fernandinho – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Um pouco de Leovegildo Júnior para falar de Arthur e laterais por dentro http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/20/um-pouco-de-leovegildo-junior-para-falar-de-arthur-e-laterais-por-dentro/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/20/um-pouco-de-leovegildo-junior-para-falar-de-arthur-e-laterais-por-dentro/#respond Thu, 20 Jun 2019 11:10:01 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6728

Bastou a seleção brasileira empatar com a Venezuela em Salvador para as cornetas do apocalipse começarem a ecoar e, como sempre, o resultado gerar uma caça às bruxas na procura de culpados. Um pouco mais de eficiência nas finalizações ou o VAR deixando passar um dos gols anulados e talvez, até pela fase terrível da Argentina, o desempenho, de fato, insuficiente fosse relativizado.

Mas entre as muitas críticas é possível detectar uma justa e outra nem tanto. A primeira é a falta de meio-campistas de área a área com perfil organizador para qualificar a saída de bola, acionar as peças mais ofensivas e eventualmente aparecer na área para concluir. Falta intensidade a Arthur. Também momentos de um jogo mais vertical. Fernandinho se adaptou bem à função de primeiro volante e Allan tem características mais parecidas com as de Paulinho. O fato é que Renato Augusto, por incrível que pareça, está fazendo falta. O camisa oito autêntico da melhor fase recente da seleção.

A outra é sobre os laterais atuando por dentro, como construtores. Na inquisição da falta de vitória que quase sempre se mistura com saudosismo, muitos que observaram Daniel Alves e Filipe Luís “afunilando” o jogo apontaram para o passado, dizendo que nos “bons tempos” do futebol brasileiro o lateral abria o campo e chegava ao fundo para cruzar. Recordações de Cafu, Roberto Carlos, Jorginho, Leandro, Júnior…

Opa! Aí está um equívoco no resgate histórico que vale ser pinçado para abordar as duas questões propostas acima. Leovegildo Júnior era fã de Marinho Chagas. Ambos laterais esquerdos destros que atacavam, sim, por dentro. Com pés de meio-campistas e criando superioridade numérica no trabalho entre as intermediárias. Na Copa de 1982, Júnior se juntava a Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico e tinha Éder para abrir o campo pela esquerda. Leandro à direita.

Entrando em diagonal, Júnior marcou um golaço contra a Argentina, completando passe primoroso de Zico. Da esquerda para dentro iniciou a jogada que terminaria no gol de Falcão contra a Itália, o último brasileiro na campanha do Mundial na Espanha. O problema do  camisa seis não era atacar pelo meio, mas os erros de posicionamento defensivo que, inclusive, ocasionaram dois gols de Paolo Rossi no fatídico 5 de julho – o primeiro permitindo o centroavante italiano infiltrar entre ele o zagueiro Luisinho, o derradeiro errando na tática do impedimento.

O problema de Daniel Alves e Filipe Luís é infiltrar pouco, não aparecer como elemento surpresa por dentro quando os ponteiros Richarlison, David Neres, Everton e até Gabriel Jesus voltando a atuar pelo lado abrem o campo. Questão de sincronia na proposta nova de Tite que ainda tem os movimentos de Firmino saindo do centro do ataque para abrir espaços que não estão sendo preenchidos pelos companheiros de ataque, incluindo Philippe Coutinho.

Voltando ao Júnior, a mudança de função na segunda metade da carreira, de 1984 a 1993, também vale a lembrança para retornarmos ao tema Arthur e a carência de articuladores mais recuados. No futebol italiano e na seleção brasileira, incluindo a Copa de 1986, Júnior era um “regista”. Coordenava todas as etapas de construção de jogo e ainda tinha o “plus” da bola parada. Cobrava escanteios da direita com pé esquerdo e da esquerda com o destro.

Retornou ao Brasil em meados de 1989. Justamente o período da virada no conceito de meio-campistas no Brasil. Dividindo a função entre volantes protetores da defesa e meias ofensivos. Necessidade criada por ele mesmo quando lateral no Flamengo, que primeiro teve Andrade e Carpegiani em 1980 e depois Vítor entrando no lugar do meio-campista que virou treinador em 1981. Tudo para dar liberdade aos “alas”.

O “elo perdido” tinha sido Geovani, no Vasco. Craque e artilheiro do titulo mundial de juniores (sub-20) em 1983, famoso pelas cobranças de pênaltis impecáveis e personalíssimas. Mas que deve ser lembrado como o último camisa oito inspirado em Gérson e Didi. Com os lançamentos longos e precisos como a grande marca de seu estilo.

O melhor jogador do país em 1988, ajudado por uma boa sacada de Sebastião Lazaroni no Vasco: Geovani não precisava se sacrificar no auxílio ao volante Zé do Carmo na marcação. Henrique, outro volante, fazia o “serviço sujo”. Quando o time cruzmaltino recuperava a bola, Geovani recuava para armar e Henrique o “ultrapassava”, se juntando a Bismarck, Vivinho e Romário na frente.

Geovani e Lazaroni foram para a seleção e o novo mapa do meio-campo excluiu naturalmente o meia. Na virada para o sistema 3-5-2, o meia não tinha pegada para jogar à frente da defesa, nem dinâmica para auxiliar os alas e ainda entrar na área se juntando à dupla de ataque. Silas, depois Alemão, e Valdo foram os titulares no ciclo que terminou no fracasso da Copa na Itália.

O meio-campista ainda viveria bons momentos no próprio Vasco no início dos anos 1990, porém dentro de outras configurações: em 1992, na boa campanha do clube no Brasileiro, como um meia à frente do volante Luisinho e depois ainda mais adiantado com a entrada de Leandro Ávila na proteção da retaguarda.  Mas sempre neste conflito entre ser volante ou meia no típico 4-2-2-2 da época no país.

Mesmo problema de Júnior no Flamengo. No título da Copa do Brasil de 1990 com Jair Pereira ele era uma espécie de “carrillero”, ou volante pela direita num losango: Uidemar plantado, Junior e Zinho pelos lados e Bobô ou Djalminha fazendo a ligação com Renato Portaluppi e Gaúcho. Mas foi no ano seguinte que veio a ideia que encaixaria perfeitamente o “Maestro” para o fecho de ouro de sua carreira.

