fluminense – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 “Balanço” do Fluminense machuca o Flamengo, mas erros cobraram preço alto http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/13/balanco-do-fluminense-machuca-o-flamengo-mas-erros-cobraram-preco-alto/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/13/balanco-do-fluminense-machuca-o-flamengo-mas-erros-cobraram-preco-alto/#respond Mon, 13 Jul 2020 04:21:58 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8761

Foto: Ayson Braga / Brazil Photo Press / Folhapress

O Flamengo teve 59% de posse de bola e as mesmas seis finalizações no alvo do Fluminense no primeiro clássico da decisão do Carioca. Mas o número total de finalizações deixa claro que os rubro-negros, outrora favoritos absolutos, sofreram muito apesar da vitória por 2 a 1 no Maracanã. Foram 13 tricolores e nove do rival.

A maioria no segundo tempo de ampla superioridade da equipe de Odair Hellmann no trabalho coletivo. Organização defensiva, pressão no adversário com a bola e rápidas transições ofensivas. Usando as inversões de jogo como grande arma para sair da pressão na construção do contragolpe e também para castigar a última linha defensiva do Fla.

Da direita para esquerda, principalmente. Pegando Egídio, Marcos Paulo e às vezes até Dodi contra Rafinha. Chegando ao fundo, bola para trás ou invertendo novamente para pegar um companheiro nas costas de Filipe Luís, centralizado na diagonal de cobertura.

Jogada que foi mais difícil de ser realizada no primeiro tempo, já que o Flamengo, depois de um bom começo tricolor, se instalou no campo de ataque e, mais adaptado às mudanças de Jorge Jesus, conseguiu se impor. Com Rafinha atacando e se juntando a Vitinho, obrigando Marcos Paulo a recuar e o Flu perder a referência de velocidade pelo lado, já que Nenê do lado oposto é menos rápido e intenso.

Trocando passes e criando espaços às costas de Hudson, o volante entre as linhas de quatro do 4-1-4-1 repetido por Hellmann, o Fla encontrou soluções para colocar no jogo Diego e Pedro – novidades nas vagas de Gerson, que começou no banco, e Bruno Henrique, poupado por dores musculares. Inicialmente, a marcação adiantada do Flu complicava a circulação de bola mais lenta com Diego e menos velocidade para atacar espaços às costas da defesa adversária com a presença de Pedro ao lado de Gabigol.

Até uma rápida troca de passes pegar Diego livre para servir Pedro, também com liberdade para abrir o placar. Erro de Gilberto, que saiu para “caçar” e desmontou a última linha. O primeiro erro letal no clássico decisivo.

A vantagem fez o Fla diminuir a intensidade. Difícil saber se é uma oscilação natural pela sequência de jogos, preocupação pela incerteza da permanência de Jorge Jesus ou simplesmente a falta da simbiose com a torcida ausente no estádio. Gabigol parece o mais afetado, sem a eletricidade de outros momentos apesar da evolução na leitura de jogo que tem permitido mais assistências que gols nesta volta. Parecia disperso, apenas uma finalização que fez Muriel trabalhar nos primeiros 45 minutos.

O Flu seguiu apostando em inversões. Um “balanço” que castigava a defesa rival, especialmente os laterais veteranos, e criava chances. Até Egídio cruzar, Gustavo Henrique – outra novidade no lugar de Léo Pereira – ficar olhando e Evanilson empatar. Rápido desmarque do atacante, mas também vacilo do zagueiro.

Foi a senha para Jesus mandar a campo Everton Ribeiro e Gerson, mais Michael para ganhar velocidade e improviso. Não melhorou muito e o Fluminense seguiu superior, apesar do início do cansaço. Yago Felipe e Dodi se multiplicavam na marcação e no apoio aos atacantes. Mas veio a falha decisiva.

Lançamento longo, Egídio hesita na disputa em velocidade com Gabigol, que liga o “turbo” e só para na assistência para Michael marcar o gol da vitória. Contragolpe isolado de um Flamengo diferente, sem o “punch” de antes. Mas ainda o melhor elenco do país e do continente que não perdoa erros bobos.

O Flu falhou atrás e não foi eficiente no ataque, também pelas boas defesas de Diego Alves. Goleiro que segurou o jogo no final porque desta vez as substituições de Hellmann mantiveram o ritmo e o perigo na frente. Especialmente Fernando Pacheco e Caio Paulista. Jesus ainda trocou Pedro por Pedro Rocha e apelaria até para três zagueiros com Léo Pereira entrando na vaga de Gabigol.

Mas Wagner Magalhães interpretou a demora do camisa nove rubro-negro para sair de campo como antijogo e aplicou o segundo amarelo expulsando o atleta que fica de fora da segunda partida. Um exagero “compensado” pelo pouco tempo de acréscimo depois da confusão.

Vitória que deixa o Flamengo mais perto do título, porém a atuação inconstante é mais um sinal de alerta. Algo não está funcionando na mecânica de jogo. Além dos méritos inegáveis do Flu, que vai complicando muito mais que o esperado. Mas para vencer e virar a história do avesso na quarta o tricolor não poderá errar tanto.

(Estatísticas: SofaScore)

 

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Estratégia de Jesus contra River e Al Hilal para em Muriel e Flu guerreiro http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/09/estrategia-de-jesus-contra-river-e-al-hilal-para-em-muriel-e-flu-guerreiro/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/09/estrategia-de-jesus-contra-river-e-al-hilal-para-em-muriel-e-flu-guerreiro/#respond Thu, 09 Jul 2020 12:10:59 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8742

Imagem: Divulgação / Fluminense

“No intervalo conversamos, o ‘mister’ falou para não baixar a intensidade, porque o time deles iria cansar. E foi o que aconteceu. Aí a gente, com a nossa qualidade, conseguiu virar o jogo.”

Palavras de Bruno Henrique após a virada sobre o Al Hilal em Doha, no Catar, pela semifinal do Mundial de Clubes. Depois de terminar o primeiro tempo perdendo por 1 a 0, o Flamengo se impôs, inclusive fisicamente, e virou para 3 a 1.

