holanda – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Sincerão – Olimpo do futebol só tem três: o rei, o artista e o arquiteto http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/01/sincerao-olimpo-do-futebol-so-tem-tres-o-rei-o-artista-e-o-arquiteto/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/01/sincerao-olimpo-do-futebol-so-tem-tres-o-rei-o-artista-e-o-arquiteto/#respond Wed, 01 Jul 2020 14:07:37 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8707

Foto: Acervo FIFA

Este colunista participou do quadro Sincerão do UOL Esporte e muitos questionaram por que Pelé, Maradona e Cruyff não foram citados no Top 5 de meio-campistas, nem de atacantes.

Justo. Talvez tenha sido mesmo um equívoco, mas há duas razões para tal.

Primeiro porque vejo esses três gênios como pontas-de-lança, exercendo aquela função híbrida de meia e atacante. O “camisa dez” que arma e finaliza. Zico, meu ídolo de infância e outra ausência sentida por muitos, se encaixa igualmente neste perfil. Messi também, mas em campo sempre funcionou mais como atacante, partindo da direita para dentro em busca da finalização ou da assistência.

Mas também porque os três fazem parte do Olimpo do futebol. Só eles, ao menos por enquanto. Ainda que o Olimpo abrigue doze deuses do panteão grego, É claro que Messi e Cristiano Ronaldo são candidatíssimos a pleitear vagas neste grupo muito seleto, mas é preciso esperar o fim de suas carreiras para que o distanciamento histórico entregue à dimensão dos feitos da dupla dos gênios do Século 21 até aqui.

Pelé é o rei. Entregou desempenho e resultados a longo prazo como nenhum outro. Colocou o Santos no mapa da bola e foi campeão e protagonista em duas Copas do Mundo, na época o grande parâmetro para medir os maiores. Transformou o jogo sendo um atleta completo que jogava futebol. Artilheiro implacável, domínio de todos os fundamentos do esporte.

Maradona é o artista. Genial, inquieto, imperfeito, errático. Capaz de lances espetaculares no campo e comportamentos nada exemplares fora dele. Quando quis ser competitivo foi a estrela máxima em uma edição de Copa do Mundo, no México em 1986. E também colocou um time outrora minúsculo no imaginário popular. Por isso é Deus em Napoli, assim como na Argentina. O grande ídolo da história do esporte.

E Johan Cruyff é o arquiteto. Craque cerebral, treinador dentro do campo, frasista nato. Pensou e reinventou o futebol muitas vezes, ancorado em princípios inegociáveis, como ter a bola para controlar o jogo. A conexão Holanda 1974 – Barcelona de 1992 – Pep Guardiola é única e pedra fundamental para o futebol há meio século.

É claro que há outros craques e gênios, e rankings são sempre discutíveis. Mas para este que escreve só esses três merecem ocupar o topo. Por seus feitos e legados. Esclarecido?

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As dez maiores atuações individuais em Copas do Mundo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/23/as-dez-maiores-atuacoes-individuais-em-copas-do-mundo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/23/as-dez-maiores-atuacoes-individuais-em-copas-do-mundo/#respond Thu, 23 Apr 2020 08:26:03 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8349

Foto: Acervo / FIFA

10º – Alcides Ghiggia (Uruguai – 1950)

É claro que eu não assisti a nenhum jogo completo da campanha uruguaia em 1950. Mas, ora bolas, o ponta direita da Celeste fez gols nas quatro partidas da campeã mundial. Mesmo descontando a bizarra primeira fase com apenas um adversário – a Bolívia, que levou de 8 a 0 no Independência, em Belo Horizonte. No jogo decisivo do quadrangular final, encarou um Maracanã abarrotado e deitou e rolou em cima do lateral Bigode. Assistência para Schiaffino e  gol da virada e do título, o do “Maracanazo”. Virou lenda e merece constar nesta lista, mesmo que na base da “licença poética”.

9º – Lotthar Matthaus (Alemanha – 1990)

A Copa na Itália não é das mais memoráveis, mas Matthaus compensou. Depois de ser o volante disciplinado que dificultou a vida de Maradona na final em 1986, foi o craque, capitão e camisa dez que liderou a Alemanha na vingança, quatro anos depois. Compensava o meio-campo esvaziado no 5-3-2 armado por Franz Beckenbauer com dinamismo e versatilidade. Quatro gols, liderança e protagonismo que lhe valeram a Bola de Ouro da “France Football” e, na carona, o primeiro prêmio de melhor da FIFA em 1991. Recordista de partidas em Copas, com 25 em cinco edições. Craque.

8º – Zinedine Zidane (França – 2006)

O primeiro não campeão da lista. Vencedor em 1998, com dois gols na final contra o Brasil, mas nem sombra do que fez o craque já veterano a partir das oitavas da Copa na Alemanha, oito anos depois: gols contra Espanha, Portugal e na final contra a Itália. Atuação majestosa, flutuando em campo nas quartas contra a então campeã, além da assistência para o gol da vitória, de Henry. Na prorrogação da decisão, uma cabeçada parou nas mãos de Buffon, outra no peito de Materazzi. Encerrando uma carreira brilhante que merecia uma última taça. Pena.

7º – Romário (Brasil – 1994)

Foram cinco gols, um pênalti sofrido contra a Rússia, um chute que Bebeto aproveitou no rebote contra Camarões, a assistência para Bebeto derrubar os Estados Unidos em casa num quatro de julho. Mais o “fingir de morto” no gol de Bebeto e o contorcionismo para deixar a bomba de Branco passar pelo seu corpo contra a Holanda nas quartas. Na final contra a Itália, o peso dos 24 anos sem título e a atuação quase perfeita de Baresi na marcação. Perdeu gol feito na prorrogação, mas assumiu a responsabilidade e converteu o pênalti na decisão. Definitivamente, foi a Copa do Baixinho.

