LIverpool – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Era Jürgen Klopp é de futebol intenso, mas também inteligente e adaptável http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/26/era-jurgen-klopp-e-de-futebol-intenso-mas-tambem-inteligente-e-adaptavel/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/26/era-jurgen-klopp-e-de-futebol-intenso-mas-tambem-inteligente-e-adaptavel/#respond Fri, 26 Jun 2020 12:37:57 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8690

Foto: Reuters

Há recortes históricos que com um mínimo distanciamento do tempo podem ser definidos como uma mudança de paradigma. Mesmo em um esporte tão complexo e instável como o futebol.

O Barcelona foi para o intervalo em Anfield perdendo por 1 a 0 pelo jogo de volta da semifinal da Liga dos Campeões 2018/19. Havia vencido por 3 a 0 no Camp Nou e ainda tinha uma boa vantagem a administrar fora de casa. Se fizesse um gol o Liverpool teria que fazer mais quatro.

E a imagem no vestiário do time catalão era de absoluto desespero. Ainda que o trauma da eliminação na edição anterior do torneio continental para a Roma também ecoasse,  estava claro no semblante de Messi, Suárez, Jordi Alba e outros que a tragédia parecia inevitável. O discurso, sem muita convicção, era de que era preciso retomar o ritmo no estilo Barcelona, de posse de bola. Mas todos sabiam que na prática isso seria impossível. Os 4 a 0 no final foram apenas a consequência natural.

Porque vivemos a Era Jürgen Klopp no futebol. O que não quer dizer necessariamente que seja o treinador que vence tudo que disputa. Não foi assim com Rinus Michels, nem Cruyff, Arrigo Sacchi, Alex Ferguson ou José Mourinho. Talvez Pep Guardiola, com currículo impressionante e único, seja a exceção. Ainda assim, já se vão quase nove anos sem vencer a Champions.

Notamos a ascendência das ideias de um treinador no esporte quando praticamente em qualquer partida é possível notar as digitais dele no que acontece em campo.

Repare que cada vez falamos menos em posse de bola como critério para observar o domínio de uma equipe sobre a outra. Melhor dizendo, ter a bola ainda é um indício, mas cada vez mais importante é atacar com volume e agredindo o adversário. Não tocando e circulando sem “machucar”.

O Jurgen Klopp do Borussia Dortmund e do início do trabalho no Liverpool era do futebol “rock’n’roll”. Intensidade máxima, “gegenpressing” e uma fome como se houvesse amanhã. Só que em muitas partidas isso tudo virava pressa, ansiedade. Ou um desperdício de energia que cobrava o preço ao final do jogo ou do campeonato.

Mas Klopp é inteligente e tem sensibilidade para notar a direção dos ventos. Também sabe ouvir, embora não abra mão de suas convicções. Estava nítido que seria preciso se adaptar ao que pede cada jogo. Como ele percebeu na própria Premier League com outros treinadores, como Antonio Conte e o próprio Guardiola, que venceu no Manchester City combinando elementos inegociáveis do seu modelo de jogo com a intensidade do futebol praticado na Inglaterra. Também com a eletricidade de Klopp.

Pausas. Era preciso ter momentos de circulação da bola para variar a intensidade do jogo. Passar de lado para abrir o campo e as linhas do oponente não é pecado. Klopp fez o Liverpool voltar a ser temido. Junto com a camisa pesada, natural que alguns adversários apelassem para retrancas. Linha de cinco, dez jogadores atrás da linha da bola e protegendo a própria área. Acelerar o tempo todo muitas vezes significava dar de cara com o muro. Em loop, até cansar.

Klopp viu a solução nas inversões de bola de seus laterais: Alexander-Arnold e Robertson fazem a troca de corredor com frequência e eficiência. Também se juntam na frente ao tridente Salah-Firmino-Mané. Com o brasileiro recuando para colaborar na articulação e os dois ponteiros buscando as infiltrações em diagonal. Cabe aos zagueiros e aos meio-campistas se impor fisicamente, mas também colaborar com a manutenção da posse quando é preciso. Henderson cresceu demais nesta proposta, tanto como volante mais fixo como um meia pela direita.

Antes o treinador alemão queria um ambiente difícil de respirar em campo. Agora ele entende que há momentos em que é preciso encher e esvaziar os pulmões para pensar melhor e fazer o que é necessário em campo. Sem a loucura de antes, que lembrava o piloto inglês Nigel Mansell nos anos 1980/90 na F-1: batia recordes seguidos de volta mais rápida para perder a prova por falta de combustível ou em uma manobra arriscada e pouco inteligente.

É claro que o talento continua sendo fundamental. Sem Alisson e Van Dijk é bem provável que o Liverpool continuasse com a defesa como elo fraco e comprometedor no mais alto nível competitivo. Mas encontrar as peças certas que o dinheiro pode comprar também é sinal de amadurecimento.

Isso tudo constroi o Liverpool campeão inglês, depois de 30 anos. A primeira conquista na Era Premier League. Com sete rodadas de antecedência, 23 pontos de vantagem sobre o então bicampeão City. Time de Guardiola que caiu diante do Chelsea por 2 a 1. Justamente os Blues, algozes dos Reds em 2014, no lendário escorregão de Steven Gerrard que negou mais uma vez a conquista do título. Como o pontinho da temporada passada.

Desta vez não houve margem para erro. Cada jogo da liga foi tratado como uma decisão. Com a natural oscilação que os times ingleses costumam sofrer quando disputam o Mundial de Clubes. Viagem, desgaste, os jogos seguidos na virada do ano. Cobrou o preço nas copas nacionais e também na Champions. Mas estava claro desde o início que esta temporada era a da dedicação aos pontos corridos. Da redenção.

Veio em meio a uma pandemia. A retomada do campeonato serviu para fazer justiça ao melhor time. E também a Klopp, a mente dominante desta era do futebol intenso, vertical. Mas também inteligente e adaptável. De acordo com a demanda. A do Liverpool andava reprimida, agora é só alegria. Ou alívio, pelo contexto do mundo.

Mas em qualquer campo onde a bola role haverá o toque de Jürgen Klopp. Carisma incrível, sorriso franco, uma certa loucura cativante. Mas acima de tudo um grande treinador de futebol. O melhor do planeta. Agora o “zeitgeist”, ou o espírito do tempo, está com ele.

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Manchester City voa baixo, roda elenco e aquece turbinas para Champions http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/22/manchester-city-voa-baixo-roda-elenco-e-aquece-turbinas-para-champions/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/22/manchester-city-voa-baixo-roda-elenco-e-aquece-turbinas-para-champions/#respond Mon, 22 Jun 2020 20:53:15 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8675 Com as vitórias em casa por 3 a 0 sobre o Arsenal no jogo que faltava na 29ª rodada e 5 a 0 sobre o Burnley, o Manchester City fez cair para 20 pontos a vantagem do Liverpool na liderança da Premier League. Mas com 24 pontos ainda em jogo, o título dos Reds é questão de tempo e matemática.

Mais importante que garantir o “pódio” novamente, uma característica dos trabalhos de Pep Guardiola em todas as ligas que disputou desde 2008 – a pior colocação foi o terceiro lugar na estreia na Inglaterra em 2016/17 -, é retomar rapidamente o ritmo para atingir dois grandes objetivos.

O primeiro é um tanto circunstancial: já que é praticamente impossível manter a hegemonia nos pontos corridos, a luta pelo bicampeonato do mata-mata nacional ganhou muita importância. Depois de “unificar” as conquistas em 2019, os citizens mantiveram o domínio na Copa da Liga Inglesa e estão nas quartas da Copa da Inglaterra contra o Newcastle.

