futebol – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 “Balanço” do Fluminense machuca o Flamengo, mas erros cobraram preço alto http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/13/balanco-do-fluminense-machuca-o-flamengo-mas-erros-cobraram-preco-alto/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/13/balanco-do-fluminense-machuca-o-flamengo-mas-erros-cobraram-preco-alto/#respond Mon, 13 Jul 2020 04:21:58 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8761

Foto: Ayson Braga / Brazil Photo Press / Folhapress

O Flamengo teve 59% de posse de bola e as mesmas seis finalizações no alvo do Fluminense no primeiro clássico da decisão do Carioca. Mas o número total de finalizações deixa claro que os rubro-negros, outrora favoritos absolutos, sofreram muito apesar da vitória por 2 a 1 no Maracanã. Foram 13 tricolores e nove do rival.

A maioria no segundo tempo de ampla superioridade da equipe de Odair Hellmann no trabalho coletivo. Organização defensiva, pressão no adversário com a bola e rápidas transições ofensivas. Usando as inversões de jogo como grande arma para sair da pressão na construção do contragolpe e também para castigar a última linha defensiva do Fla.

Da direita para esquerda, principalmente. Pegando Egídio, Marcos Paulo e às vezes até Dodi contra Rafinha. Chegando ao fundo, bola para trás ou invertendo novamente para pegar um companheiro nas costas de Filipe Luís, centralizado na diagonal de cobertura.

Jogada que foi mais difícil de ser realizada no primeiro tempo, já que o Flamengo, depois de um bom começo tricolor, se instalou no campo de ataque e, mais adaptado às mudanças de Jorge Jesus, conseguiu se impor. Com Rafinha atacando e se juntando a Vitinho, obrigando Marcos Paulo a recuar e o Flu perder a referência de velocidade pelo lado, já que Nenê do lado oposto é menos rápido e intenso.

Trocando passes e criando espaços às costas de Hudson, o volante entre as linhas de quatro do 4-1-4-1 repetido por Hellmann, o Fla encontrou soluções para colocar no jogo Diego e Pedro – novidades nas vagas de Gerson, que começou no banco, e Bruno Henrique, poupado por dores musculares. Inicialmente, a marcação adiantada do Flu complicava a circulação de bola mais lenta com Diego e menos velocidade para atacar espaços às costas da defesa adversária com a presença de Pedro ao lado de Gabigol.

Até uma rápida troca de passes pegar Diego livre para servir Pedro, também com liberdade para abrir o placar. Erro de Gilberto, que saiu para “caçar” e desmontou a última linha. O primeiro erro letal no clássico decisivo.

A vantagem fez o Fla diminuir a intensidade. Difícil saber se é uma oscilação natural pela sequência de jogos, preocupação pela incerteza da permanência de Jorge Jesus ou simplesmente a falta da simbiose com a torcida ausente no estádio. Gabigol parece o mais afetado, sem a eletricidade de outros momentos apesar da evolução na leitura de jogo que tem permitido mais assistências que gols nesta volta. Parecia disperso, apenas uma finalização que fez Muriel trabalhar nos primeiros 45 minutos.

O Flu seguiu apostando em inversões. Um “balanço” que castigava a defesa rival, especialmente os laterais veteranos, e criava chances. Até Egídio cruzar, Gustavo Henrique – outra novidade no lugar de Léo Pereira – ficar olhando e Evanilson empatar. Rápido desmarque do atacante, mas também vacilo do zagueiro.

Foi a senha para Jesus mandar a campo Everton Ribeiro e Gerson, mais Michael para ganhar velocidade e improviso. Não melhorou muito e o Fluminense seguiu superior, apesar do início do cansaço. Yago Felipe e Dodi se multiplicavam na marcação e no apoio aos atacantes. Mas veio a falha decisiva.

Lançamento longo, Egídio hesita na disputa em velocidade com Gabigol, que liga o “turbo” e só para na assistência para Michael marcar o gol da vitória. Contragolpe isolado de um Flamengo diferente, sem o “punch” de antes. Mas ainda o melhor elenco do país e do continente que não perdoa erros bobos.

O Flu falhou atrás e não foi eficiente no ataque, também pelas boas defesas de Diego Alves. Goleiro que segurou o jogo no final porque desta vez as substituições de Hellmann mantiveram o ritmo e o perigo na frente. Especialmente Fernando Pacheco e Caio Paulista. Jesus ainda trocou Pedro por Pedro Rocha e apelaria até para três zagueiros com Léo Pereira entrando na vaga de Gabigol.

Mas Wagner Magalhães interpretou a demora do camisa nove rubro-negro para sair de campo como antijogo e aplicou o segundo amarelo expulsando o atleta que fica de fora da segunda partida. Um exagero “compensado” pelo pouco tempo de acréscimo depois da confusão.

Vitória que deixa o Flamengo mais perto do título, porém a atuação inconstante é mais um sinal de alerta. Algo não está funcionando na mecânica de jogo. Além dos méritos inegáveis do Flu, que vai complicando muito mais que o esperado. Mas para vencer e virar a história do avesso na quarta o tricolor não poderá errar tanto.

(Estatísticas: SofaScore)

 

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Pênaltis e CR7 salvam Juventus, mas Atalanta dá prova de força que faltava http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/11/penaltis-e-cr7-salvam-juventus-mas-atalanta-da-prova-de-forca-que-faltava/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/11/penaltis-e-cr7-salvam-juventus-mas-atalanta-da-prova-de-forca-que-faltava/#respond Sat, 11 Jul 2020 22:02:33 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8757 Não é fácil vencer a Juventus em Turim pela Série A italiana. Camisa pesada, cultura de vitória de um octacampeonato. Força que intimida também arbitragens em lances duvidosos, com margem nas regras cada vez menos claras do jogo, especialmente nos toques com mãos e braços dos defensores dentro da área.

