Guardiola – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Volta do futebol na Europa escancara drama do PSG e de Neymar na Champions http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/15/volta-do-futebol-na-europa-escancara-drama-do-psg-e-de-neymar-na-champions/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/15/volta-do-futebol-na-europa-escancara-drama-do-psg-e-de-neymar-na-champions/#respond Mon, 15 Jun 2020 13:50:22 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8652

Foto: Reuters

O Manchester City entra em campo na quarta, dia 17, para enfrentar o Arsenal em jogo adiado da 28ª rodada da Premier League. Exatos 99 dias depois da última partida antes da pandemia: derrota para o rival United por 2 a 0 no dia 8 de março. Serão nove rodadas que devem confirmar o título do Liverpool, mais a Copa da Inglaterra que retorna nas quartas-de-final e tem a decisão marcada para 1º de agosto. O time de Guardiola já faturou a Copa da Liga Inglesa.

A Juventus voltou na sexta-feira empatando sem gols com o Milan e se classificando para a decisão da Copa da Itália contra o Napoli. Final na quarta, em Roma, e retomada da liga no dia 22, para mais 12 rodadas até o início de agosto. O time de Cristiano Ronaldo, para variar, lidera o campeonato, mas apenas um ponto à frente da Lazio.

Times com realidades opostas. O City praticamente cumpre tabela na liga e vai se dedicar à copa nacional até a volta da Champions, definindo a vaga nas quartas contra o Real Madrid depois de vencer na ida por 2 a 1. A Juventus define logo o mata-mata e depois parte para um guerra buscando manter a hegemonia no país. Ambas competindo forte até agosto, ou bem próximo disso.

O Paris Saint-Germain disputou a última partida no dia 11 de março, quando eliminou o Borussia Dortmund e conseguiu ultrapassar a barreira das oitavas da Liga dos Campeões na “Era Neymar/Mbappé”. Foi declarado campeão francês quando as autoridades francesas proibiram atividades esportivas até setembro.

Com o retorno das principais ligas, o PSG – e também o Lyon, o outro francês que disputa o torneio continental e venceu a Juventus na ida por 1 a 0 – se depara com o maior obstáculo, no momento, para o sonho de disputar com chances reais o maior título de clubes do planeta: a inatividade.

Com a possibilidade de disputa das quartas e semifinais em jogos únicos em sede fixa (provavelmente Lisboa), o time francês estaria objetivamente a três partidas da grande obsessão do clube. Mas como ser competitivo com quase seis meses sem jogos oficiais?

O clube busca uma flexibilização, com a possibilidade de realização de amistosos e da decisão da Copa da França, contra o próprio Lyon, no dia primeiro de agosto. Ainda assim, a distância do nível de competição seria gigantesca. Não só em relação aos exemplos citados, de City e Juventus.

O próprio Bayern de Munique, outro grande favorito ao título europeu pelo desempenho mesmo antes da parada, decide a Copa da Alemanha no dia 4 de julho contra o Bayer Leverkusen. Antes disso deve confirmar o octacampeonato da Bundesliga que, com apenas 18 clubes, termina no dia 27. Só uma partida em julho, mas ainda com grande vantagem sobre o PSG.

É claro que, por exemplo, uma lesão grave de um Cristiano Ronaldo ou Lewandowski neste processo pode relativizar e muito a vantagem dos times que estão jogando. Mas o contexto do gigante francês hoje é único. Nenhum time ficou tanto tempo sem jogar oficialmente.

Para piorar, a insatisfação com a direção do futebol, especialmente Leonardo, por conta do anúncio das saídas de Thiago Silva e Cavani. Clima tenso e sem partidas para dividir atenções e tornar as pautas sobre o clube menos negativas.

Como estarão Neymar, Mbappé e companhia quando entrarem em campo para o jogo mais importante da história recente do Paris Saint-Germain? Eis a maior incógnita do futebol desde a Segunda Guerra Mundial. E a resposta ainda vai demorar.

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Dezoito dias, quatro jogos. O maior evento esportivo do século 21 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/27/dezoito-dias-quatro-jogos-o-maior-evento-esportivo-do-seculo-21/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/27/dezoito-dias-quatro-jogos-o-maior-evento-esportivo-do-seculo-21/#respond Mon, 27 Apr 2020 12:18:08 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8390

Foto: AP

Os dois maiores times do mundo e grandes rivais do mesmo país. Com os dois melhores treinadores e os dois grandes craques do planeta com forte antagonismo. Decidindo liga e copa nacionais e ainda uma vaga em final continental. Tudo isso em menos de um mês. Dezoito dias, para ser mais preciso.

Um sonho para qualquer fã de futebol, não? Pois é, aconteceu há nove anos. E como o ápice no duelo mais marcante em um dia 27 de abril como hoje.

Barcelona e Real Madrid. Pep Guardiola versus José Mourinho. Lionel Messi contra Cristiano Ronaldo. Em 16 de abril no jogo mais importante do campeonato por pontos corridos, quatro dias depois decidindo a Copa do Rei. Nos dias 27 de abril e três de maio, definindo uma vaga na decisão da Liga dos Campeões contra o Manchester United.

Para aumentar o fogo da panela de pressão, em novembro o Barça havia enfiado 5×0 no Camp Nou. A “maneta” humilhante que mostrou para Mourinho que, mesmo com elenco estelar, não era possível encarar de peito aberto a equipe de Guardiola. Como fizera com a Internazionale da tríplice coroa na temporada anterior em Milão, no San Siro: vitória por 3 a 1 em disputa equilibrada.

A receita para o próximo encontro era encontrar um meio termo entre a proposta corajosa em casa e a retranca “handebol” do time italiano depois que perdeu Thiago Motta no jogo de volta em Barcelona e administrou a derrota por 1 a 0 que garantiu vaga aos neroazzurri na decisão da Champions 2009/10.

O problema era enfrentar o time catalão em sua melhor versão. No 4-3-3 e com o jogo posicional que tinha o comando de Xavi Hernández e o ponto de desequilíbrio com Messi voando na função de “falso nove” totalmente assimilada e destruindo os adversários nas entrelinhas, entre a defesa e o meio-campo. Quem marcaria o gênio argentino: os volantes ou os zagueiros?

Mourinho definiu que um jogador ocuparia esse espaço e o negaria ao craque do rival. Primeiro foi Pepe, depois Xabi Alonso. Quem não preenchesse a “zona Messi” fecharia com Khedira por dentro a linha de quatro no 4-1-4-1 compacto que tinha Ozil e Di María pelas pontas e Cristiano Ronaldo na frente.

Mas o treinador português sabia que não bastava o duelo técnico e tático. Os “jogos mentais” seriam muito necessários para desestabilizar o outro lado. Provocações antes e durante as partidas tensas, com momentos de violência no jogo e fora dele. Entre atletas e comissões técnicas, Uma guerra.

Apesar da surpresa com a mudança radical de estratégia do rival, o Barcelona se deu melhor no primeiro duelo: empate por 1 a 1 no Santiago Bernabéu, gols de pênalti de Messi e Cristiano Ronaldo, na partida que manteve os oito pontos de vantagem e encaminhou o tricampeonato de La Liga. Resultado comemorado, mesmo sem conseguir manter a vantagem no placar e numérica depois da expulsão do zagueiro Albiol na penalidade máxima cometida sobre Villa.

No entanto, a única partida valendo taça ao final da disputa foi vencida pelo Real Madrid. Na prorrogação, a Copa do Rei em Valencia, no Estádio Mestalla. Gol de Cristiano Ronaldo completando de cabeça um cruzamento de Di María pela esquerda.

Com o time branco incomodando ainda mais o rival com coragem, objetividade nas ações ofensivas e uma entrega absoluta sem a bola. Concentração total e resiliência para buscar a vitória, mesmo com a consciência de que não teria mais que 35% de posse no jogo. Faturando um título depois de três anos. O primeiro decidido por Cristiano Ronaldo em sua mítica passagem por Madri.

Tudo isso foi levado para a disputa mais importante, pela Champions. A ida no Bernabéu, há exatos nove anos, foi novamente muito nervosa. Aditivada por novas provocações de Mourinho que Guardiola prometeu responder no campo.

