jornalismo – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Como o VAR piorou (e muito!) o debate sobre futebol no Brasil http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/16/como-o-var-piorou-e-muito-o-debate-sobre-futebol-no-brasil/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/16/como-o-var-piorou-e-muito-o-debate-sobre-futebol-no-brasil/#respond Wed, 16 Oct 2019 10:11:42 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7437

Foto: Divulgação / CBF

Quando a FIFA confirmou oficialmente o árbitro de vídeo para a Copa do Mundo na Rússia em 2018 parecia ser o início de uma nova era do futebol. Menos erros, mais justiça em um esporte com clubes e seleções investindo cada vez mais em qualidade de atletas e estrutura.

No Brasil demorou um pouco mais e, depois de um impasse sobre os custos da utilização no Brasileiro do ano passado, o sistema foi finalmente implementado. A expectativa era de que os erros de um início de processo fossem diminuindo com o tempo e chegássemos a uma solução rápida e eficiente para minimizar equívocos.

Para este que escreve, também a esperança de que o debate sobre futebol no Brasil ganhasse qualidade, sem a “bengala” da arbitragem para ocupar uma hora e meia de programas de 120 minutos. Com lances repetidos à exaustão e comentaristas, inclusive os ex-árbitros, gastando tempo demais para fugir de um aspecto tão temido por tantos colegas: o jogo em si.

Mas, como diz o “poeta”, o sistema… Não é fácil! O VAR no Brasil se tornou um engodo em todos os sentidos. Mexeu na dinâmica do jogo e tirou a emoção do clímax do esporte: o gol. Porque agora todo lance é observado com uma lupa que é inviável em um esporte de contato e com tanta margem para interpretação.

Sem contar as “orientações” da FIFA para a arbitragem que, por exemplo, praticamente acabaram com os critérios para a marcação de um pênalti. Agora é pela cabeça do apitador se houve “movimento natural”, ampliação do “volume” do corpo e outros aspectos subjetivos que muitas vezes tratam o defensor como se ele fosse obrigado a arrancar seus braços ao entrar na própria área.

E o pior em todo processo: a transferência de responsabilidade. O auxiliar marca o impedimento já pedindo ao primeiro jogador a reclamar que espere pela confirmação do vídeo. O árbitro, que deveria ser a autoridade máxima, já coloca a mão no ouvido aguardando alguma observação. A equipe do VAR começa então a virar as imagens do avesso, indo e voltando em câmera lenta. Difícil não encontrar alguma coisa.

E quando acha precisa buscar o consenso. Ou convencer o juiz a olhar o monitor. Na tela, de novo as repetições para mudar a visão de quem decide. Até a definição que já foi mais que contaminada por tantos agentes, inclusive a pressão de jogadores, treinadores, dirigentes, torcida…

Agora há mais um elemento: o áudio da equipe do VAR! Vozes não identificadas em conversas que podem ser recortadas fora do contexto para “provar” qualquer coisa. Com mais gente envolvida, mais “suspeitos”. E uma arbitragem apenas ruim, até provem o contrário, se torna parte de uma grande teoria da conspiração. Em tempos de redes sociais então…

O resultado prático é que um recurso que vem sendo bem utilizado em outros países, mesmo sem zerar os erros, aqui se tornou um tormento. E o mais triste: jogou o debate sobre futebol em um esgoto nunca antes visto. Porque agora há muito mais a se discutir sobre arbitragem do que o erro ou acerto do juiz ou do assistente. Linhas azul e vermelha, tracejadas, para analisar impedimentos. O tempo de demora para confirmação. Qual contato foi considerado  na marcação de um pênalti. Agora os áudios…

E o jogo? Ora, o jogo! Imagine passar duas horas em um programa sobre futebol falando sobre…futebol! É chato,né? Exige primeiro que se veja o jogo, na íntegra. Depois o conhecimento dos modelos, dos movimentos coletivos das equipes, de detalhes táticos e estratégicos. Dá muito trabalho! Melhor falar de arbitragem e agora adicionar à receita pronta a crítica à existência do VAR. Se hoje decidissem abolir o uso do vídeo alguns colegas precisariam tirar férias…

Agora além da polêmica pela polêmica, do debate raso, da exaltação ao melhor time de todos os tempos da última semana, das comparações descabidas entre passado e presente e, claro, da arbitragem no campo…o VAR e seus muitos problemas de aplicação no Brasil. Fica a pergunta: será que existe a vontade de resolver os problemas e melhorar o uso de uma ferramenta tão valiosa?

Ou é mais cômodo para todas as partes que siga como está? No campo e na cabine, os árbitros ainda mais estrelas do espetáculo. Dirigentes, treinadores e atletas já sabem para onde desviar o foco nas derrotas – ou mesmo nas vitórias, o que é ainda mais absurdo! E muitos comentaristas, jornalistas ou não, seguem priorizando o periférico, mantendo os clichês e falando ainda mais sobre o que deveria ser a intervenção mais discreta e desimportante em uma partida.

Este blog, salvo raras exceções quando muito necessário, seguirá dando espaço ao futebol. Porque ninguém aprende a gostar do esporte por causa de arbitragem. O jogo segue fascinante, se transformando o tempo todo. Evoluindo! Só não vê quem não quer. Ou não sabe. Ou não convém.

]]>
0
Flamengo é o “hype” da vez no Brasil. Por que precisamos de tanta gritaria? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/10/flamengo-e-o-hype-da-vez-no-brasil-por-que-precisamos-de-tanta-gritaria/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/10/flamengo-e-o-hype-da-vez-no-brasil-por-que-precisamos-de-tanta-gritaria/#respond Tue, 10 Sep 2019 11:58:54 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7220

Foto: Alexandre Durão / Gazeta Press

Quando venceu o Santos por 4 a 0 no Pacaembu, o Palmeiras foi considerado bicampeão brasileiro por algumas vozes da imprensa. Na quinta rodada! Depois da nona, com a pausa para a Copa América e o time alviverde tranquilo na liderança, Luiz Felipe Scolari em uma coletiva comparou o estilo de sua equipe com a do Liverpool de Jurgen Klopp, que acabara de vencer a Liga dos Campeões.

