iniesta – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Um pouco de Leovegildo Júnior para falar de Arthur e laterais por dentro http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/20/um-pouco-de-leovegildo-junior-para-falar-de-arthur-e-laterais-por-dentro/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/20/um-pouco-de-leovegildo-junior-para-falar-de-arthur-e-laterais-por-dentro/#respond Thu, 20 Jun 2019 11:10:01 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6728

Bastou a seleção brasileira empatar com a Venezuela em Salvador para as cornetas do apocalipse começarem a ecoar e, como sempre, o resultado gerar uma caça às bruxas na procura de culpados. Um pouco mais de eficiência nas finalizações ou o VAR deixando passar um dos gols anulados e talvez, até pela fase terrível da Argentina, o desempenho, de fato, insuficiente fosse relativizado.

Mas entre as muitas críticas é possível detectar uma justa e outra nem tanto. A primeira é a falta de meio-campistas de área a área com perfil organizador para qualificar a saída de bola, acionar as peças mais ofensivas e eventualmente aparecer na área para concluir. Falta intensidade a Arthur. Também momentos de um jogo mais vertical. Fernandinho se adaptou bem à função de primeiro volante e Allan tem características mais parecidas com as de Paulinho. O fato é que Renato Augusto, por incrível que pareça, está fazendo falta. O camisa oito autêntico da melhor fase recente da seleção.

A outra é sobre os laterais atuando por dentro, como construtores. Na inquisição da falta de vitória que quase sempre se mistura com saudosismo, muitos que observaram Daniel Alves e Filipe Luís “afunilando” o jogo apontaram para o passado, dizendo que nos “bons tempos” do futebol brasileiro o lateral abria o campo e chegava ao fundo para cruzar. Recordações de Cafu, Roberto Carlos, Jorginho, Leandro, Júnior…

Opa! Aí está um equívoco no resgate histórico que vale ser pinçado para abordar as duas questões propostas acima. Leovegildo Júnior era fã de Marinho Chagas. Ambos laterais esquerdos destros que atacavam, sim, por dentro. Com pés de meio-campistas e criando superioridade numérica no trabalho entre as intermediárias. Na Copa de 1982, Júnior se juntava a Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico e tinha Éder para abrir o campo pela esquerda. Leandro à direita.

Entrando em diagonal, Júnior marcou um golaço contra a Argentina, completando passe primoroso de Zico. Da esquerda para dentro iniciou a jogada que terminaria no gol de Falcão contra a Itália, o último brasileiro na campanha do Mundial na Espanha. O problema do  camisa seis não era atacar pelo meio, mas os erros de posicionamento defensivo que, inclusive, ocasionaram dois gols de Paolo Rossi no fatídico 5 de julho – o primeiro permitindo o centroavante italiano infiltrar entre ele o zagueiro Luisinho, o derradeiro errando na tática do impedimento.

O problema de Daniel Alves e Filipe Luís é infiltrar pouco, não aparecer como elemento surpresa por dentro quando os ponteiros Richarlison, David Neres, Everton e até Gabriel Jesus voltando a atuar pelo lado abrem o campo. Questão de sincronia na proposta nova de Tite que ainda tem os movimentos de Firmino saindo do centro do ataque para abrir espaços que não estão sendo preenchidos pelos companheiros de ataque, incluindo Philippe Coutinho.

Voltando ao Júnior, a mudança de função na segunda metade da carreira, de 1984 a 1993, também vale a lembrança para retornarmos ao tema Arthur e a carência de articuladores mais recuados. No futebol italiano e na seleção brasileira, incluindo a Copa de 1986, Júnior era um “regista”. Coordenava todas as etapas de construção de jogo e ainda tinha o “plus” da bola parada. Cobrava escanteios da direita com pé esquerdo e da esquerda com o destro.

Retornou ao Brasil em meados de 1989. Justamente o período da virada no conceito de meio-campistas no Brasil. Dividindo a função entre volantes protetores da defesa e meias ofensivos. Necessidade criada por ele mesmo quando lateral no Flamengo, que primeiro teve Andrade e Carpegiani em 1980 e depois Vítor entrando no lugar do meio-campista que virou treinador em 1981. Tudo para dar liberdade aos “alas”.

O “elo perdido” tinha sido Geovani, no Vasco. Craque e artilheiro do titulo mundial de juniores (sub-20) em 1983, famoso pelas cobranças de pênaltis impecáveis e personalíssimas. Mas que deve ser lembrado como o último camisa oito inspirado em Gérson e Didi. Com os lançamentos longos e precisos como a grande marca de seu estilo.

O melhor jogador do país em 1988, ajudado por uma boa sacada de Sebastião Lazaroni no Vasco: Geovani não precisava se sacrificar no auxílio ao volante Zé do Carmo na marcação. Henrique, outro volante, fazia o “serviço sujo”. Quando o time cruzmaltino recuperava a bola, Geovani recuava para armar e Henrique o “ultrapassava”, se juntando a Bismarck, Vivinho e Romário na frente.

Geovani e Lazaroni foram para a seleção e o novo mapa do meio-campo excluiu naturalmente o meia. Na virada para o sistema 3-5-2, o meia não tinha pegada para jogar à frente da defesa, nem dinâmica para auxiliar os alas e ainda entrar na área se juntando à dupla de ataque. Silas, depois Alemão, e Valdo foram os titulares no ciclo que terminou no fracasso da Copa na Itália.

O meio-campista ainda viveria bons momentos no próprio Vasco no início dos anos 1990, porém dentro de outras configurações: em 1992, na boa campanha do clube no Brasileiro, como um meia à frente do volante Luisinho e depois ainda mais adiantado com a entrada de Leandro Ávila na proteção da retaguarda.  Mas sempre neste conflito entre ser volante ou meia no típico 4-2-2-2 da época no país.