O 4-1-4-1 montado por Vanderlei Luxemburgo em 1991 que serviu de base para Carlinhos organizar a equipe campeã carioca daquele ano e do Brasileiro na temporada seguinte. A chave era o recuo dos pontas Paulo Nunes e Nélio acompanhando os laterais adversários. Isso permitia que os laterais rubro-negros, Charles Guerreiro e Piá, marcassem mais por dentro e ajudassem o volante Uidemar na proteção dos zagueiros Júnior Baiano e Wilson Gottardo.

Júnior, então, ficava livre para conduzir a equipe. Recuava atrás de Uidemar para organizar a saída de bola, acionava os ponteiros em velocidade ou o próprio camisa cinco fazia os cruzamentos para o centroavante Gaúcho. Com bola parada ou rolando. Quando não aparecia na frente para concluir, como nos gols marcados nas finais das conquistas estadual e nacional. Meio-campista completo.

Exatamente o que vem faltando ao futebol brasileiro. Por incrível que pareça o último organizador foi Dunga, já em 1990 e também nas duas Copas seguintes. Volante marcador, porém com bom passe. Na sequência os grandes armadores eram meias típicos: Djalminha, Ricardinho, Juninho Pernambucano…Kléberson foi a solução em 2002 porque era dinâmico, tinha bom passe e não precisava ser tão cerebral porque o jogo fluía mais com Cafu e Roberto Carlos abertos e Ronaldinho Gaúcho armando para Rivaldo e Ronaldo.

Agora há um vazio, que ainda pode ser preenchido por Arthur se houver evolução no Barcelona. Lucas Silva, hoje no Cruzeiro, foi uma esperança até “flopar” na Europa. O Grêmio tenta afirmar Matheus Henrique na mesma função.  Talvez o erro seja usar como referência o espanhol Xavi Hernández. Gênio do jogo de posição do Barcelona e da Espanha, mas com características muito específicas, que combinavam com as de Iniesta formando uma dupla quase perfeita de armadores. Na cultura brasileira acaba sendo visto como “armandinho” ou “pica-couve”.

Melhor mirar o que foi Geovani. Ou Leovegildo Júnior, antes lateral que jogava por dentro e depois o meio-campista de área a área. Mas pensando nas necessidades e no contexto de 2019. Sem superestimar o passado e demonizar o presente que é só mais complexo e o futebol brasileiro precisa, enfim, se adequar no mais alto nível para voltar a vencer.

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Só o acaso pode proteger Tite na Copa América http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/05/17/so-o-acaso-pode-proteger-tite-na-copa-america/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/05/17/so-o-acaso-pode-proteger-tite-na-copa-america/#respond Fri, 17 May 2019 16:51:44 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6542 Tite admitiu que dormiu mal até fechar a lista de convocação para a Copa América. Competição chave para a manutenção do trabalho até 2022. Seguindo a lógica simplista do resultado, a seleção brasileira tem obrigação de vencer em casa depois de atropelar os rivais sul-americanos nas Eliminatórias. Sabemos que não é assim que funciona, mas explicar o óbvio às vezes dá trabalho.

Só que o treinador não se ajuda muito preferindo, por exemplo, Fernandinho a Fabinho. O volante do Manchester City é sempre chamado pelo desempenho no clube, mas não vem com Pep Guardiola “acoplado”. Com a camisa verde e amarela acumula atuações ruins em jogos decisivos, o que só aumenta a pressão sobre o atleta. Deveria ser preservado. Agora é contar que Casemiro não se lesione ou oscile demais no desempenho. Com o volante do Liverpool, o mesmo que fechou os caminhos de Messi em Anfield e seria opção também para a lateral direita, o grupo ficaria mais consistente. Tite preferiu Fagner…

O acaso é o que pode proteger em meio a tantas incertezas. Como Arthur, que seria o meio-campista controlador, o “ritmista” a qualificar a ideia de controlar o jogo através da posse de bola. Neymar é uma incógnita no aspecto emocional. Lucas Moura seria uma convocação incoerente, mas é jogador com a confiança no topo. Às vezes é preciso deixar a intuição fluir e o momento pesar mais que a lealdade. Afinal, o que Gabriel Jesus fez de especial nesta temporada europeia para merecer ser incluído entre os 23?

Com a lista fechada, o time deste que escreve seria: Alisson; Daniel Alves, Marquinhos, Miranda e Alex Sandro; Casemiro, Arthur e Paquetá; Richarlison, Roberto Firmino e Neymar. Sem a bola, duas linhas de quatro. Richarlison volta pela direita, Paquetá abre pela esquerda e deixa Neymar solto com Firmino.

Atacando, o craque da seleção circula, Alex Sandro passa rápido pelo corredor, Daniel Alves auxilia Arthur na saída de bola e na construção das jogadas e Richarlison dá profundidade nas infiltrações em diagonal pela direita, entrando no espaço deixado pelo recuo natural de Firmino para articular.

Não ter uma equipe definida pode ser um trunfo. Na Copa do Mundo da Rússia, Tite tinha um time na cabeça com mudanças pontuais em relação ás eliminatórias. As características não casaram – difícil entender a insistência com Philippe Coutinho no meio-campo, já que sem bola é praticamente um a menos.

Agora a sorte precisa ajudar. Porque Tite é um bom treinador, mas a cada lista aumenta a impressão de que selecionar não é muito a sua praia. Talvez por isso as noites insones.

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Liverpool perde outra chance de encaminhar título. Será o peso do jejum? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/01/30/liverpool-perde-outra-chance-de-abrir-sete-pontos-sera-o-peso-do-jejum/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/01/30/liverpool-perde-outra-chance-de-abrir-sete-pontos-sera-o-peso-do-jejum/#respond Wed, 30 Jan 2019 22:24:59 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5819 O confronto direto com o City em Manchester na 21ª rodada da Premier League poderia ter dado ao Liverpool dez pontos de vantagem com o “plus” de um triunfo simbólico sobre o grande concorrente ao título. Não veio e o revés foi tratado como normal pela qualidade do time de Guardiola. Mesmo com disputa equilibrada e momentos de superioridade que poderiam ter sido traduzidos no placar.