Pronto! Era tudo que os programas esportivos precisavam. Campeão brasileiro de 2018 e líder da atual edição x campeão europeu. E obviamente que sempre surgem aqui e ali aquelas “opiniões” muito comuns: “time brasileiro” é muito melhor!”, “quero ver o europeu ganhar aqui!”, “esse (nome do craque do time estrangeiro) não é isso tudo!” Hoje os Reds lideram o início da Premier League e Felipão nem está mais no Palmeiras…

Sem contar as comparações individuais, o tal “raio-x” dos times. Como se isso contasse no duelo coletivo entre as equipes. Reflete muito bem a maneira com que o brasileiro na média ainda enxerga futebol. Não bastam os fracassos dos vários “galácticos”. A melhor ainda é aquela que conta com os melhores no papel.

Mas nada impede que se force a barra com as tradicionais “patriotadas”. Como nas decisões de Mundial de Clubes envolvendo Barcelona x Santos em 2011 e Real Madrid x Grêmio há dois anos. Para inflamar as torcidas daqui, que são o “público-alvo”, as comparações ficam equilibradas, com “vitórias” curiosas, como a de Edu Dracena sobre Piqué ou Luan sobre Modric.

Agora é o Flamengo. Líder do Brasileiro, semifinalista da Libertadores depois de 35 anos. Vivendo, de fato, um momento importante conciliando desempenho e resultado. Mas dentro de uma amostragem de jogos ainda pequena: a rigor, as vitórias sobre Grêmio, Vasco, Ceará, Palmeiras e Avaí pela competição por pontos corridos e as partidas eliminatórias contra o Internacional pelo torneio sul-americano. Sete jogos!

Mas no mundo em que somos bombardeados por informação de todos os lados e nunca fomos tão dispersos é preciso algo bombástico para nos fazer parar para ver, escutar ou ler. Então tome de novo o “já é campeão brasileiro!”, “vai ganhar tudo!”, “é o melhor time brasileiro desde o Corinthians 2015”. Ou Cruzeiro de 2003. Ou mesmo já comparando com o time de Zico que ganhou os principais títulos da história do clube carioca nos anos 1980.

Calma! O Brasileiro vai chegando ao final do turno.  São dois pontos de vantagem sobre o Santos de Sampaoli, que também teve seu momento de protagonismo quando foi líder. Ambos se enfrentam no Maracanã na próxima rodada. A décima nona de trinta e oito. Então já inventam uma “decisão”, como se terminar a primeira etapa simbólica na ponta da tabela garantisse alguma coisa.

Sem contar a ansiedade pelo duelo entre Grêmio e Flamengo pela semifinal da Libertadores. Os jogos serão só em outubro e ninguém faz a mínima ideia de como estará o desempenho dos times até lá. Mas é preciso fazer alarde! “Jogo do ano!”, ” a celebração do futebol na América do Sul!” Como se Boca x River não fosse realmente o grande confronto, simplesmente por ser a maior rivalidade do continente, uma das maiores do mundo, aditivada pela final do ano passado que teve que ser disputada no Santiago Bernabéu.

E até parece que ninguém sabe que jogos desse tamanho são mais mentais que técnicos ou táticos. Normalmente a tensão reduz o nível técnico e a máxima “decisão não é para ser jogada, mas vencida” acaba imperando. Difícil esperar grandes espetáculos, mesmo com a vocação ofensiva das equipes de Renato Gaúcho e Jorge Jesus.

O treinador português do Flamengo contribuiu para o clima de empolgação ao dizer que seu time disputaria o G-6 na Premier League. Opinião dele, talvez um pouco exagerada pela vontade que ele tem demonstrado de agradar a sempre otimista torcida rubro-negra. Mas, reforçando: são pouco mais de dois meses de trabalho e sete jogos de bom nível depois de eliminação na Copa do Brasil e da última derrota, um acachapante 3 a 0 para o Bahia na Fonte Nova.

Mas precisamos da bomba, do “melhor time de todos os tempos da última semana”. Das análises definitivas. Voltando ao tema abordado aqui no texto sobre Rafael Oliveira, Jurgen Klopp e o jornalismo, as bravatas e as opiniões absurdas acabam se destacando no meio do oceano das redes sociais.

Como Carlos Alberto afirmando no Fox Sports que o Real Madrid não venceria a Série B brasileira. Viralizou, enquanto uma opinião mais discreta e embasada passa batida. Ou só é reconhecida mais tarde, como a de Paulo Calçade na ESPN Brasil em 2016 que foi resgatada e circulou nas redes sociais, sobre a recuperação financeira do Flamengo. Prevendo que os direitos de transmissão seriam rediscutidos por clubes endividados quando o passivo do time de maior torcida do país estivesse equacionado e sobrasse dinheiro para gastar e formar um time forte.

Forte, mas não dominante. A rigor, a última conquista relevante foi em 2013, uma Copa do Brasil. Mas a sociedade do espetáculo midiático e das redes sociais tem pressa. Ansiedade no nível máximo. Observar com paciência e acompanhar o processo para uma análise mais embasada? Nunca! Tem que bravatear hoje. Porque acertando ou errando garante a audiência e a repercussão. E dane-se a credibilidade!

O Flamengo é o “hype” da vez. Até dezembro, pelos próximos anos ou até sábado? Escolha a sua “opinião” preferida. Mas eu sei que você vai mesmo é marcar e “dar print” naquela que incomodou. Talvez este post seja o alvo. Porque é assim que funciona.

]]>
0
Klopp, Rafael Oliveira e a influência do público no jornalismo de futebol http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/08/15/klopp-rafael-oliveira-e-a-influencia-do-publico-no-jornalismo-de-futebol/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/08/15/klopp-rafael-oliveira-e-a-influencia-do-publico-no-jornalismo-de-futebol/#respond Thu, 15 Aug 2019 12:40:14 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7044 “A ESPN vive um processo de transformação e adaptação para atender aos fãs, acionistas e clientes de esportes em meio às constantes mudanças no consumo de conteúdo”.