E também Cristiano Ronaldo, que mesmo bem vigiado por Rafael Tolói na linha de três zagueiros da Atalanta fez o goleiro Gollini trabalhar e converteu os dois pênaltis que garantiram o empate por 2 a 2 e levaram o português a 28 gols na liga, um atrás de Immobile, da Lazio.

Mas a Atalanta chegou bem perto e deu a demonstração de força que faltava, mesmo encerrando a série de 11 vitórias consecutivas. Um recital no primeiro tempo, com sete finalizações a três, 56% de posse de bola na casa do time dominante na Itália, agora ainda mais perto do nono título consecutivo.

No ritmo de Papu Gómez, novamente o organizador do 3-4-2-1 que desta vez teve Ilicic de início e Pasalic entrando no segundo tempo. Na frente, Zapata deixou o jovem holandês De Ligt zonzo com a combinação de força física e mobilidade.

Deslocamento, finalização precisa do colombiano e justa vantagem para a equipe de Gasperini nos primeiros 45 minutos. Levando ampla vantagem também pelos flancos, fazendo sofrer Cuadrado e Danilo, os elos fracos da retaguarda de Maurizio Sarri.

No segundo tempo, porém, a intensidade na execução do modelo de jogo cobrou o preço pela sequência de jogos sempre no limite. E o peso do oponente também contou nos cuidados defensivos e momentos de posse de controle, tirando a velocidade.

A Juve cresceu com Alex Sandro e Douglas Costa, além da entrada de Higuaín dando mais presença física na área adversária. Cristiano Ronaldo ganhou companhia e teve a chance da virada em bela finalização, depois de converter o primeiro pênalti.

Mas a Atalanta mostrou também contar com elenco heterogêneo. Além de Pasalic, entraram também Muriel, Tameze, Caldara e Malinovskyi. E foi o ucraniano, substituto de Papu Gómez, que fez o ataque recuperar ritmo, circulação de bola e também presença ofensiva. Assim marcou o segundo gol que parecia o da vitória. Triunfo que seria justo pela manutenção da superioridade em posse  (51%) e finalizações (13 a 9).

Mas o toque de Muriel em lance com Higuaín deu a chance do empate que provavelmente não aconteceria em outras condições, contra outro adversário, outra camisa. Mas era a Juventus, que encaminha mais uma conquista nacional.

E a Atalanta soma um ponto que não deixa de ser importante na disputa pela vaga na próxima Champions. Torneio continental que parece cada vez mais um sonho possível de chegar bem longe. O PSG de Neymar que se cuide. Até por não ostentar no cenário europeu o tamanho que a Juve tem na Itália.

(Estatísticas: Whoscored.com)

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Caminho do PSG na Champions será bem mais complicado do que parece http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/10/caminho-do-psg-na-champions-sera-bem-mais-complicado-do-que-parece/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/10/caminho-do-psg-na-champions-sera-bem-mais-complicado-do-que-parece/#respond Fri, 10 Jul 2020 13:18:37 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8750

Foto: Harold Cunningham / UEFA / AFP

Tão logo saiu os cruzamentos no sorteio das quartas de final da Champions, ainda que faltando três dos oito classificados, a primeira impressão foi de que o Paris Saint-Germain seria o grande “vitorioso”.

Afinal, o time de Neymar saiu da reta das grandes camisas e dos campeões dos últimos anos – excetuando o atual, Liverpool. Sem Real Madrid, Barcelona e Bayern de Munique no caminho até a grande final. “Fugindo” também  do Manchester City de Guardiola e da Juventus de Cristiano Ronaldo, que ainda enfrenta o Lyon pelas oitavas.

Primeiro a Atalanta. Se passar, o vencedor de Leipzig e Atlético de Madrid. Sem dúvida, se olharmos a história do torneio continental, é uma trilha teoricamente menos pesada. E desse enrosco pode sair um finalista inédito – só o Atlético já esteve em uma final.

Só que não estamos dentro de uma normalidade. Longe disso. E são justamente essas mudanças no cenário que tornam o caminho do PSG bem mais complicado do que parece.

Acima de tudo pela inatividade do time francês, que é sem precedentes em uma fase tão avançada da competição. Entre março e agosto, a previsão de apenas duas partidas oficiais: as decisão das copas nacionais – Saint-Etienne na Copa da França no dia 24 e Lyon na Copa da Liga Francesa no dia 31. Mais quatro amistosos contra adversários bem abaixo do nível de enfrentamento que espera o time de Paris.

Com a Ligue 1 encerrada, a equipe de Thomas Tuchel terá o benefício do menor risco de lesões e desgaste, mas o enorme déficit em um aspecto fundamental no futebol atual: intensidade. Por mais que os treinos hoje reproduzam o ritmo e a velocidade na tomada de decisão do jogo, a falta do nível alto de competição pode prejudicar bastante. Principalmente pela disparidade de forças na França que já prejudicou o PSG no sonho de ganhar a Champions em outras temporadas.

E a Atalanta de Gian Piero Gasperini não é um time qualquer. Longe disso. Mostra personalidade, com volume de jogo sufocante e capaz também de surpreender jogando em rápidas transições ofensivas. Atropelou o Valencia nas oitavas e vem de onze vitórias consecutivas. É o melhor entretenimento do futebol atual.

É preciso pesar que essa disputa da Champions acontecerá em um ambiente mais “puro”, sem a “contaminação” da atmosfera. Campo neutro, em Lisboa, e sem torcida. Nem a vantagem do conhecimento e da vivência no próprio estádio será possível. Fatores que costumam estabelecer essa coisa metafísica e difícil de descrever que é a “camisa pesada”.

