leicestercity – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Show do Liverpool em Leicester confirma: quem corre certo cansa menos http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/26/show-do-liverpool-em-leicester-confirma-quem-corre-certo-cansa-menos/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/26/show-do-liverpool-em-leicester-confirma-quem-corre-certo-cansa-menos/#respond Thu, 26 Dec 2019 22:02:38 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7773 O Liverpool encarou a sequência de jogos em dezembro com dois grandes objetivos: primeiro se garantir no mata-mata da Liga dos Campeões, depois a disputa de uma “final” nos pontos corridos fora de casa contra o Leicester City. No meio havia um Mundial de Clubes no Catar, que virou obrigação pela eliminação vexatória dos jovens do time C na Copa da Liga Inglesa para o Aston Villa por 5 a 0.

Vitória sobre o Salzburg garantindo a liderança do grupo no torneio continental, primeira conquista intercontinental…e o melhor ficou para o último dos nove jogos disputados no mês: 4 a 0 sobre o vice-líder da Premier League no “Boxing Day”.

Mais do que a intensidade natural da equipe de Jürgen Klopp, o que chamou mais atenção foi a organização. Para defender e atacar. Sem bola, cortando todas as conexões com Jamie Vardy, artilheiro da competição com 17 gols. Atenção especial a Tielemans e Maddison, os principais criadores na móvel linha de meias no 4-1-4-1 de Brendan Rodgers.

Com a bola, a consolidação da ideia de ter cada vez mais os laterais adiantados e próximos do trio Salah-Firmino-Mané. Com o retorno de Wijnaldum, o meio-campo foi novamente sólido, mesmo ainda sem o lesionado Fabinho. Mas é pelos lados que o melhor time do mundo cria mais e com eficiência.

Com Robertson acelerando pela esquerda na busca do fundo ou até da finalização. E Alexander-Arnold sobrando como o grande articulador da equipe, junto com Roberto Firmino. Pela meia esquerda acionando Roberto Firmino no primeiro gol. No mesmos setor cobrando o escanteio que terminou no pênalti convertido por Milner, que entrara na vaga de Keita. Pela direita servindo Firmino no terceiro e o próprio lateral aparecendo para marcar o quarto e último.

Simplesmente 4 a 0 em Leicester. O campeão da temporada 2015/16 havia sofrido apenas dois gols nos últimos nove jogos em casa. Não era derrotado em seus domínios desde abril. O Liverpool simplesmente não tomou conhecimento. 59% de posse, 15 finalizações a três – seis a zero no alvo. Zero. Não permitiu nenhuma finalização na direção da meta de Alisson.

E nenhum sinal de desgaste. Por uma razão simples e que não muda, mesmo com toda evolução no esporte: quem corre certo cansa menos. Sem contar a confiança por tantas vitórias e agora conquistas. Quando se sabe o que fazer, que espaço ocupar, qual brecha fechar do adversário e atacar do oponente, tudo fica muito mais fácil.

Um timaço que encaminha o título inglês com dezessete vitórias, um empate e um jogo a menos. Treze pontos de vantagem na liderança. Todas as condições de pulverizar os recordes impostos pelo Manchester City de Pep Guardiola nas duas últimas temporadas. Há talento, execução precisa e um fôlego que parece inesgotável para seguir empilhando vitórias.

(Estatísticas: BBC)

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Única vantagem do Flamengo sobre o Liverpool é não ter nada a perder http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/19/unica-vantagem-do-flamengo-sobre-o-liverpool-e-nao-ter-nada-a-perder/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/19/unica-vantagem-do-flamengo-sobre-o-liverpool-e-nao-ter-nada-a-perder/#respond Thu, 19 Dec 2019 12:57:28 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7754

Foto: Ali Haider / EPA

When you ain’t got nothing, you got nothing to lose” é um dos últimos versos da longa letra de “Like a Rolling Stone”, do cantor e compositor Bob Dylan, Nobel de Literatura em 2016. Algo como “quando você não tem nada, você nada tem a perder”.

O Flamengo tem muito. O melhor time da América do Sul, um treinador de bom nível, enorme torcida e a oportunidade de trabalhar a marca globalmente ao chegar à decisão do Mundial contra o campeão europeu.

Mas para grande parte do planeta, objetivamente, não passa de uma “zebra” contra o Liverpool. Fadado a ser o vice da sétima conquista consecutiva do vencedor da Liga dos Campeões no torneio da FIFA. Na grande maioria delas sem muito trabalho para o grande favorito.

Muitos podem não entender toda essa superioridade. Olham para o campo, não veem Messi e Cristiano Ronaldo para justificar todo esse temor. E talvez analisando jogador por jogador pelo potencial técnico, de fato, não haja tanta diferença assim. Só que a questão é outra, mais complexa.

O Liverpool é muito melhor porque tem em Jurgen Klopp um treinador de primeira prateleira no futebol mundial. Sem contar os quatro anos no clube que consolidam o trabalho que só veio a ser coroado com um título em maio na conquista da Champions, há um aperfeiçoamento constante dos processos.

Por conta do alto investimento em ciência e tecnologia para melhorar os treinamentos. Como é possível ganhar segundos e metros na circulação de bola para chegar mais rapidamente ao ataque? Ou a melhor maneira de estar distribuído em campo para recuperar a bola assim que a perde ao fazer pressão. Sem contar os recursos para mapear atletas com potencial, utilizando profissionais de scout no mundo todo.

E tudo é testado semanalmente no mais alto nível, no campeonato nacional e na Champions, contra times que possuem capacidade de investimento semelhante ou até bem superior. O jogo fica mais intenso e de melhor nível técnico e tático naturalmente. Por isso a disparidade.

Qual é a única vantagem do Flamengo para a final de sábado em Doha? Justamente não ter nada a perder. A responsabilidade do campeão da Libertadores é vencer a semifinal e o time rubro-negro já conseguiu. Agora é buscar a cereja do bolo em um ano histórico.