Esta é a parte que chama mais atenção da nota oficial emitida pela ESPN Brasil para justificar a demissão ou não renovação de contrato de João Palomino, Juca Kfouri, João Carlos “Canalha”, Arnaldo Ribeiro, Eduardo Tironi, Cláudio Arreguy, Maurício Barros, Renata Netto, Stela Spironelli, Guilherme Graziano e Rafael Oliveira.

Mas foi justamente o nome deste último que gerou mais repercussão. O mais jovem e talvez hierarquicamente o profissional de menor poder decisório de todos os dispensados. Mas um comentarista que se destaca pelo enorme conhecimento de futebol nacional e internacional.

Este blogueiro conheceu o Rafael em 2007, no início do Esporte Interativo, ainda como um canal de transmissão restrita aos clientes com antena parabólica comum. Ele era produtor estagiário, com 18 anos, mas já mostrava um enorme conhecimento. Seu material de pesquisa para os jogos era superior aos dos comentaristas. Não demorou para a chefia notar que ele era melhor que todos nós e colocá-lo para comentar jogos. Não tenho a mínima vergonha de dizer que o Rafael ficou com a minha vaga.

Porque ele é simplesmente o melhor para comentar sobre o futebol na sua essência, o jogo. Respira o esporte mais que qualquer um de nós, a ponto de acompanhar e analisar com profundidade os campeonatos mais alternativos.  Por isso a gritaria nas redes e o seu nome em primeiro lugar nos assuntos mais comentados no Twitter.

Mas a nota da ESPN deixa a mensagem subliminar de que este perfil não se adequa mais ao que o grosso da audiência deseja. E a saída dos outros profissionais indica que acionistas mandaram às favas a linha editorial que sempre marcou a emissora, mas já vinha se transformando.

Com a popularização da TV por assinatura e internet por banda larga, além das entradas do Fox Sports e Esporte Interativo, o perfil do consumidor de conteúdo sobre esportes, particularmente o futebol, mudou. Antes era Sportv com o futebol nacional e alguns campeonatos europeus periféricos e a ESPN Brasil com as principais competições internacionais.

A fragmentação distribuiu os direitos de transmissão e abriu espaços nas grades para os programas de debate. E surpreendentemente a fórmula da TV aberta, tosca e popularesca na maioria das vezes, encontrou um público na fechada e passou a liderar a audiência.

Velhas práticas, como polêmicas bairristas, gritaria e a “indústria da treta” – as brigas entre os participantes, normalmente combinadas antes ou criadas na hora – atraíram a atenção do público e viraram a lógica do avesso. Explica a mutação gradativa das então duas emissoras dominantes e agora temos a ESPN consolidando uma guinada antes improvável.

A outra parte da nota do canal diz: “A reformulação faz parte do planejamento da emissora para o próximo ano que seguirá apostando no conteúdo ao vivo e nos direitos esportivos de futebol, tais como Premier League e La Liga, além das ligas norte-americanas como a NFL, NBA, MLB, NHL entre outras.”

Curioso pensar que apostando em transmissões como os campeonatos inglês e espanhol a ESPN dispense um comentarista como o Rafael Oliveira, que domina como poucos (ou ninguém) as duas ligas. A impressão é mesmo que o investimento agora será no caminho mais fácil: polêmicas e análises simplistas.

Até porque a nova executiva que substitui Palomino, Adriana Naves, vem do Fox Sports. Justamente a emissora que resgatou esse formato mais “popular”. Considerando que o Fox Sports no Brasil será vendido pela própria Disney com “porteira fechada”, incluindo os campeonatos que transmite, o crescimento do DAZN no serviço de streaming e ainda o investimento da Turner no esporte essa estratégia de contratar mais eventos ao vivo não parece muito promissora. A tendência é fragmentar ainda mais.

Faz sentido se notarmos o que repercute em todos esses muitos debates sobre futebol nas emissoras. É bem provável que boa parte dos que lamentaram a saída do Rafael ontem não assistisse com frequência as atrações das quais o comentarista participava. Muito menos faziam eco nas redes sociais de suas análises embasadas.

Já a polêmica barata, a bobagem contundente e o apelo clubista e bairrista costumam “quebrar a internet”. Mesmo que gerem ofensas e até ameaças nos casos mais graves, entregam audiência e o tal do engajamento. Atraem patrocinadores que pagam as contas e agradam os acionistas. Ou seja, o “chorume” no rigor dos números vale mais que o conteúdo.

Essa lógica perversa é responsabilidade também do público. Sim, do cliente que nem sempre tem razão. Se quem é fã do Rafael ouve o que ele diz e guarda admiração para si, mas repercute o lixo de outros está apenas mantendo esse status quo que critica. As redes sociais deram voz e poder de participação aos espectadores que precisam refletir sobre o seu papel na construção da mídia e, consequentemente, do nosso futebol que é praticamente o tema único no jornalismo esportivo.

Este conflito não é recente, nem restrito ao Brasil. Vale destacar alguns pequenos trechos do livro “Klopp”, de Raphael Honigstein, traduzido pela editora Grande Área, muito bem resgatados pelo colega Gabriel Dudziak no Twitter sobre a realidade do futebol alemão há alguns anos e que gerou por lá reflexões e também mudanças:

“… e mais ainda na maneira como se discutia e se pensava futebol na Alemanha. Vencedores ganhavam porque tinham mais desejo de vitória e perdedores fracassavam… porque é isso que perdedores fazem não é mesmo?”(…) a simplificação deliberada de sua apresentação (do futebol) cobrou um preço muito alto: […] era o futebol ‘desfutebolizado’, despreocupado com a forma e voltado apenas para o sucesso. Essa desavergonhada falta de qualquer tentativa de análise séria contribuiu para que os clubes e a seleção nacional ficassem completamente para trás ao longo das décadas seguintes. Não havia nem vocabulário nem estrutura técnica para introspecções.”