Todo esse contexto definindo a vida em 90, 120 minutos ou nos pênaltis. Para ficar ainda mais imprevisível. E o PSG ainda carregará a tensão do favoritismo, já que para o time de Bergamo a simples presença nas quartas já é histórica e digna de celebração na cidade, se houvesse a possibilidade de aglomeração de pessoas.

Se conseguir chegar às semifinais, as dificuldades serão praticamente as mesmas. Só um pouco mais nivelado na intensidade pelo jogo forte das quartas. Caso o adversário seja o Leipzig, a missão será encarar um “novato” ainda mais motivado a fazer história e que também joga em ritmo fortíssimo. Ainda assim, talvez seja melhor para Neymar e companhia, já que o time alemão também sofrerá um pouco agora com a falta de jogos oficiais por conta do fim da Bundesliga 2019/20.

Encarando o Atlético de Madrid, o estilo do time de Simeone pode expor as fragilidades defensivas que o PSG costuma apresentar em jogos grandes. E mesmo sem a força do mando, a “casca” construída pelo clube espanhol nos últimos anos em fases avançadas da competição pode fazer diferença.

Não será tão simples ou menos complicado. E o projeto PSG nunca mostrou consistência para se impor em qualquer cenário na Europa. O desafio continua enorme, mesmo sem gigantes pelo caminho.

[Sobre o outro lado do chaveamento:

Juventus tende a se aproveitar da inatividade do Lyon e tirar a desvantagem em Turim. O Manchester City deve confirmar contra o Real Madrid, embora sem torcida o mando tenha perdido força. Se passar, a equipe de Guardiola é ligeiramente favorita contra o time de Cristiano Ronaldo para seguir em busca do título inédito.

Barcelona já deve ter problemas contra o Napoli. Jogo contra o time de Genaro Gattuso não será tranquilo, mesmo no Camp Nou. Se passar, a menos que o Bayern de Munique tenha uma queda brusca por conta da inatividade, o risco de ser surrado pelo octampeão alemão como em 2013 é considerável. Só o “fator Messi” pode mudar o destino do time catalão.]

 

 

 

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Estratégia de Jesus contra River e Al Hilal para em Muriel e Flu guerreiro http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/09/estrategia-de-jesus-contra-river-e-al-hilal-para-em-muriel-e-flu-guerreiro/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/09/estrategia-de-jesus-contra-river-e-al-hilal-para-em-muriel-e-flu-guerreiro/#respond Thu, 09 Jul 2020 12:10:59 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8742

Imagem: Divulgação / Fluminense

“No intervalo conversamos, o ‘mister’ falou para não baixar a intensidade, porque o time deles iria cansar. E foi o que aconteceu. Aí a gente, com a nossa qualidade, conseguiu virar o jogo.”

Palavras de Bruno Henrique após a virada sobre o Al Hilal em Doha, no Catar, pela semifinal do Mundial de Clubes. Depois de terminar o primeiro tempo perdendo por 1 a 0, o Flamengo se impôs, inclusive fisicamente, e virou para 3 a 1.

Algumas declarações depois do triunfo histórico sobre o River Plate em Lima que valeu o título da Libertadores foram na mesma direção. O time argentino correu muito, dobrou a aposta na pressão sobre o adversário com a bola e a conta veio na metade final do segundo tempo e os dois gols de Gabriel Barbosa nos minutos derradeiros.

Na decisão da Taça Rio no Maracanã havia ainda mais motivos para acreditar no desgaste do oponente. O Fluminense teve um período menor de treinamentos na volta e Jorge Jesus agora conta com elenco mais robusto e cinco substituições para renovar as forças e atropelar.

Talvez por isso o treinador português tenha insistido tanto em focar no segundo tempo na análise do jogo em entrevista à Fla TV. Ele apenas se equivocou ao dizer que o time tricolor jogou só para não perder, ou ser derrotado por um placar magro.

Porque o time de Odair Hellmann tinha uma proposta clara de jogo: fechar espaços à frente da própria área com quatro defensores e os três volantes – Hudson, Yago Felipe e Dodi. Também recuando Nenê e Marcos Paulo pelas pontas e Evanilson para negar o passe fácil de Willian Arão, a opção de retorno ou desafogo do Fla.

Bola roubada, toques práticos e rápidos para sair da pressão e explorar os espaços às costas da última linha do rival. Deu trabalho, tanto que, dos quatro defensores do Fla, só Rodrigo Caio não levou cartão amarelo. O Flu valorizou também as bolas paradas, que permitiam que o time ocupasse o campo de ataque com mais jogadores. Assim fez Diego Alves trabalhar com Gilberto e depois o lateral aproveitou a falha coletiva rubro-negra no cruzamento de Egídio para abrir o placar.

Valeu-se também de um primeiro tempo muito abaixo do padrão do Flamengo. Não só pela boa marcação, mas por conta da assustadora lentidão e imprecisão na circulação da bola, mesmo sem pressão do adversário. Ainda que a estratégia fosse definir no segundo tempo, a intensidade ficou comprometida e foi possível perceber também um certo preciosismo, um ar blasé nas tentativas de tabelas e triangulações.

De fato, o Fluminense foi cansando ao longo da segunda etapa, mesmo sem abdicando do ataque dentro da sua proposta. E as substituições naturalmente deixaram o Flamengo mais forte. Entraram Michael, Pedro, Diego e Vitinho. Do setor ofensivo só ficou Gabriel, na esperança do gol decisivo.