Mas três rodadas depois a oportunidade parecia cair no colo com a inacreditável virada sofrida pelos citizens para o Newcastle de Rafa Benítez. Mesmo fora de casa, o jogo estava absolutamente controlado, tranquilo para o atual campeão inglês. Dois erros, um coletivo e outro de Fernandinho, construíram o placar mais que inesperado.

Ainda que o Leicester City venha fazendo jogos duros e pontuando contra as principais equipes da competição e o gramado em Anfield estivesse coberto de neve, os Reds tinham a chance de obter uma vitória que não teria o impacto de vencer o segundo colocado fora de casa. Mas colocaria os sete pontos que poderiam empurrar o City psicologicamente para uma prioridade à Champions que pavimentaria o caminho para a primeira conquista da Era Premier League, encerrando um jejum de 29 anos.

Falhou e podia ter saído derrotado. A disputa foi equilibrada no aspecto tático, mesmo com 71% de posse do time da casa. Mais nove finalizações contra cinco, porém três a dois no alvo. O campeão inglês de 2015/16 criou oportunidades para virar depois do empate com o gol do zagueiro Maguire. Mané abriu o placar aos três minutos, mas produziu pouco ao longo dos noventa minutos. Salah errou demais tecnicamente e desta vez Shaqiri contribuiu pouco no quarteto ofensivo do 4-2-3-1 das últimas partidas.

Roberto Firmino foi a exceção com belas jogadas e finalizações que deram trabalho ao goleiro Kasper Schmeichel. No final, um “abafa” até com Van Dijk na frente e muitos cruzamentos. Difícil entender a opção por Henderson na lateral direita. Lento e nitidamente perdido jogando pelo lado, foi o “mapa da mina” para vários ataques do Leicester no setor com Chilwell, Grey e Maddison.

Se o olhar for buscando o copo meio cheio, somar um ponto e aumentar a vantagem para cinco pode ser considerado positivo. Mas perder outra chance de construir uma vantagem bastante confortável faltando 14 rodadas e antes da volta da Champions já no mata-mata é frustrante para quem quer tanto voltar a ser protagonista no cenário nacional.

A dúvida é se os resultados podem ser considerados naturais pelo contexto da liga ou se Klopp e seus comandados estão sentindo a pressão quando tudo favorece e o título parece mais perto. O aspecto mental não pode ser o único levado em conta em esporte tão complexo como o futebol, ainda mais jogado no mais alto nível. Mas carrega uma relevância que define vencedores e vencidos, mesmo nos pontos corridos.

Será o peso do jejum, como em 2014 com o simbólico erro de Gerrard que deu a vitória ao “ônibus” do Chelsea de Mourinho e praticamente entregou a taça ao City? O Liverpool espera escrever uma história diferente desta vez.

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Casagrande, Tite, Neymar e um apelo: menos resultadismo em 2019! http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/12/28/casagrande-tite-neymar-e-um-apelo-menos-resultadismo-em-2019/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/12/28/casagrande-tite-neymar-e-um-apelo-menos-resultadismo-em-2019/#respond Fri, 28 Dec 2018 03:17:22 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5700 Há uma confusão de conceitos que marca o futebol brasileiro desde 1982: busca do resultado x resultadismo.

É óbvio que todos entram em campo para competir e vencer. A seleção de Telê Santana, tão criticada pela irresponsabilidade defensiva na derrota para a Itália, sofreu o terceiro gol com todos os jogadores dentro da própria área no escanteio para garantir o empate por 2 a 2 que garantiria a classificação para a semifinal da Copa do Mundo na Espanha.

O Brasil em Mundiais venceu e perdeu com os pragmáticos Parreira e Felipão. Até com Zagallo, o que melhor conseguiu combinar espetáculo e eficiência no título de 1970 no México. Telê não ganhou o mundo com a camisa verde e amarela, mas venceu tudo uma década depois no São Paulo.

Há formas e formas de vencer. Normalmente quem joga bem – diferente de jogar bonito, que é muito subjetivo e depende da visão do esporte de quem julga – está mais perto do triunfo. Mas no Brasil uma crença foi alimentada ao longo do tempo em uma espécie de “atalho” para conseguir os três pontos.

A ordem é simplificar. Fecha a casinha, bola no talento e se nada der certo aquele gol de bola parada, rebatida, meio ao acaso é o suficiente para detonar a catarse. Junte a isso a versão do torcedor de que “sofrido é mais gostoso” e temos o cenário perfeito para valorizar aquele um a zero suado…e mal jogado.

Mas o grande prejuízo vem nesse vício de construir toda a narrativa a partir do resultado puro e simples. Não há o jogo em si, com o imponderável e a interferência de todos os agentes. A menos que um erro da arbitragem seja decisivo. Então todo o debate se resume à decisão do apitador. Novamente o jogo fica em segundo plano. Só o resultado segue com seu protagonismo.

Parte dos jornalistas e ex-boleiros também alimentam esse reducionismo. Porque é mais simples para comentar e fácil de jogar para a galera. Se o time vence basta apontar os herois e não colocar nenhuma ressalva. Na derrota a tarefa é encontrar os vilões e colocar defeito até onde não existe.

Tite foi o primeiro convidado do programa “Grande Círculo” no Sportv e Casagrande, um dos entrevistadores, questionou o treinador sobre o corte de cabelo de Neymar na véspera da estreia da seleção na Copa do Mundo na Rússia contra a Suíça. Usando o exemplo de sua estreia em Mundiais no México em 1986 contra a Espanha, afirmou que todos no dia anterior pensavam apenas na partida, não na imagem.

É bem provável que a tentativa do comentarista fosse usar um gancho para arrancar de Tite um mea culpa sobre uma suposta falta de comando sobre o craque do time. Só que o paralelo não pareceu dos mais felizes. Até porque Casagrande já afirmou algumas vezes que quando jogava procurava se desligar e baixar a ansiedade ouvindo música e lendo livros na concentração. Também já admitiu que só assiste aos jogos que comenta, sem nenhuma pesquisa anterior.