Caminhamos para a não-reflexão. Ainda que se entenda que o espectador tem o direito de simplesmente sentar no sofá e buscar um entretenimento para acompanhar a refeição ou o descanso depois de um dia exaustivo de trabalho não pode ser apenas isso. É possível fazer algo plural, com diversão, mas também informação e análise que não encerre a discussão no “ganhou porque o grupo está fechado com o treinador” ou “perdeu porque faltou raça”. Ou explicações mais estapafúrdias. Ou brigas fabricadas.

Jurgen Klopp é um belo exemplo de conteúdo e diversão. Revoluciona o esporte com novos conceitos, mas é capaz de fazer piada com o goleiro Adrián – substituto do brasileiro Alisson e herói da vitória nos pênaltis sobre o Chelsea por 5 a 4, depois do empate por 2 a 2 em Istambul pela Supercopa da Europa. O treinador alemão arrancou gargalhadas até do entrevistador ao imitar Rocky Balboa gritando por sua mulher Adrian em uma cena clássica da série de filmes do personagem de Silvester Stallone. É possível combinar seriedade, profundidade e a leveza do humor.

Respostas complexas ajudam a mudar o jogo. E nosso futebol precisa evoluir dentro e fora de campo. A imprensa tem papel importante, mas o público também. Para que o Rafael Oliveira não vire o assunto mais comentado apenas quando o patrão fizer a loucura de dispensar sua competência.

]]>
0
Arbitragem e seus erros são a “muleta” que ninguém quer largar http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/11/06/arbitragem-e-seus-erros-sao-a-muleta-que-ninguem-quer-largar/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/11/06/arbitragem-e-seus-erros-sao-a-muleta-que-ninguem-quer-largar/#respond Mon, 06 Nov 2017 19:15:44 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=3650 Quem vence não reclama, por motivos óbvios. Mesmo sabendo que mais à frente pode vir a chorar. No caso dos times mais poderosos, como acontece em todo mundo, há a certeza de que, na dúvida, ninguém vai querer ficar na alça de mira de quem pode colocá-lo na geladeira. É humano.

Quem perde tem o álibi perfeito para desviar o foco das próprias deficiências. E a torcida aceita, ou deixa para cobrar mais à frente, e faz coro. Principalmente na derrota para o rival. Admitir a inferioridade na partida e o mérito “deles” é duro. Quem tem um time de coração sabe bem. O “choro” é um porto seguro, quentinho. E quanto mais reclama, maior a chance de ser beneficiado na próxima partida.

O grosso da mídia tem o assunto preferido, porque não precisa analisar o jogo – as virtudes e defeitos das equipes, o que cada uma fez em tática e estratégia para tentar vencer. Concentra tudo na arbitragem, na repercussão e na polêmica. Sempre gera mais audiência.

Para os teóricos da conspiração também é um prato cheio, transbordando. Sempre há um esquema, uma mala branca ou preta. Uma ficção. Ou realidade, porque às vezes temos mesmo manipulação de resultados. A história mostra.

Para o próprio árbitro não deixa de ser uma chance de ganhar visibilidade. Ou alguém nota e comenta o trabalho sem erros e discreto do mediador e sua equipe? Nunca duvidemos da nossa vaidade inconfessável…

Por isso há resistência de tantos quanto ao uso do vídeo para sanar dúvidas e tomar a melhor decisão. “Tira a graça do futebol, acaba com o molho, a discussão no bar”. Como se isso fosse mais importante que premiar quem investiu, trabalhou corretamente e pode ficar sem tudo que proporciona uma conquista pela falha de um homem e todas as suas limitações. Decisões que podem mudar a história do esporte, até de um país.

Árbitro que nem profissional é. Outro tema empurrado com a barriga por todas as partes envolvidas. Porque, no fundo, não interessa. É preciso ter a lacuna que os outros esportes tentam minimizar. O erro, tão importante e confortável neste cenário caótico. Seja para o “chora mais” como para o “fui roubado”. A “muleta” que ninguém quer largar.

Tudo muito conveniente. E medíocre, infelizmente.

]]>
0
Eu sei por que você me odeia http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/06/28/eu-sei-por-que-voce-me-odeia/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/06/28/eu-sei-por-que-voce-me-odeia/#respond Wed, 28 Jun 2017 09:32:29 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=2875 O primeiro contato deste blogueiro com críticas a ídolos não veio do futebol. Até porque nos anos 1980 os veículos eram, digamos, “festeiros” demais para sequer fazer ressalvas a quem quer que fosse. Ainda mais a idolatrada, por vezes mimada, geração de 1982.

Foi na música mesmo, com a explosão do Rock Brasil. Era duro ler ou ouvir alguém detonando a banda ou o artista favorito. Dado Villa-Lobos, guitarrista da Legião Urbana, conta em seu livro “Memórias de um Legionário” que o jornalista José Augusto Lemos disse a ele que, por causa de uma crítica negativa ao disco “Dois”, lançado em 1986, ele recebeu 30 cartas iguais de um fã indignado. Uma por dia.

Outros tempos. Hoje, com quase todo mundo relativamente acessível nas redes sociais, fica mais fácil extravasar. E confesso que, naquela época, lá pelos 13, 14 anos, se pudesse mandar mensagens para os críticos da revista Bizz, especialmente o André Forastieri, eu seria insuportável e levaria um block implacável.

Ou seja, os haters só são um fenômeno atual pelos meios, não pelos indivíduos. Em qualquer segmento. Na música, na TV, no futebol. Em relação aos jornalistas, não é difícil entender essa aversão.

Porque nos enfiamos no meio dessa relação ídolo-fã, time do coração-torcedor. Que é lúdica por natureza. Uma válvula de escape para as agruras do dia após dia. Na qual tudo pode ser perfeito, nem que seja por uma noite. Um jogo. Um espetáculo. Um capítulo.