6º – Johan Cruyff (Holanda – 1974)

O arquiteto do futebol moderno é o segundo e último sem taça da lista. Azar da Copa, embora tenha ficado bem entregue para os anfitriões Beckenbauer, Muller, Maier e Breitner. A arrancada no primeiro minuto da final desde a defesa – era o holandês mais recuado quando recebeu a bola – é a síntese do grande líder do “Carrossel” que influencia o jogo até hoje. A Holanda jogava no 4-3-Cruyff-2. Liderança, leitura de espaços, capacidade de ditar o ritmo e o tempo do jogo. Tudo isso sendo marrento, usando uniforme diferente e sendo um fumante compulsivo. Surreal.

5º – Pelé (Brasil – 1958)

Dezessete anos. Seis gols decisivos nas três partidas eliminatórias. Dois antológicos, contra País de Gales nas quartas e Suécia na final. Imagine o que isso renderia de visibilidade e milhões de euros para esses feitos hoje. A camisa verde e amarela, e a dez em particular, ganhou outro significado graças a um menino, que nem foi o melhor da seleção e da Copa. Mas brilhou intensamente na equipe de Feola que ganhou encaixe desde os primeiros segundos da estreia de Pelé, e também de Garrincha, contra a União Soviética. Começava a trajetória épica do maior de todos.

4º – Didi (Brasil – 1958)

Apenas o cidadão que tirou de Pelé, Garrincha e do francês Just Fontaine – até hoje o maior artilheiro de uma edição de Copa, com 13 gols – o prêmio de melhor jogador do Mundial na Suécia. O líder que calmamente pegou a bola no fundo das redes em uma final contra os anfitriões depois de sofrer o primeiro gol, acalmou os companheiros enquanto caminhava até o centro do campo e, logo após a saída, acertou um lançamento de quarenta metros para Garrincha acertar a trave. Meio-campista completo, de passes curtos e longos, dribles e elegância única. Um monstro de jogador!

3º – Pelé (Brasil – 1970)

Quatro gols e sete assistências. Mais três quase-gols históricos: a cabeçada para a defesa lendária de Banks, o chute do meio do campo por cobertura na estreia contra a Tchecoslováquia e a finta em Mazurkiewski sem tocar na bola e o chute para fora na semifinal diante dos uruguaios. A última Copa de Pelé foi a do atleta do século XX no esplendor da leitura de jogo e da liderança técnica. A grande referência da maior seleção de todos os tempos. Servindo Jairzinho contra a Inglaterra e Carlos Alberto no gol que consolidou o tri. Os mais simbólicos da campanha. A0s 29 anos, a consagração no México.

2º Mané Garrincha (Brasil – 1962)

Um gênio improvável decidindo o bi brasileiro no Chile que pareceu impossível com a lesão de Pelé vivendo o auge da carreira na segunda partida da Copa. Nas fases finais, um Mané impossível contra Inglaterra e na semifinal diante do anfitrião. Percebendo a necessidade da seleção envelhecida e ampliando o repertório além do famoso drible na direita em busca da linha de fundo. Marcou de cabeça e de pé esquerdo. Fez o inimaginável para alguém com problemas cognitivos e longe de levar uma vida de atleta, mesmo para os padrões dos anos 1960. Simplesmente genial.

1º Diego Maradona (Argentina – 1986)

Não foi só pelo gol mais belo, emblemático e tocante da história das Copas, representando cada cidadão argentino contra os ingleses pela derrota na Guerra das Ilhas Malvinas. Nem pela atuação magnífica na semifinal contra a Bélgica ou por causa da assistência para Burruchaga decidir a Copa contra os alemães no Estádio Azteca. Diego Armando Maradona foi o melhor da Copa de 1986 desde que tocou na bola pela primeira vez, na estreia contra os violentos sul-coreanos. Apanhou, compensou as limitações dos companheiros e desequilibrou. Ninguém jogou mais que ele em uma edição de Mundial. Ponto.

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Quatro anos sem Cruyff: Holanda-74 misturava Liverpool e Flamengo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/24/quatro-anos-sem-cruyff-holanda-74-misturava-liverpool-e-flamengo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/24/quatro-anos-sem-cruyff-holanda-74-misturava-liverpool-e-flamengo/#respond Tue, 24 Mar 2020 13:32:13 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8201

Foto: Reuters

Confesso que o comentário do leitor “mpereira1963” no post sobre as seis partidas que mudaram a história do jogo gerou um desconforto:

Não era pra ter um jogo da Holanda 74 nesta lista? A maior revolução tática do esporte não merecia um espaço aqui? Eita.”

Na hora de elaborar a lista, confesso que não consegui definir uma das sete partidas da seleção comandada por Rinus Michels como a mais simbólica em uma mudança no esporte. A campanha toda foi muito marcante.

Mas como tenho os jogos contra Uruguai, Argentina, Brasil e Alemanha gravados e não vem faltando tempo com a quarentena pelo coronavírus, fui rever as partidas do “Carrossel Holandês” no Mundial disputado há 46 anos.

Para quem estuda futebol, recomendo esse exercício. Porque conforme o jogo evolui, o olhar muda e a tendência é passar a prestar atenção em nuances que antes passavam batidas.

Como era intensa! Na pressão logo após a perda, na circulação da bola e, principalmente, na movimentação. A Era Guardiola no Barcelona e o fato do treinador catalão citar Johan Cruyff como grande mentor nos induziam a ver semelhanças. Não havia, porém, o menor sinal do jogo de posição ou localização naquela Holanda.

Ainda que os pontas Johnny Rep e Rob Rensenbrink muitas vezes ficassem bem abertos e alargassem o campo, eles não necessariamente esperavam a bola para jogar. Participavam ativamente das trocas de funções com Cruyff e Neeskens na frente. Não raro ver os ponteiros serem ultrapassados pelos laterais Suurbier e Krol e cobrirem os espaços deixados na perda da bola.