Mas foi Pedro quem empatou, completando cruzamento de Filipe Luís. E Bruno Henrique, antes de dar lugar a Vitinho nos minutos finais, teve a bola da virada completando de cabeça a boa jogada de Michael pela direita.

Só que havia Muriel no caminho. O irmão de Alisson teve participação fundamental para respaldar o time aguerrido que renovou o fôlego, mas perdeu em técnica e tática com Fernando Pacheco, Caio Paulista, Yuri e Michel Araújo nas vagas de Evanilson, Marcos Paulo, Yago Felipe e Gilberto. O Flamengo teve chances para construir a virada que pretendia.

Ficou para os pênaltis e Muriel garantiu, defendendo as cobranças de Arão e Rafinha e sendo feliz no chute por cima de Léo Pereira, o pior rubro-negro em campo. Superando Diego Alves, o especialista que pegou os chutes de Dodi e Michel Araújo. Garantindo a conquista da Taça Rio e a realização das finais do Carioca.

Com o Flamengo ainda favorito. Será difícil para o Flu sustentar essa estratégia com entrega absoluta em dois jogos. A menos que os rubro-negros repitam em campo os muitos equívocos da diretoria do clube, que desrespeitou o regulamento da competição, que previa mando de campo na final do returno, e a Medida Provisória 984, que dá direito ao mandante de transmitir o jogo com exclusividade. Atropelou tudo, inclusive a ética, e a Fla TV também fez a transmissão – sem imagens, por decisão de última hora do STJD.

Uma soberba que respingou no time de Jorge Jesus e teve a resposta de quase sempre. O Fluminense foi digno e  guerreiro. Lutou com as armas possíveis e saiu vitorioso. Dentro e fora de campo.

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Seis anos do 7 a 1 e pouco aprendemos com a derrota. Só copiamos quem vence http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/08/seis-anos-do-7-a-1-e-pouco-aprendemos-com-a-derrota-so-copiamos-quem-vence/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/08/seis-anos-do-7-a-1-e-pouco-aprendemos-com-a-derrota-so-copiamos-quem-vence/#respond Wed, 08 Jul 2020 17:11:42 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8736

Imagem: Pedro Ugarte / AFP Photo

Seis de setembro de 2014. Menos de dois meses depois da maior derrota da história da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari dava entrevista coletiva no Maracanã como treinador do Grêmio. Este que escreve estava presente, trabalhando na cobertura do jogo para a ESPN Brasil. Altivo e refratário a qualquer questionamento sobre os 7 a 1, Felipão foi tratado pelos jornalistas dos veículos gaúchos, cariocas e nacionais como o dono da razão.

Afinal, seu time havia vencido o Flamengo de Vanderlei Luxemburgo por 1 a 0, gol de Luan, pelo Brasileiro. Encerrando uma série de cinco vitórias do time rubro-negro na competição. Era o primeiro triunfo do tricolor fora de casa sob o comando de Felipão e a equipe ocupava a sexta colocação, quatro à frente do Fla.

Grêmio que terminaria em sétimo e, no ano seguinte, Roger Machado seria o sucessor de Scolari e de um trabalho que deixou terra arrasada e a necessidade de reconstrução. O treinador novato encarou a missão e deixou base e conceitos que seriam aprimorados para em 2017 alcançar o auge com a conquista da Taça Libertadores. Com Renato Gaúcho no comando técnico.

Outro veterano e boleirão que viraria referência no ano seguinte. Junto com Felipão, de volta ao Brasil para comandar o Palmeiras que seria campeão brasileiro; A ponto de no final de 2018, o Flamengo, com nova diretoria liderada por Rodolfo Landim, o vitorioso na eleição para a sucessão de Eduardo Bandeira de Mello, escolher Abel Braga para ser o novo técnico.

Boleiro, perfil “paizão”, bom gestor de vestiário. Essa era a “moda” do futebol brasileiro no início de 2019. Reforçada com os títulos estaduais de Abel no Fla e Renato no Grêmio, mais o início avassalador do Palmeiras no Brasileiro. A ponto de na Copa América, disputada no Brasil, surgirem vozes críticas ao trabalho de Tite que tinham a coragem, quase audácia, de pedir a volta de Felipão no comando da seleção.

No dia 7 de julho, um dia antes de completar cinco anos do “Mineirazo” na semifinal da Copa do Mundo realizada no Brasil, a equipe de Tite conquistou o torneio continental como anfitrião. Sem saber que um furacão estava por vir.

Jorge Jesus no Flamengo. A união de qualidade, conceitos atuais e combinação de características dos jogadores que criou rapidamente um grande time. Cuja vitória de afirmação foi sobre o mesmo Palmeiras de Felipão. 3 a 0 no Maracanã que custou o emprego do técnico gaúcho.

Não foi o único. Fabio Carille, campeão brasileiro em 2017 e tri paulista, também ficou desempregado depois de uma goleada para os rubro-negros por 4 a 1. Assim como Mano Menezes, que caiu na antepenúltima rodada do Brasileiro por conta da derrota do Palmeiras em casa por 3 a 1 para a equipe de Jorge Jesus.

Ambos que carregaram um “hype” nos anos anteriores. Mano pelos títulos da Copa do Brasil pelo Cruzeiro, Carille pelas conquistas no Corinthians e sendo o ponta-de-lança de uma moda que veio antes dos técnicos veteranos: os “jovens, modernos e estudiosos” que ocuparam postos em grandes clubes e sinalizaram uma revolução no futebol brasileiro.

Nem era o caso. Carille simplesmente resgatou a  “identidade Corinthians” que assimilou e ajudou a implementar como auxiliar de Mano e Tite. Em entrevistas, deixava claro que não costumava acompanhar muito o que acontecia nos grandes centros da Europa. Enquanto vencia, essa prática não era criticada pela maioria na imprensa. Muitas vezes foi defendida, como se nossa realidade medíocre fosse imutável e qualquer influência do exterior não pudesse vingar.