E o pior: entramos nessa “intimidade” querendo trazer racionalidade. O “não é bem assim” naquela vitória que fez o fanático ir às nuvens e querer ficar por lá. E nós puxando a perna do sujeito, trazendo à realidade de que no próximo jogo pode ser tudo diferente.

Pior ainda quando relativizamos o triunfo com erros de arbitragem. Ou informamos aqueles problemas na gestão do clube. “Não, está tudo perfeito!” Tem que estar tudo perfeito. Ora, quem pode contestar o dirigente que, mesmo sem dinheiro nos cofres e duplicando a dívida, trouxe aquele craque que me faz tão feliz?

É nossa função. Claro, com as exceções que confirmam a regra. Os mal intencionados, com desvio de caráter mesmo. Ou os que não conseguem disfarçar a torcida – a favor do seu e contra os rivais. Ou aqueles que declaram as cores que amam e, no vício do ofício de trazer o discurso para o equilíbrio, passam a ser mais críticos do que com o resto. Estes também viram alvos.

A “vingança” mais comum é tentar nos excluir: “Nunca jogou bola e quer opinar!” Isso vale para o clube que se ama e o jogador que se idolatra e normalmente existe o sonho de ser igual. Até imitando na pelada. Como alguém ousa dizer que ele não é o maior de todos os tempos (da última semana)?

Sabemos, ou devemos saber, da nossa insignificância dentro do espetáculo. Jogadores e torcida são os protagonistas. Hoje, treinadores e dirigentes entraram nesse bolo – para este que escreve, um equívoco. Nós estamos de fora, sim. Mas temos o direito de informar, opinar e ajudar a construir a visão do espectador. E às vezes interferimos no jogo.

Seja para o craque criticado que se motivou e arrebentou no jogo para “calar a bola de quem falou besteira”, seja naquela observação que incomoda e gera protestos públicos, mas também a reflexão e até a mudança de atitude no silêncio do orgulho. Algo que jornalista não pode ter para também mudar de opinião. Ainda que seja depois chamado de “incoerente” ou “picolé de chuchu” por não seguir com a convicção que já tinha se transformado em teimosia.

Na essência somos desimportantes. Mas lembre-se: quando terminou o doído 7 a 1, muitos deixaram a TV ligada ou correram para a internet para que ajudassem a explicar o que havia acontecido. Quando a tragédia da Chapecoense abalou os corações foi o jornalismo que trouxe tanto a informação que todos preferiam que não existisse quanto o conforto e o abraço da Dona Ilaídes, mãe do goleiro Danilo. Em um repórter.

O mundo ainda segue a fábula do rei que ao receber uma má notícia manda matar o mensageiro. Compreensível. É preciso descontar em alguém. E o bom jornalismo incomoda quem quer manter o status quo que o privilegia. Acredite: sem imprensa, seria bem pior do que é. Por pior que ela seja ou que você ache. A história mostra.

Eu sei por que você me odeia. Até entendo. Mas tenha certeza de que não é minha intenção. Só o meu trabalho.

]]>
0
Sectarismo: a razão do fetiche de descobrir o time de coração do jornalista http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/05/20/sectarismo-a-razao-do-fetiche-de-descobrir-o-time-de-coracao-do-jornalista/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/05/20/sectarismo-a-razao-do-fetiche-de-descobrir-o-time-de-coracao-do-jornalista/#respond Sat, 20 May 2017 16:19:43 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=2707

O torcedor que participa de fóruns, sites e grupos de WhatsApp dedicados ao seu time de coração já deve ter se deparado com a seguinte situação: uma crítica que é consenso nas discussões internas nunca é bem aceita quando sai da boca de um rival.

É como alguém de fora da família comentar o comportamento ou algum desvio de um pai ou irmão. É verdade, mas deve sempre ter tratada como “roupa suja se lava em casa”.

Esse fetiche de descobrir o time de coração do jornalista sempre me intrigou. Afinal, o que isso influenciaria no seu trabalho? Até porque, se a paixão não diluir ao longo do tempo, o mais comum é adotar um tom mais crítico com este mesmo time. Não para buscar isenção, mas por se importar mais com ele.

Particularmente, sempre preferi o futebol ao time de coração. Como já contei neste blog, cheguei ao ponto de assistir a um clássico no lado do rival no Maracanã e efetivamente torci para o melhor time à época, que me encantava.

A seleção brasileira também fica acima, até hoje. Legado do escrete de 1982 e todo seu simbolismo. A escolha do time, confesso, foi mais para contrariar a família portuguesa e também por ser o time mais vencedor naquele momento. Ou seja, optei pelo Flamengo de Zico, aos oito anos de idade.

Mas acreditem: com o tempo, o jornalista tende a torcer mais por suas convicções se concretizarem em resultados do que pela paixão de infância. Várias vezes, mesmo no estádio, preferi a vitória do adversário do rubro-negro por ser mais alinhado ao que acredito ser o melhor para o futebol.

O analista se preocupa com outras questões, como o legado de uma maneira de jogar, a visão de futebol de um treinador vitorioso e que pode entrar na linha de sucessão na seleção brasileira – no meu caso, essa paixão se transformou menos, apesar da CBF.

Mas para o torcedor a relação é direta: só quem torce para o clube pode opinar. Mesmo os mais críticos contam com uma paciência diferente. Se ele está apontando o erro é porque quer o melhor do time. Mas se torce para o rival só há uma explicação: quer plantar crise, prejudicar. Ainda que a observação seja ponderada, respeitosa…e exatamente a mesma que ecoa nos grupos dedicados ao clube.

Há as exceções, normalmente dos colegas que preferem, até pelo traço da personalidade, buscar um consenso, fugir da contundência e sempre procurar os aspectos positivos em todos os times. São os “caras legais”. Ainda mais se eles entram naquele grupo de torcedores mais críticos com o próprio time de coração. Aí é mais fácil ser perseguido pelos “irmãos” de cores e credos. Mas, como disse, de maneira diferente, mais branda. É “um de nós”.