Ainda que fosse um jogo especial para ele, o primeiro em Copas, o contexto era bem diferente. O Brasil devia ter informações bastante genéricas sobre a Espanha por conta dos recursos limitados da época. Em 2018, certamente na véspera o adversário já estava mais que estudado, dissecado por analistas, auxiliares e o próprio Tite. Os jogadores estavam municiados com todos os dados sobre cada adversário.

É quando entra o resultado. Casagrande certamente se sentiu mais seguro para usar seu exemplo para a comparação porque o Brasil venceu a então “Fúria” há 32 anos por 1 a 0, gol de Sócrates, e agora apenas empatou com a Suíça. Mas quem viu os dois jogos pode interpretar sem nenhum temor que a atuação em 2018 foi bem superior. Gol sofrido na bola parada em um lance esporádico, falha pontual de posicionamento. Boas oportunidades criadas para ir além do 1 a 1.

Já em 1986 foi um sufoco no Estádio Jalisco e o “apito amigo” ajudou mais uma vez o Brasil em Copas ao não validar um gol espanhol, ainda com 0 a 0 no placar, em chute de Michel que claramente cruzou a linha da meta do goleiro Carlos depois de bater no travessão. Casagrande? Atuação discreta, para ser generoso. Ao longo do torneio o centroavante perderia a vaga na dupla de ataque com Careca para Muller.

O resultado no Mundial também mudou o tom com Tite. Antes da Copa os elogios eram frequentes, os questionamentos, quando aconteciam, eram amenos. Só pergunta levantando a bola para o treinador cortar. Bastou perder para a Bélgica e, mesmo com o reconhecimento de que o trabalho merece um ciclo desde o início, as críticas chegam com outro peso.

A mais frequente de que o técnico teria levado um “nó tático” do espanhol Roberto Martínez no duelo pelas quartas de final da Copa. Mais uma vez a simplificação: se Martínez mexeu no time, posicionou Lukaku pela direita, De Bruyne como “falso nove” e terminou o primeiro tempo vencendo por 2 a 0 só pode ter sido a surpresa da mudança.

Mas basta rever o jogo com atenção para notar que a “barbeiragem” tática do técnico da Bélgica só não custou caro porque a sequência de acontecimentos da partida o beneficiou demais. Se houvesse surpresa isso ficaria claro nos primeiros minutos. Tite mandou recado para manter a maneira de jogar e o sistema tático.

Nos primeiros minutos, a superioridade numérica pela esquerda com Marcelo, Phillipe Coutinho e Neymar contra apenas Meunier e Fellaini, já que Lukaku não voltava para ajudar sem bola, criou uma finalização e o escanteio que terminou no toque de Thiago Silva que bateu no travessão de Courtois.

O que desequilibrou tudo foi o gol contra de Fernandinho. O substituto de Casemiro se perdeu no jogo e, aí sim, o sistema defensivo desmoronou. No segundo dos belgas, o rebote do escanteio gerou um contragolpe com Lukaku por dentro servindo De Bruyne pela direita. Chute forte e cruzado, 2 a 0. Qual a relevância das mudanças da Bélgica nos gols?

Tite pode e deve ser questionado por não ter sido mais prudente por conta da ausência de Casemiro, que nos jogos anteriores, especialmente nas oitavas contra o México, salvou vários erros de posicionamento de Paulinho e Coutinho no meio-campo. Poderia ter mantido Filipe Luís e deixado Marcelo, com seus problemas defensivos, no banco. Ou reforçado o meio. Aí entram dois equívocos correlatos: manter Fred lesionado no grupo sabendo que Renato Augusto não teria condições de entregar 100% em 90 minutos.

No segundo tempo, um ajuste na retaguarda com Fagner e Miranda colando em Hazard e Lukaku, Fernandinho vigiando De Bruyne e Thiago Silva sobrando; Douglas Costa, Roberto Firmino e Renato Augusto em campo e domínio absoluto brasileiro. Várias finalizações, chances cristalinas (e imperdíveis num jogo eliminatório) de Coutinho e Renato Augusto, autor do único gol, e defesaça de Courtois em chute colocado de Neymar no ataque final.

Era jogo para 2 a 2 ou até virada brasileira, mas deu Bélgica. Eliminação e o ciclo de vilanização, especialmente de Tite e Neymar. Que merecem críticas, sim. Mas não atirando para qualquer lado. O Brasil podia ter passado à semifinal apesar dos problemas. A campeã França jogou tão melhor assim?

Neymar merece ser alvo, mas pelo motivo mais justo: o erro grave de preferir forçar o jogo individual para pendurar adversários com cartões e tentar cavar um vermelho simulando contusão e rolando no chão em vez de dar sequência, não cair e tentar definir finalizando ou servindo. Pouco inteligente, para dizer o mínimo.

Mas preferem focar no periférico, no cabelo. Tite já havia admitido a imaturidade de Neymar em uma pergunta simples e direta sobre o tema no “Bola da Vez” da ESPN Brasil. No Sportv diante de Casagrande deu a única resposta possível para uma pergunta mal formulada: o jogador tem a liberdade de cortar o cabelo na véspera de uma partida.

Ronaldo Fenômeno fez o corte “Cascão” nos dois últimos jogos em 2002. Na Copa das Confederações de 1997, jogadores tiveram suas cabeças raspadas em um trote absurdo que deixou sequelas no relacionamento entre alguns deles. Como a bola entrou e a taça foi levantada, tudo entra para o “folclore”. Se tivesse perdido…

Não pode ser só isso. O futebol é apaixonante justamente por suas nuances, imprevisibilidades. Pela beleza do futebol bem jogado, mas também pela possibilidade nada desprezível do time pior sair de campo vencedor. É simplista demais resumir todos os processos ao placar e à posição na tabela. Se o resultado fosse tudo não seria futebol.

Por isso, neste último texto em 2018, o blog faz um humilde apelo por obrigação de ofício e também amor ao jogo: menos resultadismo em 2019! Até lá!