O sistema tático era mutante, mas poderia ser chamado de “4-3-Cruyff-2”. Porque o camisa 14, craque e capitão tinha ainda mais liberdade que a concedida aos companheiros para circular por todo campo partindo do centro do ataque. Era o “falso nove” por excelência. A ponto de receber a bola como o jogador mais recuado e arrancar para sofrer o pênalti convertido por Neeskens no início da decisão da Copa.

O “4-3-Cruyff-2” da Holanda de Rinus Michels tinha movimentação, pressão e muito volume de jogo para sufocar os adversários (Tactical Pad).

Essa mistura de liberdade para se mexer e pressão obsessiva para recuperar a bola lembra muito o que Liverpool e Flamengo fazem hoje. Jorge Jesus fez estágio no início da carreira com Cruyff e as escolas alemães e holandesas sempre trocaram muitas influências, apesar da rivalidade entre os países. E Jürgen Klopp bebeu deste caldeirão de referências.

Portanto, quando vemos Salah, Mané e Firmino trocando posições e funções e os laterais Alexander-Arnold e Robertson atacando ao mesmo tempo, isso passa pela Holanda-74. Assim como o Flamengo subindo o time todo para fazer pressão na saída do adversário, recorrendo a encaixes e perseguições eventuais no setor da bola.

A combinação de características também era interessante. Suurbier tinha mais força física pela direita para buscar o fundo, Ruud Krol mais técnica do lado oposto, inclusive atacando muitas vezes por dentro. Na zaga, o “líbero” Haan mais técnico e Rijsbergen mais “zagueiro”, forte nas disputas com os atacantes. Todos protegidos pelo goleiro Jongbloed, que não era brilhante, mas sabia jogar adiantado e participar da construção do jogo.

No meio-campo, Jansen era incansável, normalmente ocupando o lado direito e às vezes fazendo todo o corredor como um ala. Muito dinâmico.  Já Van Hanegem era o organizador,quem decidia junto com Cruyff se o time trocaria mais passes e circularia mais a bola ou seguiria atacando com agressividade. O meia-armador atrás do ponta-de-lança Neeskens, se é que podemos rotulá-los como o futebol da época.

Todos se movimentando com a bola e saindo para abafar o adversário na perda. A posse era construída por esse volume, além da inteligência para saber como se comportar em qualquer região do campo. Como dizia Cruyff, cada jogador fica no máximo três minutos com a  bola em 90 minutos. Logo, o mais importante é o que se faz sem ela nos outros 87.

Por que não venceu? Talvez tenha faltado um autêntico homem-gol, o artilheiro capaz de decidir em poucas oportunidades. Como a Alemanha contava com Gerd Muller, que fez o gol do título no final do primeiro tempo. Em todas as partidas, a Holanda desperdiçou muitas chances. A campanha poderia ter sido ainda mais avassaladora.

Quem sabe o gás não tenha acabado? Afinal, a proposta de jogo poderia estar à frente do tempo, mas a preparação física era a da primeira metade dos anos 1970. Difícil manter aquela intensidade em uma sequência de sete partidas em um mês. Ainda mais dispendendo energia naqueles “arrastões” com os dez jogadores de linha atacando o adversário com a bola para colocar os demais em impedimento e amassar psicologicamente.

E os alemães, comandados por Helmut Schön, tinham craques e força mental. De novo buscando referências atuais, seria uma espécie de Real Madrid tricampeão da Champions. Imagine começar uma final de Copa em casa levando um gol sem tocar na bola. Muitos se desmanchariam, menos a Alemanha de Maier, Beckenbauer, Breitner, Overath e Muller.

Aliás, a final foi um jogaço! Especialmente o primeiro tempo disputado em um ritmo alucinante. Com Bert Vogts perseguindo Cruyff como Gentile faria com Maradona e Zico oito anos depois. E uma Holanda menos móvel e mais cautelosa, claramente intimidada com a atmosfera no estádio em Munique e a vontade inquebrantável dos rivais.

Michels merecia o título pela revolução que promoveu, incluindo, principalmente, conceitos do basquete no futebol. Reinventando o que aprendeu com o inglês Jack Reynolds, seu treinador no Ajax. A conquista com a seleção só viria 14 anos depois, na Eurocopa de 1988. Muitos dizem que replicar aquelas ideias só foi possível agora, com a evolução na preparação física.

Mas não era difícil notar ecos da “Laranja Mecânica” na Argentina de Menotti campeã mundial em 1978, no Brasil de Telê Santana em 1982, no Milan de Arrigo Sacchi e, claro, no “Dream Team” do Barcelona comandado por Cruyff que venceu a primeira Liga dos Campeões do clube em 1991/92.

Era bonito de ver. Não só pela qualidade técnica e tática, mas por conta do fator surpresa. Especialmente na estreia, contra o Uruguai. Os adversários olhavam atônitos aquela avalanche do “Futebol Total”. O jogo de 2020, mas em 1974.

Uma ótima lembrança neste 24 de março, quando se completa quatro anos sem Cruyff entre nós. O legado, porém, segue intacto. Ou se transformando sem parar.

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Portugal de CR7 se impõe de novo na Europa. Liga das Nações veio para ficar http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/09/portugal-de-cr7-se-impoe-de-novo-na-europa-liga-das-nacoes-veio-para-ficar/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/09/portugal-de-cr7-se-impoe-de-novo-na-europa-liga-das-nacoes-veio-para-ficar/#respond Sun, 09 Jun 2019 20:55:14 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6673 O Portugal de Fernando Santos não é um exemplo de vanguarda tática, nem de consistência no desempenho. Oscila dentro das partidas e depende de Cristiano Ronaldo – gols, força mental e liderança. Mas ganha o segundo título europeu no universo de seleções em três anos. Nova imposição no continente.