Algumas declarações depois do triunfo histórico sobre o River Plate em Lima que valeu o título da Libertadores foram na mesma direção. O time argentino correu muito, dobrou a aposta na pressão sobre o adversário com a bola e a conta veio na metade final do segundo tempo e os dois gols de Gabriel Barbosa nos minutos derradeiros.

Na decisão da Taça Rio no Maracanã havia ainda mais motivos para acreditar no desgaste do oponente. O Fluminense teve um período menor de treinamentos na volta e Jorge Jesus agora conta com elenco mais robusto e cinco substituições para renovar as forças e atropelar.

Talvez por isso o treinador português tenha insistido tanto em focar no segundo tempo na análise do jogo em entrevista à Fla TV. Ele apenas se equivocou ao dizer que o time tricolor jogou só para não perder, ou ser derrotado por um placar magro.

Porque o time de Odair Hellmann tinha uma proposta clara de jogo: fechar espaços à frente da própria área com quatro defensores e os três volantes – Hudson, Yago Felipe e Dodi. Também recuando Nenê e Marcos Paulo pelas pontas e Evanilson para negar o passe fácil de Willian Arão, a opção de retorno ou desafogo do Fla.

Bola roubada, toques práticos e rápidos para sair da pressão e explorar os espaços às costas da última linha do rival. Deu trabalho, tanto que, dos quatro defensores do Fla, só Rodrigo Caio não levou cartão amarelo. O Flu valorizou também as bolas paradas, que permitiam que o time ocupasse o campo de ataque com mais jogadores. Assim fez Diego Alves trabalhar com Gilberto e depois o lateral aproveitou a falha coletiva rubro-negra no cruzamento de Egídio para abrir o placar.

Valeu-se também de um primeiro tempo muito abaixo do padrão do Flamengo. Não só pela boa marcação, mas por conta da assustadora lentidão e imprecisão na circulação da bola, mesmo sem pressão do adversário. Ainda que a estratégia fosse definir no segundo tempo, a intensidade ficou comprometida e foi possível perceber também um certo preciosismo, um ar blasé nas tentativas de tabelas e triangulações.

De fato, o Fluminense foi cansando ao longo da segunda etapa, mesmo sem abdicando do ataque dentro da sua proposta. E as substituições naturalmente deixaram o Flamengo mais forte. Entraram Michael, Pedro, Diego e Vitinho. Do setor ofensivo só ficou Gabriel, na esperança do gol decisivo.

Mas foi Pedro quem empatou, completando cruzamento de Filipe Luís. E Bruno Henrique, antes de dar lugar a Vitinho nos minutos finais, teve a bola da virada completando de cabeça a boa jogada de Michael pela direita.

Só que havia Muriel no caminho. O irmão de Alisson teve participação fundamental para respaldar o time aguerrido que renovou o fôlego, mas perdeu em técnica e tática com Fernando Pacheco, Caio Paulista, Yuri e Michel Araújo nas vagas de Evanilson, Marcos Paulo, Yago Felipe e Gilberto. O Flamengo teve chances para construir a virada que pretendia.

Ficou para os pênaltis e Muriel garantiu, defendendo as cobranças de Arão e Rafinha e sendo feliz no chute por cima de Léo Pereira, o pior rubro-negro em campo. Superando Diego Alves, o especialista que pegou os chutes de Dodi e Michel Araújo. Garantindo a conquista da Taça Rio e a realização das finais do Carioca.

Com o Flamengo ainda favorito. Será difícil para o Flu sustentar essa estratégia com entrega absoluta em dois jogos. A menos que os rubro-negros repitam em campo os muitos equívocos da diretoria do clube, que desrespeitou o regulamento da competição, que previa mando de campo na final do returno, e a Medida Provisória 984, que dá direito ao mandante de transmitir o jogo com exclusividade. Atropelou tudo, inclusive a ética, e a Fla TV também fez a transmissão – sem imagens, por decisão de última hora do STJD.

Uma soberba que respingou no time de Jorge Jesus e teve a resposta de quase sempre. O Fluminense foi digno e  guerreiro. Lutou com as armas possíveis e saiu vitorioso. Dentro e fora de campo.

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Queda do Flu torna Flamengo o maior favorito ao Carioca dos últimos 40 anos http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/06/queda-do-flu-torna-flamengo-o-maior-favorito-ao-carioca-dos-ultimos-40-anos/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/06/queda-do-flu-torna-flamengo-o-maior-favorito-ao-carioca-dos-ultimos-40-anos/#respond Mon, 06 Jul 2020 13:17:05 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8730

Foto: AGIF

Se o Flamengo confirmar o favoritismo na quarta-feira e vencer a Taça Rio garantindo o título estadual, a conquista não será invicta por causa do triunfo do Fluminense sobre o time sub-23 no primeiro turno. Equipe tricolor que foi a que mais colocou uma vitória rubro-negra em risco, nos 3 a 2 da semifinal da Taça Guanabara. A única a colocar a equipe de Jorge Jesus nas cordas.

Mas o time tricolor que chega à decisão do returno é bem diferente em desempenho da que demonstrava clara evolução antes da parada e era a única esperança de algum equilíbrio no estadual. Não só pela longa inatividade, mas também por conta dos poucos treinamentos, consequência da madura e correta decisão de não voltar a treinar dentro de um contexto de milhares de mortes no Rio de Janeiro por Covid-19.

A equipe de Odair  Hellmann não conseguiu ir às redes desde a volta e sofreu para segurar o Botafogo e o empate sem gols que garantiu a vaga na final da Taça Rio. O Botafogo de Paulo Autuori, com Honda controlando o meio-campo, teve chances com Pedro Raul e carimbou a trave de Muriel com Bruno Nazário.