O fato de ser a última partida de 2019 pode ser a grande chave para Jorge Jesus tirar de um grupo desgastado em final de temporada força e concentração máximas para tentar fazer a partida perfeita e entregar o prometido ao “povo que pede o mundo de novo”. É deixar tudo em campo e partir para as férias com a sensação de dever cumprido.

Porque será necessária uma concentração absurda da última linha de defesa para evitar as infiltrações de Salah e Mané em diagonal. Atenção total de Willian Arão e Gerson não só contra os meias dos Reds – que pode ser uma dupla entre Wijnaldum, caso se recupere, Milner, Oxlade-Chamberlain e Keita. Mas principalmente para bloquear a habitual movimentação de Roberto Firmino às costas dos volantes adversários.

E como conter os laterais Alexander-Arnold e Robertson? Everton Ribeiro e De Arrascaeta ou Bruno Henrique vão jogar de uma linha de fundo à outra? Ou Jesus vai estreitar os quatro defensores para que os meias pelos lados recuem como laterais formando uma linha de cinco ou seis protegendo a meta de Diego Alves? É viável mudar tanto o modelo de jogo correndo o risco de isolar e tirar Gabriel Barbosa do jogo?

Ou a solução mais lógica é arriscar tudo sem alterar a proposta, mantendo a defesa adiantada e buscar a superação na pressão constante sobre o adversário com a bola para conter o volume de jogo do Liverpool? River Plate e Al-Hilal tentaram fazer contra o próprio Flamengo e a conta veio salgada no segundo tempo com enorme desgaste que permitiu as viradas. O Monterrey também pregou na semifinal contra o “mistão” dos ingleses. Quando Klopp mandou os três titulares do banco para o campo não havia mais fôlego para lutar contra.

Deu para entender a missão inglória? O tamanho do desafio? A melhor notícia para o flamenguista é que se o triunfo improvável vier, o ano será o mais glorioso da história do clube. Talvez o maior de um time brasileiro em todos os tempos. Estadual, Brasileiro em 38 rodadas – e não em, no máximo, seis jogos, como o Santos de Pelé na Taça Brasil em 1962 e 1963 – e ainda Libertadores e um Mundial superando o time que efetivamente é o melhor da Europa. Em tempos de êxodo e seleções transnacionais dos clubes mais ricos do planeta.

O time de Jorge Jesus é franco-atirador e só volta a jogar em fevereiro de 2020. Já o Liverpool encara no “Boxing Day”, cinco dias depois da final no Catar, o Leicester City, vice-líder da Premier League, obsessão dos Reds na temporada. É preciso medir os esforços. Já o Flamengo parte para a epopeia. Pode deixar a vida em campo. Até porque há a possibilidade, que a direção luta bravamente contra, de ser a última vez que jogadores e treinador estarão juntos, diante do volátil mercado brasileiro e sul-americano.

Voltando aos versos de Dylan, na frase seguinte à citada no início deste texto, ele diz “You’re invisible now, you’ve got no secrets to conceal”. O Flamengo, de fato, nada tem a perder. Nem tem segredos a esconder. Só não estará invisível no sábado. Talvez termine mesmo como o coadjuvante da vez. No pior cenário um mero “sparring”. Mas se virar a história do avesso ganhará de vez a eternidade.

 

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Jürgen Klopp não despreza o Flamengo, só tem preocupações maiores http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/05/jurgen-klopp-nao-despreza-o-flamengo-so-tem-preocupacoes-maiores/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/05/jurgen-klopp-nao-despreza-o-flamengo-so-tem-preocupacoes-maiores/#respond Thu, 05 Dec 2019 10:41:31 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7685

Foto: Chris Brunskill / Getty Images

A pergunta de João Castelo-Branco, da ESPN Brasil, em entrevista logo depois da vitória do Liverpool por 5 a 2 sobre o Everton, era relevante. Até obrigatória. Afinal, não é todo dia que um time brasileiro fica a um jogo de enfrentar um gigante da Premier League. A falta de oportunidades de intercâmbio com os grandes centros, aliás, é um dos problemas do calendário do nosso futebol.

A resposta de Jürgen Klopp, sempre muito franco e direto, sobre o Flamengo foi óbvia: “Eu sei que eles ganharam a Copa Libertadores, conheço alguns jogadores, mas é o mesmo conhecimento que tenho de um time que jogamos na Liga dos Campeões pela primeira vez, uns três, quatro dias antes”.

Na sequência demonstrou desconhecer também o regulamento do Mundial de Clubes, perguntando se ainda havia um jogo antes da possibilidade de enfrentar os rubro-negros. A entrevista foi o suficiente para provocar em muitos torcedores do Flamengo nas redes sociais uma revolta, como se o treinador alemão do clube inglês estivesse desprezando o campeão sul-americano.

Alguns, claro, resgataram a velha história, contada pelos expoentes da “Era Zico”, como Júnior, Nunes, Leandro e o próprio Galinho, sobre o suposto menosprezo dos jogadores do Liverpool antes dos lendários 3 a 0 no Estádio Nacional de Tóquio, em dezembro de 1981.

Uma versão que sempre soou exagerada para este que escreve, já que Zico era famoso mundialmente na época e, sete meses antes, a seleção brasileira havia vencido a Inglaterra em Wembley por 1 a 0, gol de Zico. Júnior também jogou este amistoso, assim como Neal e McDermott, ingleses do Liverpool. Não havia desconhecimento total e desrespeitar seria insanidade.

Assim como agora não há razão para criticar Klopp. Primeiro porque o intenso treinador pode ser tudo, menos blasé. Segundo, e principalmente, porque ele tem preocupações maiores no momento.

A começar pelo risco real do atual campeão europeu ser eliminado na fase de grupos da Champions e parar na Liga Europa. Uma derrota por dois ou mais gols na próxima terça-feira para o RB Salzburg na Áustria, combinada com a provável vitória do Napoli sobre o Genk, seria uma catástrofe para os Reds. Perda de prestígio e financeira.