Jorge Jesus chegou e virou tudo do avesso. Mas mesmo ele, apesar de toda excelência no desempenho do Flamengo, foi alvo de críticas, senões e “o trabalho é bom, mas…”, só calando a maioria das ressalvas quando alcançou o feito inédito de vencer Brasileiro e Libertadores no mesmo ano. Quebrando um paradigma que já tinha virado uma espécie de dogma: não seria possível disputar ambas em alto nível. Só rodando o elenco e poupando titulares em várias partidas do campeonato por pontos corridos.

Solução de Renato Gaúcho no Grêmio e também tratada como modelo. De Felipão no Palmeiras e depois do próprio Abel no início do Brasileiro pelo Flamengo. Pulverizada com os 5 a 0 na semifinal da Libertadores, com o time de Jesus atropelando a equipe do treinador que era tratado como o sucessor inevitável de Tite na seleção. Renato só não caiu no Grêmio depois do massacre no Maracanã por tudo que conquistou no clube, como jogador e técnico.

Jorge Jesus agora é a referência. Inclusive para a seleção brasileira. Porque venceu. E Tite, hoje questionado, já foi ídolo e tratado como um modelo de ética e competência até para ocupar a Presidência da República. Porque varreu os adversários nas Eliminatórias. A eliminação na Copa do Mundo para a Bélgica em um jogo igual, com tempos distintos, foi suficiente para colocá-lo em xeque.

E só conseguiu o tão sonhado posto na CBF porque em meados de 2016 era o último treinador campeão brasileiro, comandando o Corinthians. A bola da vez e sem concorrentes diretos. Se tivesse perdido o título para o Atlético Mineiro de Levir Culpi em 2015, mesmo com a evolução em métodos e no modelo de jogo depois de um ano “sabático” de estudos, talvez a oportunidade não tivesse surgido.

Enquanto tudo isso acontecia, o trauma e a reflexão sobre os 7 a 1 foi se diluindo com a passagem do tempo. A narrativa do “acidente” se fortaleceu, até pela queda dos alemães depois do ápice com o título mundial. A ponto de Felipão, o grande responsável pelas fragilidades da seleção anfitriã e pelas escolhas infelizes na escalação para o jogo do Mineirão, ser novamente tratado como solução e referência.

Seguimos olhando resultados e navegando ao sabor dos ventos. Na tentativa e erro em loop. O Flamengo se equivocou com Abel, agora acerta com Jesus, que pode voltar para Portugal treinar o Benfica. Se acontecer, quem será a próxima referência? A nova moda ou o “hype” da vez?

Não aprendemos nada, ou muito pouco. Só copiamos, ou tentamos copiar, quem vence. Só respeitamos quem sai com os três pontos. Um imediatismo que faz esquecer tudo muito rápido. O futebol é dinâmico, mas nem tanto.

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Queda do Flu torna Flamengo o maior favorito ao Carioca dos últimos 40 anos http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/06/queda-do-flu-torna-flamengo-o-maior-favorito-ao-carioca-dos-ultimos-40-anos/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/06/queda-do-flu-torna-flamengo-o-maior-favorito-ao-carioca-dos-ultimos-40-anos/#respond Mon, 06 Jul 2020 13:17:05 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8730

Foto: AGIF

Se o Flamengo confirmar o favoritismo na quarta-feira e vencer a Taça Rio garantindo o título estadual, a conquista não será invicta por causa do triunfo do Fluminense sobre o time sub-23 no primeiro turno. Equipe tricolor que foi a que mais colocou uma vitória rubro-negra em risco, nos 3 a 2 da semifinal da Taça Guanabara. A única a colocar a equipe de Jorge Jesus nas cordas.

Mas o time tricolor que chega à decisão do returno é bem diferente em desempenho da que demonstrava clara evolução antes da parada e era a única esperança de algum equilíbrio no estadual. Não só pela longa inatividade, mas também por conta dos poucos treinamentos, consequência da madura e correta decisão de não voltar a treinar dentro de um contexto de milhares de mortes no Rio de Janeiro por Covid-19.

A equipe de Odair  Hellmann não conseguiu ir às redes desde a volta e sofreu para segurar o Botafogo e o empate sem gols que garantiu a vaga na final da Taça Rio. O Botafogo de Paulo Autuori, com Honda controlando o meio-campo, teve chances com Pedro Raul e carimbou a trave de Muriel com Bruno Nazário.

Fred também teve grande oportunidade no segundo tempo e, nos minutos finais, o Flu parecia melhor condicionado fisicamente. Mas, no geral, a atuação foi fraca e e resposta negativa. Mesmo com a mudança de Hellmann para uma espécie de 4-3-1-2 com variações – 4-1-4-1 com Nenê voltando pela direita ou 4-4-2, com o camisa 77 se juntando a Fred na frente e Yago Felipe fechando o lado direito e Wellington Silva o flanco oposto.

A queda do Flu entrega ao Flamengo o maior favoritismo ao título carioca dos últimos 40 anos. Usando o próprio time rubro-negro, que sobrou e venceu os dois estaduais de 1979, como “nota de corte”. É claro que o contexto também tornou tudo mais favorável ao atual campeão brasileiro e da Libertadores.

Se a temporada tivesse seguido normalmente, o Fla teria priorizado a fase de grupos do torneio continental. Porque o estadual não foi valorizado desde o início. Nem tanto pelo time sub-23 nas primeiras partidas, necessidade para que o elenco principal completasse as férias de 30 dias.