Desta vez a Liga das Nações em sua primeira edição, competição que pegou ao entregar competitividade a muitas das datas FIFA. Decidindo em casa e vencendo a Holanda por 1 a 0. Na Eurocopa em 2016 surpreendeu como visitante na final contra a França. É time que cresce em jogo grande. E jogou para vencer no Estádio do Dragão. Mesmo com apenas 45% de posse, finalizou nada menos que 19 vezes contra cinco – sete a um no alvo.

A mais precisa de Gonçalo Guedes completando assistência de Bernardo Silva. Com Cristiano, formando um trio móvel na frente exatamente para não deixar a estrela máxima muito fixa entre os zagueiros adversários. O heroi do título que ganhou a vaga da esperança João Félix. Na final com um meio-campo mais físico com Danilo à frente da defesa e Bruno Fernandes e Willian Carvalho como meias, deixando Rúben Neves e João Moutinho na reserva.

Concentrado e atento, sem os vacilos da Inglaterra que facilitaram a virada da Holanda na semifinal. A equipe de Ronald Koeman claramente sentiu o fator campo e também o desgaste pelos 30 minutos a mais e um dia a menos de descanso. No final buscou um “abafa” com Promes, Van de Beek e Luuk De Jong, mais Van Dijk na área portuguesa, mas os campeões europeus mantiveram a concentração defensiva alta, jogando simples e ainda criando problemas nos contragolpes com o rápido Rafa Silva, que entrou na vaga de Gonçalo Guedes.

Seriedade até a festa no apito final. E justa premiação para Bernardo Silva como o melhor de Portugal e do torneio. Constante em todas as partidas. Técnica, habilidade e inteligência. Mas o protagonismo simbólico é mesmo de Cristiano Ronaldo. A foto que vai rodar o mundo é a do gênio levantando a taça. Mais uma. De uma seleção que de novo faz história. Em uma competição que veio para ficar.

(Estatísticas: UEFA)

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Holanda na final para consolidar recuperação. Difícil entender a Inglaterra http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/06/holanda-na-final-para-consolidar-recuperacao-dificil-entender-a-inglaterra/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/06/holanda-na-final-para-consolidar-recuperacao-dificil-entender-a-inglaterra/#respond Thu, 06 Jun 2019 21:59:54 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6663 Enquanto Ronald Koeman não abriu mão dos campeões da Champions Wijnaldum e Van Dijk na semifinal da Liga das Nações em Guimarães, a Inglaterra de Gareth Southgate preferiu deixar os finalistas Alexander-Arnold, Henderson, Dele Alli, Dier e Rose no banco. O treinador não precisava escalar todos, mas para uma seleção em busca de afirmação e de uma conquista depois de cinquenta e três anos a postura novamente foi um tanto blasé.

Ainda assim, a Inglaterra abriu o placar no primeiro tempo com Rashford sofrendo e convertendo pênalti do jovem e talentoso zagueiro De Ligt em falha grotesca. Com organização defensiva e velocidade na frente com Sancho e Sterling nas pontas. A Holanda tinha dificuldades para criar espaços, mesmo com a mobilidade de Memphis Depay e Ryan Babel na frente, além da construção a partir dos passes certos do meio-campista Frenkie De Jong.

O empate só poderia vir na bola parada. Cobrança de escanteio que encontrou De Ligt para se redimir em belo golpe de cabeça. A Inglaterra foi às redes com Lingard completando belo passe de Barkley depois de lindo toque de Sterling. Mas o árbitro de vídeo interferiu observando impedimento milimétrico do autor do gol. Negando a definição da vaga na final da Liga das Nações nos 90 minutos e também abalando animicamente o English Team. Sem contar o desgaste físico da maioria dentro da loucura da Premier League e das decisões de Champions e Europa League. Além da indecifrável postura em grandes jogos. Difícil entender.

Duas falhas na saída de bola, ambas com Stones errando, um gol contra de Walker, outro destaque negativo na partida, e o dos 3 a 1 de Promes, que entrou na vaga de Babel e, junto com Van de beek, destaque do Ajax que substituiu De Roon, tornou a Holanda mais intensa e com presença física na área adversária, desfazendo o 4-3-3 quase imutável para um 4-2-3-1 ofensivo. A rigor, a Oranje aproveitou os vacilos do rival, mas a superioridade fica clara no número de finalizações: 28 a 15! 12 no alvo contra apenas três dos ingleses na direção da meta de Cilessen.

A Holanda que ficou de fora do Mundial 2018 vai decidir o torneio como visitante contra Portugal no Estádio do Dragão. A seleção de Cristiano Ronaldo é favorita natural por jogar em casa, além de ter um dia e 30 minutos a mais de descanso. Mas não dá para descartar  a equipe que recupera autoestima com a liderança de Koeman, o protagonismo de Van Dijk no futebol mundial e os jovens mais que promissores formados pelo Ajax. Vai atrás do título para consolidar o bom momento.

Seria exagero chamar de reedição da “Batalha de Nuremberg” no Mundial de 2006, com Portugal se classificando em uma disputa inesquecível, mas violenta demais. A Liga das Nações é bem menos relevante, mas pode proporcionar uma decisão bem mais interessante.

(Estatísticas: UEFA)

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Sampaoli, Felipão ou Renato Gaúcho? Depende. Futebol é encaixe, um “click!” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/22/sampaoli-felipao-ou-renato-gaucho-depende-futebol-e-encaixe-um-click/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/22/sampaoli-felipao-ou-renato-gaucho-depende-futebol-e-encaixe-um-click/#respond Fri, 22 Feb 2019 10:07:35 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5995 Tostão levantou a bola em sua coluna de quarta-feira na “Folha de São Paulo” e a ESPN Brasil deu outro enfoque no “ESPN Bom Dia”: qual característica seria a mais importante em um treinador – comando firme, inventividade, “esperteza”, solidez defensiva, ousadia, “loucura” ou racionalidade?