Mesmo considerando que a prioridade na temporada é o título inédito da Premier League, já que a última conquista do campeonato inglês aconteceu em 1989-90. E dezembro reserva uma agenda cheia, com direito a duelo com o surpreendente vice-líder Leicester City no “Boxing Day”, dia 26. Cinco depois da final do Mundial no Catar.

Como o próprio Klopp ressaltou na mesma entrevista: “Nesse momento seria uma vergonha saber mais de qualquer time brasileiro do que do Bournemouth (próximo adversário do Liverpool). Nós vamos estar preparados, mas não tenho certeza se vamos jogar contra eles”.

Ainda há uma semifinal para cada lado no meio do caminho, para que se precipitar? Sem contar que dois bons analistas de desempenho, em um dia e meio, são capazes de preparar relatório mais que detalhado com tudo que o treinador precisa saber sobre o Flamengo para uma hipotética decisão. Se já não estiver pronto por precaução, mas sem chegar ainda às mãos de Klopp. Porque não é necessário.

É preciso entender, de uma vez por todas, que o contexto da disputa deste torneio é muito diferente para o europeu. Enquanto o time sul-americano quase sempre encara o Mundial como a cereja do bolo no ano que está se encerrando, para o campeão do Velho Continente é mais uma competição enfiada no meio da temporada. Para os ingleses, que têm uma copa nacional a mais e a tradição de jogar muito na virada de um ano para outro, é ainda mais complexo.

No caso do Liverpool, o torneio da FIFA pode se tornar um obstáculo para as metas da temporada. Mesmo sem o título na vasta galeria de troféus. Além da derrota em 1981, perdeu também para Independiente em 1984 e São Paulo em 2005, além de abrir mão da disputa em 1977 e 1978.

No momento, porém, Jürgen Klopp e seus comandados estão mais focados em outras frentes. As mais importantes para a realidade do time inglês. Por enquanto o Flamengo é só uma hipótese. Considerando que nas últimas dez edições, em quatro os sul-americanos sequer chegaram à decisão, os brasileiros devem mesmo é se concentrar na semifinal. Se vacilarem, o tão sonhado confronto pode nem acontecer.

 

 

 

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Enfim, a grande atuação do Liverpool absoluto na Inglaterra http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/11/10/enfim-a-grande-atuacao-do-liverpool-absoluto-na-inglaterra/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/11/10/enfim-a-grande-atuacao-do-liverpool-absoluto-na-inglaterra/#respond Sun, 10 Nov 2019 18:24:21 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7543 O Manchester City vai questionar por muito tempo o lance que terminou no primeiro gol do Liverpool em Anfield. Mas tecnicamente o toque na mão de Bernardo Silva anularia o ataque que, na sequência, teve um pênalti cometido por Alexander-Arnold. No contragolpe pela esquerda, bola mal rebatida por Gundogan e gol de Fabinho.

O atual bicampeão inglês também pode lamentar a ausência do goleiro Ederson e a presença de Bravo logo no jogo mais importante hoje na Inglaterra. Mais um “elo fraco” de um sistema defensivo pouco sólido para cruzar com o trio de ataque mais letal da Europa: Salah, Firmino e Mané.

Nada diminui, porém, a grande atuação do Liverpool na temporada 2019/20. Dentro da proposta de pressão no campo de ataque, inversões para os laterais Arnold e Robertson e o acionamento rápido de Salah e Mané aproveitando os espaços deixados com o recuo de Firmino. Tudo muito conhecido e certamente dissecado por Pep Guardiola, mas desta vez executado com excelência. Entendendo o tamanho do duelo, ainda mais em seus domínios.

O segundo gol foi o símbolo: inversão da direita para Robertson e cruzamento do lateral encontrando Salah do lado oposto. No terceiro não houve a vantagem da inversão rápida, a jogada foi criada pela direita até o cruzamento de Henderson, Walker e Bravo vacilarem e Mané completar de cabeça. A última linha dos citizens contribuiu com as fragilidades de Walker, Stones, Fernandinho e Angeliño, escalado pela esquerda por conta das ausências de Zinchenko e Mendy.

Mas é claro que um time de Guardiola, com grande volume de jogo, não passaria 90 minutos sem ter momentos de domínio e também boas oportunidades. Em uma variação de 4-2-3-1 e 4-4-2, De Bruyne jogou mais solto, próximo de Aguero, que teve noite infeliz em Anfield, desperdiçando oportunidades. Sem contar a pressão da torcida sobre Sterling, ex-atacante do Liverpool com saída polêmica. Ainda assim, o City finalizou 18 vezes, diminuiu para 3 a 1 com Bernardo Silva e terminou com 55% de posse de bola, além da pressão sufocante nos minutos finais. Continua sendo um timaço.

Mas são 29 jogos de invencibilidade da equipe do Jurgen Klopp na liga. Apenas uma derrota em 51 partidas. Um time decidido a fazer ainda mais história e encerrar o jejum de 29 anos. Abrindo nove pontos sobre o City e agora vendo Leicester City e Chelsea um ponto mais próximos.

Apenas o empate com o United no Old Trafford. Algumas vitórias conquistadas à forceps, devendo no desempenho, mas demonstrando força e capacidade de competir. No jogo mais importante até aqui, os Reds sabiam que não poderiam entregar menos que o máximo em técnica, tática e intensidade. Mais uma prova de que o campeão europeu quer se impor também nos pontos corridos. Nunca pareceu tão preparado.

(Estatísticas: BBC)

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Liverpool perde outra chance de encaminhar título. Será o peso do jejum? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/01/30/liverpool-perde-outra-chance-de-abrir-sete-pontos-sera-o-peso-do-jejum/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/01/30/liverpool-perde-outra-chance-de-abrir-sete-pontos-sera-o-peso-do-jejum/#respond Wed, 30 Jan 2019 22:24:59 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5819 O confronto direto com o City em Manchester na 21ª rodada da Premier League poderia ter dado ao Liverpool dez pontos de vantagem com o “plus” de um triunfo simbólico sobre o grande concorrente ao título. Não veio e o revés foi tratado como normal pela qualidade do time de Guardiola. Mesmo com disputa equilibrada e momentos de superioridade que poderiam ter sido traduzidos no placar.