Mesmo problema de Júnior no Flamengo. No título da Copa do Brasil de 1990 com Jair Pereira ele era uma espécie de “carrillero”, ou volante pela direita num losango: Uidemar plantado, Junior e Zinho pelos lados e Bobô ou Djalminha fazendo a ligação com Renato Portaluppi e Gaúcho. Mas foi no ano seguinte que veio a ideia que encaixaria perfeitamente o “Maestro” para o fecho de ouro de sua carreira.

O 4-1-4-1 montado por Vanderlei Luxemburgo em 1991 que serviu de base para Carlinhos organizar a equipe campeã carioca daquele ano e do Brasileiro na temporada seguinte. A chave era o recuo dos pontas Paulo Nunes e Nélio acompanhando os laterais adversários. Isso permitia que os laterais rubro-negros, Charles Guerreiro e Piá, marcassem mais por dentro e ajudassem o volante Uidemar na proteção dos zagueiros Júnior Baiano e Wilson Gottardo.

Júnior, então, ficava livre para conduzir a equipe. Recuava atrás de Uidemar para organizar a saída de bola, acionava os ponteiros em velocidade ou o próprio camisa cinco fazia os cruzamentos para o centroavante Gaúcho. Com bola parada ou rolando. Quando não aparecia na frente para concluir, como nos gols marcados nas finais das conquistas estadual e nacional. Meio-campista completo.

Exatamente o que vem faltando ao futebol brasileiro. Por incrível que pareça o último organizador foi Dunga, já em 1990 e também nas duas Copas seguintes. Volante marcador, porém com bom passe. Na sequência os grandes armadores eram meias típicos: Djalminha, Ricardinho, Juninho Pernambucano…Kléberson foi a solução em 2002 porque era dinâmico, tinha bom passe e não precisava ser tão cerebral porque o jogo fluía mais com Cafu e Roberto Carlos abertos e Ronaldinho Gaúcho armando para Rivaldo e Ronaldo.

Agora há um vazio, que ainda pode ser preenchido por Arthur se houver evolução no Barcelona. Lucas Silva, hoje no Cruzeiro, foi uma esperança até “flopar” na Europa. O Grêmio tenta afirmar Matheus Henrique na mesma função.  Talvez o erro seja usar como referência o espanhol Xavi Hernández. Gênio do jogo de posição do Barcelona e da Espanha, mas com características muito específicas, que combinavam com as de Iniesta formando uma dupla quase perfeita de armadores. Na cultura brasileira acaba sendo visto como “armandinho” ou “pica-couve”.

Melhor mirar o que foi Geovani. Ou Leovegildo Júnior, antes lateral que jogava por dentro e depois o meio-campista de área a área. Mas pensando nas necessidades e no contexto de 2019. Sem superestimar o passado e demonizar o presente que é só mais complexo e o futebol brasileiro precisa, enfim, se adequar no mais alto nível para voltar a vencer.

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O “pecado original” do Barcelona na contratação de Philippe Coutinho http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/04/02/o-pecado-original-do-barcelona-na-contratacao-de-philippe-coutinho/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/04/02/o-pecado-original-do-barcelona-na-contratacao-de-philippe-coutinho/#respond Tue, 02 Apr 2019 12:12:39 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6265

Foto: David Ramos/Getty Images

Philippe Coutinho pode chegar ao final da temporada 2018/19 com a conquista da tríplice coroa pelo Barcelona. É líder do Espanhol, está na decisão da Copa do Rei e vivo nas quartas da Liga das Campeões contra o Manchester United. No melhor cenário totalizaria cinco títulos em uma temporada e meia no novo clube. O problema é que o brasileiro alcançaria este feito histórico sem o protagonismo esperado. Talvez até no banco de reservas.

Hoje a falta de confiança é clara, apesar das estatísticas nem tão ruins: dois gols e três assistências na Champions e três bolas nas redes pela Copa do Rei, além dos quatro gols e duas assistências em 17 jogos pela liga espanhola – dez entrando ao longo da partida. A tese de que precisa de um treinador com o espírito de Jurgen Klopp, seu último comandante no Liverpool, para colocá-lo para cima é válida. De fato o perfil mais sério e exigente de Ernesto Valverde não parece combinar com o jeito retraído de Coutinho.

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É preciso, porém, voltar ao momento da contratação para entender o que o clube catalão parecia desejar no encaixe do reforço de 130 milhões de euros, o mais caro da história do Barcelona.

Havia um consenso de que o time precisava de mais rapidez e intensidade na frente. Sem Neymar, Valverde inverteu o eixo ofensivo da equipe no início da temporada 2017/18: Dembelé entrou na ponta direita, com Messi centralizado atrás de Suárez e Iniesta fazia um híbrido de meia e ponteiro pela esquerda, abrindo o corredor para Jordi Alba descer. Contando com a cobertura de Umtiti e Nelson Semedo compensando como um lateral mais preso atrás, fazendo o balanço defensivo à direita.

A ideia de Ernesto Valverde para o Barcelona na temporada 2017/18 antes da chegada de Philippe  Coutinho (Tactical Pad).

Contratado na janela de inverno, Coutinho seria preparado para entrar na vaga que Iniesta deixaria ao partir para a aventura final da carreira no futebol japonês. Para ser exatamente esse “ponta-meia” que viveu seu melhor momento no futebol inglês jogando ao lado de Mané e Firmino e depois com o encaixe de Salah. Recebe pela esquerda, conduz, procura a tabela com o companheiro. Por dentro ou aberto combinando com o lateral. Ou inverte o lado da jogada. Ou, no melhor cenário, corta para dentro e finaliza.

O melhor cenário para Coutinho no Barcelona: recebe na meia esquerda, Jordi Alba desce atraindo a atenção da marcação e o brasileiro tem espaço para cortar para dentro e finalizar (reprodução Fox Sports).

Ele não é Iniesta, nem Neymar. Tem problemas no trabalho defensivo para ser um meio-campista no 4-3-3. No 4-2-3-1 sofre ao ficar de costas para a marcação e como um ponteiro agudo não dá profundidade aos ataques. A função de ponta articulador pela direita poderia até ser interessante  se não existisse Messi, que gosta de transitar justamente partindo daquele setor. Por isto Dembelé teve que mudar de lado.