A solução de Pep foi proteger mais a bola e a defesa. Com Puyol improvisado na lateral esquerda e Keita entregando mais vigor físico no meio-campo. Também invertendo os ponteiros, com Villa à direita para cima de Marcelo e Pedro pela esquerda contra Arbeloa. O Real tinha Lass Diarra na vaga de Khedira no meio-campo, com Alonso fazendo o papel de negar a entrelinha a Messi e Pepe fazendo a função de meia por dentro à esquerda. Mais dinâmica na marcação, menos qualidade nas transições ofensivas.

O duelo mais importante, pela Liga dos Campeões no Bernabéu, teve o Barcelona no 4-3-3 com Puyol na lateral esquerda, Keita no meio-campo e inicialmente ponteiros invertidos – Villa à direita, Pedro pela esquerda. Mais posse e cuidados defensivos contra o Real no 4-1-4-1 de Mourinho, mas com Xabi Alonso entre as linhas vigiando Messi e a melhor saída pela esquerda, com Di María e Marcelo (Tactical Pad).

O escape de Mourinho de novo era o lado esquerdo com Marcelo fazendo Villa voltar para ajudar sem bola e Di María incomodando Daniel Alves. O lateral, que nunca teve a marcação como grande virtude, teve problemas e exagerou nas faltas. Até demorou a levar o cartão amarelo. E o pau quebrou também na saída para o vestiário, com o goleiro reserva do Barça, Pinto, dando um tapa no rosto de Arbeloa e jogadores e membros das comissões participando da briga.

A tensão seguiu no segundo tempo até a expulsão de Pepe pela entrada, no mínimo, imprudente em Daniel Alves. Força desproporcional que rendeu o cartão vermelho e o domínio do Barcelona sobre um Real que tinha voltado melhor no segundo tempo com Adebayor na vaga de Ozil. E Cristiano Ronaldo sempre dando trabalho para o goleiro Victor Valdés.

Com um a mais e o Real também sem Mourinho, expulso de tanto reclamar da arbitragem, a posse e a movimentação da equipe de Guardiola enfim encontraram espaços para acionar Messi.  Affelay entrou na vaga de Pedro, que havia voltado ao setor direito. Por ali o holandês com a camisa vinte aproveitou falha de Marcelo e cruzou para Messi abrir o placar.

O golpe final veio na arrancada irresistível do argentino passando por Diarra, Sergio Ramos, Albiol e Marcelo antes de tocar na saída de Casillas. Gol antológico que praticamente sacramentou a vaga na final europeia, confirmada com o empate por 1 a 1 no Camp Nou – gols de Pedro e Marcelo. O último e menos memorável dos quatro duelos históricos. O Barça venceria a Champions novamente contra o United, repetindo 2008/09. Desta vez com triunfo maiúsculo por 3 a 1 em Wembley. O grande recital do “Pep Team”.

Mas nada foi maior que aquela sequência de superclássicos. No esporte no século 21. Nem as Copas do Mundo ou Jogos Olímpicos. O mundo parou para ver o grande embate, o clássico ficou ainda maior com o passar dos anos, assim como o protagonismo de Messi e Cristiano Ronaldo.

Em tempos de bola parada pela pandemia, a saudade só aumenta.

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Os dez maiores treinadores do século 21 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/30/os-dez-maiores-treinadores-do-seculo-21/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/30/os-dez-maiores-treinadores-do-seculo-21/#respond Mon, 30 Mar 2020 11:45:52 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8231

Foto: Darren Staples / Reuters

1º – Pep Guardiola 

O que melhor combinou conquistas, desempenho das equipes e influência no jogo. Suas ideias e transformações ao longo do tempo puxaram fila entre os treinadores e fez o esporte evoluir trinta anos em dez. O melhor time do século, o Barcelona de 2010/11, carrega sua forte assinatura. O mais vencedor em ligas por pontos corridos, quando o melhor trabalho quase sempre se impõe. São sete em nove disputadas. Dominante na Espanha, Alemanha e Inglaterra.

Influenciado por Rinus Michels, Johan Cruyff, Juan Manuel Lillo, Marcelo Bielsa, Arrigo Sacchi e também assimilando conceitos de seus contemporâneos, Guardiola se reinventa o tempo todo, adicionando intensidade e se adaptando ao ritmo da Premier League. Só não negocia a posse de bola, a pressão pós-perda para recuperá-la o mais rápido possível e a volúpia ofensiva de suas equipes. Um gênio.

2º – José Mourinho

O melhor do mundo indiscutível de 2003 a 2008. Contra Guardiola teve que se provar e protagonizou os grandes duelos dos últimos dez anos, vencendo com a Internazionale a Liga dos Campeões 2009/10 e La Liga em 2011/12 com campanhas históricas. Mas caindo com o Real Madrid na sequência de superclássicos de 2010/11, superado nas ligas nacional e continental, só vencendo a Copa do Rei.

Nem o ocaso recente diminui os grandes feitos e também a contribuição para o futebol. Sim, a sua “retranca inteligente” também ajudou a fazer o jogo evoluir. Uma pena ter assumido de forma exagerada o personagem “Darth Vader da bola”, se esforçando tanto para ser o anti-Guardiola que seus trabalhos estagnaram no exagero defensivo, no “park the bus”, e também na tensão exagerada da gestão do vestiário.

3º – Carlo Ancelotti

A liderança tranquila. Um gestor de talentos por excelência. Identifica os líderes, técnicos e anímicos, de um elenco e agrega ao trabalho, criando um clima amistoso, mesmo na imensa pressão do futebol em alto nível. Amado por figuras díspares, como Kaká, Ibrahimovic e Cristiano Ronaldo.

Mas também deu sua contribuição tática, com a “Árvore de Natal”, o 4-3-2-1 do Milan campeão europeu e mundial em 2006/07 que tinha Pirlo como “regista” e Kaká mais solto para rasgar as defesas adversárias com força e velocidade. Também o Real Madrid de “La Decima”, dando a melhor resposta ao estilo de Pep Guardiola ao massacrar o Bayern de Munique com 5 a 0 no agregado e um futebol de compactação defensiva e contragolpes demolidores.

4º – Alex Ferguson

O homem que fez o Manchester United tomar do Liverpool o posto de maior vencedor na Inglaterra, com 20 títulos. O Rei da Premier League, com 13 conquistas. Sete neste século. Cinquenta títulos na carreira. E os Red Devils tentam até hoje reencontrar um caminho de volta às glórias.

Ferguson não era nenhum gênio tático, mas tinha a capacidade de desenvolver seus jogadores, como fez com Cristiano Ronaldo, Wayne Rooney, David Beckham, Ryan Giggs e tantos outros. Influenciado pelos treinadores estrangeiros que chegaram a Inglaterra, soube criar variações e apostar na versatilidade dos atletas. Apostava também na força mental, especialmente no final dos jogos, que criou o mito do “Fergie Time”, arrancando vitórias improváveis que construíram uma carreira mais que vencedora.

5º – Jurgen Klopp

O melhor treinador da atualidade. O grande algoz de Guardiola, criando problemas para o catalão desde os duelos do Bayern contra o Borussia Dortmund que comandou e construiu uma hegemonia no início desta década na Alemanha com seu futebol “rock’n’roll”.

Estilo personalíssimo, de intensidade máxima e rapidez nas transições, mas que aprendeu a trabalhar a bola para acrescentar pausas e não exaurir sua equipe. Assim deu o salto competitivo que fez o Liverpool duas vezes finalista da Champions, último campeão e agora com o tão sonhado título de Premier League dos Reds encaminhado e barrado apenas pelo Covid-19. Além de ótimo profissional, um cara boa gente. Carismático, adorado por seus jogadores e respeitado pelos adversários.

6º – Arsène Wenger

Não se prenda à imagem final do francês no Arsenal decadente. Wenger revolucionou não só o clube, mas também o futebol inglês. Sepultou o “kick and rush” e adicionou leveza e valorização da técnica. Com erros e acertos, também marcou seu trabalho pela descoberta e desenvolvimento de jovens talentos. Assim ajudou o clube a se estruturar financeiramente e construir o Emirates Stadium.