Em qualquer cenário, porém, o que prevalece é o sectarismo. É transformar o time em seita, religião. Algo comum nos perfis criados em redes sociais. O indivíduo não tem rosto, nem nome. Tudo é relacionado ao clube, desde a foto até a descrição. Ali impera a intolerância e a intransigência.

Qualquer coisa que não é elogio vira perseguição de um rival. E, portanto, merece ser massacrado. Virtualmente e se cruzar na rua…Então comentaristas viram inimigos. O torcedor chega ao ponto de seguir apenas para patrulhar, quando ignorar seria o mais saudável para as duas partes. É até o mais lógico: se o que o jornalista diz não tem credibilidade, para que acompanhá-lo?

A resposta está na necessidade de ter um alvo para gritar “chupa!” quando seu time vence. Aquele inimigo imaginário que alguns treinadores criam quando ele não existe para motivar seus atletas. Reparem: quase toda conquista no Brasil é celebrada “para calar a boca”. De alguém que simplesmente é pago para expressar sua opinião e ajudar a formar a do público.

O jornalista que paga contas, às vezes tem que lidar com uma escala apertada que o enfia no estúdio e numa redação durante um dia inteiro. Que precisa conciliar isso com a família, amigos, estudo…E o torcedor tem certeza absoluta que ele passa o dia arquitetando um jeito de prejudicar o rival.

Não faz sentido. Mas na prática a derrota do rival é tão ou mais deliciosa que a conquista do próprio time. É preciso ter uma referência para transmitir, por oposição, valor ao que se ama. Sempre me intrigou em estádio, nos tempos de clássicos com duas torcidas, o torcedor que em vez de celebrar o gol do seu time e abraçar quem está do lado prefere se virar para o lado rival e xingar, apontar o dedo médio, etc.

É assim, não vai mudar. Ao menos por enquanto. Difícil entender. Mas me ajudou a compreender essa fissura pelos times dos jornalistas. É o sectarismo que precisa do “outro lado”. É estúpido, mas é humano. Mais uma prova de que nossa sociedade é doente. Resta sobreviver e manter respirando a paixão que iniciou todo o processo: o futebol.

]]>
0
O melhor que você, torcedor consciente, pode fazer pelo seu time de coração http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/03/17/o-melhor-que-voce-torcedor-consciente-pode-fazer-pelo-seu-time-de-coracao/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/03/17/o-melhor-que-voce-torcedor-consciente-pode-fazer-pelo-seu-time-de-coracao/#respond Fri, 17 Mar 2017 16:36:17 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=2418 Este texto não é para quem se relaciona com seu clube apenas no momento de alta, fica sabendo do resultado pela internet e só quer espalhar memes nas redes sociais e zoar o vizinho ou o colega de trabalho no dia seguinte, mas mal sabe a escalação.

É para você que consome futebol, ainda que priorize o time de coração. Que paga TV por assinatura, pay-per-view, é sócio-torcedor, interage nas redes sociais e tenta participar da vida do clube, mesmo que à distância.

No ano da graça de 2017, o melhor que o torcedor pode fazer por sua paixão é mais do que alimentar os cofres do clube.

Durante anos, décadas, você foi ensinado que o torcedor de verdade é aquele apaixonado, irracional, de amor incondicional. Que sofre, berra, pede a saida do técnico “burro” e, se preciso, patrulha até o que o craque do seu time faz na folga. Também foi passado ao fanático um “manual” de explicações para a boa e a má fase do seu time.

Do “time sem vergonha” ao “time de guerreiros”. Do “técnico retranqueiro” ao “paizão da família”. Do “apagão” à “torcida que carregou nas costas”. Do “grupo na mão do treinador” aos “vagabundos que quebram na noite”.

Nada lhe ensinaram sobre tática e estratégia. Ou apenas o superficial, como “time que não tem craques só ganha na tática”, mas nunca explicaram muito bem o que seria isso. Porque sabem que é mais fácil capturar pelo emocional. Convencer que se você gritar o time vai correr e vencer. Mas se perde em casa com estádio lotado explicam que a equipe “sentiu o peso do jogo” ou “caiu no oba oba da torcida”.

Por isso, se você quer cobrar de dirigente, treinador ou atleta é preciso algo fundamental em qualquer área da vida: conhecimento.

Para não cair na fácil tentação, por exemplo, de exigir uma goleada do Palmeiras sobre o Jorge Wilstermann no Allianz Parque. Porque sim. Porque o Palmeiras gastou muito e é obrigado a atropelar o pobre boliviano na Libertadores.

Sem compreender que o time de Eduardo Baptista passa por uma transição de modelo de jogo e que se acostumou com Cuca a definir rapidamente a jogada. E contra uma linha de cinco bem treinada, o que não necessita de grandes craques ou um técnico de ponta da Europa, é preciso rodar a bola, trabalhar as jogadas.

Inclusive recuar para o goleiro com o intuito de abrir espaços, tirar um pouco o 5-4-1 do oponente do próprio campo. Mas te ensinaram a vaiar essa prática porque “é anti-jogo”, “coisa de time pequeno que não quer jogar”. Então que fique tentando a esmo, despejando bolas na área até conseguir com o gol de Mina nos acréscimos. Esmurrando a ponta da faca “porque sofrido é mais gostoso”. Será?

Vivemos outros tempos, felizmente. Antes os bolivianos chegavam aqui ingênuos, sem informação de nada. Para perder de pouco. Agora na internet você acha todos os movimentos que uma linha de cinco atrás precisa fazer para fechar os espaços. É óbvio que o técnico Roberto Mosquera conhecia as virtudes e defeitos de Dudu, Borja, Felipe Melo, Guerra, Mina, Tchê Tchê…

Assim como Zé Ricardo sabia que o Flamengo precisava da velocidade e da boa leitura defensiva de Marcio Araújo para limitar os movimentos de Diego Buonanotte, o meia argentino que faz a Universidad Católica jogar.

