luizfelipescolari – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Seis anos do 7 a 1 e pouco aprendemos com a derrota. Só copiamos quem vence http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/08/seis-anos-do-7-a-1-e-pouco-aprendemos-com-a-derrota-so-copiamos-quem-vence/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/08/seis-anos-do-7-a-1-e-pouco-aprendemos-com-a-derrota-so-copiamos-quem-vence/#respond Wed, 08 Jul 2020 17:11:42 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8736

Imagem: Pedro Ugarte / AFP Photo

Seis de setembro de 2014. Menos de dois meses depois da maior derrota da história da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari dava entrevista coletiva no Maracanã como treinador do Grêmio. Este que escreve estava presente, trabalhando na cobertura do jogo para a ESPN Brasil. Altivo e refratário a qualquer questionamento sobre os 7 a 1, Felipão foi tratado pelos jornalistas dos veículos gaúchos, cariocas e nacionais como o dono da razão.

Afinal, seu time havia vencido o Flamengo de Vanderlei Luxemburgo por 1 a 0, gol de Luan, pelo Brasileiro. Encerrando uma série de cinco vitórias do time rubro-negro na competição. Era o primeiro triunfo do tricolor fora de casa sob o comando de Felipão e a equipe ocupava a sexta colocação, quatro à frente do Fla.

Grêmio que terminaria em sétimo e, no ano seguinte, Roger Machado seria o sucessor de Scolari e de um trabalho que deixou terra arrasada e a necessidade de reconstrução. O treinador novato encarou a missão e deixou base e conceitos que seriam aprimorados para em 2017 alcançar o auge com a conquista da Taça Libertadores. Com Renato Gaúcho no comando técnico.

Outro veterano e boleirão que viraria referência no ano seguinte. Junto com Felipão, de volta ao Brasil para comandar o Palmeiras que seria campeão brasileiro; A ponto de no final de 2018, o Flamengo, com nova diretoria liderada por Rodolfo Landim, o vitorioso na eleição para a sucessão de Eduardo Bandeira de Mello, escolher Abel Braga para ser o novo técnico.

Boleiro, perfil “paizão”, bom gestor de vestiário. Essa era a “moda” do futebol brasileiro no início de 2019. Reforçada com os títulos estaduais de Abel no Fla e Renato no Grêmio, mais o início avassalador do Palmeiras no Brasileiro. A ponto de na Copa América, disputada no Brasil, surgirem vozes críticas ao trabalho de Tite que tinham a coragem, quase audácia, de pedir a volta de Felipão no comando da seleção.

No dia 7 de julho, um dia antes de completar cinco anos do “Mineirazo” na semifinal da Copa do Mundo realizada no Brasil, a equipe de Tite conquistou o torneio continental como anfitrião. Sem saber que um furacão estava por vir.

Jorge Jesus no Flamengo. A união de qualidade, conceitos atuais e combinação de características dos jogadores que criou rapidamente um grande time. Cuja vitória de afirmação foi sobre o mesmo Palmeiras de Felipão. 3 a 0 no Maracanã que custou o emprego do técnico gaúcho.

Não foi o único. Fabio Carille, campeão brasileiro em 2017 e tri paulista, também ficou desempregado depois de uma goleada para os rubro-negros por 4 a 1. Assim como Mano Menezes, que caiu na antepenúltima rodada do Brasileiro por conta da derrota do Palmeiras em casa por 3 a 1 para a equipe de Jorge Jesus.

Ambos que carregaram um “hype” nos anos anteriores. Mano pelos títulos da Copa do Brasil pelo Cruzeiro, Carille pelas conquistas no Corinthians e sendo o ponta-de-lança de uma moda que veio antes dos técnicos veteranos: os “jovens, modernos e estudiosos” que ocuparam postos em grandes clubes e sinalizaram uma revolução no futebol brasileiro.

Nem era o caso. Carille simplesmente resgatou a  “identidade Corinthians” que assimilou e ajudou a implementar como auxiliar de Mano e Tite. Em entrevistas, deixava claro que não costumava acompanhar muito o que acontecia nos grandes centros da Europa. Enquanto vencia, essa prática não era criticada pela maioria na imprensa. Muitas vezes foi defendida, como se nossa realidade medíocre fosse imutável e qualquer influência do exterior não pudesse vingar.