A grande meta, porém, é, claro, o título inédito da Liga dos Campeões. Primeiro administrando a vantagem sobre o Real Madrid construída fora de casa com os 2 a 1 no Bernabéu. Sem a presença da torcida no Etihad Stadium, mas com a possibilidade de gerir melhor o elenco em relação ao time merengue, que acabou de assumir a liderança do Espanhol e vai lutar pela recuperação do domínio da liga. Até pela obsessão do treinador Zinedine Zidane, que valoriza demais a superioridade nos pontos corridos.

Guardiola também pensa assim, mas sabe que desta vez terá que ser forte nas disputas eliminatórias para tornar a temporada histórica e atingir o ápice antes da provável punição da UEFA, afastando o clube de competições europeias por dois anos, acusados de burlar o fair play financeiro.

Por isso tenta nivelar o grupo de jogadores por cima. mantendo apenas Ederson, David Silva e Mahrez na formação de um jogo para outro na volta. Revezando Cancelo/Walker e Mendy/Zinchenko nas laterais, Eric Garcia/Otamendi e Laporte/Fernandinho na zaga; Rodri/Gundogan e De Bruyne/Bernardo Silva no meio. Aguero/Gabriel Jesus no centro do ataque e Sterling/Foden nas pontas. Ainda Leroy Sané, que volta de séria lesão e sairá no final da temporada, mas está à disposição do treinador.

A mesma valorização da posse com linhas adiantadas e pressão logo após a perda da bola, porém com momentos de aceleração e intensidade máximas. Sempre com triangulações em todos os setores, mas também jogadas mais longas, como o passe de Fernandinho para Mahrez no segundo gol sobre o Burnley. Muita gente chegando ao ataque no sistema base 4-3-3, mas com rotações – pontas, laterais e meias alternando abertos e por dentro nas ações ofensivas – e volume de jogo que tontearam os dois adversários até agora.

Oito gols marcados, 68% de média na posse de bola, acerto acima de 90% nos passes, 39 finalizações (19 no alvo), nenhuma na direção da meta de Ederson em 180 minutos. Mesmo relativizando o nível dos adversários, não é pouco. Até porque o Burnley vinha de sete partidas de invencibilidade e apenas três gols sofridos.

O City retorna voando baixo e aquece as turbinas para competir forte no que resta em 2019/20. Temporada problemática pelo contexo, mas que ainda pode ser gloriosa e histórica.

(Estatísticas: Whoscored.com)

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Liverpool empata clássico e sofre na volta porque depende demais do ritmo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/21/liverpool-empata-classico-e-sofre-na-volta-porque-depende-demais-do-ritmo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/21/liverpool-empata-classico-e-sofre-na-volta-porque-depende-demais-do-ritmo/#respond Sun, 21 Jun 2020 20:27:45 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8669 O Liverpool de Jurgem Klopp ganhou a Europa e o mundo em 2019 depois de apurar o modelo de jogo e adicionar peças essenciais para o salto de qualidade, como Alisson na meta e Van Dijk na zaga.

Mas sempre com intensidade máxima, volume de jogo sufocante na maior parte do tempo. Mesmo aos poucos trabalhando mais a bola, controlando ritmo e dosando energias. O amadurecimento do “gegenpressing”, do futebol “rock’n’roll” do treinador alemão.

A pausa de mais de 90 dias foi inesperada e tirou tudo do contexto. Virou o mundo de ponta a cabeça e a melhor equipe do planeta foi junto no turbilhão. Havia, inclusive, o temor de que a conquista da Premier League, prioridade na temporada, fosse ameaçada pelo fim precoce da competição sem um campeão.

A volta foi um alento, mas obviamente gerando um problema: como retomar a essência do modelo de jogo com tanto tempo parado e um período curto de preparação? E já no clássico de Liverpool  contra o Everton. Mesmo sem perder para o rival local desde 2010, era um desafio para os Reds. Porque depende demais do ritmo de jogo para funcionar.

Com Salah no banco e Robertson de fora, o líder absoluto da liga adiantou as linhas, ficou com a bola e investiu no perde-pressiona, virando a chave rapidamente na transição defensiva. Mas a “ferrugem” era clara, apesar do domínio. Forçando naturalmente pela direita com Alexander-Arnold e Minamino, enquanto Milner descia menos no habitual improviso pela lateral esquerda.

O Everton de Carlo Ancelotti respondia com um 4-4-2 compacto e acelerando para sair logo da pressão do rival e entrar no campo de ataque. Acionando Richarlison e Calvert-Lewin, dupla na frente que buscava as infiltrações entre zagueiros e laterais adversários.

Domínio vermelho com posse de 70% e 85% de efetividade nos passes, porém com dificuldades para desequilibrar o sistema defensivo do Everton para criar a chance cristalina. Fazendo mais força pra jogar, o desgaste foi inevitável.

Os primeiros a sentir foram Milner e Minamino. Depois Matip saiu com problemas físicos. Klopp usou as cinco substituições tirando também Keita e Firmino. Com Joe Gomez, Oxlade-Chamberlain, Lovren, Wijnaldum e Origi, o nível caiu. Em todos os aspectos.

E o Everton terminou o jogo com menos posse e finalizações – nove contra dez, três no alvo para cada lado. Mas com a impressão de que poderia ter encerrado no Goodison Park com torcida virtual um jejum de uma década. Três oportunidades seguidas, a melhor na jogada de Richarlison pela esquerda que encontrou a letra de Calvert-Lewin para grande defesa de Alisson. No rebote, chute de Davies desviado em Gomez e tocando na trave direita.

O clássico naturalmente não teve o nível habitual de um jogo deste tamanho. A boa notícia para o Liverpool é que a vantagem sobre o Manchester City que pode cair para 20 pontos se o time de Guardiola vencer em casa o Burnley amanhã, no encerramento da rodada, parece imune a oscilações. Faltando oito rodadas.

Mesmo em um anticlímax, o fim de jejum de 30 anos está cada vez mais próximo.

(Estatísticas: Whoscored.com)

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São Paulo não venceu melhor da Europa em 2005, mas méritos são inegáveis http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/24/sao-paulo-nao-venceu-melhor-da-europa-em-2005-mas-meritos-sao-inegaveis/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/24/sao-paulo-nao-venceu-melhor-da-europa-em-2005-mas-meritos-sao-inegaveis/#respond Sun, 24 May 2020 20:49:44 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8542

Foto: Martin Rickett / Getty Images

Em dezembro de 2005, o melhor time da Europa já era o Barcelona de Ronaldinho. Líder do Espanhol, melhor campanha da fase de grupos da Liga dos Campeões 2005/06, superando Arsenal e Lyon no saldo de gols. Em novembro, massacrara o Real Madrid de Vanderlei Luxemburgo no Santiago Bernabéu por 3 a 0, na memorável atuação do brasileiro camisa dez blaugrana, que arrancou aplausos da torcida do maior rival. Ao final da temporada seria campeão nacional e europeu, no auge do trabalho de Frank Rijkaard no comando técnico.

Mas o Liverpool de Rafa Benítez era forte. Na Premier League, caçava o líder Chelsea, campeão da temporada anterior e comandado por José Mourinho. Os Blues também foram adversários dos Reds na fase de grupos da Champions. Empataram em 0 a 0 os dois jogos. O time vermelho vinha de uma invencibilidade de 11 jogos, sem sofrer gols, e carregavam uma confiança quase inquebrantável por conta da reação na final contra o Milan, saindo de um 3 a 0 contra, empatando e vencendo nos pênaltis. O “Milagre de Istambul”.