Fred também teve grande oportunidade no segundo tempo e, nos minutos finais, o Flu parecia melhor condicionado fisicamente. Mas, no geral, a atuação foi fraca e e resposta negativa. Mesmo com a mudança de Hellmann para uma espécie de 4-3-1-2 com variações – 4-1-4-1 com Nenê voltando pela direita ou 4-4-2, com o camisa 77 se juntando a Fred na frente e Yago Felipe fechando o lado direito e Wellington Silva o flanco oposto.

A queda do Flu entrega ao Flamengo o maior favoritismo ao título carioca dos últimos 40 anos. Usando o próprio time rubro-negro, que sobrou e venceu os dois estaduais de 1979, como “nota de corte”. É claro que o contexto também tornou tudo mais favorável ao atual campeão brasileiro e da Libertadores.

Se a temporada tivesse seguido normalmente, o Fla teria priorizado a fase de grupos do torneio continental. Porque o estadual não foi valorizado desde o início. Nem tanto pelo time sub-23 nas primeiras partidas, necessidade para que o elenco principal completasse as férias de 30 dias.

Depois Jesus escalou os titulares contra o Resende, com sete dias de treinamentos, para colocá-los em ritmo de competição pensando na Supercopa do Brasil e na Recopa Sul-Americana. Na conquista dos três títulos em dez dias no mês de fevereiro, o Fla mandou a campo apenas dois titulares, Léo Pereira e Gabriel Barbosa, na final da Taça Guanabara contra o Boavista.

E o plano inicial de vencer também a Taça Rio tinha como objetivo abreviar o torneio e ganhar um tempo de preparação para o início do Brasileiro. Mas a pandemia fez do Carioca a única competição no horizonte, também por uma volta açodada, até irresponsável.

É claro que o Flamengo tem outras vantagens, como ter voltado antes a treinar e disputar todas as partidas no Maracanã. Mas em qualquer contexto e estádio é difícil imaginar esse time já histórico se complicando contra alguma equipe de menor investimento.

O esquadrão de Zico no início dos anos 1980 tinha o Vasco de Roberto Dinamite como a pedra no sapato. O Fluminense tricampeão de 1983 a 1985 protagonizou duelos equilibrados com Fla, Vasco e até o Bangu, não permitindo uma visão de nítida superioridade. Assim como o Vasco tricampeão de 1992 a 1994, campeões invictos como o Botafogo de 1989 e o próprio Flamengo de 1996 e 2011. Ou o Botafogo das 12 vitórias seguidas na Taça GB em 1997. Mesmo o Flamengo de Abel Braga no ano passado sequer chegou à decisão do turno. Todos tiveram rivais que criaram algum tipo de dificuldade.

O Flamengo de Jorge Jesus sobra como nenhum outro nas últimas quatro décadas. Por conta das circunstâncias, mas também da própria competência no departamento de futebol – apesar dos muitos equívocos em outros setores do clube. Um time forte que, com as contratações de 2020, agora conta com o melhor elenco do continente. Para ganhar os títulos mais importantes da temporada e o Carioca, se fosse possível conciliar.

Agora virou prioridade e parece favas contadas. Uma mera formalidade na quarta. Por mais que se respeite a história do Flu e o time atual, reforçado pelo ídolo Fred, que pode se agigantar em um jogo decisivo. Na camisa e na tradição, porque no futebol a desvantagem é abissal.

 

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Revés do Flu e chance de definir logo o Carioca podem atrapalhar o Flamengo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/29/reves-do-flu-e-chance-de-definir-logo-o-carioca-podem-atrapalhar-o-flamengo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/29/reves-do-flu-e-chance-de-definir-logo-o-carioca-podem-atrapalhar-o-flamengo/#respond Mon, 29 Jun 2020 12:24:31 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8700

Imagem: Thiago Ribeiro / AGIF

O Flamengo liderou a pressão pela volta do Carioca em meio à pandemia com milhares de contaminados e mortos no Rio de Janeiro, sem contar a subnotificação por conta de testes insuficientes para o volume de casos.

O atual campeão brasileiro e da Libertadores retomou os treinamentos inicialmente sem autorização da Prefeitura. Foi o primeiro a voltar a entrar em campo, no dia 18 para vencer o Bangu por 3 a 0 no Maracanã. Os outros três grandes retornaram só dez dias depois.

Com a derrota do Fluminense para o Volta Redonda por 3 a 0 no Estádio Nílton Santos, o Flamengo ultrapassou o rival na classificação geral e, caso vença o Boavista, termina como maior pontuador das fases de grupos dos dois turnos e pode definir o título vencendo a Taça Rio, depois da conquista da Taça Guanabara.

Se não tiver mais nenhuma mudança, o calendário será de semifinal no próximo fim de semana e decisão no domingo seguinte, dia 12 de julho. Caso resolva logo o Carioca, o time rubro-negro teria quase um mês de inatividade até o início do Brasileiro, marcado para o segundo fim de semana de agosto, dias 8 a 9 – podendo ser prorrogado para o seguinte, 15 e 16, a pedido dos times paulistas.

Depois de mais de 90 dias sem partidas seria válido outros 30 de inatividade após quatro jogos? Definir rapidamente o Carioca era interessante no cenário antes da pandemia, com disputa de Libertadores em paralelo e a possibilidade de ganhar tempo de preparação para a competição mais longa, por pontos corridos.

Agora a chance de se tornar uma desvantagem é enorme, já que os demais concorrentes estariam recuperando ritmo com a retomada dos torneios locais e emendariam as decisões com a principal competição nacional. E o Flamengo parado…

É claro que comemorar um título sempre é saudável e os profissionais têm o direito de buscar decidir o mais rápido possível, sem dar chance para uma “zebra”. Mas hoje para a equipe de Jorge Jesus seria mais produtivo disputar uma decisão em duas partidas. De preferência contra um grande, jogando Série A. Nível mais alto de competição.