Depois Jesus escalou os titulares contra o Resende, com sete dias de treinamentos, para colocá-los em ritmo de competição pensando na Supercopa do Brasil e na Recopa Sul-Americana. Na conquista dos três títulos em dez dias no mês de fevereiro, o Fla mandou a campo apenas dois titulares, Léo Pereira e Gabriel Barbosa, na final da Taça Guanabara contra o Boavista.

E o plano inicial de vencer também a Taça Rio tinha como objetivo abreviar o torneio e ganhar um tempo de preparação para o início do Brasileiro. Mas a pandemia fez do Carioca a única competição no horizonte, também por uma volta açodada, até irresponsável.

É claro que o Flamengo tem outras vantagens, como ter voltado antes a treinar e disputar todas as partidas no Maracanã. Mas em qualquer contexto e estádio é difícil imaginar esse time já histórico se complicando contra alguma equipe de menor investimento.

O esquadrão de Zico no início dos anos 1980 tinha o Vasco de Roberto Dinamite como a pedra no sapato. O Fluminense tricampeão de 1983 a 1985 protagonizou duelos equilibrados com Fla, Vasco e até o Bangu, não permitindo uma visão de nítida superioridade. Assim como o Vasco tricampeão de 1992 a 1994, campeões invictos como o Botafogo de 1989 e o próprio Flamengo de 1996 e 2011. Ou o Botafogo das 12 vitórias seguidas na Taça GB em 1997. Mesmo o Flamengo de Abel Braga no ano passado sequer chegou à decisão do turno. Todos tiveram rivais que criaram algum tipo de dificuldade.

O Flamengo de Jorge Jesus sobra como nenhum outro nas últimas quatro décadas. Por conta das circunstâncias, mas também da própria competência no departamento de futebol – apesar dos muitos equívocos em outros setores do clube. Um time forte que, com as contratações de 2020, agora conta com o melhor elenco do continente. Para ganhar os títulos mais importantes da temporada e o Carioca, se fosse possível conciliar.

Agora virou prioridade e parece favas contadas. Uma mera formalidade na quarta. Por mais que se respeite a história do Flu e o time atual, reforçado pelo ídolo Fred, que pode se agigantar em um jogo decisivo. Na camisa e na tradição, porque no futebol a desvantagem é abissal.

 

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Não são os dez reais. Problema é a mensagem que o Flamengo transmite http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/04/nao-sao-os-dez-reais-problema-e-a-mensagem-que-o-flamengo-transmite/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/04/nao-sao-os-dez-reais-problema-e-a-mensagem-que-o-flamengo-transmite/#respond Sat, 04 Jul 2020 12:45:01 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8721

O Flamengo é uma instituição centenária. Clube com mais de 40 milhões de torcedores. Para muitos uma religião. A vingança das derrotas da vida, como bem definiu Moraes Moreira ao cantar sobre Zico.

Transcende o futebol na sociedade. Tem algo de lúdico, até messiânico em alguns momentos. Precisa transmitir valores através dos ídolos, mas também de seus dirigentes pelas decisões que tomam.

Não é uma empresa. E mesmo estas hoje precisam de responsabilidade em suas ações públicas. Imagine um clube, com toda sua função social.

No incêndio do Ninho que vitimou fatalmente dez jovens em fevereiro do ano passado, este colunista escreveu aqui que o Flamengo não é Boate Kiss. Além do contexto da tragédia, há também uma questão filosófica que não permite ao clube se comportar da mesma maneira. Porque há uma mensagem a ser passada.

O Flamengo tem direito legal de buscar o menor custo financeiro na indenização das famílias dos jovens mortos no CT. Mas a mensagem que passa é que elas são um problema a se resolver, não pessoas que perderam seus amados que tinham sua integridade física como a responsabilidade mais básica do clube.

O Flamengo tem o direito legal de não pagar nenhuma premiação aos funcionários que não entram em campo atrás das vitórias ou participam diretamente dos jogos. Mas quando faz um acordo prévio e ameaça não cumprir, a mensagem é de que seus colaboradores são apenas dados em uma planilha, que podem ser apagados a qualquer momento.

O mesmo no momento das demissões dos 62 funcionários em meio a uma pandemia. Depois de divulgar que suportaria noventa dias num “teste de estresse”, não esperou mais que 45 dias para dispensar pessoas que dificilmente conseguiriam reposição no mercado de trabalho. Tem o direito legal de dispensar? Claro, até porque outros clubes e empresas fizeram igual ou pior. Mas o passivo na empatia, que já era grande, aumentou.

O Flamengo tem o direito legal de querer retomar as atividades do time de futebol e buscar junto à Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FFERJ) o retorno mais rápido possível do Campeonato Carioca. Há contas a pagar, marcas de patrocinadores para exibir…Mas a mensagem que passa em um contexto de milhares de mortos, jogando no Maracanã ao lado de um hospital de campanha, é a de que se aceita jogar em meio a cadáveres. E não adianta falar em protocolos, higiene e segurança. O Flamengo não é uma ilha, está inserida na realidade da cidade, do estado e do país.

O presidente do Flamengo tem o direito legal de usar a sua boa relação com o Presidente da República para sugerir uma solução que resolva em um primeiro momento seu imbróglio na negociação das transmissões dos jogos pelo estadual. E a Medida Provisória que é consequência desse diálogo pode até beneficiar outros clubes ou mesmo revolucionar o futebol brasileiro. Mas a mensagem que o clube passa é de que os demais times, que deveriam ser seus pares, são meras peças de um jogo no tabuleiro. Não há consenso, nem debate. Apenas o jeitinho do mais “malandro” e com maior poder de barganha para se dar bem.