O grande momento, indiscutivelmente, foi o título invicto da Premier League em 2003/04. Os “Invincibles” das rápidas transições ofensivas e do fulgor da dupla Dennis Bergkamp e Thierry Henry no ataque, bem assessorados por Ljungberg, Pires, Vieira e Ashley Cole. Faltou o título europeu, que parou no Barcelona de Ronaldinho em 2005/06, mas a trajetória é marcante na história.

7º -Jupp Heynckes

O “pai” do futebol mais inteligente da atualidade, com times versáteis, capazes de mudar de estratégia nas partidas sem alterar a escalação. Em 2012/13, o Bayern de Munique da tríplice coroa foi o segundo time com mais posse na Europa, mas atropelou o Barcelona, líder no controle da bola, na semifinal da Champions com 7 a 0 no agregado e 40% de posse na média das duas partidas.

O time de Robben e Ribéry que podia encurralar o adversário em seu campo ou atrair e atropelar com transições ofensivas avassaladoras. Superando a doída derrota nos pênaltis para o Chelsea na final europeia em Munique e fazendo da temporada de despedida do treinador veterano uma aventura épica que deixou marcas tão profundas que fez Heynckes retornar da aposentadoria em 2018 para reerguer o clube e levá-lo a novo título da Bundesliga, aos 73 anos.

8º – Zinedine Zidane

Um gênio dos campos que fez história em sua primeira experiência como treinador em um grande time. Tricampeão da Champions, um feito que, mesmo com oscilações no desempenho e beneficiado por algumas arbitragens bastante questionáveis, é difícil de mensurar sem o devido distanciamento histórico.

Herdeiro da liderança tranquila de Ancelotti, de quem foi auxiliar no próprio time merengue, o francês ajustou um timaço que sabia trabalhar no campo de ataque, mas também nos contragolpes. A temporada 2016/17 foi perfeita, não só pelo título espanhol, mas pela armação do 4-3-1-2 móvel que tinha Isco ora se juntando a Casemiro, Modric e Kroos no meio-campo, ora formando um trio no ataque com Cristiano Ronaldo e Benzema. Atuação magnífica nos 4 a 1 sobre a Juventus na final da Champions.

9º – Vicente Del Bosque

Dois grandes feitos no século: o único treinador que conseguiu fazer o time galáctico do Real Madrid, com todas as estrelas – Roberto Carlos, Figo, Zidane, Raúl e Ronaldo – faturar um título: a liga espanhola 2002/03. Apenas sem o Fenômeno ganhou a Champions da temporada anterior, com o gol antológico de Zidane na final contra o Bayer Leverkusen.

Ainda o primeiro título mundial da Espanha em 2010. Combinando com sabedoria o legado de Aragonés no título da Eurocopa 2008 com a influência de Pep Guardiola no Barcelona que era a base da seleção. Sabendo que não contava com o gênio Messi, apostou em uma posse obsessiva e defensiva, que trabalhava a bola no ritmo de Xavi e Iniesta para ser menos incomodado pelos adversários. Del Bosque também era um sábio gestor de vestiário que criava um clima sereno para as estrelas brilharem.

10º – Diego Simeone

O argentino não poderia deixar de figurar nesta lista apenas por ter conquistado uma liga espanhola superando o Barcelona de Messi e o Real Madrid de Cristiano Ronaldo – simplesmente dois dos maiores times da história de clubes gigantes. Na temporada 2013/14 que ainda teve final da Champions que escapou nos últimos segundos.

Mas Simeone fez muito mais. Podemos dividir a história do Atlético de Madri antes e depois do treinador. Não só pelos dois títulos de Liga Europa e uma Copa do Rei, além da liga espanhola já citada, mas pelo resgate da autoestima e do orgulho do clube. Capaz de feitos como o mais recente, eliminando o campeão Liverpool da Liga dos Campeões. Você pode não apreciar o estilo, mas tem que respeitar o que conseguiu sem os mesmos recursos dos gigantes espanhois.

 

 

 

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Quatro anos sem Cruyff: Holanda-74 misturava Liverpool e Flamengo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/24/quatro-anos-sem-cruyff-holanda-74-misturava-liverpool-e-flamengo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/24/quatro-anos-sem-cruyff-holanda-74-misturava-liverpool-e-flamengo/#respond Tue, 24 Mar 2020 13:32:13 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8201

Foto: Reuters

Confesso que o comentário do leitor “mpereira1963” no post sobre as seis partidas que mudaram a história do jogo gerou um desconforto:

Não era pra ter um jogo da Holanda 74 nesta lista? A maior revolução tática do esporte não merecia um espaço aqui? Eita.”

Na hora de elaborar a lista, confesso que não consegui definir uma das sete partidas da seleção comandada por Rinus Michels como a mais simbólica em uma mudança no esporte. A campanha toda foi muito marcante.

Mas como tenho os jogos contra Uruguai, Argentina, Brasil e Alemanha gravados e não vem faltando tempo com a quarentena pelo coronavírus, fui rever as partidas do “Carrossel Holandês” no Mundial disputado há 46 anos.

Para quem estuda futebol, recomendo esse exercício. Porque conforme o jogo evolui, o olhar muda e a tendência é passar a prestar atenção em nuances que antes passavam batidas.

Como era intensa! Na pressão logo após a perda, na circulação da bola e, principalmente, na movimentação. A Era Guardiola no Barcelona e o fato do treinador catalão citar Johan Cruyff como grande mentor nos induziam a ver semelhanças. Não havia, porém, o menor sinal do jogo de posição ou localização naquela Holanda.

Ainda que os pontas Johnny Rep e Rob Rensenbrink muitas vezes ficassem bem abertos e alargassem o campo, eles não necessariamente esperavam a bola para jogar. Participavam ativamente das trocas de funções com Cruyff e Neeskens na frente. Não raro ver os ponteiros serem ultrapassados pelos laterais Suurbier e Krol e cobrirem os espaços deixados na perda da bola.

O sistema tático era mutante, mas poderia ser chamado de “4-3-Cruyff-2”. Porque o camisa 14, craque e capitão tinha ainda mais liberdade que a concedida aos companheiros para circular por todo campo partindo do centro do ataque. Era o “falso nove” por excelência. A ponto de receber a bola como o jogador mais recuado e arrancar para sofrer o pênalti convertido por Neeskens no início da decisão da Copa.

O “4-3-Cruyff-2” da Holanda de Rinus Michels tinha movimentação, pressão e muito volume de jogo para sufocar os adversários (Tactical Pad).

Essa mistura de liberdade para se mexer e pressão obsessiva para recuperar a bola lembra muito o que Liverpool e Flamengo fazem hoje. Jorge Jesus fez estágio no início da carreira com Cruyff e as escolas alemães e holandesas sempre trocaram muitas influências, apesar da rivalidade entre os países. E Jürgen Klopp bebeu deste caldeirão de referências.

Portanto, quando vemos Salah, Mané e Firmino trocando posições e funções e os laterais Alexander-Arnold e Robertson atacando ao mesmo tempo, isso passa pela Holanda-74. Assim como o Flamengo subindo o time todo para fazer pressão na saída do adversário, recorrendo a encaixes e perseguições eventuais no setor da bola.

A combinação de características também era interessante. Suurbier tinha mais força física pela direita para buscar o fundo, Ruud Krol mais técnica do lado oposto, inclusive atacando muitas vezes por dentro. Na zaga, o “líbero” Haan mais técnico e Rijsbergen mais “zagueiro”, forte nas disputas com os atacantes. Todos protegidos pelo goleiro Jongbloed, que não era brilhante, mas sabia jogar adiantado e participar da construção do jogo.

No meio-campo, Jansen era incansável, normalmente ocupando o lado direito e às vezes fazendo todo o corredor como um ala. Muito dinâmico.  Já Van Hanegem era o organizador,quem decidia junto com Cruyff se o time trocaria mais passes e circularia mais a bola ou seguiria atacando com agressividade. O meia-armador atrás do ponta-de-lança Neeskens, se é que podemos rotulá-los como o futebol da época.

Todos se movimentando com a bola e saindo para abafar o adversário na perda. A posse era construída por esse volume, além da inteligência para saber como se comportar em qualquer região do campo. Como dizia Cruyff, cada jogador fica no máximo três minutos com a  bola em 90 minutos. Logo, o mais importante é o que se faz sem ela nos outros 87.