Jorge Jesus chegou e virou tudo do avesso. Mas mesmo ele, apesar de toda excelência no desempenho do Flamengo, foi alvo de críticas, senões e “o trabalho é bom, mas…”, só calando a maioria das ressalvas quando alcançou o feito inédito de vencer Brasileiro e Libertadores no mesmo ano. Quebrando um paradigma que já tinha virado uma espécie de dogma: não seria possível disputar ambas em alto nível. Só rodando o elenco e poupando titulares em várias partidas do campeonato por pontos corridos.

Solução de Renato Gaúcho no Grêmio e também tratada como modelo. De Felipão no Palmeiras e depois do próprio Abel no início do Brasileiro pelo Flamengo. Pulverizada com os 5 a 0 na semifinal da Libertadores, com o time de Jesus atropelando a equipe do treinador que era tratado como o sucessor inevitável de Tite na seleção. Renato só não caiu no Grêmio depois do massacre no Maracanã por tudo que conquistou no clube, como jogador e técnico.

Jorge Jesus agora é a referência. Inclusive para a seleção brasileira. Porque venceu. E Tite, hoje questionado, já foi ídolo e tratado como um modelo de ética e competência até para ocupar a Presidência da República. Porque varreu os adversários nas Eliminatórias. A eliminação na Copa do Mundo para a Bélgica em um jogo igual, com tempos distintos, foi suficiente para colocá-lo em xeque.

E só conseguiu o tão sonhado posto na CBF porque em meados de 2016 era o último treinador campeão brasileiro, comandando o Corinthians. A bola da vez e sem concorrentes diretos. Se tivesse perdido o título para o Atlético Mineiro de Levir Culpi em 2015, mesmo com a evolução em métodos e no modelo de jogo depois de um ano “sabático” de estudos, talvez a oportunidade não tivesse surgido.

Enquanto tudo isso acontecia, o trauma e a reflexão sobre os 7 a 1 foi se diluindo com a passagem do tempo. A narrativa do “acidente” se fortaleceu, até pela queda dos alemães depois do ápice com o título mundial. A ponto de Felipão, o grande responsável pelas fragilidades da seleção anfitriã e pelas escolhas infelizes na escalação para o jogo do Mineirão, ser novamente tratado como solução e referência.

Seguimos olhando resultados e navegando ao sabor dos ventos. Na tentativa e erro em loop. O Flamengo se equivocou com Abel, agora acerta com Jesus, que pode voltar para Portugal treinar o Benfica. Se acontecer, quem será a próxima referência? A nova moda ou o “hype” da vez?

Não aprendemos nada, ou muito pouco. Só copiamos, ou tentamos copiar, quem vence. Só respeitamos quem sai com os três pontos. Um imediatismo que faz esquecer tudo muito rápido. O futebol é dinâmico, mas nem tanto.

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Futebol no Brasil continua mal jogado. Flamengo só é a melhor exceção http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/04/futebol-no-brasil-continua-mal-jogado-flamengo-so-e-a-melhor-excecao/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/04/futebol-no-brasil-continua-mal-jogado-flamengo-so-e-a-melhor-excecao/#respond Thu, 04 Jun 2020 12:20:29 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8595

Foto: Gazeta Press

O companheiro Mauro Cezar Pereira foi parar no topo dos assuntos mais comentados no Twitter ontem à tarde por conta de sua análise sobre o futebol jogado no Brasil. No podcast “Posse de Bola”, aqui no UOL Esporte, ele afirmou que até 2019, com algumas exceções, os times escolheram a tese do “jogar feio e vencer”. Os Jorges, Jesus e Sampaoli, teriam mudado esse cenário no ano passado com seus trabalhos no Flamengo e no Santos, respectivamente.