Agora a ideia de cobrar dez reais a quem não é sócio pela transmissão de Flamengo x Volta Redonda, pela semifinal da Taça Rio no domingo às 16h, através de um aplicativo. Não é um valor alto e, se agora o direito de transmitir é do mandante, não há nenhum problema legal.

Mas justo em meio a uma crise econômica gravíssima? Depois da torcida comprar a briga contra a Globo e fazer da transmissão de Flamengo x Boavista pela Fla TV uma vitória maior do que os três pontos conquistados no campo?

Sabe qual é a mensagem que passa? A de que o torcedor é um mero número de cartão de crédito. Inclusive aquele lá no interior do Brasil, que não tem os recursos mínimos para ter acesso ao conteúdo. Mesmo que disponha dos dez reais. Esse mesmo torcedor que engrossa o caldo para que o clube siga recebendo um alto valor da mesma Globo, no Campeonato Brasileiro, para a transmissão em TV aberta. Aí ele conta, não é?

Ainda que hoje, diante da repercussão negativa, Rodolfo Landim e seus diretores recuem e tornem a transmissão novamente gratuita, o estrago já está feito. Porque o que vale e demonstra os valores de uma pessoa, de um grupo ou de uma instituição são os atos espontâneos. E esses tem sido os piores desta diretoria. Os remendos depois são puro marketing. Reposicionamento de marca.

O Flamengo é bem maior que isso. E é triste ver que justo no momento em que se agiganta no campo do futebol o clube se amesquinhe em seus atos mais simbólicos. A mensagem é a pior possível e envergonha os torcedores mais conscientes.

Alguns fanáticos que idolatram dirigentes se o time estiver vencendo talvez acordem agora, ao serem atingidos no bolso. Tem gente que só entende de dinheiro mesmo.

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Atalanta é o melhor entretenimento do futebol atual http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/02/atalanta-e-o-melhor-entretenimento-do-futebol-atual/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/02/atalanta-e-o-melhor-entretenimento-do-futebol-atual/#respond Thu, 02 Jul 2020 20:39:33 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8716

Imagem: Divulgação / Atalanta

Este post estava na “fila” desde antes da parada por conta da pandemia. Depois ficou a dúvida se o ritmo seria mantido na retomada. Provavelmente pelo preconceito natural com equipes fora da elite do futebol mundial. Este que escreve, no caso, é réu confesso. Talvez pelos anos de janela e muitos “fogos de palha”.

Mas a Atalanta de Gian Piero Gasperini não é um fenômeno de ocasião ou um “meteoro”. Trata-se de um trabalho cuidadoso na gestão. Sem megalomania, mas também não deixa de ser ambicioso. Dentro e fora de campo.

A partir do cuidado com a base e de prospecção de bons jogadores fora do radar dos clubes mais ricos. Como o argentino Papu Gómez, 32 anos e o grande “maestro” do time que gira, toca e ataca.

Num 3-4-2-1 que avança com zagueiros, espeta os alas Hateboer/Castagne e Gosens no ataque, posiciona o colombiano Duván Zapata na referência do ataque, mas também com mobilidade. E muito jogo entrelinhas e mobilidade, com Gómez e Pasalic. E ainda armas saindo do banco, como o colombiano Luís Muriel.

Na perda, uma mudança de chave muito rápida para pressionar o adversário com a bola e apelando para perseguições individuais e longas. Mas com boa leitura de jogo para se adaptar ao posicionamento que estiver em campo na retomada da bola para fazer a transição ofensiva. O futebol é cíclico, o que parecia anacrônico pode ser reciclado e se encaixar em outro contexto.

Já são nove vitórias consecutivas, incluindo as duas sobre o Valencia pela Liga dos Campeões que garantiram vaga nas quartas do torneio continental, feito inédito e histórico. 31 gols marcados, treze sofridos. A última derrota na liga italiana para o Spal, em janeiro. Improvável disputar o título com 12 pontos atrás da líder Juventus, mas a quarta vaga possibilita volta à Champions. Fundamental para o projeto do clube.

Impressionante a volúpia ofensiva, a coordenação dos setores. É claro que a Atalanta se aproveita da imagem de “zebra” para enfrentar com bem menos frequência retrancas ferozes que tirariam espaços para a aceleração dos ataques. O desempenho, porém, já impõe respeito e é mais raro algum oponente encarar de peito aberto. Afinal, tem a quarta maior posse da Série A e é a equipe que mais finaliza.

O Napoli de Genaro Gattuso tentou fazer um jogo igual, mesmo fora de casa. Terminou com mais posse (53%) e finalizações (14 contra nove), segundo o Whoscored.com. Mas a Atalanta venceu por 2 a 0. Porque encontra soluções para surpreender.

Como no segundo gol, com o zagueiro brasileiro Rafael Toloi, titular para Palomino descansar iniciando no banco, descendo pela direita com o ala Castagne e recebendo na área para servir Gosens do lado oposto. Muita gente aparecendo na frente e criando um volume que complica as defesas adversárias. Mesmo sem o esloveno Josip Ilicic, destaque até março e se recuperando de lesão.

È bonito de ver. O melhor entretenimento do futebol atual. Fácil.

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Flamengo amplia repertório e Gerson ganha protagonismo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/01/flamengo-amplia-repertorio-e-gerson-ganha-protagonismo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/01/flamengo-amplia-repertorio-e-gerson-ganha-protagonismo/#respond Thu, 02 Jul 2020 02:29:02 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8714 A grande conquista do Flamengo em 2020 até aqui foi a Recopa Sul-Americana. Título continental superando o Independiente Del Valle por 3 a 0 no Maracanã, Também a atuação mais emblemática, por ter que se virar com um a menos desde os 23 minutos de jogo, depois da expulsão de Willian Arão, com 1 a 0 no placar.