Por que não venceu? Talvez tenha faltado um autêntico homem-gol, o artilheiro capaz de decidir em poucas oportunidades. Como a Alemanha contava com Gerd Muller, que fez o gol do título no final do primeiro tempo. Em todas as partidas, a Holanda desperdiçou muitas chances. A campanha poderia ter sido ainda mais avassaladora.

Quem sabe o gás não tenha acabado? Afinal, a proposta de jogo poderia estar à frente do tempo, mas a preparação física era a da primeira metade dos anos 1970. Difícil manter aquela intensidade em uma sequência de sete partidas em um mês. Ainda mais dispendendo energia naqueles “arrastões” com os dez jogadores de linha atacando o adversário com a bola para colocar os demais em impedimento e amassar psicologicamente.

E os alemães, comandados por Helmut Schön, tinham craques e força mental. De novo buscando referências atuais, seria uma espécie de Real Madrid tricampeão da Champions. Imagine começar uma final de Copa em casa levando um gol sem tocar na bola. Muitos se desmanchariam, menos a Alemanha de Maier, Beckenbauer, Breitner, Overath e Muller.

Aliás, a final foi um jogaço! Especialmente o primeiro tempo disputado em um ritmo alucinante. Com Bert Vogts perseguindo Cruyff como Gentile faria com Maradona e Zico oito anos depois. E uma Holanda menos móvel e mais cautelosa, claramente intimidada com a atmosfera no estádio em Munique e a vontade inquebrantável dos rivais.

Michels merecia o título pela revolução que promoveu, incluindo, principalmente, conceitos do basquete no futebol. Reinventando o que aprendeu com o inglês Jack Reynolds, seu treinador no Ajax. A conquista com a seleção só viria 14 anos depois, na Eurocopa de 1988. Muitos dizem que replicar aquelas ideias só foi possível agora, com a evolução na preparação física.

Mas não era difícil notar ecos da “Laranja Mecânica” na Argentina de Menotti campeã mundial em 1978, no Brasil de Telê Santana em 1982, no Milan de Arrigo Sacchi e, claro, no “Dream Team” do Barcelona comandado por Cruyff que venceu a primeira Liga dos Campeões do clube em 1991/92.

Era bonito de ver. Não só pela qualidade técnica e tática, mas por conta do fator surpresa. Especialmente na estreia, contra o Uruguai. Os adversários olhavam atônitos aquela avalanche do “Futebol Total”. O jogo de 2020, mas em 1974.

Uma ótima lembrança neste 24 de março, quando se completa quatro anos sem Cruyff entre nós. O legado, porém, segue intacto. Ou se transformando sem parar.

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Futebol em Quarentena – Os dez melhores times que vi em quatro décadas http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/17/futebol-em-quarentena-os-dez-melhores-times-que-vi-em-quatro-decadas/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/17/futebol-em-quarentena-os-dez-melhores-times-que-vi-em-quatro-decadas/#respond Tue, 17 Mar 2020 19:31:32 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8174

Foto: Javier Soriano / AFP

O futebol parou nos principais centros, inclusive no Brasil. Felizmente, a sensatez prevaleceu e quem puder ficar em casa para não arriscar um colapso nos atendimentos hospitalares por conta da pandemia do coronavirus, melhor para todos.

Mas o blog não pára e aproveita para olhar para trás e abrir espaços para postagens que em tempos velozes, de imediatismo e exigência do “quente”, do “gancho”, não costumam ter muito espaço.

Por isso a série “Futebol em Quarentena” trará rankings, análises de times históricos, jogos lendários, confrontos “dos sonhos” entre grandes equipes de épocas diferentes e o que mais pintar até a bola voltar a rolar no mundo – em breve, esperamos todos.

Para começar, a vontade da maioria do público que votou na enquete no Twitter:

Imagem: Reprodução / Twitter

Então seguem os melhores times (clubes) que vi em quase 40 anos acompanhando apaixonadamente o futebol. Com as devidas particularidades, incluindo memória afetiva. Lista é pessoal, sempre. E daqui a um ano pode mudar também… Vamos lá!

1º – Barcelona de Guardiola – 2010/11

Não foi a equipe mais vencedora comandada por Pep Guardiola na Catalunha, já que na primeira temporada do treinador novato (2008/09) veio a tríplice coroa. Mas mesmo perdendo a Copa do Rei para o Real Madrid de José Mourinho e Cristiano Ronaldo, o Barcelona da temporada 2010/11 foi um primor coletivo que iluminou ainda mais o talento de Xavi, Iniesta, Messi e Daniel Alves.

O gênio argentino, definitivamente como “falso nove”, destruiu as defesas adversárias e foi o elemento de desequilíbrio em um modelo de jogo que tangenciou a perfeição. Pressão pós-perda, posse de bola, construção do jogo desde o goleiro e criação de superioridade numérica no setor da bola, sempre buscando o homem livre. Cansava e atordoava os adversários e conseguia impor a maneira de jogar, mesmo nas raras derrotas. Combinação quase perfeita do melhor das escolas espanhola, holandesa e argentina.

2º – Milan de Arrigo Sacchi – 1988/1989

Os 5 a 0 sobre o Real Madrid pela semifinal da Liga dos Campeões no Giuseppe Meazza representam o melhor do fantástico time dos holandeses Frank Rijkaard, Ruud Gullit e Marco Van Basten. Comandados por Sacchi, que revolucionou o futebol italiano atualizando ideias de Rinus Michels.

Defesa em linha, comandada por Franco Baresi, marcando por zona, adiantando e aproximando setores, muitas vezes jogando em trinta metros e trabalhando a bola voltado para o ataque. Combinando a cultural solidez defensiva do “Calcio” com um estímulo ao talento que só rivalizava com a genialidade de Maradona no Napoli. Em 1990, faturou o bicampeonato europeu, último a conseguir o feito antes do Real Madrid de Zinedine Zidane. Um alento e um deleite em tempos de futebol defensivo, simbolizado pela Copa do Mundo disputada na própria Itália.

3º – São Paulo de Telê Santana – 1992/1993

Ganhar duas vezes seguidas a Libertadores é raro. Numa época ainda de muita violência no futebol sul-americano, além das já habituais arbitragens “polêmicas” e pouco controle de doping era ainda mais complicado. E priorizando o futebol bem jogado, mais raro ainda.

O que não era difícil era rivalizar com os gigantes europeus num período anterior à Lei Bosman, que transformou os grandes clubes do Velho Continente em verdadeiras seleções transnacionais. O São Paulo de Telê Santana conseguiu ser competitivo e ter momentos de futebol arte. O melhor exemplo na final do Mundial de 1992, contra o Barcelona. Com Cafu e Muller abertos, Rai e Palhinha por dentro e o suporte de Toninho Cerezo. Tocando, girando, envolvendo e virando para cima do “Dream Team” de Johan Cruyff. Um tempo de supremacia tricolor no planeta.

4º – Arsenal “Invincibles” – 2003/04

Campeão invicto da Premier League, já muito competitiva à época. O que o Liverpool de Klopp e o Manchester City de Guardiola sonharam, mas não conseguiram, os Gunners de Arsene Wenger fizeram história. Não é um título de Champions, mas não deixa de ser um feito extraordinário.

Méritos do time de contra-ataques de almanaque, mas que nunca abdicava de atacar. Uma equipe completa e que vivia um momento coletivo extraordinário, que potencializava as individualidades de Patrick Vieira, Thierry Henry e Dennis Bergkamp. Com auxílio luxuoso de Robert Pirés, Gilberto Silva, Ashley Cole e Fredrik Ljungberg. Transpiração e inspiração para primeiro garantir a taça, depois a trajetória imaculada e histórica. Que dificilmente será repetida.

5º – Bayern de Munique de Jupp Heynckes – 2012/13

Um rolo compressor improvável, depois do revés nos pênaltis em casa para o Chelsea na final europeia em Munique e de perder a hegemonia na própria Alemanha para o Borussia Dortmund de Jurgen Klopp. Na temporada que Jupp Heynckes anunciou que se despediria dos gramados e o gigante bávaro foi atrás de Guardiola em seu “ano sabático”.