Mas três rodadas depois a oportunidade parecia cair no colo com a inacreditável virada sofrida pelos citizens para o Newcastle de Rafa Benítez. Mesmo fora de casa, o jogo estava absolutamente controlado, tranquilo para o atual campeão inglês. Dois erros, um coletivo e outro de Fernandinho, construíram o placar mais que inesperado.

Ainda que o Leicester City venha fazendo jogos duros e pontuando contra as principais equipes da competição e o gramado em Anfield estivesse coberto de neve, os Reds tinham a chance de obter uma vitória que não teria o impacto de vencer o segundo colocado fora de casa. Mas colocaria os sete pontos que poderiam empurrar o City psicologicamente para uma prioridade à Champions que pavimentaria o caminho para a primeira conquista da Era Premier League, encerrando um jejum de 29 anos.

Falhou e podia ter saído derrotado. A disputa foi equilibrada no aspecto tático, mesmo com 71% de posse do time da casa. Mais nove finalizações contra cinco, porém três a dois no alvo. O campeão inglês de 2015/16 criou oportunidades para virar depois do empate com o gol do zagueiro Maguire. Mané abriu o placar aos três minutos, mas produziu pouco ao longo dos noventa minutos. Salah errou demais tecnicamente e desta vez Shaqiri contribuiu pouco no quarteto ofensivo do 4-2-3-1 das últimas partidas.

Roberto Firmino foi a exceção com belas jogadas e finalizações que deram trabalho ao goleiro Kasper Schmeichel. No final, um “abafa” até com Van Dijk na frente e muitos cruzamentos. Difícil entender a opção por Henderson na lateral direita. Lento e nitidamente perdido jogando pelo lado, foi o “mapa da mina” para vários ataques do Leicester no setor com Chilwell, Grey e Maddison.

Se o olhar for buscando o copo meio cheio, somar um ponto e aumentar a vantagem para cinco pode ser considerado positivo. Mas perder outra chance de construir uma vantagem bastante confortável faltando 14 rodadas e antes da volta da Champions já no mata-mata é frustrante para quem quer tanto voltar a ser protagonista no cenário nacional.

A dúvida é se os resultados podem ser considerados naturais pelo contexto da liga ou se Klopp e seus comandados estão sentindo a pressão quando tudo favorece e o título parece mais perto. O aspecto mental não pode ser o único levado em conta em esporte tão complexo como o futebol, ainda mais jogado no mais alto nível. Mas carrega uma relevância que define vencedores e vencidos, mesmo nos pontos corridos.

Será o peso do jejum, como em 2014 com o simbólico erro de Gerrard que deu a vitória ao “ônibus” do Chelsea de Mourinho e praticamente entregou a taça ao City? O Liverpool espera escrever uma história diferente desta vez.

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Inglês empurra Guardiola para Champions e Klopp para a liga na temporada http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/12/26/ingles-empurra-guardiola-para-champions-e-klopp-para-a-liga-na-temporada/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/12/26/ingles-empurra-guardiola-para-champions-e-klopp-para-a-liga-na-temporada/#respond Wed, 26 Dec 2018 17:35:35 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5692 Desde que chegou a Manchester, Pep Guardiola reclama da dura sequência de jogos do final do ano na Inglaterra, especialmente o “Boxing Day”, pelo grande desgaste físico e mental justamente em um momento de pausa em outras ligas da Europa.

Coincidência ou não, a derrota do City de virada fora de casa para o Leicester City por 2 a 1 combinada com os 4 a 0 do Liverpool sobre o Newcastle, um dia depois do Natal, parece daquelas que simbolizam uma queda sem recuperação no campeonato. Na reta final do turno, os citizens perderam três em quatro partidas. Estacionam em 44 pontos, vêem o Liverpool abrir sete pontos na liderança e ainda são ultrapassados por Tottenham, que chega a 45 com os 5 a 0 sobre o Bournemouth.

Um cenário dramático que pode ter seu capítulo final na busca efetiva do bicampeonato no dia 3 de janeiro contra os Reds no Etihad Stadium. Mesmo que consiga os três pontos no confronto direto com o líder, ainda haveria quatro pontos para tirar na tabela. Missão complicada contra um Liverpool que ostenta 89% de aproveitamento e ainda está invicto. Só seis pontos perdidos.

O contexto tende a empurrar City e Guardiola para buscar a conquista inédita da Liga dos Campeões. O treinador só conseguiu com o Barcelona e o título continental é o grande sonho do clube. O sorteio das oitavas de final foi generoso, ao menos em tese. Confrontos com Schalke 04 e definindo em casa. Se até a partida de ida, dia 20 de fevereiro, a liga inglesa estiver perdida o sonho europeu deve virar obsessão.

Duro para Guardiola, que venceu sete das nove ligas que disputou em Espanha, Alemanha e Inglaterra e valoriza cada conquista por pontos corridos pela menor interferência do imponderável, do impacto menos cruel de uma noite infeliz. Por premiar o melhor, o mais regular. Agora terá que sair definitivamente da zona de conforto.

Já para Liverpool e Jurgen Klopp a Champions também tem grande peso. Até pelo vice na temporada passada. Encara o Bayern de Munique no outro confronto Inglaterra x Alemanha nas oitavas definindo fora de casa, já que ficou atrás do PSG na fase de grupos. O título não vem desde o incrível “Milagre de Instambul” em 2005, vencida nos pênaltis contra o Milan.

Só que o clube não venceu o Campeonato Inglês na versão Premier League, desde a temporada 1992/93. Mesmo sendo o segundo maior vencedor da história, o último título veio em 1989/90. Quase trinta anos de jejum. É a grande chance de virar lenda em um dos mais tradicionais clubes do país e do continente. Se fevereiro chegar e o time mantiver ou ampliar o aproveitamento e a vantagem nos pontos corridos, a pressão pela conquista inédita será gigantesca.