O Fla é o maior vencedor do Carioca, com 35 títulos. Quatro à frente do Fluminense. O campeonato está longe de ser a prioridade na temporada, embora tenha ganhado relevância pelo contexto sem Libertadores e Copa do Brasil. O favoritismo é absoluto em qualquer circunstância e hoje a conquista pode ser tratada como obrigação.

No momento, porém, a necessidade de seguir jogando é maior que a de festejar e depois só treinar por mais um mês. A pressa pode ser castigada no início do campeonato mais importante.

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Flamengo volta sem torcida, TV, rivais…Sozinho. Landim deve estar feliz http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/17/flamengo-volta-sem-torcida-tv-rivais-sozinho-landim-deve-estar-feliz/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/17/flamengo-volta-sem-torcida-tv-rivais-sozinho-landim-deve-estar-feliz/#respond Wed, 17 Jun 2020 10:51:20 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8658

Foto: Paula Reis / Flamengo

Noventa e cinco dias depois da paralisação por conta da pandemia, o Campeonato Carioca será retomado na quinta, dia 18, com Bangu x Flamengo no Maracanã. Quarta rodada da fase de grupos da Taça Rio.

Tudo definido em um arbitral a toque de caixa, sem consenso. Fluminense e Botafogo isolados, Flamengo liderando a pressão para voltar. O Vasco seguindo por interesses comuns e os times de menor investimento sempre “fieis” ao presidente da FERJ, hoje Rubens Lopes.

O Flamengo se acha pronto. Voltou aos treinos, inicialmente sem autorização da Prefeitura, se vangloria por seus protocolos de segurança. Quer jogar a qualquer custo. Mesmo sem todas as medidas de prevenção definidas pelo governo do Rio de Janeiro, contra todas as recomendações de órgãos de fiscalização. Com adversários sem retomar os treinos. Ainda com muitas mortes por Covid-19 no município e no Estado e perspectivas de crescimento do número de casos com a flexibilização do distanciamento social.

Nada importa. Só o Flamengo, expondo sua marca e a dos patrocinadores. Mostrando que é e continuará poderoso por estar sempre um passo à frente dos rivais. Uma ilha de excelência. Nas declarações dos dirigentes, especialmente do presidente Rodolfo Landim, sempre “nós”, “o Flamengo”. Como se jogasse sozinho.

Na quinta estará sem torcida, por força das circunstâncias. Sem TV, por não fechar acordo para a transmissão do Grupo Globo. Se o Bangu não comparecesse talvez nem fizesse falta. O Flamengo colocaria os reservas de seu forte elenco e organizaria um coletivo. Um Narciso se admirando no espelho.

O Flamengo já não tem rivais no Rio de Janeiro. Nesta edição do Carioca, o Fluminense se coloca como um possível oponente por conta de um regulamento esdrúxulo: pela classificação geral pode provocar uma final, mesmo que os rubro-negros conquistem os dois turnos. Tudo por causa de uma vitória tricolor sobre o time sub-23 do Fla enquanto as estrelas campeãs do Brasileiro e da Libertadores voltavam de férias.

É óbvio que o clube tem seus méritos, ambições e o estadual só ganha alguma relevância agora porque é o que pode ser disputado, até pela impossibilidade de deslocamentos pelo país. Não é errado desejar ser o melhor e construir uma hegemonia nacional e internacional. Longe disso.

Mas é preciso entender que o futebol não se disputa apenas com sparrings ou figurantes. Ainda mais no Brasil que costuma valorizar mais o equilíbrio que a qualidade. O Flamengo passou de 2013 a 2019 se organizando em gestão, porém sem grandes conquistas. Agora que venceu quer construir uma dinastia sem precedentes no país. Desejo justo e saudável, mas não atropelando tudo que vê pela frente, inclusive a ética e o senso coletivo.

O Flamengo de Landim dá a impressão de que se jogasse na NBA entraria com uma petição para ter a primeira escolha do “draft”, mesmo sendo o campeão. Os concorrentes que se danem, fiquem lá em baixo.

Por isso a visão elitista, a proximidade com o poder – da federação, do Estado e da União. Um isolamento esportivo, que no momento se opõe ao distanciamento social necessário. Um egoísmo em todas as instâncias que não costuma dar muito certo – vide o “Soberano” São Paulo, absoluto na década passada e agora sofrendo com excesso de crises e falta de títulos.

O Flamengo retorna sem torcida, sem TV e sem rivais. Sozinho. Landim deve estar feliz.

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Volta de Fred ao Flu vale pelo ídolo, mas pode repetir “flop” de Ronaldinho http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/06/volta-de-fred-ao-flu-vale-pelo-idolo-mas-pode-repetir-flop-de-ronaldinho/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/06/volta-de-fred-ao-flu-vale-pelo-idolo-mas-pode-repetir-flop-de-ronaldinho/#respond Sat, 06 Jun 2020 07:00:05 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8606

Foto: Lucas Merçon / Fluminense

O retorno de Fred ao Fluminense teve “tour solidária”, com o ídolo tricolor pedalando e arrecadando doações em tempos de pandemia. Mesmo aos 36 anos e sendo um dos personagens do rebaixamento do Cruzeiro, o atacante ainda desfruta de visibilidade e gera repercussão e engajamento.

Neste sentido é válido para o clube carioca. A mobilização da torcida em torno do maior artilheiro do clube no século, campeão brasileiro em 2010 e 2012 e referência de 2009 a 2016 pode ser fundamental em um momento de crise sem precedentes no futebol nacional. A iniciativa do jogador de receber dois salários mínimos até o início do Brasileiro e o plano do Flu de torná-lo um embaixador do clube também são positivos. Mesmo em um contexto de salários atrasados e complexo cenário econômico.

A grande questão é como vai se dar o encaixe do centroavante na equipe comandada por Odair Hellmann. Um Fluminense que se ajustava no início da temporada combinando a criatividade e a experiência de Nenê com a rapidez e a intensidade de Wellington Silva, Marcos Paulo e Fernando Pacheco pelos flancos e Evanilson no centro do ataque. Muitas vezes com o centroavante voltando para ajudar sem bola e Nenê “descansando”. Ganso seria a reposição a Nenê, mas numa função mais de organização no meio que criação no ataque.