O gênio argentino dava a impressão de que com o tempo mudaria seu posicionamento. Mais meia organizador que atacante. No entanto, a liberdade total fez muito bem ao camisa dez, dialogando com o meio-campo e fazendo dupla de ataque com Luis Suárez. Messi é cada vez mais o dono do time, armando e finalizando. Artilheiro e rei das assistências.

Protagonismo que acanha ainda mais Philippe Coutinho, que começou até bem, mas foi definhando na bola e no ânimo. Não por acaso, o Barcelona sinalizou na virada para esta temporada com as contratações de Arthur e Malcom que prefere um meio-campista organizador e capaz de cumprir as atribuições defensivas para dividir com Rakitic a função de proteger Busquets e um ponteiro agressivo para disputar posição com o oscilante Dembelé. Sem contar a versatilidade de Sergi Roberto, ora lateral, ora meio-campista.  Na variação do 4-3-3 para o 4-4-2 sem bola que beneficia Messi.

A tendência é o Barça tentar rever boa parte do que investiu no brasileiro ao final da temporada. É claro que Coutinho deveria ter menos dificuldades de adaptação a sistemas e ideias de jogo. Atrapalha seu desempenho, inclusive na seleção brasileira. O ideal também seria o jogador ter um plano de carreira mais consciente, sem pressa nem essa espécie de fetiche de brasileiros por atuar no Barcelona

Mas o “pecado original” do gigante europeu foi não avaliar criteriosamente quem estava contratando a peso de ouro. Coutinho ainda pode virar esse jogo, mas até aqui foi um “flop” na Catalunha.

Melhores momentos República Checa 1 x 3 Brasil

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Sneijder e Iniesta mereciam mais que Modric quebrar “duopólio” Messi/CR7 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/09/24/sneijder-e-iniesta-mereciam-mais-que-modric-quebrar-duopolio-messicr7/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/09/24/sneijder-e-iniesta-mereciam-mais-que-modric-quebrar-duopolio-messicr7/#respond Mon, 24 Sep 2018 19:46:32 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5261

Foto: AFP

Luka Modric é um meio-campista brilhante, dos melhores de todos os tempos. Joga de área a área, inteligente para fechar e abrir espaços, ditar o ritmo. Tem passe curto e longo quando necessário. Teve bom desempenho no Real Madrid tri da Liga dos Campeões e na Croácia vice-campeão do mundo.

Mas na visão deste blogueiro não foi sequer o melhor de seu time e de sua seleção em 2017/18. Ou ao menos isto é discutível. Para não citar Cristiano Ronaldo, nas estatísticas, Toni Kroos foi mais eficiente cumprindo a mesma função no tripé que forma com Casemiro no time merengue. Mais passes certos, finalizações, inversões de jogo, até desarmes. Na seleção croata, Perisic foi mais decisivo com gols e assistências. Craque da Copa? Para este blog, Kylian Mbappé. Nem foi o melhor Modric da carreira…

Como diz o ótimo colega Bruno Formiga, a impressão que tanto a UEFA quanto a FIFA dão ao entregar os prêmios individuais para Modric é de que resolveram premiar um roteiro de cinema. O menino da infância sofrida que ama seu país e chegou à glória aos 33 anos. Muito longe da meritocracia. E ainda dá margem para teorias da conspiração como a de que CR7 só não venceu porque saiu do poderoso gigante espanhol e partiu para a Juventus.

O fato é que chega ao fim o “duopólio” Messi /Cristiano Ronaldo. Cinco para cada lado. Sem dúvida um momento histórico, mas com protagonista que merece todo o respeito, mas não tem peso nem teve rendimento para tal feito. Talvez por isso a ausência dos dois recordistas na cerimônia. Eticamente discutivel, mas até justificável.

Se fosse para premiar um meio-campista com temporada brilhante neste período que fizessem com Sneijder em 2010. Tríplice coroa com a Internazionale como um dos protagonistas e o melhor holandês vice-campeão, um dos artilheiros do Mundial na África do Sul e que perdeu a final para a Espanha apenas na prorrogação.

Gol de Iniesta, outro que poderia ter sido contemplado em 2010 pelas conquistas com o Barcelona do Espanhol e da Copa do Rei, além do título mundial com direito ao gol que o transformou num mito não só na Catalunha, mas em todo o país. Ou em 2012, quando venceu a Euro sendo o craque da “Roja” e Messi acabou faturando pelo recorde de 91 gols em um ano.

Dois que jogaram mais que Modric. O croata não tem nada com isso e pode e deve comemorar muito com família, compatriotas e colegas de time. Mas é difícil, quase impossível entender os critérios da premiação se comparados com os de outros anos. Forçaram a barra e não foi pouco.

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Messi precisa acordar! O mundo e o futebol mudaram, também por causa dele http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/09/03/messi-precisa-acordar-o-mundo-e-o-futebol-mudaram-tambem-por-causa-dele/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/09/03/messi-precisa-acordar-o-mundo-e-o-futebol-mudaram-tambem-por-causa-dele/#respond Mon, 03 Sep 2018 18:49:18 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5161

Foto: Reuters

Messi foi o melhor do mundo há oito anos sendo campeão espanhol e da Copa do Rei, caindo nas semifinais da Liga dos Campeões e nas quartas de final para a Alemanha na Copa do Mundo da África do Sul. Foi o ano da festa do Barcelona, com Xavi e Iniesta, campeões com a Espanha, formando a trinca de finalistas.

Era o período de encantamento com o argentino genial que evoluiu absurdamente sob o comando de Pep Guardiola. Mesmo sem marcar um gol no Mundial de seleções sua imagem de jogador de uma era seguiu intacta. Cristiano Ronaldo sofreu com lesão grave, eliminação nas oitavas da Champions e desempenho apenas razoável, para seu nível, com Portugal na Copa. Era a primeira temporada no Real Madrid.