Parecia fim de festa. Mas com Robben e Ribéry desequilibrando pelas pontas, o Bayern atropelou o Barcelona com 7 a 0 no agregado e média de 40% de posse de bola. Mesmo sendo o segundo melhor no quesito na Europa, atrás justamente do time blaugrana. Provando ser uma equipe “camaleã”, que se adaptava às demandas das partidas, algo que seria tendência nos anos seguintes. Faturou a tríplice coroa, sendo o último título de outro clube que não Barcelona e Real Madrid na década até o Liverpool quebrar a sequência na temporada passada. Timaço!

6º – Flamengo de Zico – 1981/1982

O time que “unificou” os títulos depois do Santos de Pelé nos anos 1960. Em maio de 1982, era o último campeão da cidade (Taça Guanabara), estado (Rio de Janeiro), país (Brasil), continente e mundo. Com inovações táticas que virariam tendências.

Congestionando o meio-campo com um volante (Andrade) e quatro meias (Tita, Adílio, Zico e Lico), mais Nunes, o centroavante que caía pelas pontas abrindo espaços para os mais talentosos – incluindo os laterais Leandro e Júnior. Mas um camisa nove que aparecia para decidir as partidas mais importantes. Tocando, girando as peças e colocando os adversários na roda. Faltou um período maior de hegemonia no continente, mas o legado da maneira de jogar é imenso, influenciando a inesquecível seleção brasileira da Copa da Espanha.

7º – Liverpool de Jurgen Klopp – 2019/20

Uma construção paciente, qualificando o elenco, tornando a maneira de jogar mais versátil, adicionando pausas no estilo “rock’n’roll” do treinador alemão. Sofrendo com goleiros e zagueiros fracos inicialmente, para depois ir ao mercado e contratar Alisson e Virgil Van Dijk.

Para dar segurança a um ataque avassalador. Com Mohamed Salah, Roberto Firmino e Sadio Mané próximos uns dos outros e da meta adversária e os laterais Alexander-Arnold e Robertson abrindo o campo e sendo os principais municiadores de um time como volume de jogo sufocante e força mental para sair de várias situações difíceis. Venceu a Champions em 2019 e alcançou a melhor campanha do clube na história da Premier League, mas sem faturar o sonhado título nacional que deve vir agora, se a temporada na Inglaterra não for cancelada.

8º – Real Madrid de Zinedine Zidane – 2016/2017

Por motivo de: TRICAMPEÃO da Champions. Não é todo dia que acontece, mesmo descontando algumas atuações pouco inspiradas, pitadas de sorte e arbitragens polêmicas. Chama ainda mais atenção a manutenção da base nas três conquistas e o fato de ser a estreia de Zinedine Zidane no comando técnico de uma equipe de primeira divisão.

O auge na temporada 2016/17, com a conquista também do título espanhol. E o encaixe de Isco, armando um 4-3-1-2 muito móvel e mutante. E essencialmente técnico, com Carvajal e Marcelo abrindo o campo, Cristiano Ronaldo se juntando a Benzema na frente e muito controle no meio-campo, sustentado por Toni Kroos e Luka Modric. Todos suportados por Casemiro na proteção a Varane e Sergio Ramos. Se tudo desse errado, lá estava Keylor Navas para garantir. A camisa entortou varal algumas vezes, mas era um time com muito poder de decisão.

9º – Boca Juniors de Carlos Bianchi – 2000/2003

Um time “embaçado” para enfrentar, especialmente em mata-mata. Mas também capaz de ganhar o Apertura invicto, no início desta caminhada em 1998. Equipe que sabia amassar os adversários na Bombonera e cinicamente cozinhá-los como visitante. E, se tudo desse errado, ainda havia o “rei dos pênaltis” Oscar Córdoba na meta.

No ritmo de Juan Roman Riquelme. Craque um tanto tímido, de hábitos estranhos. Mas um “enganche” de enorme talento e leitura de jogo, inclusive da temperatura. O típico dez que dita o ritmo, acelerando ou escondendo a bola. Faturando a Libertadores em 2000, 2001 e 2003, superando o milionário Palmeiras e o Santos de Diego e Robinho. No último sem Riquelme e Palermo, mas com o jovem Carlos Tévez e Guillermo Schelotto. Uma máquina de faturar taças comandada por Bianchi, um estrategista copeiro que estava na hora certa e no clube certo para fazer história.

10º – Palmeiras de Vanderlei Luxemburgo – 1996

Sim, o time alviverde mais vencedor comandado por Luxemburgo foi o de 1993/94. Este foi um “meteoro” que não durou seis meses. Mas, ora bolas! Futebol também é lúdico, capaz de fazer sonhar e encantar. E este que escreve chegou a faltar aulas e deixar de ver o time de coração para acompanhar esse futebol encantador.

Foram 102 gols e 13 goleadas de um time fulminante. Cafu e Júnior voando nas laterais, Djalminha e Rivaldo entregando talento no meio, Muller fazendo o pivô e Luizão perdendo e também fazendo muitos gols, tamanha era a superioridade coletiva e individual. Que encaixou no primeiro treinamento, segundo relato do próprio Djalminha a este que escreve em um “Bola da Vez” na ESPN Brasil em 2014. Só um título paulista, um revés doído para o Cruzeiro na final da Copa do Brasil, mas e daí? Nunca será esquecido e está na lista porque sim!

É isso!

Certamente muitos flamenguistas que acham que o futebol começou em 2019 vão cobrar: “Ain, e o time atual do Jorge Jesus?” Calma! Vamos esperar construir a história da equipe, ainda que ganhar Brasileiro com recorde nos pontos corridos e Libertadores no mesmo ano seja um feito espetacular. Mas vamos aguardar!

Para os mais inconformados, fica a promessa de uma análise mais detalhada do atual campeão nacional e continental em breve.

 

 

 

 

 

 

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Enfim, City e Jesus se agigantam em jogo grande da Liga dos Campeões http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/26/enfim-city-e-jesus-se-agigantam-em-jogo-grande-da-liga-dos-campeoes/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/26/enfim-city-e-jesus-se-agigantam-em-jogo-grande-da-liga-dos-campeoes/#respond Wed, 26 Feb 2020 22:29:53 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8031 Que virada no Bernabéu! Histórica!

Foi preciso jogar a toalha na liga nacional tão valorizada por Pep Guardiola para o Manchester City entrar com a faca nos dentes na Liga dos Campeões.

É possível discutir se houve falta ou não na disputa entre Gabriel Jesus e Sergio Ramos no gol de empate do Manchester City marcado pelo brasileiro. Este que escreve interpretou como disputa normal de espaço.

Mas o domínio do time inglês em boa parte do jogo foi ndiscutível. Com Kevin De Bruyne jogando solto, muitas vezes mais adiantado até que Jesus. Aparecendo mais pela esquerda para desequilibrar. Como na assistência para o camisa nove, que foi titular para se mexer bastante na frente.

Não fosse Courtois, a dupla já teria feito o time de Guardiola ir às redes ainda no primeiro tempo. O goleiro belga foi o grande destaque do Real Madrid, evitando um estrago pior.

Vinicius Júnior também se destacou enquanto esteve em campo. Formando dupla de ataque com Benzema, mas naturalmente buscando o lado esquerdo. Perdendo boa chance em rebote de conclusão de Benzema, na crônica deficiência no acabamento das jogadas.

Mas ganhando de Walker para servir Isco no gol que abriu o placar. O meia espanhol novamente foi a peça “solta” do meio-campo merengue, à frente de Valverde e Modric. Dando suporte aos laterais Carvajal e Mendy que abriam o campo e buscavam o fundo.

Jogo de alto nível técnico e tático que desequilibrou de vez com as substituições. Gareth Bale não entrou bem na vaga de Vinicius. Guardiola, que foi obrigado a trocar o lesionado Laporte por Fernandinho ainda no primeiro tempo, ganhou rapidez e profundidade pela esquerda com Sterling na vaga de Bernardo Silva.

Foi sobre o atacante inglês o pênalti de Carvajal que De Bruyne converteu para se tornar o craque de uma noite memorável. De posse dividida, mas um City mais contundente. Dezesseis finalizações, metade no alvo.

E ainda a vantagem de enfrentar o Real sem o capitão e símbolo Sergio Ramos, expulso por falta em Jesus. De novo o brasileiro, que não foi o destaque técnico, mas finalmente se agigantou em jogo grande no torneio continental.