Na semifinal do Mundial, passaram com facilidade pelo Deportivo Saprissa, o surpreendente time da Costa Rica que vencera a Liga dos Campeões da CONCACAF. Três a zero e o campeão europeu carregava um favoritismo natural para a segunda edição do torneio organizado pela FIFA. O retrospecto recente, nos dez anos de 1995 a 2005, já mostrava um domínio do Velho Continente: foram oito conquistas a três, considerando as duas edições de 2000.

Também porque o São Paulo enfrentara mais dificuldades contra o Al-Ittihad na vitória por 3 a 2. O campeão da Libertadores que, depois do título sul-americano, passou o segundo semestre oscilando, chegou a flertar com a zona de rebaixamento no Brasileiro, mas terminou na 11ª colocação. Exatamente o meio da tabela na edição com 22 clubes.

Justificava os cuidados defensivos da equipe comandada por Paulo Autuori na final em Yokohama, reprisada pela TV Globo neste domingo, para São Paulo. Especialmente depois do gol de Mineiro, aos 27 minutos do primeiro tempo. O auge do único momento real de equilíbrio na partida.

O Liverpool, que fazia um jogo mais direto, terminou com 53% de posse porque impôs seu volume de jogo, buscando Morientes e Luis Garcia nas ligações diretas e jogo aéreo. Finalizou 21 vezes contra apenas quatro dos sul-americanos. Oito a dois na direção da meta.

Três ataques que terminaram com a bola nas redes bem anulados pela arbitragem, atuação portentosa de Rogerio Ceni, especialmente na antológica defesa em cobrança de falta de Steven Gerrard. Já ídolo e líder em Anfield, grande destaque da equipe inglesa que empurrou o São Paulo para um 5-2-2-1 com os alas Cicinho e Junior mais recuados e Josué e Mineiro se desdobrando à frente da defesa. Amoroso e Danilo ajudavam a fechar espaços e Aloísio, depois Grafite, lutando sozinho contra os zagueiros Carragher e Hyypia.

O São Paulo se virou como pôde e teve méritos inegáveis. O maior deles foi o de resistir. Sem vergonha de se reconhecer inferior na partida e defender a vantagem conquistada. No final, a justa celebração apoteótica, no Japão e no Brasil.

Porque definitivamente não venceu qualquer um no tricampeonato mundial inédito para brasileiros e, por isso, histórico.

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Comparação mais justa nos Mundiais de 12 e 19 não é entre Fla e Corinthians http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/18/comparacao-mais-justa-nos-mundiais-de-12-e-19-nao-e-entre-fla-e-corinthians/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/18/comparacao-mais-justa-nos-mundiais-de-12-e-19-nao-e-entre-fla-e-corinthians/#respond Mon, 18 May 2020 11:50:52 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8508 As reprises na TV Globo da conquista do Mundial de Clubes 2012 pelo Corinthians, para São Paulo, e da Libertadores do ano passado pelo Flamengo despertaram nas redes sociais uma rivalidade que nunca fez muito sentido para este que escreve, que viveu a época da “Fla-Fiel”, de torcedores engrossando a massa do “parceiro” em disputas interestaduais.

Uma união de times extremamente populares que foi minada primeiro pelo bairrismo crescente em programas de TV que deveriam ser de âmbito nacional e depois pela internet, com a tola “polêmica” sobre qual a maior torcida do país.

Apesar do jogo exibido do time carioca ter sido contra o River Plate em Lima, muitos corintianos fizeram questão de lembrar da derrota do Flamengo para o Liverpool no Mundial em dezembro. Mantendo o clube paulista como o único sul-americano a vencer o torneio organizado pela FIFA nesta década.

Méritos inquestionáveis de uma conquista invicta desde a Libertadores da equipe comandada por Tite. E a comparação não faz sentido também porque o registro que fica para os corintianos é de uma festa apoteótica no Japão e dos rubro-negros de tristeza no Catar, apesar do orgulho pelo desempenho do time. Celebração só em 1981, com os 3 a 0 sobre o mesmo gigante inglês em Tóquio, na conquista reconhecida pela FIFA como Mundial.

Mas a comparação correta para avaliar apenas os desempenhos dos times brasileiros deve ser entre os adversários. Qual time impôs mais resistência: o Chelsea de Rafa Benítez há quase oito anos ou o Liverpool de Jürgen Klopp há cinco meses?

Bem, os Blues não eram o melhor time da Europa nem quando conquistaram a tão sonhada Liga dos Campeões. Apesar do heroismo de resistir ao Bayern na final em Munique e ter eliminado o Barcelona de Guardiola na semifinal, os comandados de Roberto Di Matteo, liderados em campo por Didier Drogba, foram o grande azarão e não tiveram uma grande atuação para chamar de sua no período.

Em dezembro, sem Drogba e com Rafa Benítez, era um time ainda mais fragilizado. Eliminado por Juventus e Shakhtar Donetsk na fase de grupos da Champions 2012/13, terminaria em terceiro lugar na Premier League, 14 pontos atrás do campeão Manchester United, e sem faturar nenhuma copa nacional.

Só a Liga Europa contra o Benfica, mas pela capacidade de investimento de Roman Abramovich à época, não passou de um prêmio de consolação. Tanto que Benítez acabou demitido no final da temporada para o clube londrino repatriar José Mourinho.

No Mundial, vitória protocolar sobre o Monterrey por 3 a 1 na semifinal. Impondo a enorme superioridade técnica de um time que ainda contava com Cech, Ivanovic, David Luiz, Ashley Cole, Lampard, Hazard e Fernando Torres.

É óbvio que o Corinthians não venceu qualquer um. Nem foi uma vitória por acaso, abrindo mão de jogar futebol. Se cuidou na execução do 4-4-1-1 que tinha Danilo pela esquerda e Emerson se aproximando de Paolo Guerrero, autor do gol do título. Para depois compactar setores marcando por zona, uma novidade à época nos times brasileiros, e contar com as defesas de Cássio para segurar o campeão europeu estelar.

Inegavelmente um feito histórico e único nos últimos dez anos, de domínio cada vez maior dos times do Velho Continente. Não só pelo abismo financeiro, mas por conta da evolução constante dos métodos e do rendimento no mais alto nível.

Eis o mérito do Flamengo, mesmo sem levantar a taça. Encarou de fato o melhor time europeu e do planeta naquele momento. Classificado para o mata-mata da Liga dos Campeões e líder absoluto da Premier League, com título praticamente encaminhado já em dezembro.

Com Alisson, Van Dijk, Alexander-Arnold, Robertson, Henderson, Salah, Firmino e Mané. À beira do campo, o melhor treinador do planeta na atualidade. Mesmo considerando a intensidade mais baixa na disputa do Mundial e o susto na semifinal contra o Monterrey usando time misto, os Reds eram favoritos absolutos.

Ainda mais em tempos recentes, com sul-americanos eliminados nas semifinais em 2013, 2016 e 2018 – sem contar o “pioneiro” Internacional contra o Mazembe em 2010. O Flamengo ao menos cumpriu a obrigação contra o Ah Hilal, apesar do susto e da necessidade de virar o jogo para 3 a 1.

Na decisão, o mérito da equipe de Jorge Jesus foi tentar jogar, utilizando conceitos atuais que surpreenderam até Alisson e Firmino, brasileiros que atuam no Liverpool. Duelando pela posse de bola e ocupando o campo de ataque em vários momentos.