O colunista citou Mano Menezes, Renato Gaúcho, Fernando Diniz, Jorge Sampaoli, Fabio Carille, Luiz Felipe Scolari e Levir Culpi como exemplos. Tite, o melhor entre os brasileiros, diria que a solução seria equilibrar todas essas características e não estaria errado.

Mas, no fundo, o que torna um trabalho bem sucedido em qualquer lugar do mundo é um grande mistério. Felizmente o futebol não carrega bulas, nem receitas de bolo. Não há fórmula. Qualquer linha de trabalho pode dar certo, mesmo a mais improvisada.

É claro que quando há um plano pensando a médio/longo prazo, com o clube ou seleção buscando combinar perfil do treinador com características dos jogadores dentro de uma estrutura bem definida e com capacidade de investimento, as chances de funcionar aumentam consideravelmente. Só não há garantia.

Tudo depende de encaixe, um “click!” capaz de sincronizar os movimentos de todas as peças no tabuleiro. No “Bola da Vez” em 2014 na ESPN Brasil, Djalminha respondeu a este blogueiro que aquele Palmeiras campeão paulista dos 102 gols em 1996 deu liga no primeiro treinamento coletivo. Os jogadores e também Vanderlei Luxemburgo chegaram a se olhar e sorrir com o rápido entrosamento que foi se aprimorando e gerou aquele “meteoro” que encantou o país por seis meses.

Às vezes precisa da intervenção direta do comandante, como a Holanda de 1974. Ao perceber que os jogadores de Ajax e Feyenoord não se entendiam na execução do modelo de jogo, Rinus Michels reuniu todos, colocou na lousa o que queria e disse que quem não concordasse poderia abandonar o barco. Em menos de um mês, o “Carrossel” revolucionaria o futebol mostrando ao mundo a combinação (quase) perfeita do que as duas equipes já realizavam na Europa.

Um gol também pode mudar tudo. Como o de Rondinelli aos 41 minutos do segundo tempo sobre o Vasco, que deu o título carioca para o Flamengo de Zico em 1978. Depois de chegar perto nos três anos anteriores, a conquista garantiria a permanência e o fortalecimento daquele grupo de jogadores, já vistos com certa desconfiança, para construir o período mais glorioso da história do clube.

No caso dos treinadores citados no título deste post, Sampaoli conseguiu seu trabalho de maior sucesso e visibilidade no Chile campeão da Copa América de 2015. Fruto de um processo que começou com Marcelo Bielsa e que teve continuidade com seu “súdito”. Questão de polimento, maturidade que se ganha nas competições até alcançar o triunfo.

Já Felipão ganhou o título mundial de 2002 depois de um ano de trabalho e encontrando a equipe ao longo da Copa do Mundo disputada na Ásia. Ainda que o toque especial, a reunião de Rivaldo e dos Ronaldos no ataque, tenha sido inspirado em um Brasil x Argentina disputado no Beira-Rio em 1999. Luxemburgo reuniu os três e a seleção enfiou 4 a 2 dando espetáculo. O “click!” se deu ali, mas foi Scolari, que viu no estádio a “mágica” acontecer, quem aproveitou três anos depois em outro contexto.

Quanto a Renato Gaúcho, a felicidade no retorno ao Grêmio para um contrato de três meses que vai chegando a três anos com títulos se deu pela combinação de uma linha de trabalho já construída que precisava dos ajustes que o maior ídolo do clube soube aplicar. Também adicionou o carisma e a liderança que entregaram rapidamente resultados e desempenho. Beleza e títulos. O ideal.

Nem tudo, porém, se resume a resultados. Além da “Laranja Mecânica” já citada, a Hungria de 1954 e o Brasil de 1982 são times inesquecíveis mesmo sem taças. Referências que contribuíram com a evolução do esporte e se eternizaram pelo sonho do jogo perfeito. O impossível em esporte tão caótico e imprevisível. Tanto que não venceram ao cruzar com equipes também fortes, porém mais pragmáticas. Ou simplesmente Alemanha, duas vezes, e Itália foram mais felizes naqueles duelos. Porque funcionou naquele dia.

Por isso o futebol apaixona e ensina. Tostão sabe bem disso ao ressaltar em seus textos as inconstâncias, fragilidades e a falta de certezas. Na vida e no jogo. Mesmo o que parece perfeito pode desandar em uma partida. Ou o que parece fadado ao fracasso pode se consagrar. Por um erro ou casualidade. A razão precisa estar presente para que a gente não enlouqueça. Mas tentar entender e criar roteiros, como em um filme, é inútil.

Cada história vivida nos campos carrega sua verdade. Única e intransferível. Melhor assim.

 

 

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Para Alecsandro, “falso nove” é uma mentira. O que diz a história do jogo? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/01/12/para-alecsandro-falso-nove-e-uma-mentira-o-que-diz-a-historia-do-jogo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/01/12/para-alecsandro-falso-nove-e-uma-mentira-o-que-diz-a-historia-do-jogo/#respond Sat, 12 Jan 2019 08:08:58 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5748

– Camisa nove pra mim tem que fazer gol. Quem veste esse número é o cara mais próximo ao gol. Quando isso não acontece e o treinador arma o jogo para isso acontecer, vai dar errado. Está se usando falso nove, isso não existe. Ou cara é nove ou não é. Vou confessar uma coisa, os treinadores têm medo de dizer que estão sem centroavante, estão jogando com meia e falam que estão com falso nove. Os treinadores não falam para a imprensa não pegar no pé, tudo mentira. O camisa nove tá em falta, o falso tem um monte por aí.