Pouco valeu o brilho de Sneijder, que ganhou tudo com a Internazionale e foi um dos artilheiros da Copa pela Holanda, só perdendo o título na prorrogação da final. Sendo decisivo contra o Brasil nas quartas de final. Uma das maiores injustiças da premiação.

Corte para 2018. Luka Modric ganha o prêmio da UEFA como melhor jogador da temporada europeia e está entre os três finalistas do Prêmio The Best da FIFA. Campeão da Champions e vice mundial, como Sneijder. Mohamed Salah, outro finalista dos dois prêmios, nem isso. Eliminado na fase de grupos com seu Egito, não chegou perto de ser campeão inglês com seu Liverpool e perdeu a final do principal torneio de clubes do mundo para o Real Madrid. Mesmo com o golpe sujo de Sergio Ramos que tirou o atacante da decisão ainda no primeiro tempo, não parece algo que chame tanto a atenção.

Mas é. Porque o mundo e o futebol mudaram. Muito. Também por causa do argentino. A Liga dos Campeões ganha um peso cada vez maior na temporada. Por conta da visibilidade e do nível cada vez mais alto do torneio europeu, os campeonatos nacionais perderam relevância. Até por conta dos supertimes que dominam seus países – leia-se Bayern de Munique, PSG e Juventus. Na Espanha, a tendência recente é o Real Madrid focar tudo na Champions e o Barcelona dividir esforços.

Eis o ponto que marca esse novo olhar. Messi foi novamente protagonista no domínio espanhol do Barça. Liga e Copa. Chuteira de Ouro com 34 gols na liga. 46 no total e mais 18 assistências. Mas e daí? O seu talento é que fez subir o sarrafo, o nível de cobrança. Não é mais o suficiente. Pior ainda com a eliminação para a Roma, time de poder de investimento muito inferior e em outra prateleira do cenário mundial. Derrota vexatória por 3 a 0. Mais uma vez ficando de fora até das semifinais.

Na Copa do Mundo, novamente um desempenho bem abaixo de sua excelência. Sua Argentina caiu nas oitavas de final. Para a campeão França justamente na melhor atuação da equipe de Pogba, Griezmann e Mbappé na Copa. Por 4 a 3, sem vexame. Porém não basta mais para Messi. Espera-se muito dele e se decepciona sua avaliação cai a ponto de ficar abaixo de jogadores sem números e conquistas semelhantes.

Imaginava-se que ficaria ao menos entre os três finalistas, como em todas as edições desde 2007. Nem isso. Um momento simbólico, que pede reflexão a Messi. Sua rivalidade com Cristiano Ronaldo fez história e jogou no teto o nível do futebol de clubes na elite europeia nestes dez anos. O mundo cobra Messi que seja campeão da Champions ou do mundo com a albiceleste. Ele precisa ver que mudou. Acordar para uma nova realidade, caso ainda queira ser competitivo no topo, individual e coletivo.

Sua personalidade aponta dois caminhos. Ou o “sangue nos olhos” de 2015, depois do grito de Cristiano Ronaldo (o lendário Síiiiii!) na celebração do prêmio de melhor de 2014 desafiando o rival, para liderar o trio MSN na conquista da tríplice coroa. Ou se conformar em seguir reinando no Barça, aumentando ainda mais os números como o grande jogador da história do clube que o acolheu, pagou seu tratamento para crescer e formou o homem e o atleta. Jogar por gratidão.

Se houver espaços para ele jogar como gosta vem o brilho. Se o adversário nega, Messi circula pelo campo sem produzir grande coisa e vê seu time derrotado. Foi assim nas últimas três temporadas. Começa assim a atual: adversários fáceis na liga, quatro gols e duas assistências. Sem Cristiano Ronaldo, a tendência é nadar de braçadas no Espanhol.

Pode bastar para ele, não para o planeta bola. Messi não vai a Zurique desta vez. Pode estar irado, aliviado ou mesmo indiferente. Quem é capaz de entender o argentino?

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Iniesta, o melhor coadjuvante que um time pode querer, vai fazer falta http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/05/20/iniesta-o-melhor-coadjuvante-que-um-time-pode-querer-vai-fazer-falta/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/05/20/iniesta-o-melhor-coadjuvante-que-um-time-pode-querer-vai-fazer-falta/#respond Sun, 20 May 2018 20:38:01 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4610

Foto: Divulgação/Barcelona

34 anos, 22 no Barcelona. 32 títulos no clube, mais três pela seleção espanhola. O mais importante, da Copa do Mundo em 2010, fazendo o gol da conquista na prorrogação. Algo que já valeria respeito e reverência em toda Espanha, mesmo dos madridistas.

Mas Iniesta é muito mais que isto. Cidadão consciente. De seu tamanho e do que representa, mas também dos valores que são importantes. Foi o que se viu principalmente no campo de jogo. No clube ou na seleção, sempre foi o melhor coadjuvante que um time pode ter.

Conviveu tranquilamente com o protagonismo de Ronaldinho Gaúcho e Messi no Barça e de Xavi como símbolo maior do estilo da seleção espanhola. Nunca deu entrevistas cobrando Bola de Ouro, até quando mereceu em 2012. Total consciência de ser um facilitador.

Um gênio da simplicidade e do senso coletivo. Se o mais adequado é o passe curto, de lado, para manter o controle da bola e o time no campo de ataque sem riscos, ele não vai inventar algo diferente tentando ser mais do que o necessário.

Heroismo só quando for essencial. Como no gol sobre o Chelsea na semifinal da Liga dos Campeões 2008/09 ou no chute decisivo do Mundial da África do Sul. Ou liderando uma Espanha já iniciando a curva descendente na Eurocopa 2012. O grand finale da geração mais vitoriosa do país. Coletiva, sem uma estrela maior. E ainda tem a Copa da Rússia como uma possibilidade de cereja do bolo.

Iniesta é digno até na hora de se retirar. Ao perceber que o time precisa de mais intensidade e vigor abre espaço com humildade, sem deixar o clube na saia justa de manter mais pela história que por conta do desempenho. Sim, havia negócios para conciliar na China e agora podem surgir oportunidades também fora de campo no Japão.