Nunca saberemos se o Flamengo, caso tivesse aberto o placar, também se fecharia como o Corinthians. E é preciso considerar o maior desgaste por ter se dedicado e vencido também o Brasileiro, enquanto o time paulista praticamente abandonou a principal competição nacional e respirou Chelsea desde a conquista da Libertadores em julho.

O cansaço cobrou uma conta alta na prorrogação e o gol de Firmino fez justiça ao melhor time da decisão. Que criou chances cristalinas e fez Diego Alves trabalhar quase tanto quanto Cássio em Yokohama. Não há o que contestar, apesar da chance desperdiçada por Lincoln no último ataque dos 12o minutos.

Tudo isso em um trabalho de cinco meses, bem menos que os mais de dois anos de Tite. Um no início, outro no ápice. Mas fundamentalmente com adversários vivendo momentos bem distintos.

O Corinthians conseguiu o objetivo final, a vitória. O Flamengo ficou com a esperança de retornar, abafada agora pela pandemia. Para o histórico de vexames internacionais nos últimos tempos, o título da Libertadores já foi uma conquista espetacular, ainda mais com a virada no final sobre o então campeão River de Marcelo Gallardo com os gols de Gabriel Barbosa.

Mas como vivemos tempos de comparações descabidas para provocar e gerar “engajamento”, forçaram um paralelo que, como tudo, precisa de contextualização para ser melhor compreendido. Sem o simplismo de apenas olhar o placar final e arrotar “verdades”. Felizmente o futebol é bem mais que isso.

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“Quem vai marcar?” A pergunta fedendo a mofo que o Flamengo enterrou de vez http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/08/quem-vai-marcar-a-pergunta-fedendo-a-mofo-que-o-flamengo-enterrou-de-vez/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/08/quem-vai-marcar-a-pergunta-fedendo-a-mofo-que-o-flamengo-enterrou-de-vez/#respond Fri, 08 May 2020 16:02:06 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8457

Foto: Diego Vara / Reuters

“Eu não gosto de time de índio, não. Só atacar é meio complicado. É bom em determinadas situações, mas você não pode entrar no campo em desequilíbrio”.

Palavras de Abel Braga, ainda como treinador do Flamengo, no dia 26 de janeiro do ano passado. A declaração veio logo depois da defesa da titularidade de Willian Arão ao lado de Cuéllar na dupla de volantes e a dificuldade alegada de reunir Everton Ribeiro, De Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabriel Barbosa no setor ofensivo.

“Quem vai marcar?” Frase resgatada na Live que este que escreve participou no canal do companheiro Mauro Cezar Pereira no Youtube. Lembrando as seleções de 1970 e 1982, mas também sobre o futebol atual.

Esse questionamento vem desde os primórdios do futebol brasileiro. Porque nossa escola sempre foi de criar compensações defensivas para dar liberdade aos mais talentosos. Desde a “diagonal” de Flávio Costa no Brasil vice-campeão em 1950, com Bauer dando proteção à defesa e liberando Zizinho e Jair Rosa Pinto na criação das jogadas.

Passando por Zagallo como “falso ponta” em 1958/1962 para que Garrincha e Pelé desequilibrassem. Até o 3-4-1-2 de Luiz Felipe Scolari que soltava Rivaldo e os Ronaldos no último título mundial na Ásia, em 2002. Um marca, outro joga. Um “carrega o piano” para outro “solar”. Um suja o calção para o outro desfilar. Ou seja, quem tem talento é privilegiado e o menos dotado tecnicamente faz o “serviço sujo”. Nada mais brasileiro em sua essência.

Mas em campo fazia algum sentido pela maneira de se defender. Todos voltavam até o próprio campo, com os zagueiros muito recuados. Para que a meta não ficasse tão ameaçada, era necessário ter jogadores especialistas nos desarmes e interceptações. Ou rápidos na cobertura de laterais que nos anos 1990/2000 se transformavam em alas, cada vez mais liberados para atacar.

O Cruzeiro de Vanderlei Luxemburgo em 2003 é um símbolo do futebol da época. Os laterais Maurinho e Leandro apoiando o tempo todo, às vezes ao mesmo tempo. Alex, o meia articulador clássico, o “dez”, jogando livre para municiar a dupla de ataque ou ele mesmo partir para a finalização. Amparados pelo trio de volantes Maldonado-Augusto Recife-Wendel, que protegia a zaga. Cinco atacam, cinco defendem.

Mas a grande evolução do esporte nos últimos doze anos é justamente a transformação do jogo em um fluxo contínuo de ataque-defesa. Ataca pronto para fazer a transição defensiva pressionando o adversário que acabou de recuperar a bola para tomá-la e voltar a atacar. Pressão e contrapressão. Virando a chave toda hora e mudando o comportamento rapidamente.

Assim é possível ser mais intenso nas ações porque a corrida de trinta metros para recompor, voltando da ocupação do campo de ataque até o posicionamento defensivo próximo da própria área, é mais rara e o desgaste menor. O jogador corre os mesmos 14 quilômetros por jogo, porém dentro de uma ocupação mais inteligente do campo. O movimento coletivo que divide as atribuições defensivas.

Desta forma, os jogadores mais ofensivos não precisam ser exímios marcadores. Porque a pressão é para dificultar o passe e não o desarme que evita a conclusão ou o passe decisivo lá atrás. A volta do ponteiro acompanhando o lateral, algo tão criticado pelos mais puristas, não precisa ser constante, já que o atacante vai buscar o defensor lá no campo deste.

Por isso Jorge Jesus não teve problema nenhum em reunir Everton Ribeiro, De Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabriel Barbosa na frente. Mais Gerson, o meia pelo centro do 4-1-3-2 que é a base para outras tantas variações táticas.

Willian Arão, aquele que Abel via como o volante a mais para proteger a retaguarda, agora é o meio-campista que fica mais próximo da última linha de defesa, mas também com autorização para descer e apoiar os atacantes. Porque se houver a perda da bola, ele não terá que voltar desesperado, já que a pressão dos companheiros mais ofensivos pode gerar a retomada da bola. No mínimo o retardo do contragolpe do oponente.

Um time ofensivo, porém competitivo. O primeiro campeão brasileiro e da Libertadores desde o Santos de Pelé, capaz de duelar em alto nível com o Liverpool de Jurgen Klopp no Mundial de Clubes. Conquistando mais três taças em 2020 até a bola parar.

No nosso resultadismo de todo dia, só mesmo tal retrospecto para calar qualquer crítica anacrônica, cheirando a mofo. Mostrando que o “time de índio” é apenas uma equipe que se defende atacando, em um processo de 90 minutos. Quebrando de vez o paradigma e tornando esse debate até ridículo. Enterrou de vez.

Eis a grande contribuição do Flamengo de Jorge Jesus ao futebol brasileiro e que já gerava tentativas de respostas, como o Internacional de Eduardo Coudet e o que se esperava de Jorge Sampaoli no Atlético Mineiro, depois do que fez em 2019 no Santos, mesmo sem títulos.

Que a volta do futebol pós-pandemia traga a evolução definitiva do nosso jogo. Sem olhar para trás.