Palavras de Alecsandro, centroavante de 37 anos, em sua primeira entrevista como jogador do São Bento. Filho de Lela, irmão de Richarlison, com passagem por Atlético Mineiro, Vasco, Internacional, Flamengo e Palmeiras. Talvez incomodado com a perda de espaço ao longo do tempo. Quem sabe embalado pelo senso comum – seguido por muita gente boa, boleiro ou não – que está até em música: “o centroavante é o mais importante”.

Foi tantas vezes, com Romário, Ronaldo, Careca, Van Basten, Gerd Muller, Hugo Sánchez e muitos outros que eternizaram a função, que Dadá Maravilha chamava de profissão junto com a do goleiro. Ainda decisivo no país. Desde Edmundo em 1997, o artilheiro do Brasileiro, ou um deles quando o posto de goleador máximo era dividido, jogava como centroavante: Romário, Adhemar, Guilherme, Viola, Magno Alves, Luís Fabiano, Dimba, Washington, Souza, Josiel, Keirrison, Kléber Pereira, Adriano, Diego Tardelli, Jonas, Borges, Fred, Éderson, Ricardo Oliveira, Jô, Henrique Dourado e Gabriel Barbosa. O próprio Edmundo jogou mais adiantado que Evair naquele Vasco.

Fundamental em vários momentos, mas não obrigatório como ele faz parecer. E a história do jogo mostra vários exemplos de jogadores que desequilibraram atuando como “falso nove”. Ou seja, no centro do ataque, mas com liberdade de movimentação, caindo pelos lados,  circulando entre a defesa e o meio-campo do adversário ou recuando e abrindo espaços para as infiltrações dos companheiros. Craques ou não que contribuíram significativamente para a evolução do esporte.

Desde Matthias Sindelar do Wunderteam da Áustria dos anos 1930, passando por Nandor Hidegkuti da Hungria de 1954, Alfredo Di Stéfano no Real Madrid multicampeão dos anos 1960, Johan Cruyff no Ajax, Barcelona e na seleção holandesa nos anos 1970. Saindo da posição mais adiantada sem a bola para circular por todo o campo. Armando, marcando, atacando o espaço certo. Pensando o jogo.

No Brasil, a segunda metade dos anos 1980 apresentou um exemplo clássico de adaptação para passagem de bastão. Roberto Dinamite, maior artilheiro da história do campeonato brasileiro com 190 gols, recuou no centro do ataque do Vasco comandado por Antonio Lopes para servir um jovem centroavante adaptado à ponta esquerda: Romário. O Baixinho, em início de carreira, aprimorou as infiltrações em diagonal que o consagrariam ao longo da carreira para receber os passes do camisa dez cruzmaltino.

Inspiração para Vanderlei Luxemburgo, que trabalhou como auxiliar de Lopes em outros clubes, na década seguinte adaptar Evair, que tinha Dinamite como grande ídolo, para atrair a marcação dos zagueiros e acionar Edmundo e Edilson, depois Rivaldo, infiltrando em diagonal no Palmeiras bicampeão paulista e brasileiro em 1993 e 1994.

Outro time ainda mais vencedor foi o São Paulo de Telê Santana. Bicampeão da Libertadores e Mundial. Quem era o centroavante num ataque com Cafu, Raí, Palhinha e Muller? Sem contar o Brasil de 1970, considerado o maior time de todos os tempos, com Tostão também adaptado ao centro do ataque. Aproveitando a experiência no Cruzeiro que atuava com dois pontas abertos e o “ponta de lança” revezando com Dirceu Lopes na chegada à área adversária. Na seleção de Zagallo, procurava o lado esquerdo deixando o centro para as infiltrações de Pelé ou as diagonais de Jairzinho partindo da ponta direita.

Chegar na área como elemento surpresa e não a referência do ataque, mas também dos defensores. Foi o que consagrou todos eles. Também o que fez o futebol de Messi explodir no Barcelona de Pep Guardiola, especialmente na temporada 2010/11. O gênio argentino trabalhava entre linhas, recuava para trabalhar com Busquets, Xavi e Iniesta – formando o que provavelmente foi o melhor “losango” de meio-campo em todos os tempos – e aparecia na área para finalizar ou servia os pontas Pedro e Villa. Time que só não repetiu a tríplice coroa de 2008/09 por causa de um gol do Real Madrid na prorrogação da final da Copa do Rei.

De Cristiano Ronaldo, outro que é referência técnica de qualquer ataque que faça parte, mas precisa de um parceiro mais fixo na área adversária para fazer o “trabalho sujo”. Na Juventus é Mandzukic que luta com os zagueiros e fica no centro para o português se desmarcar da ponta para dentro e finalizar. Mais um caso em que o centroavante não é a estrela.

Com linhas de marcação compactas, concentração defensiva e muita análise de desempenho em clubes e seleções, o jogador mais estático, o centroavante “raiz” tende a encontrar mais dificuldades. O time fica mais previsível e os companheiros induzidos a alimentar aquele que só aparece quando vai às redes. A função vai se transformando com Lewandowski, Diego Costa, Harry Kane, Luis Suárez e Edinson Cavani. Todos móveis e inseridos num trabalho mais coletivo.

Até Mohamed Salah vai se aprumando na função no Liverpool de Jurgen Klopp. Antes um atacante de lado, explora a velocidade, intensidade e capacidade de se deslocar e abrir espaços para que o ataque ganhe versatilidade e mais um elemento. Agora um quarteto que pode ter Shaqiri, Wijnaldum ou Keita junto com Mané e Firmino, que cresce quando recua como meia, mas também se destacava…como “falso nove”.

No Paulista que o “Alecgol” vai disputar, o atual campeão Corinthians encontrou o melhor encaixe no torneio e na temporada alternando Jadson e Rodriguinho na frente. Uma espécie de 4-2-4 sem referência ou o tipico homem-gol.