Escalou três volantes de ofício, sim. Mas só o contestado camisa oito à frente da defesa, com Romulo quase na linha de Diego e Willian Arão mais aberto pela direita. A velha confusão entre posição e função. Foi “covarde”, “jogou com medo”? Como, se finalizou 15 vezes contra 11 dos donos da casa.

O problema foi a eficiência nas finalizações. Paolo Guerrero, centroavante e artilheiro rubro-negro na temporada, teve seis chances. Três dentro da área. Nenhuma nas redes em um jogo parelho de Libertadores fora de casa.

Santiago “El Tanque” Silva teve duas. Uma na bola mal recuada por Rafael Vaz que parou em Muralha. Na segunda, aproveitou um erro de marcação coletiva – Pará não podia estar com o centroavante bem mais alto – e definiu o jogo.

Berrío, tão aclamado pelo torcedor pela velocidade de “The Flash”, entrou para deixar a equipe, em tese, mais ofensiva antes mesmo do gol sofrido. Errou tudo que tentou e ainda foi expulso por uma bobagem. Será que a culpa foi mesmo do técnico Zé Ricardo?

Para criticar é preciso conhecer, entender. O ex-jogador e colunista Tostão costuma dizer que o futebol é tão caótico e imprevisível que você pode falar a maior bobagem do mundo e ela acontecer no campo. Sem dúvida. E por isso estamos aqui refletindo sobre o esporte mais arrebatador desde sempre.

Não há dono da verdade neste jogo, mas há tendências. E a análise mais coerente dos fatos. O que é bem diferente de opinião. Não é tão simples dizer que jogou bem ou mal sem o mínimo de base. E o resultado não pode definir a questão e ser o norte da análise, que por aqui quase sempre é feita de trás para frente. Perdeu? Quem é o culpado, por que errou? Se venceu vão achar o heroi, as explicações para a boa fase. Mesmo que tenha conquistado os três pontos jogando muito mal.

Quer ver sua visão respeitada? Tente observar e entender melhor o que acontece em campo. Porque é ele que norteia todo o resto. Bastidores, gestão financeira, política. Tudo. Para reclamar é preciso saber.

Outro dia este blogueiro entrou num Uber e foi reconhecido pelo motorista. Vascaíno, logo começou a reclamar do trabalho de Cristóvão Borges. Mas chamando o treinador de “muito retranqueiro”. Como havia escrito sobre no dia anterior, expliquei que o problema era exatamente o contrário: o time se adianta, não pressiona quem está com a bola e deixa a retaguarda totalmente exposta. Lembrei um ou dois lances do empate com o Macaé no Engenhão e ele me deu razão. Continuou protestando, mas agora por um motivo mais justo.

Torcedor, estamos na era da informação. Não deixe mais colocarem você numa redoma de ignorância voluntária reclamando e cobrando da mesma forma que seu pai e avô. Procure bons canais de informação, mas também de análise. Que mostre o que acontece realmente nas quatro linhas. Temos ótimas referências no assunto que, felizmente, são as exceções à regra.

O bom técnico se recicla, o jogador se atualiza, mesmo que na marra, por necessidade. O formador de opinião também precisa. Por que não o torcedor que quer ser parte do processo?

Sem populismo, apelação. Também sem essa relação cliente/fornecedor muito presente hoje no jornalismo esportivo: o comentarista diz o que o torcedor quer ouvir. Elogio na vitória e crítica na derrota. Sem contexto. Até para ter paz nas redes sociais cada vez mais bélicas. Exatamente por causa do desconhecimento incentivado por quem deveria esclarecer.

Fuja dessa cilada secular. Não se deixe enganar por quem acha que você não sabe pensar, só sentir. Entenda para cobrar e ajudar seu time de verdade. É bom tirar sarro do rival e explodir de alegria no estádio. Mas melhor ainda é quando se sabe o que está dizendo.

 

 

]]>
0
Por um debate mais tolerante, plural e com conteúdo em 2017 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2016/12/30/por-um-debate-mais-tolerante-plural-e-com-conteudo-em-2017/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2016/12/30/por-um-debate-mais-tolerante-plural-e-com-conteudo-em-2017/#respond Fri, 30 Dec 2016 12:02:13 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=2108 No ano em que os resultados premiaram o desempenho das equipes dos estudiosos Micale e Tite na seleção brasileira, veio Renato Gaúcho no final com a conquista da Copa do Brasil e seu discurso de exaltação ao talento que minimiza o esforço.

No meio termo, Cuca foi campeão brasileiro fiel às suas convicções, como marcação individual e jogadas aéreas ensaiadas até em cobranças de lateral, mas adaptando conceitos atuais como pressão no campo de ataque e meio-campo mais qualificado. E o melhor: admitindo mesmo depois da conquista que precisa estudar e se aprimorar.

Tudo para lembrar que no Brasil e em qualquer canto que se jogue futebol é possível vencer de várias maneiras. “O futebol é generoso” costuma dizer Paulo Autuori, outro técnico com saldo positivo em 2016.

Mas o resultado deve mesmo encerrar qualquer discussão? O líder ou o campeão não pode ser questionado? Tem sempre razão? Em um jogo tão aleatório e imprevisível, o desempenho nem sempre tem relação direta com o placar final.

É preciso entender o papel do analista, que é chamado todo o tempo a opinar e trabalha com fotografias instantâneas da temporada. Afirmar que um time está jogando melhor naquele momento não significa que levará a taça, nem que será justo pelo desempenho em toda a competição.

Ao mesmo tempo, este que escreve reconhece que exagerou ao dizer que o Palmeiras poderia ser um campeão “pela porta dos fundos”. Melhor seria substituir por “sem brilho e sem números”. Àquela altura o time corria risco de perder a condição de melhor ataque, maior número de vitórias e outras estatísticas. Mas “porta dos fundos” foi demais, talvez pela aversão ao resultadismo precoce de Cuca e seus comandados, alimentado por 22 anos sem títulos brasileiros.