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Os dez maiores treinadores do século 21 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/30/os-dez-maiores-treinadores-do-seculo-21/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/30/os-dez-maiores-treinadores-do-seculo-21/#respond Mon, 30 Mar 2020 11:45:52 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8231

Foto: Darren Staples / Reuters

1º – Pep Guardiola 

O que melhor combinou conquistas, desempenho das equipes e influência no jogo. Suas ideias e transformações ao longo do tempo puxaram fila entre os treinadores e fez o esporte evoluir trinta anos em dez. O melhor time do século, o Barcelona de 2010/11, carrega sua forte assinatura. O mais vencedor em ligas por pontos corridos, quando o melhor trabalho quase sempre se impõe. São sete em nove disputadas. Dominante na Espanha, Alemanha e Inglaterra.

Influenciado por Rinus Michels, Johan Cruyff, Juan Manuel Lillo, Marcelo Bielsa, Arrigo Sacchi e também assimilando conceitos de seus contemporâneos, Guardiola se reinventa o tempo todo, adicionando intensidade e se adaptando ao ritmo da Premier League. Só não negocia a posse de bola, a pressão pós-perda para recuperá-la o mais rápido possível e a volúpia ofensiva de suas equipes. Um gênio.

2º – José Mourinho

O melhor do mundo indiscutível de 2003 a 2008. Contra Guardiola teve que se provar e protagonizou os grandes duelos dos últimos dez anos, vencendo com a Internazionale a Liga dos Campeões 2009/10 e La Liga em 2011/12 com campanhas históricas. Mas caindo com o Real Madrid na sequência de superclássicos de 2010/11, superado nas ligas nacional e continental, só vencendo a Copa do Rei.

Nem o ocaso recente diminui os grandes feitos e também a contribuição para o futebol. Sim, a sua “retranca inteligente” também ajudou a fazer o jogo evoluir. Uma pena ter assumido de forma exagerada o personagem “Darth Vader da bola”, se esforçando tanto para ser o anti-Guardiola que seus trabalhos estagnaram no exagero defensivo, no “park the bus”, e também na tensão exagerada da gestão do vestiário.

3º – Carlo Ancelotti

A liderança tranquila. Um gestor de talentos por excelência. Identifica os líderes, técnicos e anímicos, de um elenco e agrega ao trabalho, criando um clima amistoso, mesmo na imensa pressão do futebol em alto nível. Amado por figuras díspares, como Kaká, Ibrahimovic e Cristiano Ronaldo.

Mas também deu sua contribuição tática, com a “Árvore de Natal”, o 4-3-2-1 do Milan campeão europeu e mundial em 2006/07 que tinha Pirlo como “regista” e Kaká mais solto para rasgar as defesas adversárias com força e velocidade. Também o Real Madrid de “La Decima”, dando a melhor resposta ao estilo de Pep Guardiola ao massacrar o Bayern de Munique com 5 a 0 no agregado e um futebol de compactação defensiva e contragolpes demolidores.

4º – Alex Ferguson

O homem que fez o Manchester United tomar do Liverpool o posto de maior vencedor na Inglaterra, com 20 títulos. O Rei da Premier League, com 13 conquistas. Sete neste século. Cinquenta títulos na carreira. E os Red Devils tentam até hoje reencontrar um caminho de volta às glórias.

Ferguson não era nenhum gênio tático, mas tinha a capacidade de desenvolver seus jogadores, como fez com Cristiano Ronaldo, Wayne Rooney, David Beckham, Ryan Giggs e tantos outros. Influenciado pelos treinadores estrangeiros que chegaram a Inglaterra, soube criar variações e apostar na versatilidade dos atletas. Apostava também na força mental, especialmente no final dos jogos, que criou o mito do “Fergie Time”, arrancando vitórias improváveis que construíram uma carreira mais que vencedora.

5º – Jurgen Klopp

O melhor treinador da atualidade. O grande algoz de Guardiola, criando problemas para o catalão desde os duelos do Bayern contra o Borussia Dortmund que comandou e construiu uma hegemonia no início desta década na Alemanha com seu futebol “rock’n’roll”.

Estilo personalíssimo, de intensidade máxima e rapidez nas transições, mas que aprendeu a trabalhar a bola para acrescentar pausas e não exaurir sua equipe. Assim deu o salto competitivo que fez o Liverpool duas vezes finalista da Champions, último campeão e agora com o tão sonhado título de Premier League dos Reds encaminhado e barrado apenas pelo Covid-19. Além de ótimo profissional, um cara boa gente. Carismático, adorado por seus jogadores e respeitado pelos adversários.

6º – Arsène Wenger

Não se prenda à imagem final do francês no Arsenal decadente. Wenger revolucionou não só o clube, mas também o futebol inglês. Sepultou o “kick and rush” e adicionou leveza e valorização da técnica. Com erros e acertos, também marcou seu trabalho pela descoberta e desenvolvimento de jovens talentos. Assim ajudou o clube a se estruturar financeiramente e construir o Emirates Stadium.

O grande momento, indiscutivelmente, foi o título invicto da Premier League em 2003/04. Os “Invincibles” das rápidas transições ofensivas e do fulgor da dupla Dennis Bergkamp e Thierry Henry no ataque, bem assessorados por Ljungberg, Pires, Vieira e Ashley Cole. Faltou o título europeu, que parou no Barcelona de Ronaldinho em 2005/06, mas a trajetória é marcante na história.

7º -Jupp Heynckes

O “pai” do futebol mais inteligente da atualidade, com times versáteis, capazes de mudar de estratégia nas partidas sem alterar a escalação. Em 2012/13, o Bayern de Munique da tríplice coroa foi o segundo time com mais posse na Europa, mas atropelou o Barcelona, líder no controle da bola, na semifinal da Champions com 7 a 0 no agregado e 40% de posse na média das duas partidas.

O time de Robben e Ribéry que podia encurralar o adversário em seu campo ou atrair e atropelar com transições ofensivas avassaladoras. Superando a doída derrota nos pênaltis para o Chelsea na final europeia em Munique e fazendo da temporada de despedida do treinador veterano uma aventura épica que deixou marcas tão profundas que fez Heynckes retornar da aposentadoria em 2018 para reerguer o clube e levá-lo a novo título da Bundesliga, aos 73 anos.

8º – Zinedine Zidane

Um gênio dos campos que fez história em sua primeira experiência como treinador em um grande time. Tricampeão da Champions, um feito que, mesmo com oscilações no desempenho e beneficiado por algumas arbitragens bastante questionáveis, é difícil de mensurar sem o devido distanciamento histórico.

Herdeiro da liderança tranquila de Ancelotti, de quem foi auxiliar no próprio time merengue, o francês ajustou um timaço que sabia trabalhar no campo de ataque, mas também nos contragolpes. A temporada 2016/17 foi perfeita, não só pelo título espanhol, mas pela armação do 4-3-1-2 móvel que tinha Isco ora se juntando a Casemiro, Modric e Kroos no meio-campo, ora formando um trio no ataque com Cristiano Ronaldo e Benzema. Atuação magnífica nos 4 a 1 sobre a Juventus na final da Champions.

9º – Vicente Del Bosque

Dois grandes feitos no século: o único treinador que conseguiu fazer o time galáctico do Real Madrid, com todas as estrelas – Roberto Carlos, Figo, Zidane, Raúl e Ronaldo – faturar um título: a liga espanhola 2002/03. Apenas sem o Fenômeno ganhou a Champions da temporada anterior, com o gol antológico de Zidane na final contra o Bayer Leverkusen.

Ainda o primeiro título mundial da Espanha em 2010. Combinando com sabedoria o legado de Aragonés no título da Eurocopa 2008 com a influência de Pep Guardiola no Barcelona que era a base da seleção. Sabendo que não contava com o gênio Messi, apostou em uma posse obsessiva e defensiva, que trabalhava a bola no ritmo de Xavi e Iniesta para ser menos incomodado pelos adversários. Del Bosque também era um sábio gestor de vestiário que criava um clima sereno para as estrelas brilharem.