Mas o camisa oito nos gestos e exemplos nunca simbolizou ganância. Pelo contrário, apenas generosidade. Como na passagem da braçadeira para Lionel Messi. Por isto vai fazer tanta falta ao futebol mundial no seu mais alto nível. Como lembrou a torcida no Camp Nou em camisas e bandeiras na vitória sobre a Real Sociedad por 1 a 0, golaço de Philippe Coutinho, jogadores e pessoas como ele são infinitos. Ou deveriam ser.

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Real Madrid se sai melhor que o Liverpool nos clássicos antes de Kiev http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/05/07/real-madrid-se-sai-melhor-que-o-liverpool-nos-classicos-antes-de-kiev/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/05/07/real-madrid-se-sai-melhor-que-o-liverpool-nos-classicos-antes-de-kiev/#respond Mon, 07 May 2018 10:12:57 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4541 Havia muito em jogo para Real Madrid e Liverpool contra Barcelona e Chelsea, respectivamente, na reta final das ligas nacionais, impedindo que os times pudessem se dedicar exclusivamente à final da Liga dos Campeões no dia 26 em Kiev.

Para os Reds era a chance de confirmar a vaga na próxima edição do principal torneio do continente. No Stamford Bridge contra um adversário direto na Premier League. Já o time merengue entraria no Camp Nou com a missão de impedir o título espanhol invicto do rival Barcelona e ainda “carimbar” a despedida de Iniesta do clássico.

Tirando tudo que foi desnecessário no duelo entre os últimos campeões espanhois e europeus, desde o Real se recusando a recepcionar em campo o adversário que confirmou a conquista na rodada anterior até as brigas, chutes e pontapés que tiraram muito da beleza de um jogo sempre especial, não é absurdo dizer que a equipe de Zinedine Zidane deu mais uma demonstração de força.

Por iniciar pressionado pela dupla Messi-Suárez mais acesa que o habitual e pelo gol do uruguaio logo aos nove minutos em saída rápida bem engendrada com assistência de Sergi Roberto. Mas responder rapidamente com jogada coletiva ainda mais bela: calcanhar de Cristiano Ronaldo para Kroos, centro do alemão para Benzema preparar e o gênio português finalizar a obra que iniciou. O 25º do vice artilheiro da competição.

Real com uma “velha novidade” de Zidane: o trio “BBC”, fazendo a variação do 4-3-3 para as duas linhas de quatro sem a bola com o recuo de Gareth Bale pela direita. Na transição ofensiva, muita movimentação dos três, enchendo mais a área adversária. Ao menos por 45 minutos, já que Cristiano Ronaldo, por precaução, teve que sair no intervalo, substituído por Asensio.

Não só porque sentiu uma entrada dura, aparentemente maldosa, de Piqué justamente no lance do gol que empatou a disputa. Também por conta da pancadaria que tomou conta do jogo, muito mal conduzido pelo árbitro Alejandro José Hernandez, que culminou na expulsão de Sergi Roberto, que ingenuamente agrediu Marcelo na frente do juiz.

Desta vez o Real pode reclamar muito das decisões da arbitragem. Principalmente pela falta clara de Suárez na disputa com Varane que terminou no golaço de Messi quanto na falta dentro da área do Barça não menos nítida de Jordi Alba em Marcelo. Podia ter mudado o clássico e complicado a vida e a invencibilidade do time da casa muito mais que o golaço de Bale, completando assistência de Asensio. Foram 17 finalizações contra 11 do time blaugrana.

Mesmo com os 2 a 2, a força mental e a cultura de vitória se fizeram presentes. O desempenho geral também foi satisfatório. Confirmando algo que já virou senso comum: é difícil superar este Real Madrid em jogo grande.

O Liverpool também costuma crescer neste tipo de confronto, mas não foi o caso do duelo em Londres. Porque o time de Jurgen Klopp, ainda que mantenha a proposta ofensiva longe do Anfield Road, não consegue reproduzir o “arrastão” num ciclo de pressão pós-perda, acelerar a circulação da bola e acionar o seu trio de ataque.

Salah, Firmino e Mané também pagam um pouco o preço do sucesso e da visibilidade. Estão mais estudados e, consequentemente, vigiados em campo. Ainda mais contra o time de Antonio Conte com sua linha de cinco defensores e mais Kanté e Bakayoko na proteção.

Deram algum trabalho ao goleiro Courtois na primeira etapa, mas nos minutos finais apelaram para os muitos cruzamentos procurando Solanke, que entrou na vaga do lateral esquerdo Robertson, e o zagueiro Van Dijk, que se transformou em um segundo centroavante. Sem ideias, sem brilho. Os torcedores podem até desdenhar, mas quando os espaços diminuem o fato é que Philippe Coutinho faz muita falta aos Reds.

Assim como a equipe se ressente de uma maior solidez defensiva, especialmente pelo alto. No centro da direita, Giroud subiu mais que Lovren para marcar o gol único do duelo, ainda no primeiro tempo. Na ausência do lesionado Oxlade-Chamberlain, Klopp deixou Henderson no banco e arriscou uma formação com Alexander-Arnold formando o meio-campo com Wijnaldum e Milner e Clyne entrando na lateral direita. Podia ter sido melhor.

Apesar dos 68% de posse, foram apenas dez finalizações dos visitantes contra 12 dos Blues, que também foram superiores em desarmes e no jogo aéreo. Resultado coerente com o que foi a partida disputada com a intensidade típica do Campeonato Inglês.

Agora é obrigatório vencer o Brighton em Anfield para chegar aos 75 pontos e garantir ao menos a quarta colocação. A menos que venha a apoteose na Ucrânia com o sexto título da Champions. Depois de onze anos sem chegar a uma decisão e treze da última conquista.

Missão que já era complicada por enfrentar o atual bicampeão e maior vencedor da história. Depois dos clássicos fica a impressão de que a tarefa ficou ainda mais difícil.