 

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Balanço final da Copa (craque, seleção, surpresa, revelação…) http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/15/balanco-final-da-copa-craque-selecao-surpresa-revelacao/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/15/balanco-final-da-copa-craque-selecao-surpresa-revelacao/#respond Sun, 15 Jul 2018 18:03:02 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4937

Foto: AP

Seleção da Copa do Mundo 2018 para este blog:

Courtois (Bélgica)

Trippier (Inglaterra)

Thiago Silva (Brasil)

Umtiti (França)

Laxalt (Uruguai)

Kanté (França)

Modric (Croácia)

De Bruyne (Bélgica)

Mbappé (França)

Hazard (Bélgica)

Perisic (Croácia)

Treinador: Roberto Martínez (Bélgica)

 

Melhor jogo: Brasil 1×2 Bélgica

Pior jogo: França 0x0 Dinamarca

Surpresa: Rússia chegar até às quartas

Decepção: Alemanha, atual campeã, caindo na fase de grupos

Melhor atuação coletiva: Croácia, nos 3 a 0 sobre a Argentina

Pior atuação coletiva: Alemanha, na derrota por 2 a 0 para a Coréia do Sul

Melhor atuação individual: Mbappé, nos 4 a 3 da França sobre a Argentina

Pior atuação individual: Fernandinho, na derrota do Brasil para a Bélgica

Gol mais bonito: Pavard, na vitória da França sobre a Argentina

Craque e revelação: Kylian Mbappé

 

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Gol contra e “pane” de Fernandinho pesaram mais que a mudança de Martínez http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/08/gol-contra-e-pane-de-fernandinho-pesaram-mais-que-a-mudanca-de-martinez/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/08/gol-contra-e-pane-de-fernandinho-pesaram-mais-que-a-mudanca-de-martinez/#respond Sun, 08 Jul 2018 05:00:56 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4869 Tostão costuma dizer em suas colunas que o futebol muitas vezes é mais simples e tem seus desdobramentos movidos muito mais por aleatoriedades e acasos do que propriamente por algo planejado ou pela estratégia dos treinadores.

Este blogueiro já desconfiou mais desta tese, mas quanto mais vê o jogo acontecer mais passa a crer nesta visão de quem esteve lá dentro e tem inteligência e sensibilidade para perceber os detalhes que muitas vezes escapam aos nossos olhos.

Em todo mundo pululam análises da vitória da Bélgica sobre o Brasil que carregam como elemento central o fator surpresa da formação de Roberto Martínez num 4-3-3 com Lukaku pela direita, De Bruyne como “falso nove” e Hazard à esquerda. Um tridente ofensivo que não voltava na recomposição e ficava pronto para as saídas em velocidade. Sem dúvida algo incômodo e inesperado para Tite e seus comandados. Mas será que foi tão decisivo assim?

A dúvida ao rever a partida com mais serenidade e distanciamento nasce pelo fato de que até os 13 minutos de jogo em Kazan o que se via eram duas equipes tensas e ainda se adequando ao novo cenário. O Brasil saía do plano inicial, mas a Bélgica também tinha adaptações a fazer, como voltar a se defender com quatro homens atrás depois de vários jogos com linha de cinco. Mas principalmente se fechar apenas com sete jogadores e tendo Fellaini e Chadli como elementos novos e com funções diferentes das executadas na virada sobre o Japão.

O problema era o lado direito, com Meunier contando com o apoio de Fellaini e a cobertura de Alderweireld contra Marcelo, Philippe Coutinho e Neymar. Pouco. Por ali a seleção brasileira criou espaços e conseguiu o escanteio cobrado por Neymar aos oito minutos. Desvio de Miranda e Thiago Silva, meio no susto, acertando a trave direita de Courtois.

Até os 13, a Bélgica encontrou, sim, espaços às costas do meio-campo brasileiro que também tentava se ajeitar com a entrada de Fernandinho na vaga de Casemiro. Plantado à frente da defesa no 4-1-4-1 habitual de Tite. Desta maneira que saiu o escanteio. Passe do De Bruyne, chute de Fellaini.

Assim como ficou claro em outros momentos do jogo, Martínez trabalhou a cobrança na primeira trave. Sabia das fragilidades da retaguarda adversária na bola aérea. Mas Kompany não conseguiu desviar o centro de Chadli. O gol contra foi de Fernandinho.

Logo ele. Personagem central da sequência de gols alemães no 7 a 1 do Mineirão. Foi nítido o efeito devastador na força mental do volante. A concentração tão exigida por Tite havia caído por terra. Não só do jogador do Manchester City, mas da defesa que ficou desguarnecida. Que já tinha um ponto sensível com Fagner no mano a mano com Hazard. Neste cenário, a ausência de Casemiro se fez mais impactante. E a presença de Marcelo, retornando depois de duas partidas com Filipe Luís como titular, mais desnecessária pelos espaços que deixava às suas costas. O sistema de cobertura com Miranda saindo e o volante fechando a área se perdeu.

Abalado também por ficar em desvantagem pela primeira vez no torneio, o time verde e amarelo sofreu contragolpes seguidos, mas o do segundo gol, curiosamente, não teve Lukaku à direita e De Bruyne centralizado. O centroavante buscou a bola no centro e arrancou deixando Paulinho para trás. Sem confiança e força física para a disputa, Fernandinho ficou pelo caminho. Marcelo optou por fechar o “funil” e deixou todo o lado direito para Meunier e De Bruyne, que acertou um petardo na bochecha da rede.

O resto é história, inclusive a pressão brasileira que poderia ter resultado no empate ou até na virada. Com a Bélgica mantendo a estratégia e sofrendo demais para sustentar a vantagem. A equipe de Tite corrigiu o setor defensivo, Miranda ganhou todas de Lukaku e ofensivamente teve volume e espaços para criar e finalizar. Os europeus se reduziram à luta e às defesas de Courtois. A mais espetacular em chute com efeito de Neymar. Renato Augusto e Coutinho perderam chances com liberdade e de frente para o gol. Acabou sendo a diferença no placar das quartas de final.