Assim como os citizens. Jogando a temporada, talvez aquele esforço a mais que faltava quando dividia atenções com a Premier League enfim apareceu.

Será preciso também em Manchester, porque o Real de Zidane nunca pode ser dado como morto na Champions.

(Estatísticas: UEFA)

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Qual José Mourinho volta ao futebol para suceder Pochettino no Tottenham? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/11/21/qual-jose-mourinho-volta-ao-futebol-para-suceder-pochettino-no-tottenham/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/11/21/qual-jose-mourinho-volta-ao-futebol-para-suceder-pochettino-no-tottenham/#respond Thu, 21 Nov 2019 11:59:31 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7597

Imagem: Reprodução / Sky Sports

O desgaste após cinco anos e meio empurrou Mauricio Pochettino para fora do Tottenham. O treinador argentino que já na temporada passada, mesmo chegando à final da Liga dos Campeões, já deixava transparecer a insatisfação por ser cobrado pela excelência do próprio trabalho, evoluindo jogadores como Harry Kane e Son, e não conseguir mudar de patamar com uma grande conquista.

Muito por conta da resistência da diretoria de ir ao mercado com mais agressividade, mesmo com o novo estádio já em funcionamento e não necessitando  dos investimentos que antes inviabilizavam mais contratações.

O péssimo início de temporada, com eliminação da Copa da Liga Inglesa para o Colchester United, time da quarta divisão, o aproveitamento ridículo na Premier League – 39% dos pontos e apenas a 14ª colocação – e a irregularidade na Champions, com direito a uma goleada histórica em casa para o Bayern de Munique por 7 a 2, custou caro e precipitou a saída.

Apesar da demissão, Pochettino tem mercado para permanecer na Europa, ainda mais depois de decidir a última Liga dos Campeões. A relação com o Espanyol e a cultura do Barcelona de não demitir treinador no meio da temporada devem impossibilitar um retorno a Catalunha neste momento.

Talvez Bayern de Munique, que demitiu Niko Kovac ou até o Manchester United, com Ole Solksjaer sempre parecendo balançar. Seleção argentina? Com a efetivação de Lionel Scaloni e a nítida evolução da albiceleste parece improvável no momento. Até porque quem chega ao alto nível da Europa não costuma se deixar seduzir por seleções.

Chega José Mourinho, quase um ano depois de ser demitido do Manchester United. Contrato até 2023. Uma recolocação no mercado como o português desejava, ainda dentro da Premier League. Por isso recusou a proposta do Lyon, mesmo revelando publicamente enorme incômodo por estar parado, longe da rotina de um clube.

A contratação deixa claro que os Spurs querem títulos e relevância. Inclusive midiática, com a presença de um técnico popstar e que atrai muitas atenções para si. Mesmo em passagem conturbada, Mourinho deixou os Red Devils com três conquistas: Liga Europa, Copa da Liga Inglesa e Supercopa da Inglaterra. Com a Copa da Inglaterra 2015/16 sob o comando de Van Gaal, as únicas depois da Era Alex Ferguson.

Mas qual Mourinho volta ao futebol? O que peca no mais alto nível pelo exagero na proposta defensiva e se desgasta até a exaustão na gestão de elenco? Ou um redivivo, que teve tempo para ver futebol, refletir, sofrer pela perda do protagonismo para Jurgen Klopp na rivalidade com Pep Guardiola e, inteligente, agora se propor a rever alguns pontos em suas ideias e seus métodos de jogo?

Se mantiver a versatilidade da equipe londrina – capaz de dominar pela posse, mas também protagonizar duelos intensos e alucinantes com os gigantes ingleses – e adicionar sem exageros a consistência defensiva que fez falta, por exemplo, na decisão da Champions contra o Liverpool em Madrid, Mourinho pode, de fato, mudar o Tottenham de patamar.

Com mentalidade vencedora, mas sem esmagar os comandados pela pressão sufocante que exerce, normalmente escolhendo uma estrela do elenco como alvo para manter a autoridade sobre o resto, estratégia que nunca funcionou. Com 56 anos é hora de mostrar maturidade nas relações humanas. O grupo do Tottenham, mesmo com a reformulação que deve começar já na janela de inverno, em janeiro,  precisa dos estímulos certos para buscar as conquistas que faltam para marcar um período de transformação.

Parece a última chance para o português se mostrar ao mundo ainda como um profissional capaz de contribuir para a evolução do jogo que cada vez é mais adaptável às demandas dentro de um modelo bem definido. Exigindo dos atletas, sim, porém na dose certa, sem sobrecargas. Também sem o “ônibus” na frente da área que, pela velocidade do jogo, não consegue mais fechar todos os caminhos dos principais concorrentes.

José Mourinho virou aposta e o Tottenham está pagando para ver se a parceria rende frutos e taças. Que ambos saiam melhores do que estão entrando agora. Pochettino também, no novo desafio que deve aparecer muito em breve. O futebol só tem a ganhar.

 

 

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Como o Santos de Sampaoli pode dominar “à europeia” o Brasileiro http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/29/como-o-santos-de-sampaoli-pode-dominar-a-europeia-o-brasileiro/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/29/como-o-santos-de-sampaoli-pode-dominar-a-europeia-o-brasileiro/#respond Mon, 29 Jul 2019 11:04:21 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6959

Desde o Corinthians de 2015, com Tite se reinventando como treinador em busca de uma proposta mais ofensiva e criativa dentro de suas convicções inspiradas na escola gaúcha, os campeões brasileiros vêm adotando um estilo mais reativo: Palmeiras de Cuca e Felipão, o Corinthians comandado por Fabio Carille. A velha máxima de que defesas ganham campeonatos impera por aqui na competição por pontos corridos.

Na Europa também, mas nem tanto. É claro que a questão financeira, com orçamentos quase infinitos de alguns clubes, pesa bastante. Porém, a ideia de ser dominante e impor sua maneira de jogar dentro ou fora de casa, que é também consequência da maior capacidade de investimento, é mais eficiente nos pontos corridos.

O Barcelona e os times de Guardiola, Bayern de Munique e Manchester City, são os maiores símbolos deste contexto. Considerando que as copas nacionais não têm o mesmo valor para eles em relação aos times brasileiros com o nosso mata-mata, a liga só fica atrás da Liga dos Campeões em relevância. Com um jogo de posição que tem como premissa básica se instalar no campo de ataque e trabalhar coletivamente criando espaços na defesa adversária, as equipes vencem como mandante e visitante, normalmente com ataque mais eficiente e defesa menos vazada. Porque a pressão logo após a perda da bola afasta os oponentes da própria área.

Assim também acontece com Juventus, PSG e o próprio time bávaro, mesmo sob o comando de Carlo Ancelotti, Jupp Heynckes e Niko Kovac. A cultura de vitória por conquistas seguidas também ajuda a intimidar os rivais. E quando alguém incomoda, como o Monaco na França em 2016/17, lá vão os abastados tirar as estrelas emergentes, fortalecendo seu elenco e praticamente destruindo a concorrência.

No mata-mata, especialmente no equilíbrio da Champions, valem mais a força mental e a estratégia pensando em 180 minutos. Os times adeptos do jogo de posição vêm sucumbindo às propostas mais reativas e/ou de um jogo mais físico, baseado nas jogadas aéreas com bola parada ou rolando. Ou ao “vendaval” do Liverpool, com pressão e muita velocidade dentro de um modelo voltado para o ataque.

No Brasil, o novo líder do Brasileiro não tem o maior orçamento. Longe disso. Mas na retomada da temporada depois da pausa para a Copa América vem se impondo pelo calendário mais folgado por conta das eliminações precoces na Sul-Americana e na Copa do Brasil, mas principalmente pelo modelo de jogo consolidado na intertemporada e ajustado a cada semana cheia para treinamentos.

O Santos de Jorge Sampaoli faturou os nove pontos disputados, enquanto o outrora líder absoluto Palmeiras deixou sete pelo caminho. Com futebol ofensivo dentro e fora de casa. Mesmo variando o desenho tático a ideia é ter a bola e empurrar o adversário para trás. Sempre com triangulações e apostando em posse, amplitude (“abrir” o campo) e profundidade.