10º – Diego Simeone

O argentino não poderia deixar de figurar nesta lista apenas por ter conquistado uma liga espanhola superando o Barcelona de Messi e o Real Madrid de Cristiano Ronaldo – simplesmente dois dos maiores times da história de clubes gigantes. Na temporada 2013/14 que ainda teve final da Champions que escapou nos últimos segundos.

Mas Simeone fez muito mais. Podemos dividir a história do Atlético de Madri antes e depois do treinador. Não só pelos dois títulos de Liga Europa e uma Copa do Rei, além da liga espanhola já citada, mas pelo resgate da autoestima e do orgulho do clube. Capaz de feitos como o mais recente, eliminando o campeão Liverpool da Liga dos Campeões. Você pode não apreciar o estilo, mas tem que respeitar o que conseguiu sem os mesmos recursos dos gigantes espanhois.

 

 

 

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Quatro anos sem Cruyff: Holanda-74 misturava Liverpool e Flamengo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/24/quatro-anos-sem-cruyff-holanda-74-misturava-liverpool-e-flamengo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/24/quatro-anos-sem-cruyff-holanda-74-misturava-liverpool-e-flamengo/#respond Tue, 24 Mar 2020 13:32:13 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8201

Foto: Reuters

Confesso que o comentário do leitor “mpereira1963” no post sobre as seis partidas que mudaram a história do jogo gerou um desconforto:

Não era pra ter um jogo da Holanda 74 nesta lista? A maior revolução tática do esporte não merecia um espaço aqui? Eita.”

Na hora de elaborar a lista, confesso que não consegui definir uma das sete partidas da seleção comandada por Rinus Michels como a mais simbólica em uma mudança no esporte. A campanha toda foi muito marcante.

Mas como tenho os jogos contra Uruguai, Argentina, Brasil e Alemanha gravados e não vem faltando tempo com a quarentena pelo coronavírus, fui rever as partidas do “Carrossel Holandês” no Mundial disputado há 46 anos.

Para quem estuda futebol, recomendo esse exercício. Porque conforme o jogo evolui, o olhar muda e a tendência é passar a prestar atenção em nuances que antes passavam batidas.

Como era intensa! Na pressão logo após a perda, na circulação da bola e, principalmente, na movimentação. A Era Guardiola no Barcelona e o fato do treinador catalão citar Johan Cruyff como grande mentor nos induziam a ver semelhanças. Não havia, porém, o menor sinal do jogo de posição ou localização naquela Holanda.

Ainda que os pontas Johnny Rep e Rob Rensenbrink muitas vezes ficassem bem abertos e alargassem o campo, eles não necessariamente esperavam a bola para jogar. Participavam ativamente das trocas de funções com Cruyff e Neeskens na frente. Não raro ver os ponteiros serem ultrapassados pelos laterais Suurbier e Krol e cobrirem os espaços deixados na perda da bola.

O sistema tático era mutante, mas poderia ser chamado de “4-3-Cruyff-2”. Porque o camisa 14, craque e capitão tinha ainda mais liberdade que a concedida aos companheiros para circular por todo campo partindo do centro do ataque. Era o “falso nove” por excelência. A ponto de receber a bola como o jogador mais recuado e arrancar para sofrer o pênalti convertido por Neeskens no início da decisão da Copa.

O “4-3-Cruyff-2” da Holanda de Rinus Michels tinha movimentação, pressão e muito volume de jogo para sufocar os adversários (Tactical Pad).

Essa mistura de liberdade para se mexer e pressão obsessiva para recuperar a bola lembra muito o que Liverpool e Flamengo fazem hoje. Jorge Jesus fez estágio no início da carreira com Cruyff e as escolas alemães e holandesas sempre trocaram muitas influências, apesar da rivalidade entre os países. E Jürgen Klopp bebeu deste caldeirão de referências.

Portanto, quando vemos Salah, Mané e Firmino trocando posições e funções e os laterais Alexander-Arnold e Robertson atacando ao mesmo tempo, isso passa pela Holanda-74. Assim como o Flamengo subindo o time todo para fazer pressão na saída do adversário, recorrendo a encaixes e perseguições eventuais no setor da bola.

A combinação de características também era interessante. Suurbier tinha mais força física pela direita para buscar o fundo, Ruud Krol mais técnica do lado oposto, inclusive atacando muitas vezes por dentro. Na zaga, o “líbero” Haan mais técnico e Rijsbergen mais “zagueiro”, forte nas disputas com os atacantes. Todos protegidos pelo goleiro Jongbloed, que não era brilhante, mas sabia jogar adiantado e participar da construção do jogo.

No meio-campo, Jansen era incansável, normalmente ocupando o lado direito e às vezes fazendo todo o corredor como um ala. Muito dinâmico.  Já Van Hanegem era o organizador,quem decidia junto com Cruyff se o time trocaria mais passes e circularia mais a bola ou seguiria atacando com agressividade. O meia-armador atrás do ponta-de-lança Neeskens, se é que podemos rotulá-los como o futebol da época.

Todos se movimentando com a bola e saindo para abafar o adversário na perda. A posse era construída por esse volume, além da inteligência para saber como se comportar em qualquer região do campo. Como dizia Cruyff, cada jogador fica no máximo três minutos com a  bola em 90 minutos. Logo, o mais importante é o que se faz sem ela nos outros 87.

Por que não venceu? Talvez tenha faltado um autêntico homem-gol, o artilheiro capaz de decidir em poucas oportunidades. Como a Alemanha contava com Gerd Muller, que fez o gol do título no final do primeiro tempo. Em todas as partidas, a Holanda desperdiçou muitas chances. A campanha poderia ter sido ainda mais avassaladora.

Quem sabe o gás não tenha acabado? Afinal, a proposta de jogo poderia estar à frente do tempo, mas a preparação física era a da primeira metade dos anos 1970. Difícil manter aquela intensidade em uma sequência de sete partidas em um mês. Ainda mais dispendendo energia naqueles “arrastões” com os dez jogadores de linha atacando o adversário com a bola para colocar os demais em impedimento e amassar psicologicamente.

E os alemães, comandados por Helmut Schön, tinham craques e força mental. De novo buscando referências atuais, seria uma espécie de Real Madrid tricampeão da Champions. Imagine começar uma final de Copa em casa levando um gol sem tocar na bola. Muitos se desmanchariam, menos a Alemanha de Maier, Beckenbauer, Breitner, Overath e Muller.

Aliás, a final foi um jogaço! Especialmente o primeiro tempo disputado em um ritmo alucinante. Com Bert Vogts perseguindo Cruyff como Gentile faria com Maradona e Zico oito anos depois. E uma Holanda menos móvel e mais cautelosa, claramente intimidada com a atmosfera no estádio em Munique e a vontade inquebrantável dos rivais.

Michels merecia o título pela revolução que promoveu, incluindo, principalmente, conceitos do basquete no futebol. Reinventando o que aprendeu com o inglês Jack Reynolds, seu treinador no Ajax. A conquista com a seleção só viria 14 anos depois, na Eurocopa de 1988. Muitos dizem que replicar aquelas ideias só foi possível agora, com a evolução na preparação física.