Odair inicialmente deve encaixar Fred na frente com Nenê por trás em um 4-2-3-1. A solução, porém, tende a sacrificar os ponteiros, que terão que voltar sem bola para formar uma linha de quatro com os dois volantes – Henrique, Hudson e Yago Felipe disputam as vagas. Necessidade da equipe, até porque os laterais Gilberto e Egídio não são exatamente exímios defensores.

Ou colocar muita intensidade na pressão logo após a perda da bola. O problema é que eles também serão a referência de velocidade e de profundidade para atacar os espaços às costas da defesa adversária. Fred faz a parede, Nenê lança e quem infiltra? Aquele que fez pressão no oponente ou veio de trás porque estava protegendo as laterais.

Uma formação possível do Fluminense com Fred: 4-2-3-1 com Nenê ganhando liberdade e os dois sacrificando os ponteiros que precisam recompor, pressionar e ainda acelerar e buscar os espaços às costas da defesa adversária (Tactical Pad).

É o dilema de escalar dois jogadores mais lentos e menos intensos na frente. A mesma dificuldade que o próprio Fluminense enfrentou em 2015 para encaixar Ronaldinho Gaúcho. Outro que mobilizou e atraiu holofotes para o clube, mas entregou pouco no campo. Não só pelas próprias dificuldades de se manter concentrado e disposto a competir, mas porque o ajuste do time para abrigar o talento do novo camisa dez ao lado de Fred comprometeu o trabalho coletivo.

Enderson Moreira e Eduardo Baptista tiveram que exigir de jogadores como Marcos Júnior, Osvaldo, Gustavo Scarpa e Cícero um esforço hercúleo para defender e atacar com intensidade máxima, quase de uma linha de fundo à outra. Uma missão inglória no futebol atual, que já exige demais fisicamente com todos se entregando. Imagine precisando compensar dois homens.

Se houver compreensão com a necessidade de rodar o elenco, Odair pode mudar a equipe, colocar estrelas no banco e utilizá-las em momentos específicos. As cinco substituições agora permitidas podem ajudar. E a combinação de juventude e experiência é sempre saudável na formação de uma equipe.

Mas o risco de “flop” existe. Mesmo para um ídolo como Fred, que parece feliz e motivado. Bom para ele, vejamos se será positivo também para o Fluminense onde mais importa: no campo.

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Yaya Touré no Vasco lembra as manchetes do velho “Jornal dos Sports” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/22/yaya-toure-no-vasco-lembra-as-manchetes-do-velho-jornal-dos-sports/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/22/yaya-toure-no-vasco-lembra-as-manchetes-do-velho-jornal-dos-sports/#respond Fri, 22 May 2020 12:44:16 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8528

Imagem: Reprodução

“Maradona no Flamengo”, “Schuster no Fluminense”, “Romerito no Vasco”. Essas eram as manchetes frequentes no início dos anos 1980, quando este que escreve se apaixonou para sempre pelo futebol.

Principalmente de um jornal que fez história no Rio de Janeiro. O lendário Jornal dos Sports, de páginas rosas inspiradas na publicação francesa L’Auto, depois L’Equipe, embora o imaginário popular até hoje aponte para o periódico italiano La Gazzetta dello Sport.

Não que as informações fossem inventadas sempre. Sempre houve jornalistas menos cuidadosos com a notícia. Até hoje há alguns “especialistas” em criar negociações, interesses e sondagens. Mas muitas vezes havia “fumaça” mesmo, embora pouco confiável. Normalmente partindo de dirigentes querendo desviar o foco das derrotas de algum dos grandes cariocas. Ou para iludir o torcedor com um “pacotão de reforços” na virada da temporada, mesmo com os cofres vazios.

Avançando um pouco no tempo, o ano de 1999 foi prolífico nessas manchetes de fim de temporada. Romário havia deixado o Flamengo e não queria sair do Rio de Janeiro. Surgiu, então, o interesse do Vasco, mas também do Botafogo. Carlos Augusto Montenegro anunciara um possível acordo: o artilheiro disputaria o Mundial de Clubes pelo time cruzmaltino e depois partiria para o Alvinegro, com o patrocínio de uma empresa alimentícia.

Nunca se concretizou. Assim como o interesse do Fluminense em Viola, que seguiu no Vasco. E, como sempre, o Flamengo era o grande alvo dessas especulações. Ainda mais com o dinheiro da ISL, empresa que fechou parceria com o clube, então presidido por Edmundo dos Santos Silva. Na capa, Giovane Élber era o nome para substituir Romário. Continuou no Bayern de Munique até 2003 e na Europa até 2005.

Edmundo também prometeu Batistuta. Ficou com 50%, ou apenas o centroavante Tuta, de passagem esquecível em meio às tantas contratações de fato daquele ano: Edilson, Denilson, Alex, Petkovic e Gamarra. Todos acertos do Jornal dos Sports, estampados em suas capas.

Imagem: Reprodução

Outra fonte muito comum era o candidato à presidência que prometia um reforço de impacto caso fosse eleito, para atrair atenção e votos dos sócios do clube. Na época usava um recurso muito comum para explicar de onde viria o dinheiro: bilheterias de amistosos entre os clubes envolvidos. Um no Maracanã, outro na casa do “vendedor”. Eram tempos sem receitas de TV e, muitas vezes, de patrocinadores.

Voltemos a 2020. O Vasco deve salários e ficou até abril quitando débitos de 2019. A paralisação por conta da pandemia aprofundou a crise financeira. Tanto que após a saída de Abel Braga o clube resolveu apostar na efetivação do auxiliar Ramon Menezes.

Mas o candidato à presidência Leven Siano resolveu anunciar em uma transmissão ao vivo no Instagram que, caso eleito, contratará Yaya Touré. Inclusive com depoimento do próprio jogador marfinense, de 37 anos e sem clube, depois de passagem pelo Qingdao Huanghai, time da segunda divisão da China. Mas tudo, obviamente, depende do resultado das eleições no final do ano.