Klopp venceu duas vezes a Bundesliga com o Borussia Dortmund, mas não é absurdo afirmar que os grandes feitos na carreira do treinador foi colocar “zebras” em finais da Liga dos Campeões. O jeito intenso e emocional sempre o associam mais ao mata-mata, enquanto Guardiola, racional e detalhista, costuma dominar no formato mais longo, de todos contra todos, sem sorteio e outras aleatoriedades.

O contexto empurra os melhores treinadores do mundo para uma espécie de inversão de valores na segunda metade da temporada 2018/19. Chegou a hora de realizar os grandes sonhos?

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Messi, CR7 e Champions são “culpados” pela disparidade nas ligas europeias http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/05/15/messi-cr7-e-champions-sao-culpados-pela-disparidade-nas-ligas-europeias/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/05/15/messi-cr7-e-champions-sao-culpados-pela-disparidade-nas-ligas-europeias/#respond Tue, 15 May 2018 17:59:15 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4580

Foto: Sergio Perez / Agência Reuters

O Bayern de Munique garantiu o sexto título consecutivo da Bundesliga, conquista inédita, com cinco rodadas de antecedência. Na França, o Paris Saint-Germain retomou do Monaco a hegemonia também disparando e confirmando matematicamente faltando cinco rodadas. A Juventus na Itália teve mais dificuldades, porém superou o Napoli e faturou o heptacampeonato nacional.

Na Premier League há maior alternância de poder, mas o Manchester City de Pep Guardiola liderou de ponta a ponta e empilhou recordes: chegou aos 100 pontos em 38 jogos e ainda fez história com mais vitórias (32), triunfos consecutivos (18), gols marcados (105), saldo (+79) e os 19 pontos de vantagem sobre o segundo colocado.

Se somarmos tudo isso ao domínio do Barcelona nesta edição da liga espanhola, com a invencibilidade perdida apenas na penúltima rodada com vários reservas e uma atuação desastrosa do colombiano Yerri Mina nos 5 a 4 do Levante. mas título confirmado faltando quatro jogos, temos um cenário em que as principais ligas da Europa não reservaram disputas mais acirradas.

A senha para os disseminadores do “ódio ao futebol moderno”, muitos confundindo equilíbrio com qualidade, protestassem contra este cenário em que, para eles, apenas a disparidade econômica justifica essa vantagem dos campeões.

O grande equívoco é desprezar a enorme competência e know-how desses clubes. O Bayern ostenta a melhor geração de sua história ao lado da de Beckenbauer, Gerd Muller e Sepp Maier nos anos 1970. O mesmo vale para a Juventus. O PSG nem há como comparar e no caso do Manchester City há um retrospecto de conquistas na década, mas principalmente a presença do “rei das ligas” Guardiola, com sete conquistas em nove temporadas por três clubes e países diferentes.

Sem contar Barcelona e Real Madrid com os grandes times de sua história. E os maiores jogadores de todos os tempos nos dois clubes. Competindo na mesma época. Eis a chave para todo este cenário.

Messi e Cristiano Ronaldo venceram as quatro últimas edições da Liga dos Campeões. Se considerarmos desde 2007/08, dez anos, são sete: Manchester United com uma, Barcelona e Real Madrid com três. E os merengues em mais uma decisão podendo ampliar este retrospecto.

Em tempos recentes nunca houve nada parecido. Um fenômeno que subiu o patamar da Champions para níveis estratosféricos. De interesse, inclusive, pela sedução de se medir entre grandes da história. Com isso, o sarrafo foi parar no topo. Para desafiá-los é preciso estar em um nível de excelência em desempenho. Em todos os aspectos – físico, técnico, tático, mental, logística…

Resta aos desafiantes investir. Em elenco, comissões técnicas, estrutura…Internazionale, Chelsea e Bayern de Munique conseguiram superá-los, com os alemães ainda acumulando dois vices e os ingleses um. Manchester United, ainda com CR7, Borussia Dortmund, Juventus e Atlético de Madri chegaram às decisões, mas não conseguiram equilibrar forças em jogo único. PSG e City seguem lutando para furar a casca e entrar no grupo de clubes mais tradicionais. O Liverpool, finalista depois de onze anos, tenta voltar à elite. Mas não é fácil.

Com esse nível tão alto, quem não consegue acompanhar vai perdendo o bonde da história. E os gigantes trabalham para ficar cada vez melhores de olho no principal torneio de clubes, dominado por Messi e Cristiano Ronaldo com seus históricos Barcelona e Real Madrid, mesmo com o time blaugrana de fora das últimas três semifinais.

Como consequência sobram em seus países. Elenco numerosos, estruturas fantásticas, ótimas comissões técnicas. Nos casos específicos de Bayern de Munique e Juventus, os títulos consecutivos acontecem também porque não há como se acomodar com as conquistas nacionais. Não são a prioridade. Então mesmo sobrando os processos são revistos e aprimorados, o elenco ainda mais qualificado. O time que está ganhando se mexe e fica ainda melhor. Pensando em Barça e Real Madrid.

Mas não basta só dinheiro. Ou o Borussia Dortmund de Jurgen Klopp não seria bicampeonato alemão de 2010 a 2012, o Atlético de Madri não teria superado os gigantes na Espanha em 2014. O mesmo com o Monaco contra o PSG na temporada passada e, caso a Juve não tivesse deixado a Champions ainda nas quartas eliminada pelo Real Madrid e dividisse esforços por mais tempo, o Napoli poderia ter fôlego para terminar na frente. Sem contar o fenômeno Leicester City na liga mais valiosa do mundo em 2015/16. Se não jogar muito não vence. A tese do “piloto automático” é furada.