Alecsandro está na reta final da carreira como jogador. Se quiser se manter no meio do futebol é melhor abrir um pouco a mente e aceitar uma verdade inexorável deste esporte que tanto amamos: há várias formas de jogar e vencer. Muitas verdades e poucas mentiras. Sem dogmas, nem preconceitos.

 

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É bom ver a Holanda renascer, mesmo com mais sorte que juízo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/11/19/e-bom-ver-a-holanda-renascer-mesmo-com-mais-sorte-que-juizo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/11/19/e-bom-ver-a-holanda-renascer-mesmo-com-mais-sorte-que-juizo/#respond Mon, 19 Nov 2018 22:40:01 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5536 A relevância da Holanda na história do futebol está mais na influência de sua escola na evolução do jogo nos últimos 50 anos do que nas três finais de Copa do Mundo. Tudo que vemos hoje no mais alto nível tem as digitais de Rinus Michels e Johan Cruyff. Não só no Barcelona ou em Guardiola. Até na antítese, como resposta.

Por isso é tão bom ver a seleção agora comandada por Ronald Koeman – campeão europeu de 1988 com Michels e líbero do “Dream Team” de Cruyff no Barcelona do início dos anos 1990 – renascer depois de ficar de fora do Mundial na Rússia.

Nada muito substancial, já que a Liga das Nações, mesmo sendo um avanço em relação aos insossos amistosos de datas FIFA, não é parâmetro para confirmar uma recuperação sólida. Mas, ora bolas, se classificou num grupo com as duas últimas campeãs mundiais. A França levando a sério e usando a base que comemorou na Rússia há menos de seis meses.

A Alemanha manteve o viés de queda e foi rebaixada. Deixa a impressão de que a manutenção de Joachim Low depois da vexatória eliminação na fase de grupos da Copa é um erro de difícil reparo. Que fica mais complicado conforme o tempo passa.

Mas foi bem em Gelsenkirchen. Leve pela falta de objetivos na partida e confortável atuando nos contragolpes. Linhas recuadas, saída em velocidade procurando Sané pela esquerda e Timo Werner circulando por todo o ataque. Assim fez 2 a 0 no primeiro tempo.

A Holanda renovada sentiu o peso da responsabilidade e esbarrou em um problema de sua escola que parecia encontrar soluções, especialmente nos 3 a 0 sobre a França: a proposta imutável de ficar com a bola e adiantar as linhas, mesmo que não haja qualidade para propor o jogo.

Trocava passes, batia no muro, perdia a bola e sofria nas transições defensivas. Mesmo com o mais que promissor zagueiro Matthijs De Ligt. Na frente, Memphis Depay tentava abrir espaços para as diagonais de Promes e Babel e as infiltrações de Wijnaldum, apoiadas por De Jong e pelos laterais Tete e Daley Blind.

Tinha posse (terminou com 54%), mas não volume. O empate que garantiu a classificação veio no abafa desorganizado nos minutos finais. Aproveitando o cansaço e uma queda natural de concentração da Alemanha, guiada apenas pelo profissionalismo dos jogadores e rivalidade histórica no confronto.

Duas bolas na área, gols de Promes e do zagueiro Van Dijk jogando no “modo Piqué”, como centroavante para aproveitar a estatura. Na oitava finalização holandesa contra 13 dos alemães. Mais sorte que juízo da equipe de Koeman, que se junta a Suíça, Portugal e Inglaterra no “Final Four” do torneio.

A possível conquista pode ser o gás que falta para a Holanda entrar em uma nova era. Ou voltar ao protagonismo de velhos e bons tempos.

(Estatísticas: Whoscored.com)

 

 

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Mais solta e entrosada, França, agora sim, é a melhor seleção do mundo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/10/17/mais-solta-e-entrosada-franca-agora-sim-e-a-melhor-selecao-do-mundo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/10/17/mais-solta-e-entrosada-franca-agora-sim-e-a-melhor-selecao-do-mundo/#respond Wed, 17 Oct 2018 10:21:49 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5368

Foto: Gonzalo Fuentes/Reuters

Aconteceu também em 1998. Depois do alívio de vencer a Copa do Mundo em casa com desempenho médio não mais que razoável, sobrando apenas nos 3 a 0 sobre o Brasil na decisão, a França ganhou confiança e variações táticas. Afirmou o jovem atacante Thierry Henry e amadureceu Zidane como melhor jogador do planeta. Venceu a Eurocopa de 2000 e dominou o cenário até a queda brusca, também pela ausência de seu camisa dez e estrela máxima, na fase de grupos do Mundial na Ásia em 2002.

Na Rússia em 2018, uma nova geração talentosa carregava o peso da responsabilidade de alcançar uma grande conquista, depois da decepção em casa perdendo a final da Euro 2016 para Portugal. A seleção do treinador Didier Deschamps, capitão e líder em campo nas conquistas do final da década passada, foi excessivamente pragmática e até travada em boa parte da campanha. Fiel demais, quase aprisionada a sistema tático e modelo de jogo focados mais no resultado final que no desempenho.

Venceu sem maiores contestações, porém sem convencer. A Croácia ficou com todo “hype”, a ponto de dar a Luka Modric o prêmio de melhor do mundo. A Bélgica foi eliminada na semifinal em um jogo muito igual e também foi mais comentada e analisada. “Les Bleus” ficaram com o rótulo de “competitivos” destinados aos que não encantam.

Mas com o segundo título mundial, a paz combinada com a manutenção do trabalho e da base vencedora vem construindo uma França ainda mais forte.

Deschamps manteve o 4-2-3-1 “torto” que varia para o 4-3-3. Matuidi faz o “ponta volante” pela esquerda, mas em boa parte do tempo se alinha a Pogba à frente de Kanté formando um tripé no meio-campo. Na frente, Giroud é o pivô como contraponto físico para empurrar a última linha para trás.  Tudo para dar liberdade à dupla Griezmann-Mbappé e também compensar a baixa intensidade de Pogba sem a bola.