Como vai pagar? Isso fica para depois. Importante agora é ganhar o noticiário em um período sem futebol no país. Em tempos virtuais, é como colocar na capa do jornal. Se não tivesse deixado de circular no formato impresso em 2010, certamente o Jornal dos Sports teria hoje Yaya Touré chamando os leitores vascaínos para o devaneio. Assim como o próprio Montenegro, que sonhou com Romário há pouco mais de 20 anos, ainda pretende levar o jogador para o Botafogo.

Tempos saudosos, lúdicos. Às vezes era gostoso ser enganado com falsas promessas. A realidade hoje é bem mais dura, mas ainda há quem acredite.

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Por que Edmundo não deu certo no Flamengo em 1995? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/19/por-que-edmundo-nao-deu-certo-no-flamengo-em-1995/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/19/por-que-edmundo-nao-deu-certo-no-flamengo-em-1995/#respond Tue, 19 May 2020 14:25:09 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8517

Foto: Acervo / Flamengo

Há 25 anos, Edmundo chegava ao Flamengo como a principal contratação do início da gestão Kléber Leite, depois da vinda de Romário. Recebido com festa e desfile em carro do Corpo de Bombeiros. Como não podia mais ser inscrito no Carioca e na Copa do Brasil, o atacante só poderia jogar o Brasileiro e a Supercopa Libertadores.

Nenhum problema para o presidente, nem para o treinador Vanderlei Luxemburgo. Embora a ambição no centenário do clube fosse conquistar todos os títulos, a conquista do Brasileiro era o principal objetivo, até para voltar a disputar a Libertadores. Por isso a contratação do técnico e do grande destaque individual do Palmeiras, bicampeão em 1993/94.

Só que a perda do estadual para o Fluminense, no lendário gol de barriga de Renato Gaúcho, fez explodir a crise de relacionamento entre Luxemburgo e Romário. E Kléber Leite deixou a corda estourar do lado do treinador, que não suportou a pressão de resultados ruins e a clara cisão no grupo. O melhor jogador do planeta em 1994, com a moral de campeão do mundo pela seleção, foi colocado naquele momento acima do clube e venceu a queda de braço.

Luxemburgo pediu demissão e o time foi ladeira abaixo. Não só porque Edinho não era o treinador para o momento que vivia o clube e o radialista Washington Rodrigues foi uma solução populista para acalmar a torcida, mas porque a autoridade de Romário transformou a gestão do futebol em uma bagunça generalizada.

Além disso, a sanha por contratações de Kléber Leite gerou uma reformulação no elenco que praticamente descartou a base que fizera a melhor campanha geral no Carioca – o Fluminense venceu o octagonal decisivo, mas o time rubro-negro conquistou a Taça Guanabara  – e foi semifinalista da Copa do Brasil, caindo para o forte Grêmio de Felipão que seria campeão da Libertadores.

O zagueiro Jorge Luiz, por exemplo, que havia feito um bom Carioca com gols e atuações destacadas foi um dos responsabilizados pelo fracasso no estadual  e partiu para o Atlético Mineiro. Para retornar no ano seguinte e ser um dos pilares do time campeão invicto do Rio de Janeiro.

Tudo ruiu sem Luxemburgo. Inclusive o encaixe de Edmundo no time. O treinador planejou e testou a equipe com três atacantes, colocando Mazinho, ex-Bragantino, como uma espécie de “dublê” da nova estrela. No jogo final contra o Fluminense errou ao trazer William de volta ao meio-campo. No segundo tempo, com Mazinho em campo, o Fla reagiu.

No plano de Luxa, Sávio seria adaptado como uma espécie de “enganche” em um 4-3-1-2 que teria Djair como a peça que faltou ao Fla no primeiro semestre e foi uma das chaves da reação do Fluminense de Joel Santana e Renato Gaúcho: o meio-campista organizador que faz o time jogar. O técnico rubro-negro tentou encaixar Válber e até Branco na função, porém sem sucesso.

Edmundo jogaria solto, se movimentando em torno de Romário, que ficaria mais fixo como centroavante. Não deu tempo e Luxemburgo e Edmundo sequer fizeram um jogo oficial juntos pelo Flamengo. “Interrompeu um projeto que poderia ter sido bem sucedido, todos saíram perdendo”, lembrou Luxemburgo em entrevista anos depois.

Já Edmundo, que se transformaria em desafeto do treinador, culpa a desorganização do clube: “o marketing ficou maior que o futebol e nossas viagens eram uma farra, não era sério”, afirmou em entrevista a Teo José para o Fox Sports, canal que tem o ex-jogador como comentarista.

Edinho montou um time engessado com Edmundo e Sávio nas pontas e Romário no centro e Washington Rodrigues “ganhou” uma suspensão de dois jogos do “Animal” pela famosa confusão com Zandoná em um jogo contra o Vélez Sarsfield, e ainda uma lesão: fratura do osso do pé esquerdo do camisa sete em disputa com o zagueiro Gamarra em Porto Alegre contra o Internacional, ficando de fora do resto da temporada.

Assim o “Apolinho”, amparado pelo auxiliar e treinador Arthur Bernardes, pôde montar um time mais equilibrado e competitivo, com meio-campo preenchido, e ao menos chegar à decisão da Supercopa contra o Independiente. O título esperado, porém, não veio e a campanha no Brasileiro foi pífia.

A saída de Luxemburgo foi decisiva para o fracasso do Flamengo no ano do centenário.  O projeto de “melhor ataque do mundo” virou piada e Edmundo, que ainda se envolveu em um acidente grave que matou três pessoas e feriu outras três, partiria para o Corinthians. Mesmo com Joel Santana, então o treinador em 1996, pedindo sua permanência. Simplesmente não havia mais clima. O “casamento” tinha terminado.