Mas não era difícil notar ecos da “Laranja Mecânica” na Argentina de Menotti campeã mundial em 1978, no Brasil de Telê Santana em 1982, no Milan de Arrigo Sacchi e, claro, no “Dream Team” do Barcelona comandado por Cruyff que venceu a primeira Liga dos Campeões do clube em 1991/92.

Era bonito de ver. Não só pela qualidade técnica e tática, mas por conta do fator surpresa. Especialmente na estreia, contra o Uruguai. Os adversários olhavam atônitos aquela avalanche do “Futebol Total”. O jogo de 2020, mas em 1974.

Uma ótima lembrança neste 24 de março, quando se completa quatro anos sem Cruyff entre nós. O legado, porém, segue intacto. Ou se transformando sem parar.

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Futebol em Quarentena – Os dez melhores times que vi em quatro décadas http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/17/futebol-em-quarentena-os-dez-melhores-times-que-vi-em-quatro-decadas/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/17/futebol-em-quarentena-os-dez-melhores-times-que-vi-em-quatro-decadas/#respond Tue, 17 Mar 2020 19:31:32 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8174

Foto: Javier Soriano / AFP

O futebol parou nos principais centros, inclusive no Brasil. Felizmente, a sensatez prevaleceu e quem puder ficar em casa para não arriscar um colapso nos atendimentos hospitalares por conta da pandemia do coronavirus, melhor para todos.

Mas o blog não pára e aproveita para olhar para trás e abrir espaços para postagens que em tempos velozes, de imediatismo e exigência do “quente”, do “gancho”, não costumam ter muito espaço.

Por isso a série “Futebol em Quarentena” trará rankings, análises de times históricos, jogos lendários, confrontos “dos sonhos” entre grandes equipes de épocas diferentes e o que mais pintar até a bola voltar a rolar no mundo – em breve, esperamos todos.

Para começar, a vontade da maioria do público que votou na enquete no Twitter:

Imagem: Reprodução / Twitter

Então seguem os melhores times (clubes) que vi em quase 40 anos acompanhando apaixonadamente o futebol. Com as devidas particularidades, incluindo memória afetiva. Lista é pessoal, sempre. E daqui a um ano pode mudar também… Vamos lá!

1º – Barcelona de Guardiola – 2010/11

Não foi a equipe mais vencedora comandada por Pep Guardiola na Catalunha, já que na primeira temporada do treinador novato (2008/09) veio a tríplice coroa. Mas mesmo perdendo a Copa do Rei para o Real Madrid de José Mourinho e Cristiano Ronaldo, o Barcelona da temporada 2010/11 foi um primor coletivo que iluminou ainda mais o talento de Xavi, Iniesta, Messi e Daniel Alves.

O gênio argentino, definitivamente como “falso nove”, destruiu as defesas adversárias e foi o elemento de desequilíbrio em um modelo de jogo que tangenciou a perfeição. Pressão pós-perda, posse de bola, construção do jogo desde o goleiro e criação de superioridade numérica no setor da bola, sempre buscando o homem livre. Cansava e atordoava os adversários e conseguia impor a maneira de jogar, mesmo nas raras derrotas. Combinação quase perfeita do melhor das escolas espanhola, holandesa e argentina.

2º – Milan de Arrigo Sacchi – 1988/1989

Os 5 a 0 sobre o Real Madrid pela semifinal da Liga dos Campeões no Giuseppe Meazza representam o melhor do fantástico time dos holandeses Frank Rijkaard, Ruud Gullit e Marco Van Basten. Comandados por Sacchi, que revolucionou o futebol italiano atualizando ideias de Rinus Michels.

Defesa em linha, comandada por Franco Baresi, marcando por zona, adiantando e aproximando setores, muitas vezes jogando em trinta metros e trabalhando a bola voltado para o ataque. Combinando a cultural solidez defensiva do “Calcio” com um estímulo ao talento que só rivalizava com a genialidade de Maradona no Napoli. Em 1990, faturou o bicampeonato europeu, último a conseguir o feito antes do Real Madrid de Zinedine Zidane. Um alento e um deleite em tempos de futebol defensivo, simbolizado pela Copa do Mundo disputada na própria Itália.

3º – São Paulo de Telê Santana – 1992/1993

Ganhar duas vezes seguidas a Libertadores é raro. Numa época ainda de muita violência no futebol sul-americano, além das já habituais arbitragens “polêmicas” e pouco controle de doping era ainda mais complicado. E priorizando o futebol bem jogado, mais raro ainda.

O que não era difícil era rivalizar com os gigantes europeus num período anterior à Lei Bosman, que transformou os grandes clubes do Velho Continente em verdadeiras seleções transnacionais. O São Paulo de Telê Santana conseguiu ser competitivo e ter momentos de futebol arte. O melhor exemplo na final do Mundial de 1992, contra o Barcelona. Com Cafu e Muller abertos, Rai e Palhinha por dentro e o suporte de Toninho Cerezo. Tocando, girando, envolvendo e virando para cima do “Dream Team” de Johan Cruyff. Um tempo de supremacia tricolor no planeta.

4º – Arsenal “Invincibles” – 2003/04

Campeão invicto da Premier League, já muito competitiva à época. O que o Liverpool de Klopp e o Manchester City de Guardiola sonharam, mas não conseguiram, os Gunners de Arsene Wenger fizeram história. Não é um título de Champions, mas não deixa de ser um feito extraordinário.

Méritos do time de contra-ataques de almanaque, mas que nunca abdicava de atacar. Uma equipe completa e que vivia um momento coletivo extraordinário, que potencializava as individualidades de Patrick Vieira, Thierry Henry e Dennis Bergkamp. Com auxílio luxuoso de Robert Pirés, Gilberto Silva, Ashley Cole e Fredrik Ljungberg. Transpiração e inspiração para primeiro garantir a taça, depois a trajetória imaculada e histórica. Que dificilmente será repetida.

5º – Bayern de Munique de Jupp Heynckes – 2012/13

Um rolo compressor improvável, depois do revés nos pênaltis em casa para o Chelsea na final europeia em Munique e de perder a hegemonia na própria Alemanha para o Borussia Dortmund de Jurgen Klopp. Na temporada que Jupp Heynckes anunciou que se despediria dos gramados e o gigante bávaro foi atrás de Guardiola em seu “ano sabático”.

Parecia fim de festa. Mas com Robben e Ribéry desequilibrando pelas pontas, o Bayern atropelou o Barcelona com 7 a 0 no agregado e média de 40% de posse de bola. Mesmo sendo o segundo melhor no quesito na Europa, atrás justamente do time blaugrana. Provando ser uma equipe “camaleã”, que se adaptava às demandas das partidas, algo que seria tendência nos anos seguintes. Faturou a tríplice coroa, sendo o último título de outro clube que não Barcelona e Real Madrid na década até o Liverpool quebrar a sequência na temporada passada. Timaço!

6º – Flamengo de Zico – 1981/1982

O time que “unificou” os títulos depois do Santos de Pelé nos anos 1960. Em maio de 1982, era o último campeão da cidade (Taça Guanabara), estado (Rio de Janeiro), país (Brasil), continente e mundo. Com inovações táticas que virariam tendências.

Congestionando o meio-campo com um volante (Andrade) e quatro meias (Tita, Adílio, Zico e Lico), mais Nunes, o centroavante que caía pelas pontas abrindo espaços para os mais talentosos – incluindo os laterais Leandro e Júnior. Mas um camisa nove que aparecia para decidir as partidas mais importantes. Tocando, girando as peças e colocando os adversários na roda. Faltou um período maior de hegemonia no continente, mas o legado da maneira de jogar é imenso, influenciando a inesquecível seleção brasileira da Copa da Espanha.