Na vitória por 3 a 1 sobre o Avaí na Vila Belmiro, o 4-3-3 que na prática vira 2-3-5 com os laterais Victor Ferraz e Jorge atacando por dentro, Derlis González e Soteldo abertos, Diego Pituca mais organizador e Carlos Sánchez entrando na área adversária para se juntar a Eduardo Sasha. Uma avalanche que encurrala o adversário, mas corre riscos. Depois de abrir o placar com Derlis, o erro de posicionamento de Ferraz, muito por dentro, que abriu o corredor para João Paulo empatar para o time catarinense.

A insistência com Soteldo pela esquerda e a assistência para o gol de Sánchez, na área como centroavante. Aliás, o centro do ataque continua sem a solução desejada por Sampaoli. Sasha tem cinco gols, mas não é o artilheiro para fazer o ataque superar os de Palmeiras, Flamengo, Atlético-MG e Athletico. Perdeu gol incrível no segundo tempo, mas, ainda assim, contribui mais coletivamente que Uribe, contratação para resolver o problema na frente que foi parar no banco.

Da reserva saiu o destaque da segunda etapa na Vila: Felipe Jonatan, que substituiu o pendurado Alisson e deixou ainda mais claro o 2-3-5: Pituca recuou pelo centro da linha de três “médios” com Ferraz e Jorge e Jonatan foi jogar pela meia esquerda. O setor ganhou ainda mais fluência, com triangulações constantes. Até o belo gol de Jonatan que definiu a vitória e confirmou a chegada ao topo da tabela.

Com 57% de posse, 19 finalizações (11 no alvo) e nada menos que 28 desarmes, mais da metade no campo de ataque. Junto com o Flamengo é a equipe que mais rouba bolas na competição. Lidera sozinha na posse e também nas finalizações, alcançando a combinação ideal no ataque.

É óbvio que a liderança com 12 rodadas não é garantia de título. O clichê é verdadeiro: mais difícil do que chegar à primeira colocação e se manter nela. O Santos terá virtudes e defeitos mais estudados, os adversários entrarão mais concentrados e motivados. E o elenco não entrega tantas opções a Sampaoli em caso de necessidade.

O tempo livre será fundamental. Por isso vale o pensamento positivo para Palmeiras e Flamengo seguirem na Libertadores e, consequentemente, priorizando o torneio continental. Desgastando peças enquanto o alvinegro praiano treina e descansa. Para tentar subverter a lógica brasileira e impor um domínio “à europeia”. Sem os milhões de euros, mas com ideias arrojadas e arejadas para se impor rodada a rodada. Com algo próximo do que estávamos acostumados a apreciar apenas pela TV.

E um treinador argentino que tem competência para estar no Velho Continente, mas as circunstâncias o levaram para a baixada santista. Sampaoli anda de bicicleta, interage com a população, se diverte na praia e nos fins de semana faz seu time competir e entreter. Cenário inédito para o futebol de um país que anda mesmo precisando de boas novas.

(Estatísticas: Footstats)

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Como o “passe falso” de Dani Alves para Messi sintetiza o futebol da década http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/10/como-o-passe-falso-de-dani-alves-para-messi-sintetiza-o-futebol-da-decada/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/10/como-o-passe-falso-de-dani-alves-para-messi-sintetiza-o-futebol-da-decada/#respond Wed, 10 Jul 2019 11:26:02 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6844

Foto: AFP

– Por exemplo, eu tocava muito um passe que o Guardiola não gosta. Até hoje, eu acho que esse passe não progride, que é o passe da lateral ao ponta. Esse é um “passe falso”. Bola para extremo atacar e não perder a jogada é de meio para lateral e de lateral para meio. E, às vezes, eu conectava muito esse passe para o Messi. O Guardiola reclamava comigo. Eu respondia: “Não, mister, me desculpa. Mas se o Messi passar dois minutos sem tocar na bola, ele desconecta do jogo. Como o Messi tem que estar preparado para definir o jogo para a gente, então eu vou conectar ele no jogo”.Ele falou: ‘Tem razão!”

Este foi o trecho que mais chamou atenção da participação de Daniel Alves no programa “Bem, Amigos!” do Sportv. O destaque, obviamente, foi para a inteligência do lateral na fantástica parceria com o gênio argentino – até hoje é o jogador que mais serviu passes para gols de Messi – e também a moral que o atleta conquistou com um dos melhores treinadores da história do futebol mundial.

Mas se contextualizarmos o que foi dito é possível sintetizar todo o futebol em alto nível disputado nesta década. Ou desde 2008, no início do trabalho de Pep Guardiola no Barcelona. A época em que provavelmente aconteceu o diálogo entre atleta e técnico.

Porque, a rigor, Messi só foi ponta direita sob comando do catalão na primeira temporada da parceria que transformou o jogo para sempre. Formando o trio de ataque com Samuel Eto’o e Thierry Henry. Já dentro do jogo de posição, ou localização, que se transformaria na grande marca de Pep e a maior influência dele entre seus pares.

Resumindo bastante, seria um modelo em que o posicionamento dos jogadores é mais importante do que aquilo que realizam quando têm a bola. Nas palavras de Johan Cruyff, mentor de Guardiola, “se cada jogador tem a bola por, no máximo, três minutos em uma partida é porque o importante é o que ele faz nos outros 87”.

Messi era ponteiro pela direita, e o ponta no jogo de posição na maior parte do tempo tem como principal atribuição ficar aberto e dar amplitude aos ataques. Abrir o campo. Essa função também pode ser do lateral, e Dani Alves a executou algumas vezes com Guardiola. Henry fazia o mesmo do lado oposto. Cada um em sua posição e ganhando liberdade de movimentação ao se aproximar da área adversária para decidir. Confira AQUI uma explicação detalhada em vídeo do atacante francês aposentado, hoje também treinador.

A questão é que dependendo das circunstâncias da partida um ponteiro pode ficar algum tempo sem tocar na bola. Porque está bem marcado ou o jogo fluindo melhor no outro flanco. Por isso Daniel sentia necessidade de “conectar” Messi.

Por que o passe do lateral para o ponta é considerado “falso”? No jogo de posição, as triangulações são fundamentais. O atleta com a bola deve ter uma opção de passe para o lado, para trás ou em profundidade. Sempre buscando o homem livre. Para que a circulação da bola seja eficiente e mexa com a marcação adversária, ela deve se dar do lado para dentro e vice-versa. Naquele Barcelona, de Daniel Alves na lateral para Xavi no meio e deste para Messi na ponta. Para dominar de frente para o marcador, não de costas no caso do passe sair mais aberto. Conceito básico que vem desde o “rondo” no início dos treinos.

Talvez por isso Guardiola já na primeira temporada tenha trazido Messi para o centro do campo, como um misto de “enganche” tipicamente argentino e “falso nove”, função que também foi de Cruyff na Holanda e no próprio Barça. O craque do time precisava mesmo ser mais participativo, tocar mais na bola e receber com liberdade entre a defesa e o meio-campo do adversário. Como o centro de articulação e decisão. Dialogando com Xavi e Iniesta, mas também com os atacantes infiltrando em diagonal. Ou partindo sozinho para desequilibrar.

A versão mais vencedora do Barcelona de Pep foi a primeira, ganhando a tríplice coroa. Mas a que é considerada a melhor pelo treinador, por jogadores e também por muitos jornalistas ao redor do mundo é a da temporada 2010/11. Com o modelo assimilado e amadurecido, Messi por dentro sintonizado no jogo e com os companheiros e os ponteiros Pedro e Villa cumprindo suas funções no jogo de posição quase à perfeição.

No massacre da final do Mundial de Clubes contra o Santos de Muricy Ramalho, já uma versão diferente, com Fábregas se juntando ao trio Xavi-Iniesta-Messi por dentro e Daniel Alves e Thiago Alcântara abrindo o campo. Outra atuação mágica, mas para este que escreve inferior à dos 3 a 1 sobre o Manchester United na final da Liga dos Campeões. Do melhor time que este que escreve viu jogar em mais de trinta anos.