Edmundo faria sua história no Vasco como grande algoz do Flamengo. Foi o que ficou para a eternidade e ganhou força ao longo dos anos com o agora comentarista sempre demonstrando seu amor pela Cruz de Malta. Mas não foi o coração cruzmaltino que atrapalhou o atacante no rival. Ele apenas foi o craque certo na hora errada. Por culpa da bagunça rubro-negra em ano histórico. Um desperdício.

 

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Clubes forçam volta e futebol brasileiro mostra sua face escravocrata http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/03/clubes-forcam-volta-e-futebol-brasileiro-mostra-sua-face-escravocrata/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/03/clubes-forcam-volta-e-futebol-brasileiro-mostra-sua-face-escravocrata/#respond Sun, 03 May 2020 18:35:03 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8424 “Jogador que não quiser jogar pede demissão”. Palavras do presidente do Internacional, Marcelo Medeiros.

No momento em que a pandemia deve acentuar a curva de contágio e colapsar de vez o sistema de saúde do país, os clubes brasileiros forçam a volta das atividades. No caso do Rio Grande do Sul, amparado pela irresponsável autorização da prefeitura de Porto Alegre. Mesmo sem contato físico, mas com circulação desnecessária.

Para viabilizar o retorno precoce, a aquisição de testes é obrigatória, assim como os equipamentos de proteção individual. Justo no Brasil de tamanha subnotificação dos casos por causa da limitação do material para confirmar se os sintomas são mesmo de Covid-19 e médicos e enfermeiros estão morrendo no trabalho por falta desta proteção.

Junte a isso as demissões de funcionários humildes no rico Flamengo, a dispensa de jovens da base no Corinthians e outras ações que escancaram a incompetência e/ou a insensibilidade dos gestores e temos a cara do futebol brasileiro: um ambiente que se acha descolado da sociedade, mas, no fundo, demonstra apenas a sua pior face.

Uma espécie de escravocracia moderna, na qual os agentes abaixo do guarda-chuva de quem manda são apenas números em uma planilha e precisam manter a roda girando. Mesmo que alguns paguem com a própria miséria e outros com a vida mesmo.

A ponto do Grêmio passar por cima da visão do ídolo maior, Renato Gaúcho, que desaconselhou a volta do futebol ao próprio Presidente da República, que admitiu a conversa publicamente. Dando mais uma prova de que um mínimo de racionalidade independe de posições políticas.

É preciso ressalvar as exceções, como Palmeiras, Bahia, Fluminense e outros, que tomaram medidas preventivas com reduções de salários e, cada um dentro de sua realidade orçamentária, aguardam a sinalização das autoridades de Saúde para retomar as atividades com segurança para todos. Física e financeira.

Inclusive dos próprios “artistas do espetáculo”. Porque voltar a jogar não envolve apenas o risco de contaminação. Um choque, um mal estar por desgaste, uma lesão grave terá que levar o atleta ao hospital para uma intervenção cirúrgica. E mesmo os mais modernos, voltados para as classes mais abastadas, estão sobrecarregados por causa da pandemia. E podem contaminar os jogadores.

Por maior que seja a saudade da bola rolando ao vivo e se compreenda que o cenário é complexo, inédito e precisa de um plano de ação, é preciso ter visão coletiva e bom senso. Exatamente o que falta ao futebol brasileiro desde sempre. Um meio onde a “síndrome de Macunaíma” sempre existiu. O microcosmo em que vence o mais esperto, onde crimes como racismo são relativizados pela “catarse” que acontece em um jogo.

Principalmente, onde privilégios são aceitos sem resistência e vale tudo para o show continuar. Mesmo que seja o circo sem pão no meio de uma crise sem precedentes. Para a qual ninguém se preparou. Muito menos os clubes que no papel são instituições sem fins lucrativos e resistem para se tornar empresas. Porque não querem perder as benesses históricas. Nem a licença para o absurdo que agora é usada como coringa para autorizar a insensibilidade máxima.

O Ministério da Saúde, acompanhando tendência do atual governo federal, adota posicionamento dúbio. Sugere a volta para tornar o distanciamento social menos degradante emocionalmente, mas dentro das normas estabelecidas. Ora, se for para seguir as regras não há como retomar um esporte de contato permanente!

E o mais triste é que há quem aprove. Os torcedores de dirigentes, os fanáticos acríticos ou os puxa-sacos mesmo. Dos que oprimem e ameaçam com desemprego quem apenas quer sobreviver ou só proteger os entes queridos.

Que a conta seja cobrada quando os caixões baixarem às sepulturas. Ou nem haja buracos para enfiar os corpos. Mas quem se importa? “E daí?”

 

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O timaço do rival que quase roubou meu coração http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/25/o-timaco-do-rival-que-quase-roubou-meu-coracao/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/25/o-timaco-do-rival-que-quase-roubou-meu-coracao/#respond Sat, 25 Apr 2020 07:37:26 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8366

Foto: Matheus Gevaerd

Você leu AQUI que este que escreve escolheu ser torcedor do Flamengo por causa do Zico. Fã primeiro do jogador, por consequência do clube.

Natural que aos dez anos, quando criança era realmente ingênua nesta idade, a paixão sofresse um abalo pela saída do ídolo máximo para a Udinese. Uma traição na visão do menino e avalizada por muita gente adulta.

E foi justamente neste período que um rival histórico dominou o cenário regional, em tempos que os estaduais valiam demais, e ainda conquistou um título brasileiro: o Fluminense tricampeão carioca de 1983 a 1985, com a conquista nacional em 1984 para marcar época definitivamente.

Uma equipe formada meio no “cata-cata”, na base do “bom, bonito e barato”. Até pelos problemas financeiros de um clube que não chegava às finais do Carioca desde o título, em 1980. Já no Brasileiro, a última grande campanha tinha cheiro de frustração, com a “máquina tricolor” sendo eliminada na semifinal por um Corinthians bem mais limitado. A inesquecível “invasão” do Maracanã em 1976.