Mais do que nunca o futebol no mais alto nível exige superação constante. Com regularidade, consistência. “Culpa” de Messi, Cristiano Ronaldo e da Liga dos Campeões que levam o esporte para outra galáxia. Ainda bem que estamos vivos para ver a história sendo escrita. E até os que hoje reclamam vão sentir saudades, mesmo que não admitam.

 

 

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Se fosse só dinheiro, Palmeiras ou Flamengo estariam no lugar do Grêmio http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/12/17/se-fosse-so-dinheiro-palmeiras-ou-flamengo-estariam-no-lugar-do-gremio/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/12/17/se-fosse-so-dinheiro-palmeiras-ou-flamengo-estariam-no-lugar-do-gremio/#respond Sun, 17 Dec 2017 14:16:24 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=3884 Transformação curiosa ocorreu depois do apito final do Mundial de Clubes em Abu Dhabi. Os mesmos que viam o Grêmio com condições de jogar de igual para igual e vencer o Real Madrid, que nas comparações posição por posição – algo cada vez mais sem sentido em um futebol cada vez mais coletivo – faziam projeções equilibradas (6×6, incluindo Renato Gaúcho melhor treinador que Zidane), de repente passaram a questionar o abismo de qualidade entre os clubes da Europa e os demais e sugerir até a mudança na fórmula de disputa da competição.

Entre os motivos apresentados, o mais presente é o poderio financeiro. Inegável, obviamente. Mas a própria temporada no Brasil mostrou que futebol não se faz só com dinheiro. Se fosse assim, Palmeiras ou Flamengo, que também disputaram a Libertadores, estaria no lugar do Grêmio. Nem é preciso apelar para a frieza dos números para provar a distância nos valores das receitas. E se colocarmos no bolo os demais clubes sul-americanos a vantagem é ainda maior. Mas só voltamos a vencer agora, depois de três anos sequer chegando à decisão.

Há muita competência na supremacia recente na Europa de Barcelona e Real Madrid. Passa por Messi e Cristiano Ronaldo, mas não só eles. São clubes que sabem vender sua marca para o mundo, construir uma identidade. A ponto de conquistar a preferência de jovens como Vinicius Júnior em detalhes como a força do time no videogame. Se outro time iguala a proposta, o menino prefere os gigantes espanhois.

Porque construíram times que estão entre os melhores da história dos clubes. Mas também já torraram muito dinheiro sem conseguir formar uma equipe competitiva. Basta lembrar o Real galáctico do início do século, ou mesmo o do primeiro ano da Era Cristiano Ronaldo, que não conseguiu superar as oitavas de final da Liga dos Campeões.

A resposta precisa vir no campo. Mesmo nesta fase gloriosa da dupla, em 2014 falharam na liga nacional e viram o Atlético de Madri campeão espanhol. Assim como o Bayern de Munique, soberano na Alemanha, viu o Borussia Dortmund de Jurgen Klopp ser bicampeão com orçamento bem inferior. Para não falar do Leicester City na Inglaterra no ano passado.

Por mais que o Grêmio tenha mostrado um futebol ofensivo e atual em 2017, ainda é um mero rascunho diante das equipes mais qualificadas do planeta. O Real, com a cabeça no Barcelona e freio de mão puxado, conseguia numa rápida ação de perder e pressionar retomar com facilidade. A circulação da bola é mais inteligente, fluida. Há mais leitura de jogo coletivo. Basta ver Modric em campo. A bola mal saiu de seus pés e o croata já se transforma em opção de passe no espaço certo.

Aqui a visão é ainda simplista: quem tem dinheiro compra os melhores e vence. Uma noção de futebol fragmentada e muito focada no individual. Só se falou na atuação ruim de Luan. Mas sua movimentação entre as linhas defensivas do adversário por aqui é mais facilmente bloqueada por quem está acostumado a enfrentar Messi, Neymar, De Bruyne e outros craques.

Por isso e tantos outros motivos o Kashima Antlers foi um adversário mais perigoso para o Real Madrid no ano passado. Vitória por 4 a 2, mas só na prorrogação. Arthur fez falta ao Grêmio, sim. Mas nunca saberemos se ele seria outro a sentir os efeitos deste abismo, ainda mais no setor de Casemiro, Modric, Kroos e Isco.

Nosso último título mundial veio pela feliz coincidência de termos o Corinthians de Tite, time mais sólido e organizado desta década, enfrentando o Chelsea que não era o melhor europeu nem quando venceu a Liga dos Campeões, estava em declínio sob o comando de Rafa Benítez e, ainda assim, fez do goleiro Cássio o melhor em campo. Méritos inegáveis dos brasileiros, mas o contexto há cinco anos ajudou.

Não adianta pregar ódio ao futebol moderno, ao menos dentro de campo. O esporte se transformou e não há como fugir. Precisamos evoluir na mentalidade, ter humildade. Não rir do nível técnico de outras ligas, especialmente a francesa, quando a nossa é desprezada pelo mundo. Por mais eurocentrista que seja o povo do Velho Continente, é ridículo que eles saibam tão pouco do Grêmio tricampeão sul-americano.

Que os clubes peitem a CBF, que só quer saber de vender a imagem da seleção brasileira. Que os profissionais se qualifiquem, aceitem que precisam aprender e não podem mais deixar tudo por conta do talento individual. Que os times criem uma identidade e a desenvolvam desde as divisões de base.  Que tomemos decisões mais técnicas e menos políticas e manchadas por corrupção em todos os níveis. Mais meritocracia e menos grife na hora de contratar. E, principalmente, que deixemos esse mimimi “ah, eles são ricos e nós os pobres neste mundo injusto e cruel!”

Ninguém vai revogar a Lei Bosman e dificilmente o real valerá mais que o euro ou o dólar. Ainda assim, podemos fazer melhor, sermos mais competitivos. Dar trabalho e não passar a vergonha de apenas uma finalização gremista na decisão do Mundial com o Real em ritmo de treino na maior parte do tempo. É muito pouco.