Nada que tire os méritos da Bélgica semifinalista. Aproveitar as instabilidades do oponente também é virtude e decide jogos. Ainda mais os eliminatórios, tantas vezes definidos pelas individualidades e pelo componente emocional.

Por isso a dúvida que ficará para sempre. O que matou o Brasil: o gol contra de Fernandinho que tirou confiança do volante e escancarou a defesa ou a surpreendente mudança de Martínez? Pelo visto, a história das Copas do Mundo já escolheu a versão mais sedutora: o inesperado. Ou o “nó tático”.

Este que escreve, mesmo valorizando a tática e a estratégia, tende a seguir a lógica de Tostão desta vez, ainda que o campeão mundial em 1970 tenha colocado os dois fatores na balança em sua análise e dado ênfase à ausência de um talento como De Bruyne no meio-campo brasileiro, o que também é uma visão mais que respeitável.

É díficil, porém, não colocar a bola que bateu em Thiago Silva e não entrou e a que Fernandinho jogou contra a meta do companheiro Alisson como os verdadeiros momentos chaves de mais uma eliminação brasileira em Mundiais.

 

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A maior ameaça da Bélgica é não saber o que esperar dela http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/05/a-maior-ameaca-da-belgica-e-nao-saber-o-que-esperar-dela/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/05/a-maior-ameaca-da-belgica-e-nao-saber-o-que-esperar-dela/#respond Thu, 05 Jul 2018 11:00:03 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4848 Pegue tudo que a Bélgica fez até aqui na Copa do Mundo e descarte. Sim, jogue fora! Panamá, Tunísia, reservas contra a Inglaterra no jogo do “tanto faz” e Japão. Todos os gols, estatísticas, desempenhos…

Nada valem como parâmetro para avaliar suas possibilidades em duelo de quartas de final contra o Brasil. Jogo único, experiência inédita. A rigor, tudo que a seleção fez sob o comando de Roberto Martínez desde 2016 tem pouco ou nenhum peso para a grande partida da história desta talentosa geração até aqui.

Sim, maior que o confronto com a Argentina de Lionel Messi no Mané Garrincha em 2014, também pelas quartas. Primeiro porque a albiceleste não carregava o status de favorita ao título mundial que o Brasil ostenta na Rússia depois de quatro jogos e Alemanha, Espanha, Messi e Cristiano Ronaldo eliminados. Depois porque os belgas ganharam maturidade. Não só por aquela eliminação, com 11 convocados dos 14 que entraram em campo em Brasília há quatro anos, mas também pela decepção na Eurocopa contra País de Gales. Também nas quartas. Ainda sob o comando de Marc Wilmots.

O sucessor no comando técnico é espanhol. Fã de Johan Cruyff. Mas radicado na Inglaterra desde 1995, ainda como jogador. Valoriza a posse de bola, mas também adapta facilmente suas convicções a um jogo mais físico e direto.

Versatilidade também é a marca de muitos de seus jogadores. Vertonghen pode ser zagueiro ou lateral esquerda. No mesmo lado, Carrasco é ala, mas também pode ser meia ou ponteiro. Hazard sabe jogar aberto ou por dentro, como um atacante atrás do centroavante. De Bruyne tem atuado na seleção e no Manchester City como o meia mais próximo do volante à frente da defesa, porém sabe jogar adiantado, centralizado ou no flanco em uma linha de meias. Fellaini é meio-campista, mas pela estatura não é raro vê-lo na área fazendo dupla com Lukaku. Chadli, heroi contra o Japão, entrou na vaga de Carrasco na ala e também sabe fazer todo o corredor esquerdo.

É simplesmente impossível tentar vislumbrar o que a Bélgica fará em campo. Nas eliminatórias europeias sobrou contra adversários frágeis e os amistosos, mesmo contra seleções grandes como Espanha, Portugal e Inglaterra, não podem ser tratados como uma referência segura.

O 3-4-3 com proposta ofensiva pode ser mantido, sim. Arrojado, com muita pressão no campo de ataque e volume de jogo empurrando o Brasil para a defesa, mas também deixando espaços atrás e entre os setores. Há qualidade e coragem para tal ousadia. Com os alas Meunier e Carrasco bem abertos e preocupando os laterais Filipe Luís ou Marcelo e Fagner e os ponteiros Mertens e Hazard dois passos para dentro, perto de Lukaku e criando instabilidade na proteção da área brasileira que terá mudança: Fernandinho na vaga do suspenso Casemiro.

O 3-4-3 da Bélgica em sua versão mais agressiva, com alas Meunier e Carrasco abrindo o campo e os ponteiros Mertens e Hazard se aproximando de Lukaku, com o suporte do meia De Bruyne na articulação (Tactical Pad).

Mas Martínez também pode mudar tudo sem mexer na formação. Armando um 5-4-1 bastante cuidadoso guardando sua própria área. Em um jogo deste tamanho, que jogador se recusaria a uma função tática de maior sacrifício no trabalho defensivo e a humildade sem bola para buscar a vitória nos contragolpes? Basta reforçar a linha de cinco que já costuma ser formada com o recuo dos alas Meunier e Vertonghen alinhando De Bruyne a Witsel e os ponteiros Mertens e Hazard voltarem para esperar os laterais brasileiros. Compactação para evitar espaços entre os setores.

A linha de cinco na defesa belga quando os alas voltam como laterais e se juntam ao trio de defensores. Contra o Brasil, a missão é reduzir os espaços entre os setores, como os cedidos contra o Japão nas oitavas de final (Reprodução TV Globo).

Se quiser surpreender, novamente sem fazer alterações, o treinador espanhol ainda pode reagrupar o time em duas linhas de quatro: Vertonghen de lateral esquerdo, Carrasco adiantado como meia aberto, Mertens recuando à direita e Hazard mais solto para buscar espaços às costas dos volantes brasileiros mais próximo de Lukaku.

Uma possível surpresa de Martínez sem mexer na formação titular: duas linhas de quatro com Vertonghen na lateral, Carrasco adiantado como meia e Hazard no ataque com Lukaku (Tactical Pad).