Só que agora a confiança e um compromisso menor com o posicionamento na perda da bola permitem uma maior mobilidade e o jogo flui melhor. Especialmente quando parte de Kylian Mbappé, que faz o que se esperava dele: já que Matuidi é meio-campista e procura pouco o fundo, abrindo mais o corredor para Lucas Hernandez ou Mendy, nada impede que o atacante do PSG saia da direita e circule por aquele setor para buscar a infiltração em diagonal.

Diferente do rigor da Copa do Mundo, agora a França tem mais mobilidade no ataque. Na imagem, Mbappé aparece pela esquerda no espaço deixado por Matuidi e Griezmann naturalmente procura o lado direito para formar com Giroud um trio na frente que conta com a aproximação de Pogba (reprodução Esporte Interativo).

Antoine Griezmann também não precisa ser o atacante atrás do centroavante o tempo todo. Pode também aparecer nos flancos e usar a habilidade do pé canhoto para buscar o drible e ser mais um a desarticular a marcação adversária. Até Giroud está mais solto, arriscando mais. O gol contra a Holanda na Liga das Nações encerrando uma sequência de dez partidas, incluindo toda a Copa do Mundo, ajudou no resgate da confiança.

A nova competição do calendário de seleções na Europa, ainda que, a rigor, mantenha o caráter de amistoso, tem ajudado os franceses a manterem o alto nível pela força do Grupo 1. Até aqui, dois confrontos com a Alemanha e um diante dos holandeses.

Nos 2 a 1 de virada sobre os alemães no Stade de France, o sofrimento contra um time repaginado depois de somar apenas um ponto nas duas primeiras rodadas. Joachim Low corrigiu o erro da Copa do Mundo e agora explora a velocidade e a capacidade de chegar ao fundo de Sané. O ponteiro deu trabalho demais a Pavard e foi junto com Gnabry os melhores alemães em campo.

Mas a França soube conter o volume ofensivo dos alemães, teve maturidade para lidar com a desvantagem no gol de pênalti de Toni Kroos logo aos 13 minutos de jogo. Também poder de superação para compensar uma péssima atuação de Pogba, que vacilou e perdeu a bola no contragolpe que gerou a penalidade para o rival. Griezmann decidiu no segundo tempo com um gol de cabeça e outro de pênalti bastante discutível de Hummels em Matuidi – não há VAR na Liga das Nações.

São sete pontos em três partidas, mas a melhor notícia é que, apesar das vitórias apertadas, o desempenho melhorou. A equipe está mais leve e entrosada. Também mais “cascuda”, dura de ser batida.

Ainda que a Bélgica mantenha o alto nível e a Espanha, agora com Luis Enrique no comando, seja a de maior potencial de crescimento no continente, a França reforça seu status de grande força no universo das seleções. Agora, sim, a melhor do mundo.

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Sneijder e Iniesta mereciam mais que Modric quebrar “duopólio” Messi/CR7 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/09/24/sneijder-e-iniesta-mereciam-mais-que-modric-quebrar-duopolio-messicr7/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/09/24/sneijder-e-iniesta-mereciam-mais-que-modric-quebrar-duopolio-messicr7/#respond Mon, 24 Sep 2018 19:46:32 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5261

Foto: AFP

Luka Modric é um meio-campista brilhante, dos melhores de todos os tempos. Joga de área a área, inteligente para fechar e abrir espaços, ditar o ritmo. Tem passe curto e longo quando necessário. Teve bom desempenho no Real Madrid tri da Liga dos Campeões e na Croácia vice-campeão do mundo.

Mas na visão deste blogueiro não foi sequer o melhor de seu time e de sua seleção em 2017/18. Ou ao menos isto é discutível. Para não citar Cristiano Ronaldo, nas estatísticas, Toni Kroos foi mais eficiente cumprindo a mesma função no tripé que forma com Casemiro no time merengue. Mais passes certos, finalizações, inversões de jogo, até desarmes. Na seleção croata, Perisic foi mais decisivo com gols e assistências. Craque da Copa? Para este blog, Kylian Mbappé. Nem foi o melhor Modric da carreira…

Como diz o ótimo colega Bruno Formiga, a impressão que tanto a UEFA quanto a FIFA dão ao entregar os prêmios individuais para Modric é de que resolveram premiar um roteiro de cinema. O menino da infância sofrida que ama seu país e chegou à glória aos 33 anos. Muito longe da meritocracia. E ainda dá margem para teorias da conspiração como a de que CR7 só não venceu porque saiu do poderoso gigante espanhol e partiu para a Juventus.

O fato é que chega ao fim o “duopólio” Messi /Cristiano Ronaldo. Cinco para cada lado. Sem dúvida um momento histórico, mas com protagonista que merece todo o respeito, mas não tem peso nem teve rendimento para tal feito. Talvez por isso a ausência dos dois recordistas na cerimônia. Eticamente discutivel, mas até justificável.

Se fosse para premiar um meio-campista com temporada brilhante neste período que fizessem com Sneijder em 2010. Tríplice coroa com a Internazionale como um dos protagonistas e o melhor holandês vice-campeão, um dos artilheiros do Mundial na África do Sul e que perdeu a final para a Espanha apenas na prorrogação.

Gol de Iniesta, outro que poderia ter sido contemplado em 2010 pelas conquistas com o Barcelona do Espanhol e da Copa do Rei, além do título mundial com direito ao gol que o transformou num mito não só na Catalunha, mas em todo o país. Ou em 2012, quando venceu a Euro sendo o craque da “Roja” e Messi acabou faturando pelo recorde de 91 gols em um ano.

Dois que jogaram mais que Modric. O croata não tem nada com isso e pode e deve comemorar muito com família, compatriotas e colegas de time. Mas é difícil, quase impossível entender os critérios da premiação se comparados com os de outros anos. Forçaram a barra e não foi pouco.

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