Quem é obrigado a se posicionar o tempo todo sobre algo que muda a cada instante invariavelmente vai dizer alguma bobagem. Sempre, porém, com imenso respeito à instituição. Sem clubismo, pelo menos deste blogueiro. Acredite: com o tempo, é mais fácil o jornalista se trair torcendo por suas convicções do que pelo time que fez com que ele se apaixonasse pelo esporte. É da vaidade humana.

Uma tolice, pois o futebol está aí sempre para dar uma rasteira nas nossas idealizações. Por isso é tão inútil esse Fla-Flu estudiosos x boleiros. Porque não adianta falar a língua dos jogadores sem conteúdo nos treinos, assim como o técnico que prefere os livros ao contato pessoal dificilmente terá a confiança dos seus comandados.

O mesmo vale para o comentarista que trata o futebol como um mero jogo de xadrez. Tão equivocado quanto alguns geradores de obviedades que menosprezam a inteligência de quem está ouvindo. Ou só dizem o que o torcedor quer ouvir, numa relação fornecedor-cliente. Pior ainda os que confundem leveza e humor com piadas grotescas que sempre acabam ofendendo alguém.

O torcedor não tem as obrigações do jornalista. Mas é importante entender que se ele quer interferir na vida do clube, seja como sócio-torcedor ou através dos muitos canais de comunicação que existem hoje, é preciso saber mais. Não dá para colocar tudo na conta do técnico “burro” ou do time “sem vergonha”.

Se assistir apenas aos jogos do seu time, sem entender minimamente a evolução do esporte em todas as áreas, a crítica será sempre rasa. Ou saturada de saudosismo, dos tempos em que o time era o melhor. A velha visão de que tudo no passado era mais bonito. Basta pesquisar na internet, com jogos na íntegra disponíveis, para perceber que felizmente tudo evolui. Por isso fica mais complexo.

Que no ano que chega sejamos mais tolerantes e plurais, respeitando e aprendendo com quem tem algo a transmitir. Com rivalidade, mas sem antagonismos radicais no debate. Sempre valorizando o conteúdo, que é ouro em tempos de tanta informação circulando.

Que o torcedor não seja tratado como uma criança mimada, que não pode ser contrariada. Que os profissionais de futebol lidem melhor com críticas construtivas. Que nós, analistas, estejamos atentos ao que o esporte oferece de objetivo, matemático, mas também ao lúdico e ao imponderável. Não é vergonha dizer que uma bola que bateu no travessão e não entrou por centímetros foi apenas sorte de quem deixou de sofrer o gol. Simples assim.

Por isso estamos aqui falando dessa parte importante de nossas vidas. Imprevisível como cada dia de cada semana de cada mês. De cada bola que rola. Do ano que vira no calendário para lembrar que podemos fazer melhor, mesmo sem garantia de vitória no final dos 90 minutos.

Até 2017!

]]>
0
Carta aberta ao torcedor: não vivemos em função de você, nem de seu clube! http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2016/04/01/carta-aberta-ao-torcedor-nao-vivemos-em-funcao-de-voce-nem-de-seu-clube/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2016/04/01/carta-aberta-ao-torcedor-nao-vivemos-em-funcao-de-voce-nem-de-seu-clube/#respond Fri, 01 Apr 2016 15:51:37 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=706 Jornalista de futebol vive por esporte, como diz o nosso Mauro Beting. Faz o que ama. Até porque haja amor para, em geral, trabalhar mais e ganhar menos, sem contar o preconceito, em relação a outras áreas da profissão.

Incluindo transformar em ofício o que antes era diversão. Em racionalidade o que era paixão. Perder a relação romântica com seu clube de coração tanto por dever ético como por decepção ao descobrir algo nada nobre nos bastidores.

Ao contrário do que muitos pensam, jornalista tem vida. Precisa lidar com cobranças familiares e esfriar amizades e amores por falta de tempo. Porque está online sempre, antenado até quando liga a TV para descansar a mente. Ao mesmo tempo, precisa olhar o filho, a esposa, o marido, cuidar da casa, pagar contas, chamar o encanador, lidar com pedreiro. Viver.

Tudo isso em 24 horas. Por isso você, torcedor, sempre está mais informado sobre o seu time do que nós. Porque só precisa ler e fuçar tudo sobre o seu objeto de paixão. TV, rádio, sites, blogs, fóruns, redes sociais…

Não temos como dar conta de tudo. No caso deste blogueiro e comentarista, por exemplo, que escreve e/ou fala de todos os times das Séries A, B, C e D do Brasil, dos principais clubes da Europa e da América do Sul. Ou do torneio que pintar para comentar na TV.

Com o tempo, o analista passa a “torcer” mais por suas convicções do que pelo time que escolheu lá atrás – e se está envolvido com futebol é por causa dele, também. Se a vitória do clube do coração desconstroi uma tese consolidada, natural torcer contra. Ou não se importar. Até porque somos uma raça vaidosa com nossas opiniões.

Dito isto, fica a pergunta simples, direta e sincera: você acha mesmo que o jornalista pensa de manhã enquanto faz a barba ou toma banho “Hoje eu vou ferrar o time xxxxx”?

Você acha mesmo que o Thiago Maranhão, repórter do Sportv, desejava, ao informar uma irregularidade aos seus colegas de transmissão, e não à arbitragem, prejudicar o Palmeiras? O mesmo vale para Joanna de Assis, Ana Thais, André Hernan, Ana Thaisa. Fora o julgamento de um áudio privado e vazado que nem vale resgatar.

Será que o problema somos nós ou o futebol pobre do time alviverde?

Se você pensa que vivemos em função do seu clube, seja qual for, e que há contra ele uma conspiração internacional e interplanetária, incluindo gnomos, elfos e os Illuminati, há tratamento para isso. E o problema não é nosso.

Até porque temos mais o que fazer, né?

]]>
0