Fellaini ou Dembele podem entrar para reforçar o meio-campo e dar liberdade a De Bruyne, Chadli ganhar a vaga de Carrasco para executar as mesmas funções pela esquerda. Martínez ainda conta com as opções de Januzaj, autor do golaço da vitória sobre a Inglaterra, Tielemans e Batshuayi.

Um vasto cardápio oferecido pelo grupo de jogadores mais homogêneo em termos de qualidade técnica deste Mundial. Mas uma incógnita também na força mental. Pode entrar na Arena Kazan sem nada a perder e arriscar tudo, com a confiança renovada depois de reverter uma desvantagem de dois gols contra o Japão em jogo eliminatório.  Para ultrapassar a barreira recente das quartas de final e repetir a geração semifinalista de 1986, só parando em uma tarde inspirada de Diego Maradona.

Mas também não é improvável temer a camisa cinco vezes campeã mundial e a equipe de Tite com sua solidez nos números e no desempenho. Ainda que todos se conheçam bem nos clubes – Fernandinho, Danilo e Gabriel Jesus jogam com Kompany e De Bruyne no Manchester City, Paulinho e Coutinho são companheiros de Vermaelen, Thiago Silva, Marquinhos e Neymar atuam ao lado de Meunier no PSG, Filipe Luís jogou com Carrasco no Atlético de Madri e Willian trabalha diariamente com Courtois e Hazard. O universo de seleções, porém, costuma carregar outra lógica e uma mística diferente.

Tudo isto torna a Bélgica um grande ponto de interrogação. A maior ameaça é justamente não saber o que esperar dela.

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A fortaleza mental pode levar o Brasil de Tite ao hexa http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/02/a-fortaleza-mental-pode-levar-o-brasil-de-tite-ao-hexa/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/02/a-fortaleza-mental-pode-levar-o-brasil-de-tite-ao-hexa/#respond Mon, 02 Jul 2018 16:24:59 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4821 Mais uma vez a seleção brasileira sofreu no primeiro tempo. Muito pela intensidade máxima do México de Juan Carlos Osório, com Rafa Márquez como surpresa à frente da defesa dando volume ao meio-campo e Lozano e Carlos Vela alternando pelos flancos para cima de Fagner e Filipe Luís.

Mas sofreu com organização no 4-1-4-1 e, principalmente, uma força mental sem oscilações. Com a trinca Thiago Silva, Miranda e Casemiro minimizando erros, consertando falhas. Na saída de bola e na recomposição. Principalmente de Phillipe Coutinho, apertado por Herrera e só crescendo quando se aproximava de Neymar.

Concentrado defensivamente como todos. Paciente em busca dos espaços. Surgiram na segunda etapa quando Osorio arriscou Layún no lugar de Rafa Márquez. Mas sem voltar ao 4-2-3-1 da vitória sobre a Alemanha. Layún entrou na lateral, com Álvarez, já com amarelo, saindo do duelo com Neymar, indo para o meio e mantendo o tridente Lozano-Chicharito-Vela. Diminuiu a pressão na saída brasileira e descompactou as linhas mexicanas.

O calor em Samara foi minando as forças do time de Osorio. O crescimento de Willian e um Neymar focado apenas em jogar, mesmo apanhando demais, fizeram o serviço. Calcanhar do camisa dez, jogada de Willian pela esquerda e gol de centroavante de Neymar. Camisa dez que passou a jogar mais adiantado para poupar esforços e fugir das pancadas.

Gabriel Jesus, sem gols mas com imensa dedicação tática, foi ser o ponta esquerda. Tanto que Roberto Firmino entrou na vaga de Coutinho, que também melhorou na segunda etapa. Para jogar de meia, na função de Coutinho. E aproveitar o rebote de Ochoa na arrancada de Neymar e marcar seu primeiro gol na Copa. E garantir o Brasil nas quartas.

Sem Casemiro. Desfalque importante e preocupante contra Bélgica ou Japão. Mas Fernandinho entrou bem no lugar de Paulinho e deve manter a concentração. Basta lembrar dos 3 a 0 sobre a Argentina no Mineirão pela Eliminatória. É possível manter o desempenho.

Impressiona o equilíbrio da equipe de Tite. Terminou com 46% de posse, mas duelou pelo controle da bola na maior parte do jogo. Finalizou 21 vezes, 10 no alvo. Fez de Ochoa um dos melhores em campo. O México concluiu 13 vezes, mas apenas uma na direção da meta de Alisson. Nenhuma chance cristalina.

Segurança, solidez. O talento resolvendo na frente, como o “molho” do trabalho coletivo. Com Neymar só pensando em futebol. Em desequilibrar e ser o craque de cada jogo e do Mundial. Como deve ser. A fortaleza mental pode levar o Brasil ao hexa.

(Estatísticas: FIFA)

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Brasil vence Croácia, mas e daí? Não justifica a montanha russa de opiniões http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/06/03/brasil-vence-croacia-mas-e-dai-nao-justifica-a-montanha-russa-de-opinioes/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/06/03/brasil-vence-croacia-mas-e-dai-nao-justifica-a-montanha-russa-de-opinioes/#respond Sun, 03 Jun 2018 16:25:40 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4666 Minha primeira lembrança de seleção brasileira é a euforia que tomou conta do país quando rodou pela Europa em 1981 e venceu Inglaterra, França e Alemanha. Teve até fogos. A TV Globo, na época com Luciano do Vale, tratou como uma espécie de Copa das Confederações. Um exagero.

Por isso Dunga encarou com tanta seriedade os amistosos assim que assumiu em 2014 para “resgatar a autoestima” por causa dos 7 a 1. Chegou a administrar resultados e guardar três, quatro substituições para ganhar tempo nos últimos minutos e segurar a vitória.

Agora Tite fez praticamente o mesmo contra a Alemanha. Um tal de “fantasma”…Logo a atual campeã mundial, que junto com a Itália, nos melhores e piores momentos, sempre se caracterizaram por não darem a mínima para jogos que não valem pontos. Ou melhor, sempre deram o devido valor.

