleções de Espanha e Itália. O treinador que atualizou o “catenaccio”, a porta trancada. Estratégia que teve seu primeiro ensaio no “Método” de Vittorio Pozzo, bicampeão mundial de 1934 e 1938 pela Itália e a consolidação com Nereo Rocco, vice-campeão italiano de 1948 com o Triestina e que depois se consagraria no Milan dos anos 1960.

Herrera contestava o rótulo defensivista para sua estratégia que adaptou o volante Picchi como líbero para que Fachetti tivesse liberdade para atacar pela esquerda como o “terzino fluidificante”. O armador espanhol Luís Suárez, chamado de “regista”, acionava o trio de ataque em contragolpes. O conceito ofensivo de Herrera não podia ser mais atual: poucos toques na bola e velocidade. “Se você toca verticalmente e perde a bola, o prejuízo é pequeno. Mas se perder tocando horizontalmente pode levar um gol”, explicava.

Helenio Herrera armou o “catenaccio” na Internazionale com líbero para permitir que Facchetti tivesse liberdade para apoiar pela esquerda. Time de toques rápidos e velocidade no ritmo do “regista” Luis Suárez (Tactical Pad).

A estratégia da Itália campeã mundial em 1982 que eliminou o lendário Brasil de Telê Santana até hoje é chamada erroneamente de “catenaccio”. A seleção do treinador Enzo Bearzot praticava mesmo o “gioco”. Com o líbero Scirea, o “terzino” Cabrini, o “regista” Antognoni e Bruno Conti, o “ala tornante”, ou o ponta que retorna para transformar o 4-3-3 em 4-4-2. A proposta, porém, embora reativa contra equipes superiores tecnicamente, valorizava mais a bola e tinha alguma preocupação estética, com o jogar. A marcação era mista, por zona ou encaixe para a maioria dos jogadores e individual com o grande talento do adversário. Quem não lembra de Gentile perseguindo Zico e Maradona por todo o campo?

No Brasil, as retrancas sempre foram tratadas como o único recurso para o time inferior. Algo inconcebível para times grandes. Os quatro da defesa mais o volante, o meia-armador e o “falso ponta” recuados para que a equipe atacasse apenas com três homens. Viviam de uma “bola vadia” para vencer. Era o que faziam os times médios e pequenos contra esquadrões como o Santos de Pelé, o Botafogo de Garrincha, a Academia do Palmeiras, o Cruzeiro de Tostão, o Flamengo de Zico, entre outros tantos.

Milton Buzzeto, Paulinho de Almeida e Pinheiro foram “retranqueiros” célebres, comandando times pequenos que se fechavam e tomavam pontos dos grandes. Muitas vezes apelando para faltas violentas e esburacando os gramados para dificultar a vida das equipes mais técnicas.

Há, porém, uma diferença clara entre os métodos citados e as atuais linhas “de handebol”. Enquanto o “ferrolho”, o “catenaccio” e a retranca tinham o jogador adversário como referência com perseguições individuais, o trabalho sem a bola na atualidade, na grande maioria dos casos, procura fechar espaços de acordo com a região em que está a bola. Marcação por zona.

O “marco zero” surgiu por necessidade. José Mourinho perdeu Thiago Motta expulso no Camp Nou contra o Barcelona de Pep Guardiola na semifinal da Liga dos Campeões 2009/10 precisando administrar uma vantagem de dois gols, mas que pela vitória por 3 a 1 da Internazionale em Milão podia escapar com uma derrota por 2 a 0.

Com a desvantagem numérica, Mourinho abriu mão totalmente da posse de bola e da possibilidade de contra-atacar e plantou seu time na frente da área. Mas não de forma desordenada. Criou uma linha de seis ou sete jogadores para ao mesmo tempo negar espaços para as arrancadas de Lionel Messi e também as infiltrações por dentro, mas sem deixar de cuidar dos jogadores abertos que eram um dos segredos do esquadrão blaugrana para abrir as defesas adversárias.

José Mourinho armou a “linha de handebol” com sete homens, inclusive Samuel Eto’o protegendo a própria área do Barcelona de Guardiola. E o futebol começou a mudar. (Reprodução ESPN)

Sofreu apenas um gol e ainda viu o Barça apelar para Piqué como centroavante nos minutos finais. Já que não havia como infiltrar, a saída foi levantar bolas na área. Mourinho tirou o Barça de seu conforto, alcançou uma classificação heroica para a final da Liga dos Campeões que terminaria em título. O último da Champions do clube e do treinador. Mais que isto, sua resposta a Guardiola mudou o futebol mundial.

Alguns treinadores tentaram copiar os conceitos do catalão, mas a maioria, quando necessário, assimilou mesmo o “ônibus” de Mourinho. Já que o jogo passou a ser feito em 20, 30 metros, o time concentra o maior número de corpos nos espaços certos perto da própria área para impedir que o adversário entre. Como no handebol.

O desenho tático pode variar. Uma linha de quatro defensores pode ganhar mais dois pelos lados e passar a ser formada, na prática, por seis homens. Ou sete, se a linha for de cinco ganhando mais um zagueiro. Mas dois jogadores para impedir os chutes de fora da área com liberdade e um único atacante.

Mourinho tirou a vergonha e colocou a inteligência na retranca. Junto com outros treinadores foram aprimorando os conceitos ao longo do tempo. Sem deslealdade ou jogo sujo, apenas posicionamento e concentração. É claro que no mais alto nível fica difícil competir com equipes mais versáteis e talentosas – e Mourinho vem sofrendo com isso nos últimos anos.

Mas para confrontos como o dos iranianos comandados por Carlos Queiroz diante dos favoritos espanhois é uma estratégia legítima e até lógica. Embora não agrade as retinas deste que escreve, muitos conseguem até enxergar beleza na prática.

Irã com seis jogadores protegendo a própria área: quatro defensores e os dois pontas voltando como laterais para conter a Espanha (reprodução TV Globo).

Só não é tudo igual. As linhas de handebol podem até ser consideradas uma evolução de “ferrolho”, “catenaccio” e “retranca”. Mas as práticas e os princípios são bem distintos. Basta ter olhos de ver.

 

 

]]>
0