Não adianta encher a boca para falar dos cinco títulos em Copas do Mundo e esquecer que a grandeza do futebol de um país se mede pela força de seus clubes. A nós, jornalistas, cabe a tarefa de cobrar e conscientizar e não jogar para a galera um mundo fantasioso de “eles não são isso tudo!” e “isso aqui é Brasil!” É sedutor falar ou escrever o que o torcedor quer ouvir/ler, mas em nada contribui para o desenvolvimento do esporte.

Que o passeio do Real não seja minimizado pelo placar magro. O Grêmio teve dignidade, mas jogou mal. Porque o adversário é superior e não deixou, mas também porque as ideias para fazer melhor ainda são pobres. Não é só dinheiro, definitivamente. Só não vê quem não quer.

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Premier League já começa insana, mas não pode virar um fim em si mesma http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/08/11/premier-league-ja-comeca-insana-mas-nao-pode-virar-um-fim-em-si-mesma/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/08/11/premier-league-ja-comeca-insana-mas-nao-pode-virar-um-fim-em-si-mesma/#respond Fri, 11 Aug 2017 21:17:50 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=3101 A liga mais forte do mundo começou com a incrível virada em Londres do Arsenal do inesgotável Arsene Wenger por 4 a 3 sobre o Leicester City. Gol da vitória marcado por Giroud, vindo do banco, aos 39 minutos do segundo tempo. Dois minutos antes, o empate com Ramsey, que também iniciou na reserva. Já no primeiro ato, um jogo típico da Premier League: intenso, maluco, imprevisível.

Com a grana farta da TV dividida de uma maneira mais equânime, os times médios e até os pequenos têm condições de investir em contratações e isso vem tornando o campeonato inglês cada vez mais equilibrado.

Se não conseguiu até aqui seduzir Messi e Cristiano Ronaldo, os gênios desta era, ao menos os treinadores com mais hype estão por lá: Guardiola, Mourinho, Klopp, Conte, Pochettino…Com exceção do fenômeno Zidane, bicampeão da Liga dos Campeões, apenas Carlo Ancelotti entre os mais vencedores dos últimos tempos não esteja por lá.

Por tudo isso se tornou uma competição de difícil prognóstico em relação a favoritismo ao título e às vagas nas competições europeias. Ótimo para a liga em si. Mas nem tanto para os clubes.

Porque enquanto Barcelona, Real Madrid, Juventus, Bayern de Munique, PSG e outros conseguem administrar seu calendário com respiros e uso de reservas, os ingleses precisam jogar no volume máximo durante toda a temporada. Muitas vezes não é possível dosar energias nem durante as partidas. Se baixar a guarda diante de uma equipe na zona de rebaixamento pode ser surpreendido.

Se juntar isso às copas nacionais com sua tradição e seus “replays” em caso de empate, aliviados pela federação com o cancelamento da prática nas quartas-de-final da Copa da Inglaterra, o cenário é ainda mais complexo. Ajudam a exaurir as forças, mesmo em elencos robustos. Sem contar os jogos em sequência no final de um ano e o início do seguinte, enquanto a grande maioria faz uma pausa para as festas de Natal e reveillón.

O resultado prático é que desde 2012, com o Chelsea, a Inglaterra não tem um vencedor da Champions. Mesmo considerando o domínio de Real Madrid e Barcelona, que contam com grandes times de sua história, é preocupante. Ainda que os próprios Blues e o Manchester United, neste período de seca, tenham conquistado a Liga Europa.

Fica a impressão de que faltam pernas e força mental para se concentrar na disputa do maior torneio de clubes do planeta porque o campeonato nacional exige demais semanalmente. Quem tenta dividir atenções vem sofrendo nas duas frentes. Não por acaso, Leicester e Chelsea venceram as duas últimas edições da Premier League por não estarem envolvidos em competições europeias. Tiveram semanas para repouso e treinamentos.

Mourinho preferiu arriscar tudo na Liga Europa na temporada passada ao perceber que os Red Devils não conseguiriam sequer a vaga de qualificação para a Champions. É uma disputa tão insana que não há garantias, uma margem mínima para planejar a temporada seguinte. Não há como fugir do clichê “pensar jogo a jogo” até que as pretensões possíveis fiquem mais claras. Hoje, imaginar um clube ganhando inglês e Liga dos Campeões é utopia.

Em campo, a consequência da loucura da Premier League é a dificuldade para controlar jogos, desacelerar. Como o City de Guardiola que não conseguiu conter a reação do Monaco no jogo da volta das oitavas de final da UCL depois dos 5 a 3 em Manchester. No jogo bate-volta, só há ataque e defesa, sem longos períodos entre as intermediárias. Sem pausas.

Os clubes mais poderosos vivem um dilema. Ostentam orçamentos de gigantes europeus, mas não conseguem ser tão competitivos além de suas fronteiras como gostariam porque se esfolam na luta doméstica.

É óbvio que o titulo inglês é sinônimo de prestígio, visibilidade e uma fatia maior do bolo das receitas de TV. Mas o asiático hoje prefere Barça e Real. Com Neymar no PSG isso talvez piore. Para manter ou ampliar o alcance global é preciso voltar a ser protagonista na Liga dos Campeões. Para isso é urgente repensar o calendário. Ou transferir o risco para a própria liga priorizando a Champions.

Qualquer coisa para não tornar a Premier League um fim em si mesmo.

 

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“O problema é quando se tem a bola” – Futebol atual é jogo de espaços http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/07/07/o-problema-e-quando-se-tem-a-bola-futebol-atual-e-jogo-de-espacos/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/07/07/o-problema-e-quando-se-tem-a-bola-futebol-atual-e-jogo-de-espacos/#respond Fri, 07 Jul 2017 13:05:38 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=2924

A frase entre aspas do título deste post é de um treinador campeão brasileiro, cujo nome não será revelado para não criar qualquer estigma ou rótulo. Até porque havia um contexto dentro da entrevista. Mas a ideia era clara.