Em 1983, a base era formada pelo goleiro Paulo Vítor (no Flu desde 1981), o lateral direito Aldo, contratado ao Paysandu no ano anterior, o zagueiro Ricardo (Gomes), formado na base do clube e Delei, o titular remanescente da última conquista. Do Internacional chegaram os relegados Branco e Jandir, depois Tato. Do Coritiba, o volante Leomir, ainda em 1982. Do América, o zagueiro Duílio. O maior investimento foi na dupla de ataque: Washington e Assis, que venceram o Paranaense pelo Atlético-PR e aterrorizaram a defesa do Flamengo na semifinal do Brasileiro daquele ano, mesmo com eliminação.

O treinador Cláudio Garcia comandou a equipe no título da Taça Guanabara e depois partiu para o Flamengo, que seria o campeão da Taça Rio. No triangular final com o Bangu, time de melhor campanha nos dois turnos, o título veio mesmo sem grande futebol do time agora comandado por José Luís Carboni, com o histórico gol de Assis, no minuto derradeiro do Fla-Flu. O último sofrido na carreira do goleiro Raul Plasmann.

Uma conquista no melhor estilo “timinho” que consagrara o tricolor nos anos 1950. Sem favoritismo, com placares magros, mas levando o troféu para as Laranjeiras. No entanto, para vencer o Brasileiro era preciso pensar grande.

Faltava o craque e o grande treinador. Chegaram o paraguaio Romerito do Cosmos e Carlos Alberto Parreira, depois da primeira experiência não tão bem sucedida na seleção brasileira no ano anterior. Para dar o salto de qualidade na melhor versão daquela equipe que virou timaço.

Armado em uma espécie de 4-4-1-1, nas palavras do próprio Parreira em entrevista a este jornalista. Deixando o corredor direito livre para a vitalidade de Aldo e os deslocamentos de Washington, sempre municiados por Delei. Do lado oposto, Romerito se juntava à ala esquerda formada por Branco e Tato ou Paulinho, setor ofensivo mais forte do time. Assis trabalhava com os meio-campistas, caía pelos flancos e se juntava a Washington, principalmente no jogo aéreo. O “Casal 20”, apelido inspirado em famosa série de TV à época.

Sem a bola, todos colaboravam na recomposição e Jandir era o volante marcador que protegia a zaga formada por Duílio e Ricardo Gomes. Assim o time embalou a partir das quartas de final. Levou dois gols fora de casa do Coritiba no empate por 2 a 2 na ida e depois Paulo Vitor não sofreu mais gols. 5 a 0 nos paranaenses para se firmar como grande força.

Mas não favorito contra um Corinthians embalado por eliminar o Flamengo com goleada em casa por 4 a 1 e sonhando com o então inédito título nacional na despedida de Sócrates, que partiria para a Fiorentina. No Morumbi, porém, o Flu de Parreira protagonizou a grande atuação coletiva de todo aquele período: 2 a 0, calando o estádio lotado. Gols de Assis e Tato, mais outras oportunidades em transições ofensivas demolidoras e sem conceder nenhuma chance clara à equipe paulista. Domínio absoluto consolidado com empate sem gols no Maracanã.

Na decisão carioca, o gol de Romerito e outra grande atuação de defesa-contragolpe superaram o ofensivo Vasco comandado por Edu Coimbra, irmão de Zico, e que teve os dois artilheiros daquela edição: Roberto Dinamite e Arturzinho. Mas não havia equipe mais equilibrada.

O 4-4-1-1 armado por Parreira que era sólido defensivamente com todos colaborando e veloz nas transições ofensivas, abrindo o corredor direito para Aldo e reunindo Branco, Romerito, Tato e às vezes até Assis do lado oposto para envolver os adversários (Tactical Pad).

Time que esbanjaria no segundo semestre vencendo novamente o estadual, com o motivador Carlos Alberto Torres mantendo a proposta de jogo e sendo campeão mesmo sem Ricardo, Branco, Jandir e Delei, substituídos por Vica, Renato, Leomir e Renê. Dentro de um elenco curto, porém homogêneo e com incrível capacidade competitiva. De novo superando o Flamengo com gol de Assis.

Supremacia ratificada no ano seguinte ao vencer novamente a Taça Guanabara. E fazer deste que escreve um torcedor do Fluminense por duas semanas. Cansado de tantos vexames rubro-negros – incluindo uma eliminação no Brasileiro para o Brasil de Pelotas naquele mesmo ano, com Zico já de volta ao clube – e desolado pela grave lesão do Galinho na entrada criminosa de Márcio Nunes, do Bangu.

É óbvio que não duraria muito. Afinal, paixão clubística não tem explicação. Mesmo com o tri do Flu na vitória de virada sobre o Bangu por 2 a 1. Gols de Romerito e Paulinho, este em linda cobrança de falta, que consagrariam a equipe comandada por Nelsinho Rosa em mais uma conquista histórica. Fiquei feliz porque o melhor havia vencido, mesmo beneficiado por erro grotesco do árbitro José Roberto Wright ao não marcar um pênalti claríssimo de Vica em Cláudio Adão no final do jogo.

O amor pelo futebol, especialmente o do Rio de Janeiro, fez o menino de 11 anos em 1984 se arrepiar no Maracanã com o hino do Botafogo ao acompanhar o irmão cruzmaltino em um clássico contra o Vasco. O grande rival do Flamengo que teve a minha torcida em 1987, no “Clássico dos Milhões” que confirmou o título da Taça Guanabara para o time comandado por Joel Santana que tinha Dinamite, Romário, Tita, Geovani e Dunga. Sim, eu fui para a arquibancada de quem estava jogando mais bola. Mas esta é uma história para outro post.

Este homenageia um timaço vencedor. Para mim a verdadeira “Máquina Tricolor”. Do lindo uniforme verde, branco e grená, além da bandeira levada ao gramado em cada jogo. Uma mística que encantava e, combinada com bom futebol, quase roubou meu coração há 35 anos.

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