Amistoso é para observar, testar. Experimentar até o que parece não dar certo, só para ter certeza. Mas aqui a sanha resultadista impressiona. Todo jogo é de campeonato.

Mesmo tão próximo da Copa do Mundo, com todos os jogadores instintivamente segurando a intensidade com o mais que compreensível temor de uma lesão capaz de encerrar o sonho. Como a entrada irresponsável de Kramaric sobre Thiago Silva. Felizmente nada grave, ao que parece.

Mas houve quem se incomodasse no lance muito mais com a saída de bola no chão perto da própria área. “Dá um chutão! Ali não é lugar para brincar…” Claro que um erro em jogo eliminatório no Mundial pode ser fatal. Mas a ligação direta constante também é risco grande, pois entrega a bola e o volume constante do adversário também pode terminar em gol contra.

Outra visão curiosa pelo imediatismo e quase onipresença nas transmissões, debates e redes sociais foi a crítica à escalação do meio-campo com Casemiro, Fernandinho e Paulinho. “Três volantes”. Pronto, automaticamente o time perde criatividade. Independentemente da boa marcação da Croácia no primeiro tempo em Liverpool. Como se a seleção de Modric, Rakitic, Perisic, Kovacic e Manduzic fosse uma qualquer. Ou os jogadores brasileiros não estivessem travados, sem as costumeiras triangulações na execução do 4-1-4-1. Bem diferente da vitória sobre a Alemanha. Com os mesmos três no meio-campo…

Os novos debates serão a “volta da Neymardependência” e “Firmino ou Gabriel Jesus?” Por causa dos gols na vitória por 2 a 0. Como se depender do talento maior não fosse natural e tudo na avaliação do centroavante fosse ir às redes ou não.

O objetivo deste texto não é “cagar regra” sobre o que se deve ou não opinar, muito menos blindar Tite de críticas. Até porque, todos sabemos, ele será julgado pelo resultado e só. Como todos. Como sempre. Assim como não dá para se empolgar e dizer que o setor ofensivo tem que contar com Neymar e Firmino na estreia da Copa. Apenas ressaltar a curiosa montanha russa de emoções e opiniões sobre a seleção quando a Copa vai chegando. Ou em qualquer tempo.

Amistoso é jogo e jogo é guerra. Sempre foi assim e, pelo visto, sempre será.

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Fim da invencibilidade do City no jogo “maluco” com assinatura de Klopp http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/01/14/fim-da-invencibilidade-do-city-no-jogo-maluco-com-assinatura-de-klopp/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/01/14/fim-da-invencibilidade-do-city-no-jogo-maluco-com-assinatura-de-klopp/#respond Sun, 14 Jan 2018 18:24:27 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4000 A melhor definição que este que escreve já leu sobre Jurgen Klopp é de “técnico rock and roll”. Tudo a ver com o estilo apaixonado do alemão. Intensidade, comunhão com a torcida, carisma, alegria. Um “maluco beleza”.

Por isso seus times costumam ser fortes em seus domínios pela atmosfera criada. Não é por acaso que Pep Guardiola quase sempre encontre dificuldades quando sua equipe enfrenta os times de Klopp, desde os duelos entre Bayern de Munique x Borussia Dortmund. Porque a motivação de enfrentar “o melhor treinador do mundo”, nas palavras do próprio comandante dos Reds, cria essa “loucura”. Sem controle.

Foi o que se viu nos 4 a 3 impostos pelo Liverpool no Anfield Road encerrando a invencibilidade do Manchester City em 23 rodadas. Início com intensidade máxima e gol logo aos oito minutos, no chute cruzado de Oxlade-Chamberlain, o meia pela direita no 4-3-3 do time da casa. Em tese, o substituto de Philippe Coutinho. Um dos destaques da partida.

Mas o líder absoluto da Premier League não é um time qualquer e, mesmo incomodado na saída de bola e com Fernandinho errando mais que o habitual, respondeu ocupando mais o campo de ataque e girando a bola. Na falha de Joe Gomez, a inversão de Walker encontrou Sané. Bela jogada do ponteiro alemão e chute forte entre a trave e o goleiro Karius. Uma das duas finalizações no alvo num total de quatro nos primeiros 45 minutos em que os citizens recuperaram o controle da bola e chegaram a 57% de posse.

O Liverpool finalizou oito, mas também um par na direção da meta de Ederson. Eficiência que deu um salto dos 15 aos 23 minutos com belos gols de Roberto Firmino, Mané e Salah. O mais bonito do brasileiro em lindo toque de cobertura. Incrível como é subestimado no Brasil por não ter história em um grande clube daqui. Pelo desempenho já pode questionar até titularidade no centro do ataque.

Pressão, bola roubada e contragolpe mortal. Futebol no volume máximo do time de Klopp. Gols na sequência que sempre baqueiam os times de Guardiola pela perda do domínio.

Mas mesmo com o desgaste físico por rodar menos o elenco nos jogos seguidos na virada do ano, já que conta com elenco curto e desfalcado, o City se entregou à “viagem” do jogo e assumiu o risco do bate-volta típico do Inglês que o time de Guardiola vem administrando melhor na temporada. O treinador catalão tirou Delph por lesão e colocou Danilo e depois trocou Sterling, novamente mal contra seu ex-time, por Bernardo Silva, autor do segundo gol.

Gundogan foi mais volante ao lado de Fernandinho do que meia alinhado a Kevin De Bruyne no meio-campo, alterando o desenho do time de Manchester para 4-2-3-1. Mas estava na área para marcar o terceiro e criar uma tensão em Anfield até a testada com perigo de Aguero, impedido, no lance final.

Foram 16 finalizações do anfitrião contra 11 dos visitantes, que tiveram 64% de posse. Cenário de equilíbrio relativo, definido pela maior eficiência nos momentos de superioridade e menos erros quando dominado.

O que parecia trágico se transformou numa reação digna para não abalar tanto o City. Apesar das 17 partidas sem vencer os Reds fora de casa e as seis derrotas de Guardiola contra Klopp. O triunfo do Liverpool teve a assinatura do alemão num jogo “maluco”.

(Estatísticas: BBC)

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