(Estatísticas: Whoscored.com)

 

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Goleada na última final de Iniesta também sinaliza Barcelona do futuro http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/04/21/goleada-na-ultima-final-de-iniesta-tambem-sinaliza-barcelona-do-futuro/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/04/21/goleada-na-ultima-final-de-iniesta-tambem-sinaliza-barcelona-do-futuro/#respond Sat, 21 Apr 2018 21:23:37 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4476 O Barcelona vencer a Copa do Rei não é nenhuma novidade, nem título a celebrar tanto assim, considerando o nível que o clube alcançou na década. Nas últimas dez edições foram seis conquistas, quatro consecutivas em um total de trinta. O maior vencedor do torneio.

Ainda na ressaca da surpreendente e até vexatória eliminação na Liga dos Campeões para a Roma, considerando as prateleiras bem separadas entre os clubes no cenário europeu, a conquista vale mais pelo simbolismo de ser a última decisão de Iniesta com a camisa blaugrana antes da mais que provável partida em direção ao futebol chinês.

Mas se os 5 a 0 sobre o Sevilla no Wanda Metropolitano, em Madri, reverenciam o passado com um dos últimos atos de seu camisa oito histórico, chegando a 31 títulos pelo clube, também sinalizam o futuro.

O primeiro gol foi simbólico. Com o adversário adiantando a marcação desde a área do Barça, o goleiro Cillessen, titular no torneio enquanto Ter Stegen joga nas outras competições, não fez a bola circular desde a defesa dentro da proposta tradicional do jogo de posição. Sem trocas de passes até o time se instalar no campo do oponente.

Lançamento direto para Philippe Coutinho, novamente pela direita, explorando os espaços às costas da defesa avançada do rival para arrancar e servir Luis Suárez. Jogada simples, objetiva e inteligente. Para que aumentar a margem de erro perto da sua própria meta se é possível chegar ao gol na mesma ação?

O resto foi consequência, com o Sevilla deixando um verdadeiro latifúndio às costas de Banega e N’Zonzi que Messi, Coutinho e Iniesta aproveitaram, cada um com um gol. Do argentino completando linda assistência de calcanhar de Jordi Alba, do brasileiro cobrando pênalti que sofreu e Messi cedeu generosamente. O mais belo do meia veterano, tabelando com Messi. Lembrando o “velho” Barça lá da Era Guardiola. Mas que precisa se adaptar aos novos tempos.

Para isso conta com Suárez, o centroavante que  dá profundidade aos ataques. Chama lançamentos e está sempre pronto para receber as “pifadas” de Messi. Intenso até a medula. Dois gols que encaminharam a goleada.

Agora a missão é confirmar o “doblete”, fazer um bom superclássico contra o Real Madrid e tentar o título espanhol invicto. Para o treinador Ernesto Valverde é a chance de deixar a impressão de uma primeira temporada positiva no clube, apesar das críticas justas ao comportamento coletivo ao longo da temporada, especialmente na noite trágica na capital italiana.

Sem Iniesta e com Coutinho, em sua primeira conquista no novo clube, resta montar um Barcelona mais parecido com o rival Real Madrid que vem sobrando na Europa: adaptável, mutante. Capaz de se impor dentro de uma disputa que privilegie a técnica ou mais física ou de velocidade. Com Messi cada vez mais passador e “ritmista” na reta final da carreira, necessitando de jogadores rápidos e fortes ao redor como contraponto.

Vale a comemoração de mais um título numa era vencedora. Especialmente pela imagem de Iniesta erguendo a taça. Mas é preciso refletir, porque a régua criada pela própria excelência não aceita apenas a supremacia no país. Para voltar a vencer a Champions a velha escola não é mais suficiente. Deve ir com o eterno camisa oito.

O primeiro gol na final da Copa do Rei é um bom indício do que o futuro reserva ao Barça.

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Coutinho pela direita, um dos problemas do Barcelona em virada dramática http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/01/29/coutinho-pela-direita-um-dos-problemas-do-barcelona-em-virada-dramatica/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/01/29/coutinho-pela-direita-um-dos-problemas-do-barcelona-em-virada-dramatica/#respond Mon, 29 Jan 2018 06:28:35 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4068 Ernesto Valverde deve ter feito duas anotações sobre o primeiro tempo da virada por 2 a 1 no Camp Nou sobre o Alavés:

A primeira e a mais definitiva: nunca mais reunir numa partida em casa quatro típicos jogadores de meio-campo como Rakitic, Paulinho, o estreante na liga espanhola Philippe Coutinho e Iniesta, sem um ponteiro mais agudo como Dembelé e utilizando laterais que não abrem o campo e pouco buscam o fundo do campo, como Semedo e Digne.

Por isso as trocas nas laterais já no intervalo: Sergi Roberto e Jordi Alba entraram e esgarçaram a marcação do adversário. O equívoco da formação inicial criou uma limitação nas ações de ataque e abriu o time no lance do gol de Guidetti. Porque ao perceber que ninguém acelerava buscando o fundo do campo, Umtiti resolveu se aventurar na frente, mas com o Barça instalado no campo do oponente. Bola perdida, contragolpe letal no passe de Ibai Goméz e finalização atrapalhada, porém feliz do camisa dez.

O Barcelona também travou pelo desentrosamento, mas principalmente pelo desconforto de Coutinho atuando pela direita. A impressão é de que Valverde não viu um jogo do brasileiro na seleção comandada por Tite. Em tese, ele é o ponta direita em um 4-1-4-1, mas sempre se sai melhor quando deixa o setor para circular às costas dos volantes adversários e seu futebol explode quando parte da esquerda para dentro buscando a finalização ou o passe.

Por isso Tite já testou Willian aberto na ponta e Coutinho por dentro, algo que deve ser pensado com carinho principalmente para a primeira fase da Copa do Mundo na Rússia contra adversários bem fechados. Ainda mais com Neymar conduzindo cada vez mais a bola e muitas vezes buscando o jogo por dentro.