Mas que mudou o esporte também por conta das transformações que causou nos rivais por necessidade de respostas competitivas. Da retranca com linhas chapadas, “de handebol”, de José Mourinho na Internazionale, passando pelo ferrolho com contragolpe letal do Chelsea em 2012 até chegar à perfeição de Carlo Ancelotti no Real Madrid de “La Décima”, impondo a Guardiola sua derrota mais emblemática, já no Bayern: 4 a 0 em Munique e a vaga perdida para a final continental. Com rigor tático sem a bola, mas muita velocidade e toques verticais nos contragolpes acionando Bale, Benzema e Cristiano Ronaldo, além da força da jogada aérea com bola parada de Sergio Ramos.

Um jogo mais adaptado à demanda da partida. O time merengue que Ancelotti entregaria a Zidane, que foi auxiliar do treinador italiano, depois de um “hiato” com Rafa Benítez, sabia jogar no campo de ataque e também recuando linhas e explorando os espaços às costas das defesas oponentes. Se necessário arrancava um gol “á forceps” numa falta ou escanteio. Um jogo mais intuitivo, baseado no talento e no controle mental, mas sabendo usar a força da camisa mais pesada do futebol mundial para se impor e faturar quatro Champions em cinco temporadas.

Padrão e intuição que norteiam o trabalho de Jurgen Klopp no Liverpool. Derrotado pelo Real de Zidane em 2018, mas garantindo o título da Champions com pragmatismo na vitória sobre o Tottenham na final inglesa disputada no Wanda Metropolitano, em Madrid. Pressão no campo de ataque, aceleração e intensidade máximas, mas também sabendo criar espaços na frente e amassando o adversário psicologicamente. Uma fórmula que funciona muito bem no mata-mata.

O Barcelona e Guardiola buscam evoluir e adaptar o jogo de posição à realidade do futebol atual e seguem dominando as ligas nacionais. Desde a saída de Pep em 2012 foram cinco títulos espanhois para o clube. Já o treinador faturou cinco taças na Alemanha e na Inglaterra, só perdendo em 2016/17, primeira temporada no Manchester City. Supremacia nos pontos corridos e acrescentando intuição e contexto ao modelo que considerava perfeito na Catalunha há uma década.

Porque tudo muda e exige inteligência e sensibilidade. Como mostra Daniel Alves, campeão e craque da Copa América, jogador mais vencedor da história com 40 conquistas aos 36 anos. Como foi feliz dez anos atrás ao “quebrar” o sistema do Barcelona com um passe, em tese, improdutivo para manter Messi ligado no jogo e construir uma história que nunca mais se repetiu.

 

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Copa América reforça: futebol moderno em alto nível é dos clubes europeus http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/24/copa-america-reforca-futebol-moderno-em-alto-nivel-e-dos-clubes-europeus/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/24/copa-america-reforca-futebol-moderno-em-alto-nivel-e-dos-clubes-europeus/#respond Mon, 24 Jun 2019 09:46:56 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6749

França campeã mundial, Portugal vencedor da Eurocopa e Chile bi da Copa América. Qual destas seleções demonstrou um futebol de fato consistente dentro de suas propostas, independentemente da questão estética?

Pois é. Tirando um ou outro espasmo, aqui como lá, o desempenho médio ficou muito aquém do futebol moderno realmente em alto nível. Hoje privilégio dos grandes clubes europeus, mais especificamente a Liga dos Campeões. Ainda que a última final da maior competição continental que contou com ótimo rendimento ao menos de uma das equipes tenha sido a de 2016/17, com o espetáculo do Real Madrid nos 4 a 1 sobre a Juventus em Cardiff.

Nas duas últimas, muita tensão pelo que havia em jogo e uma disputa mais mental que técnica ou tática. É de se pensar se o período sem jogos entre o fim das ligas e a grande decisão europeia paradoxalmente não vem atrapalhando corpos e mentes acostumados a constante atividade.

Pode ser também um dos fatores que prejudicam o futebol de seleções. Os jogadores vêm de seus clubes carregando todos os condicionamentos, jogadas executadas sem pensar, até por conta do tempo e do espaço reduzidos, e precisam rememorar os movimentos praticados com seus compatriotas. Isso quando há uma base montada.

É bem provável que a Copa América 2019 tenha hoje o seu primeiro jogo realmente de bom nível, entre Chile e Uruguai no Maracanã, fechando o Grupo C e a primeira fase do torneio. A Celeste com o trabalho de Óscar Tabárez desde 2006 e a busca de um maior repertório além das jogadas aéreas e do jogo direto para Cavani e Suárez; a Roja tentando o tricampeonato com o terceiro treinador diferente – Sampaoli, Pizzi e agora Reinaldo Rueda. Mantendo, porém, uma base experiente e qualificada, a melhor da história do país. Apesar da decepcionante campanha nas Eliminatórias que limou a participação na Copa do Mundo na Rússia.

Equipes que tentam aproximar suas propostas: o Uruguai busca ficar mais com a bola, o Chile procura solidez defensiva e competitividade, mas sem abrir mão das próprias virtudes. Futebol versátil, de acordo com a demanda. Porque é o que a “elite” faz, mas com a possibilidade do dia a dia. Treina, repete, corrige, repensa, aprimora. Há tempo. Também o alto faturamento, no caso dos clubes mais ricos, para contratar quem possa adicionar talento e casar melhor com as características dos companheiros. Sem a “barreira” da pátria.

Para tornar tudo mais complicado, os principais torneios entre seleções acontecem no final da temporada europeia. Cada vez mais desgastante para pernas e cérebros, só deixando os “bagaços” para as seleções. Outro obstáculo para desenvolver um jogo mais elaborado. No torneio sul-americano disputado no Brasil, os gramados ruins são mais uma dificuldade.

Eis o ponto. É mais simples montar as retrancas modernas, com linhas compactas, sincronia de movimentos para negar espaços principalmente no “funil” e muita intensidade, pressionando o adversário com a bola. As seleções com mais camisa, tradição e/ou talento precisam de entrosamento, sintonia para se instalar no campo de ataque e criar as brechas para furar esses blocos cada vez mais sólidos. Uma solução seria a marcação por pressão perto da área adversária, para roubar a bola e acelerar com campo livre. Mas cadê as pernas para isso entre junho e julho, quando a maioria deveria estar de férias?

Não por acaso, Espanha e Alemanha conseguiram se impor em 2010 e 2014 com um jogo mais eficiente e plástico que o da França no ano passado. Trazendo suas bases de Barcelona/Real Madrid e Bayern de Munique/Borussia Dortmund, o “jogar sem pensar” dentro de uma proposta mais posicional, de controle pela posse, ficou mais viável e até proporcionando algum espetáculo. Aos franceses, com jogadores espalhados pela Europa e pela pressão por conta do fracasso em casa na final da Euro 2016, restou o pragmatismo, apelando para bola parada, velocidade de Mbappé e os lampejos de Griezmann e Pogba.

Por isso e também pela questão financeira, Guardiola, Klopp, Simeone, Pochettino, Ancelotti, Sarri e outros treinadores das prateleiras mais altas não se aventuram no futebol de seleções. Em momento de baixa, José Mourinho até considerou a hipótese, mas ainda com mercado e Fernando Santos em alta com as conquistas recentes por Portugal é bem possível que volte ao cenário em um grande clube. Até porque o salário não é baixo.

A Copa América deve “pegar” agora na reta final e a tendência é que termine deixando uma melhor impressão. Mas o futebol de seleções, que no início dos anos 1980 fez este blogueiro se apaixonar pelo esporte antes mesmo de escolher o time de coração, hoje vive um dilema. O jogo moderno exige uma fluidez que só é possível com treinos e jogos seguidos. Trabalho diário e no auge físico e técnico. Tudo que falta a treinadores e jogadores que representam seu países.

O nível mais baixo de desempenho não é “falta de amor” ou ser “mercenário”. Os mais abastados, na prática, nem precisam de suas seleções. Antes, sim, a presença na lista de convocados proporcionava contratos mais vantajosos. Hoje pode ser até um grande problema na avaliação individual de uma temporada – Messi é o maior exemplo. A realidade é dura e só tende a ficar mais complexa com o futebol mais intenso e o calendário inchado.

A Liga dos Campeões já é do tamanho da Copa do Mundo e tende a ser maior e melhor a cada ano.

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