7º – Liverpool de Jurgen Klopp – 2019/20

Uma construção paciente, qualificando o elenco, tornando a maneira de jogar mais versátil, adicionando pausas no estilo “rock’n’roll” do treinador alemão. Sofrendo com goleiros e zagueiros fracos inicialmente, para depois ir ao mercado e contratar Alisson e Virgil Van Dijk.

Para dar segurança a um ataque avassalador. Com Mohamed Salah, Roberto Firmino e Sadio Mané próximos uns dos outros e da meta adversária e os laterais Alexander-Arnold e Robertson abrindo o campo e sendo os principais municiadores de um time como volume de jogo sufocante e força mental para sair de várias situações difíceis. Venceu a Champions em 2019 e alcançou a melhor campanha do clube na história da Premier League, mas sem faturar o sonhado título nacional que deve vir agora, se a temporada na Inglaterra não for cancelada.

8º – Real Madrid de Zinedine Zidane – 2016/2017

Por motivo de: TRICAMPEÃO da Champions. Não é todo dia que acontece, mesmo descontando algumas atuações pouco inspiradas, pitadas de sorte e arbitragens polêmicas. Chama ainda mais atenção a manutenção da base nas três conquistas e o fato de ser a estreia de Zinedine Zidane no comando técnico de uma equipe de primeira divisão.

O auge na temporada 2016/17, com a conquista também do título espanhol. E o encaixe de Isco, armando um 4-3-1-2 muito móvel e mutante. E essencialmente técnico, com Carvajal e Marcelo abrindo o campo, Cristiano Ronaldo se juntando a Benzema na frente e muito controle no meio-campo, sustentado por Toni Kroos e Luka Modric. Todos suportados por Casemiro na proteção a Varane e Sergio Ramos. Se tudo desse errado, lá estava Keylor Navas para garantir. A camisa entortou varal algumas vezes, mas era um time com muito poder de decisão.

9º – Boca Juniors de Carlos Bianchi – 2000/2003

Um time “embaçado” para enfrentar, especialmente em mata-mata. Mas também capaz de ganhar o Apertura invicto, no início desta caminhada em 1998. Equipe que sabia amassar os adversários na Bombonera e cinicamente cozinhá-los como visitante. E, se tudo desse errado, ainda havia o “rei dos pênaltis” Oscar Córdoba na meta.

No ritmo de Juan Roman Riquelme. Craque um tanto tímido, de hábitos estranhos. Mas um “enganche” de enorme talento e leitura de jogo, inclusive da temperatura. O típico dez que dita o ritmo, acelerando ou escondendo a bola. Faturando a Libertadores em 2000, 2001 e 2003, superando o milionário Palmeiras e o Santos de Diego e Robinho. No último sem Riquelme e Palermo, mas com o jovem Carlos Tévez e Guillermo Schelotto. Uma máquina de faturar taças comandada por Bianchi, um estrategista copeiro que estava na hora certa e no clube certo para fazer história.

10º – Palmeiras de Vanderlei Luxemburgo – 1996

Sim, o time alviverde mais vencedor comandado por Luxemburgo foi o de 1993/94. Este foi um “meteoro” que não durou seis meses. Mas, ora bolas! Futebol também é lúdico, capaz de fazer sonhar e encantar. E este que escreve chegou a faltar aulas e deixar de ver o time de coração para acompanhar esse futebol encantador.

Foram 102 gols e 13 goleadas de um time fulminante. Cafu e Júnior voando nas laterais, Djalminha e Rivaldo entregando talento no meio, Muller fazendo o pivô e Luizão perdendo e também fazendo muitos gols, tamanha era a superioridade coletiva e individual. Que encaixou no primeiro treinamento, segundo relato do próprio Djalminha a este que escreve em um “Bola da Vez” na ESPN Brasil em 2014. Só um título paulista, um revés doído para o Cruzeiro na final da Copa do Brasil, mas e daí? Nunca será esquecido e está na lista porque sim!

É isso!

Certamente muitos flamenguistas que acham que o futebol começou em 2019 vão cobrar: “Ain, e o time atual do Jorge Jesus?” Calma! Vamos esperar construir a história da equipe, ainda que ganhar Brasileiro com recorde nos pontos corridos e Libertadores no mesmo ano seja um feito espetacular. Mas vamos aguardar!

Para os mais inconformados, fica a promessa de uma análise mais detalhada do atual campeão nacional e continental em breve.

 

 

 

 

 

 

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“Molezinha” na Inglaterra pode atrapalhar o Liverpool na Champions? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/19/molezinha-na-inglaterra-pode-atrapalhar-o-liverpool-na-champions/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/19/molezinha-na-inglaterra-pode-atrapalhar-o-liverpool-na-champions/#respond Wed, 19 Feb 2020 09:47:59 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8007

Foto: Susana Vera / Reuters

Nos últimos anos, o argumento mais utilizado para justificar fracassos de Juventus, Bayern de Munique e Paris Saint-Germain na Liga dos Campeões foi a falta de desafios dos times, soberanos em suas ligas nacionais.

As equipes sobravam diante da concorrência e quando enfrentavam times de campeonatos mais competitivos sentiam o peso e acabavam sucumbindo.

Então, por coerência, não dá para dizer o mesmo do Liverpool em relação à Premier League?

Na temporada passada, apenas a derrota para o Manchester City que custou o titulo. Agora, as surreais 25 vitórias em 26 rodadas. 97,4% de aproveitamento. Com um desequilíbrio muito maior em relação a Bundesliga e Série A italiana nesta temporada.

É claro que o Inglês não deixou de ser competitivo, mas a equipe de Jurgen Klopp, por méritos próprios, parece ter encontrado uma espécie de fórmula, que adicionada à cultura de vitória faz o time se impor mesmo quando não apresenta bom desempenho. E os adversários vão jogando a toalha, até Pep Guardiola no bicampeão Manchester City.

Diego Simeone se recusa, especialmente em mágicas noites de Champions em Madrid. Antes no Calderón, agora Wanda Metropolitano. Mesmo na quarta colocação no Espanhol, dois pontos atrás do surpreendente Getafe e a 13 do líder Real Madrid.

É claro que o gol de Saúl Ñíguez logo aos quatro minutos condicionou o jogo e deixou o cenário à feição da concentração defensiva e do clima Davi x Golias que o treinador argentino adora criar. Compactou setores e contou com atuações gigantescas dos brasileiros Felipe e Renan Lodi para não permitir uma finalização do atual campeão europeu na direção da meta de Oblak.

E poderia ter machucado ainda mais os visitantes se Morata não perdesse duas boas chances, uma delas em furada grosseira dentro da área adversária. O Liverpool teve 67% de posse, 83% na efetividade nos passes e até alguns momentos de volume de jogo. Com a costumeira pressão pós-perda que fez o time da casa acertar apenas 67% dos passes.

Faltou, porém, a habitual contundência na frente. A ponto de Klopp, insatisfeito, mexer justamente no ataque: trocar Mané e Salah por Origi e Oxlade-Chamberlain. Sem sucesso, até porque o problema não era exatamente de qualidade individual, mas de incômodo nítido com o que o jogo impôs.

É claro que uma virada em Anfield é mais que possível, até provável. Só que os Reds terão que resgatar uma fúria que não vem sendo necessária pela “molezinha” na Inglaterra. Mas contra o Atlético de Simeone será obrigatória.

(Estatísticas: UEFA.com)

 

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