Considerando que Valverde já disse algumas vezes que Messi tem liberdade para jogar onde bem entender é possível concluir que o gênio argentino, ao notar os problemas do novo companheiro para ocupar o setor, passou a circular mais pela direita, lembrando seus tempos de ponta articulador no auge do trio MSN. Tudo para consertar uma escalação bastante infeliz.

Na segunda etapa, com outros laterais e depois Paco Alcacer na vaga de Coutinho, que jogou 65 minutos como planejado, o time blaugrana pressionou e virou com gols de seus artilheiros: Suárez completando jogada fantástica de Iniesta pela esquerda e Messi cobrando falta. Bela vitória também pela boa atuação do Alavés, que teve a chance de sair para o intervalo com vantagem mais ampla.

É natural oscilar coletivamente e ficou claro que Busquets faz falta na proteção da retaguarda, mais pelo posicionamento do que pela capacidade de desarmar. Mas atacar sem abrir o campo e insistir com Coutinho pela direita provavelmente foram opções que Valverde riscou de seu caderno. Rodar o elenco é saudável se as características dos jogadores combinarem e eles estiverem bem posicionados.

Não foi o caso da noite em Barcelona que era de festa e virou drama, mas com final feliz.

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O futebol não tem culpa de ter envelhecido melhor do que nós http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/12/19/o-futebol-nao-tem-culpa-de-ter-envelhecido-melhor-do-que-nos/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/12/19/o-futebol-nao-tem-culpa-de-ter-envelhecido-melhor-do-que-nos/#respond Tue, 19 Dec 2017 10:04:37 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=3890

Sim, este texto é sobre saudosismo. Esta sensação que sempre volta a cada derrota do futebol brasileiro, ainda mais quando a superioridade de quem vence é clara e incontestável. No caso, do Real Madrid no sábado pelo Mundial de Clubes.

O saudosismo no Brasil com o esporte bretão é aquele eterno “se eu não for o dono da bola e ganhar o jogo, não quero mais brincar!” Para muitos não é a saudade daquele futebol, mas das vitórias mais frequentes. O mau perdedor que não aceita que outro leve o troféu para casa, mesmo sendo melhor. Não quer voltar a superá-lo, mas que ele seja ruim como antes para ser batido com facilidade.

Mas na grande maioria dos casos, o saudosista tem mesmo é saudade de si mesmo e da vida que levava nos “bons tempos”. Ou seja, tem saudade de ir ao estádio com o pai que não está mais entre nós, de passar a semana só pensando no jogo e não nas contas para pagar ou onde estacionar o carro. Do seu vigor físico, da liberdade de namorar quem quisesse e de sair com os amigos sem hora para voltar para casa. Do olhar encantado do menino entrando no estádio pela primeira vez e na relação com o ídolo sem a maldade do mundo.

Dificilmente a saudade é do jogo em si. Até porque ele era mais ouvido do que visto, no caso dos que veneram o futebol da considerada “era de ouro” brasileira, nos 1960 e 1970. Talvez até 1982. Os jogos transmitidos ao vivo para a mesma cidade em que eram realizados passaram a ser mais frequentes no final dos anos 1980. Antes o ouvinte era escravo da descrição do narrador e sua equipe. E como eles mentiram para nós!

Não por maldade, mas necessidade. Se a partida estivesse desinteressante, sem emoção, o consumidor trocava de estação ou desligava o aparelho para só mais tarde se informar sobre o resultado. Então tome narração acelerada com a bola ainda na intermediária, chute que passou longe tratado como perigoso entre outras fantasias para dourar a pílula e manter os ouvidos atentos.

Sem contar a invenção de craques. Qualquer um que fizesse dois ou três bons jogos já era alçado a candidato a  convocação para a seleção brasileira. Para isto também havia um contexto: tirando os ídolos “nacionais”, como Pelé, Rivelino, Zico, Sócrates ou Falcão, normalmente os jogadores concediam mais entrevistas, em tempos sem coletivas definidas por assessores de imprensa, para os veículos que conheciam, para os repórteres que estavam acostumados a conversar. Então quanto mais convocados do Rio de Janeiro, melhor para as rádios da cidade. O mesmo valia para as paulistas, mineiras, gaúchas…

Hoje, com vários jogos antigos na íntegra espalhados pela internet, só é saudosista quem quer. Ou quem realmente acha que aquele jogo lento, violento, com bolas seguidas recuadas para o goleiro quando era permitido que eles segurassem com as mãos e com verdadeiros latifúndios para conduzir a bola era atraente.

Este que escreve tem 44 anos. Já viu e viveu muita coisa. E, obviamente, já foi um saudosista por todos estes motivos citados anteriormente. Mas que assim que pôde assistir aos jogos que apenas imaginou pelo rádio e viu os melhores momentos nos programas esportivos no dia seguinte simplesmente não teve como esconder a decepção.

Felizmente o futebol evoluiu e segue evoluindo. Como tudo no mundo. Mas como tudo que evolui fica mais complexo, multifacetado. Se aprimora em todos os aspectos e muitas vezes podem anular as forças por haver tanto conhecimento e preparo envolvidos.

Ainda assim, pode acreditar: ele nunca foi tão bom tecnicamente. Porque jogar sem espaços não é fácil. Dominar e passar rapidamente requer uma enorme destreza. Nunca saberemos se os craques geniais do passado conseguiriam brilhar hoje, até porque eles também seriam diferentes, mais bem preparados se quisessem ser atletas e não apenas jogadores.

O brasileiro ficou com essa imagem romântica da seleção de 1970, dos artistas que se reuniram para ensinar como se joga. Os cinco camisas dez aprumados por Zagallo que se entenderam como mágica, porque “craque se entende no olhar”.

A realidade, porém, foi bem diferente. Depois do fiasco em 1966, sendo engolidos física, técnica e taticamente pelos europeus – duvida? tem os jogos na Grande Rede! – a constatação era de que a seleção precisava se preparar melhor e se adequar ao novo ritmo do futebol mundial. Nascia a velha máxima “se igualarmos nos outros aspectos, venceremos na técnica e na habilidade”.