O protagonista foi Gerson. Com apenas Gabriel Barbosa na frente, o camisa oito ganhou mais campo para chegar à frente por dentro. No 4-4-1, Thiago Maia entrou na vaga de Pedro e ficou mais fixo à frente da defesa. Everton Ribeiro e De Arrascaeta pelos lados e Gerson, que costuma organizar mais recuado, apareceu na área do time equatoriano para ir às redes duas vezes e fazer a diferença.

Não por acaso, nos jogos seguintes até a parada e agora na volta, contra Bangu e Boavista, Jorge Jesus vem trabalhando para fazer Gerson se juntar ao quarteto ofensivo com mais frequência. Sem Gabriel Barbosa, sentindo dores musculares, Pedro ficou na referência e, em vários momentos, Everton Ribeiro, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gerson buscaram passes mais rápidos por dentro para furar as linhas de marcação do adversário protegendo a própria área.

É o trabalho de ampliação do repertório, além de automatizar mais os movimentos coletivos. De saída da defesa com Arão e os zagueiros Rodrigo Caio e Léo Pereira; da circulação da bola mais rápida e colocar ainda mais intensidade e coordenação do trabalho de pressão logo após a perda da bola. Ainda jogadas ensaiadas com bola parada, outra arma para furar retrancas.

Diante de um adversário frágil, o volume de jogo foi sufocante. Mas ainda faltam a sintonia fina e a evolução técnica depois da longa inatividade. Bruno Henrique destoou um pouco, Pedro rondou a área do oponente, abriu o placar em bela combinação do ataque e se esforçou. Mas ainda precisa se adaptar mais à dinâmica ofensiva. Outros erros bobos, seja no último passe, seja na finalização.

Mas Gerson foi o destaque absoluto. Articulando, circulando, dando opção aos atacantes e infiltrando. Desviou na área para Pedro marcar o primeiro gol. Depois completou com um petardo no ângulo mais uma bela jogada. Com participação de Michael, que entrou na vaga de Everton Ribeiro no intervalo e criou jogadas pelas duas pontas, alternando com Vitinho, que substituiu Pedro.

As cinco substituições de Jorge Jesus fizeram o time manter o ritmo e o controle. Gerson deu lugar a Diego logo depois do golaço. Um luxo que o treinador português pode se dar pelo abismo entre o melhor time do país e do continente sobre os rivais locais.

Não foi uma exibição inspirada no Maracanã para o alto nível do Flamengo, nem poderia ser pelo contexto. Os 2 a 0, porém, confirmam a liderança geral nos dois turnos, possibilitando a conquista do Carioca se faturar a Taça Rio.

O espetáculo ficou por conta de Gerson. O “joker” versátil que desequilibrou mais uma vez. Com mais liberdade, um dos meio-campistas mais completos do país pode ser ainda mais influente no jogo rubro-negro.

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Sincerão – Olimpo do futebol só tem três: o rei, o artista e o arquiteto http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/01/sincerao-olimpo-do-futebol-so-tem-tres-o-rei-o-artista-e-o-arquiteto/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/01/sincerao-olimpo-do-futebol-so-tem-tres-o-rei-o-artista-e-o-arquiteto/#respond Wed, 01 Jul 2020 14:07:37 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8707

Foto: Acervo FIFA

Este colunista participou do quadro Sincerão do UOL Esporte e muitos questionaram por que Pelé, Maradona e Cruyff não foram citados no Top 5 de meio-campistas, nem de atacantes.

Justo. Talvez tenha sido mesmo um equívoco, mas há duas razões para tal.

Primeiro porque vejo esses três gênios como pontas-de-lança, exercendo aquela função híbrida de meia e atacante. O “camisa dez” que arma e finaliza. Zico, meu ídolo de infância e outra ausência sentida por muitos, se encaixa igualmente neste perfil. Messi também, mas em campo sempre funcionou mais como atacante, partindo da direita para dentro em busca da finalização ou da assistência.

Mas também porque os três fazem parte do Olimpo do futebol. Só eles, ao menos por enquanto. Ainda que o Olimpo abrigue doze deuses do panteão grego, É claro que Messi e Cristiano Ronaldo são candidatíssimos a pleitear vagas neste grupo muito seleto, mas é preciso esperar o fim de suas carreiras para que o distanciamento histórico entregue à dimensão dos feitos da dupla dos gênios do Século 21 até aqui.

Pelé é o rei. Entregou desempenho e resultados a longo prazo como nenhum outro. Colocou o Santos no mapa da bola e foi campeão e protagonista em duas Copas do Mundo, na época o grande parâmetro para medir os maiores. Transformou o jogo sendo um atleta completo que jogava futebol. Artilheiro implacável, domínio de todos os fundamentos do esporte.

Maradona é o artista. Genial, inquieto, imperfeito, errático. Capaz de lances espetaculares no campo e comportamentos nada exemplares fora dele. Quando quis ser competitivo foi a estrela máxima em uma edição de Copa do Mundo, no México em 1986. E também colocou um time outrora minúsculo no imaginário popular. Por isso é Deus em Napoli, assim como na Argentina. O grande ídolo da história do esporte.

E Johan Cruyff é o arquiteto. Craque cerebral, treinador dentro do campo, frasista nato. Pensou e reinventou o futebol muitas vezes, ancorado em princípios inegociáveis, como ter a bola para controlar o jogo. A conexão Holanda 1974 – Barcelona de 1992 – Pep Guardiola é única e pedra fundamental para o futebol há meio século.

É claro que há outros craques e gênios, e rankings são sempre discutíveis. Mas para este que escreve só esses três merecem ocupar o topo. Por seus feitos e legados. Esclarecido?

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