Ter a posse de bola é aumentar a probabilidade de errar e dar chances ao adversário. Na saída de bola, com zagueiros que não foram ensinados a iniciar a construção das jogadas e acabaram na posição pela estatura e vigor físico. Em um centro futebolístico que predomina financeiramente no continente, mas não conta com excelência técnica na maioria das posições e funções.

No qual a torcida não tem paciência para jogadas trabalhadas, vaia bola recuada para o goleiro com a proposta de criar espaços e, na ansiedade e imediatismo típicos da nossa cultura, exige que a ação ofensiva seja finalizada o quanto antes.

Por isso a bola de segurança pelos lados. Porque se há a perda, o contragolpe do oponente não se inicia em uma zona perigosa. O ataque só passa pelo centro para virar o lado saindo da pressão ou procurando um pivô, mas já no último terço do campo. Muitos cruzamentos, com bola parada ou rolando. A margem de erro é menor.

Como cobrar mais de treinadores trocados a cada três meses, ameaçados a cada três derrotas? Responsabilizados por problemas técnicos de seus atletas desde a base e sem tempo para treiná-los com jogos a cada três dias? Neste cenário pragmático é melhor mesmo não ter a bola e esperar o vacilo do outro lado.

A vitória do Botafogo sobre o Nacional uruguaio no Parque Central foi simbólica. Porque a equipe da casa, que também se sente mais confortável jogando em transições velozes, precisava trabalhar as ações ofensivas para infiltrar, construir o resultado para administrar na partida de volta.

Encontrou, porém, uma equipe brasileira novamente bem coordenada defensivamente, com concentração e entrega. Também sorte, já que no toque de Victor Luís na própria área com o braço muito aberto, em lance duvidoso para as novas recomendações da FIFA, a arbitragem não se deixou levar pelo mando de campo. Sem contar a falha grotesca do zagueiro Emerson Silva que Silveira não aproveitou à frente de Gatito Fernández. O erro quando teve a bola.

No contragolpe, inversão de Pimpão para Bruno Silva e bola na rede com o toque meio sem querer de João Paulo, meia que deixou Camilo no banco pelo maior poder de marcação e dinâmica mais alinhada à proposta do treinador Jair Ventura. Triunfo com 40% de posse e oito finalizações, quatro no alvo. Contra 17 do Nacional, mas só duas na direção da meta de Gatito. Sem ideias, os uruguaios efetuaram 41 cruzamentos. O Bota cometeu 26 faltas contra 14 e acertou 17 desarmes, o Nacional só 12. Espírito de competição.

O resultado facilita o trabalho para a volta no Estádio Nílton Santos. Porque o Botafogo, mesmo em casa e provavelmente com a torcida apoiando, deve manter sua ideia pragmática de jogo. O questionamento inevitável é: como será quando a equipe precisar sair para o jogo por necessidade? As derrotas para Barcelona de Guayaquil e Avaí no Rio de Janeiro entregam respostas preocupantes.

Jogar como “azarão” é mais simples. O discurso motivacional do treinador vai na linha do “Davi x Golias”, os comandados entram mais concentrados e nenhuma pressão. Há espaços para atacar e menor cobrança sobre o erro.

Não só no Brasil. Nos grandes centros a lógica é a mesma. Com Leicester City e Chelsea vencendo as últimas edições da Premier League sem dar muita importância para a posse de bola. O Barcelona eliminado na Liga dos Campeões por Atlético de Madri e Juventus e ainda levando 4 a 0 do PSG. Os rivais sempre jogando a isca: “Me ataque, fique com a bola e te golpeio em seus pontos fracos”. Pep Guardiola no Manchester City também sofreu e vai tentando aprender e se adequar à dinâmica do futebol jogado na Inglaterra.

Na final da Liga Europa, José Mourinho armou seu Manchester United para aproveitar os espaços deixados pelo Ajax com seu ataque posicional típico do futebol holandês. Marcação encaixada, bote no zagueiro colombiano Davinson Sánchez, elo fraco nos passes, e contragolpe rápido. Força no jogo aéreo e mais uma taça continental para o treinador português.

O mundo é do Real Madrid comandado por Zidane porque é um time talentoso e inteligente. Sabe jogar com a bola pela qualidade individual que possui. Por ser um gigante, em 90% das partidas na temporada entra como favorito e precisa se arriscar. Mas faz por necessidade, não filosofia ou convicção. E se abre o placar o jogo reativo volta a ser a ideia principal. Assim como a Juventus, finalista derrotada na Champions, é um time “camaleão”, que muda de acordo com o que se apresenta. Para isso precisa de jogadores completos, inclusive na leitura de jogo. Saber acelerar e cadenciar, dosar a intensidade.

Não por acaso o predomínio recente de Cristiano Ronaldo sobre Messi nas premiações individuais. Consequência das conquistas coletivas. O português é mais prático, simples e vertical. Decide com um toque. Para brilhar, o argentino precisa construir em um Barcelona cada vez mais mapeado e estudado. Missão complicada.

Porque quem trata a posse como obsessão ou filosofia, dentro ou fora de casa e independentemente do contexto está sendo obrigado a mudar. No futebol tão estudado de hoje, a equipe abre mão do fator surpresa. Instala-se no campo de ataque, gira a bola em busca de espaços e os cede atrás, por consequência. Cabe ao rival negar as brechas para infiltrações, com o cada vez mais utilizado sistema com cinco homens na última linha de defesa, e explorar os pontos falhos, que sempre existem.

Na costumeira variação do 4-3-1-2 para duas linhas de quatro bem compactas, o Botafogo venceu em Montevidéu. Mais uma vez sem fazer questão da posse. No futebol, ela cada vez mais vai perdendo sua importância. A referência é o espaço. O “jogar sem bola” aproxima das vitórias.  Paradoxal, não?

E a frase do técnico, que soou absurda há alguns anos, mostra-se visionária. Mas qual será o impacto no futuro do esporte? Felizmente ele é cíclico, por isso tão apaixonante. Logo virá uma resposta. Tomara…

(Estatísticas: Footstats)

 

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