O Brasil de 1970 viajou com enorme antecedência, trabalhou muito e atropelou os adversários no segundo tempo sobrando fisicamente e matando nos contragolpes. A beleza dos lances nascia dos espaços gerados pela superioridade física no calor do México. Como dizia Johan Cruyff, “com espaços qualquer um joga futebol”. Com talento então…

Criou-se a mística do Brasil invencível apenas pela técnica e habilidade, esquecendo também que já fomos vanguarda na linha de quatro na defesa, na marcação por zona, no ponteiro que volta para defender…Fomos a referência.

Não somos mais, mesmo com a reabilitação da seleção com Tite. E não é porque Guardiola aprendeu a nos imitar – outra falácia que virou verdade por ser tão repetida. Simplesmente ficamos para trás, especialmente na leitura de jogo e no senso coletivo.

Isto, porém, não tornou o jogo pior, pelo contrário. É impressionante ver o goleiro brasileiro Ederson participando da construção de jogadas do Manchester City. Os movimentos dos laterais e pontas, alternando o ataque abertos ou por dentro. Meio-campistas como Iniesta, De Bruyne e Modric furando linhas compactas com passes precisos e verticais. Atacantes como Messi, Neymar, Hazard, Mbappé destruindo defesas com uma habilidade surreal. Ou Cristiano Ronaldo e sua quase perfeição nas finalizações. Todos fazendo melhor e mais rápido o que os craques de outrora faziam.

Mas é difícil de aceitar. Eles não são da época de menino ou jovem do senhor de hoje, que sabe dos esquemas e falcatruas que sempre existiram, mas em cifras menores que as atuais. Que não se conforma por ter estudado tanto e hoje trabalhar mais do que deveria para receber uma migalha perto dos salários milionários dos superastros. Que declara ódio ao futebol moderno, mas esquece que para o seu avô o jogo que ele venerava já não era como o de antigamente.

Quem viveu o amadorismo reclamou da virada para o profissionalismo. Quem viu Zizinho não achou graça em Pelé. Os súditos do Rei criticaram a geração “perdedora” de 1982, que desdenham até hoje da conquista de 1994 e os integrantes desta geração criticam os craques atuais por usarem chuteiras coloridas, tirarem selfies e ficarem conectados em seus celulares nos vestiários.

A tese de que se não fosse o êxodo teríamos esquadrões no país e dominaríamos como no passado também é questionável. É duro, mas quem dá as cartas hoje e nos últimos dez anos são um argentino e um português. Neymar é o terceiro, ainda bem distante. A arte também está mais lá do que cá. E temos que agradecer pelo avanço na tecnologia nos permitir assistir tudo isso semanalmente. A evolução…

O tempo passou. E o futebol não tem culpa de ter envelhecido melhor que nós. Se reinventando, encontrando novas soluções para driblar novos problemas e seguir como o esporte mais apaixonante do planeta. Sem traumas, sem olhar para trás com amargura ou arrependimento. Vivendo e curtindo o hoje, que sempre é melhor que ontem. Que tenhamos maturidade para aprender com eles. O futebol e o tempo.

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Dois falsos 9, laterais pontas, show de Isco. O “caos ordenado” da Espanha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/09/02/dois-falsos-9-laterais-pontas-show-de-isco-o-caos-ordenado-da-espanha/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/09/02/dois-falsos-9-laterais-pontas-show-de-isco-o-caos-ordenado-da-espanha/#respond Sat, 02 Sep 2017 21:09:34 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=3262 A Itália de Gianpiero Ventura resolveu encarar de peito aberto a Espanha no Santiago Bernabéu. De Rossi plantado à frente da retaguarda, Verratti na armação; Candreva e Insigne pelas pontas, Belotti e Immobile na frente. Bem diferente do sistema com três zagueiros, linhas próximas, rapidez e objetividade nas transições ofensivas dos tempos de Antonio Conte que acabaram na grande vitória por 2 a 0 sobre os espanhois nas oitavas de final da Eurocopa 2016.

A Espanha de Julen Lopetegui respondeu com a radicalização da fórmula da vitória na final continental de 2012. Se há cinco anos Cesc Fábregas era o falso nove nos 4 a 0 em Kiev que deram o bicampeonato para a “Roja”, desta vez havia dois: Iniesta e David Silva, os mais veteranos do setor ofensivo, ficavam mais adiantados quando a equipe perdia a bola e se transformavam nos articuladores quando a recuperava.

A dupla era ultrapassada por Asensio e Isco, os pontas que se alternavam pelos lados e voltavam para formar a segunda linha de quatro com Busquets e Koke. Na retomada, buscavam as diagonais ou os espaços entre as linhas. Carvajal e Jordi Alba também passavam voando pelos flancos. Abrindo o campo e confundindo ainda mais a espaçada marcação da Azzurra.

O resultado foi um espetáculo de posse de bola com verticalidade, mobilidade, tabelas e triangulações efetivas. Qualidade ocupando o campo de ataque ou jogando nos contragolpes. Mesmo que o conceito de “falso nove” moderno seja do Barcelona de Pep Guardiola com Messi, ficou clara a mudança de bastão para o Real Madrid de Zinedine Zidane no modelo de jogo da seleção.

Especialmente por causa de Isco, o melhor jogador em atividade no planeta entre os “terráqueos” – ou seja, tirando Messi e Cristiano Ronaldo do debate. Impressionante a evolução técnica e tática do meia. A naturalidade com que circula às costas dos volantes adversários, sai da ponta para dentro servindo os companheiros ou finalizando. Com bola parada ou rolando. Golaços em cobrança de falta e jogada individual.

O destaque absoluto dos 3 a 0 – com Morata, que entrou na vaga de Iniesta e o time voltou a ter uma referência na frente – que encaminham a vaga direta para o Mundial na Rússia e podem sinalizar o futuro da Espanha que domina o cenário entre os clubes e tem potencial para voltar a ser protagonista entre as seleções. O “caos ordenado” atacando por todos os lados e tirando a referência da retaguarda do oponente. A Itália não faz a mínima ideia do que a atropelou.

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