Como temos uma amizade de alguns anos, inclusive trabalhando juntos na ESPN Brasil, chamei o Mauro em particular para entender melhor o que ele queria dizer. Pouco antes ele havia publicado um vídeo no seu canal no Youtube explicando de forma mais clara o ponto de vista.

Entendi, mas continuo discordando respeitosamente do Mauro. A meu ver, o futebol no Brasil continua mal jogado. O Flamengo só é a melhor exceção.

Até porque há uma espécie de cultura subterrânea no país que valoriza o jogar mal. Não feio. Aliás, muitas vezes se cria um falso dilema em torno do tema. Para evitar confrontos com profissionais do futebol pelos mais variados interesses, de preservar a fonte jornalística até a tentativa de cavar uma vaga em comissões técnicas de clubes, se apela para a “não-crítica”.

“Há várias maneiras de jogar e vencer”, “não existe certo e errado’ e por aí vai. São as senhas para elogiar qualquer coisa que alcance resultados por um período ou um campeonato. Um esforço para encontrar virtudes onde muitas vezes só há ideias ruins, mal planejadas e executadas, porém salvas por individualidades ou um contexto favorável.

No Brasil se criou uma espécie de conformismo, baseada em nosso jeito de ver futebol. Se os melhores jogadores vão para a Europa, cada vez mais cedo, que aqui vença o mais “macho”. O jogo vira um culto à virilidade. O torcedor, em geral, prefere a vitória sofrida, arrancada à forceps. A imposição do melhor futebol é algo chato, que torna tudo mais previsível. A velha ditadura da emoção, que vale mais que um trabalho bem feito.

A prova veio no ano passado mesmo. Quem não lembra da esperança de muitos que o Palmeiras com Mano Menezes pudesse alcançar um Flamengo que deixou alguns pontos pelo caminho na sequência dura de dois jogos por semana na reta final da temporada, jogando Brasileiro e Libertadores? Mesmo jogando mal quase sempre, o Alviverde pontuava e esperava enfrentar em casa o líder ainda com condições matemáticas na antepenúltima rodada. O desfecho acabou sendo decepcionante.

Ou ainda o delírio coletivo em torno de Vanderlei Luxemburgo, então treinador do Vasco, depois do empate por 4 a 4 no clássico carioca antecipado da 34ª rodada para que o Flamengo pudesse ir a Lima decidir a Libertadores contra o River Plate. Uma boa atuação cruzmaltina, dentro da proposta possível de um time inferior técnica e taticamente, em um clássico que costuma equilibrar forças. Contra uma equipe com boa vantagem na ponta da tabela da competição por pontos corridos e já mais focada na final continental.

Foi o suficiente para uma exaltação da estratégia de Luxemburgo. Como um último suspiro do status quo. O time inferior, mas “raçudo” e lutando até o final – o mínimo que se espera em um grande clássico nacional – arrancando o empate no fim, porém sofrendo quatro gols – foi alçado à condição de “heroi”. E o treinador tratado como um fantástico estrategista, como se tivesse encontrado a fórmula para parar aquela equipe que desafiava o padrão nacional de jogar futebol. Algo totalmente esporádico.

Isso vai além da natural torcida contra times muitos populares. Ou da resistência brasileira de admitir que países menos tradicionais em conquistas de Copas do Mundo, como Portugal, possam acrescentar algo ao futebol cinco vezes campeão do mundo. “Ganharam o quê?”

Jorge Jesus e o Flamengo ganharam. Brasileiro e Libertadores no mesmo ano, feito inédito desde o Santos de Pelé. Mas este conquistando a Taça Brasil disputando quatro ou seis jogos, não 38.  Quebrando paradigmas, como a utilização de reservas no campeonato por pontos corridos quando o clube chegava às fases decisivas das competições por mata-mata. Jesus poupou titulares poucas vezes.

A melhor exceção dos últimos anos. Como o Mauro Cezar inseriu este comentário em uma abordagem sobre a reprise dos 7 a 1 no fim de semana pelo Sportv, o período mais exato da análise seria desde 2014. Então teríamos o Corinthians de 2015 comandado por Tite e o Grêmio de Renato Gaúcho que venceu a Libertadores de 2017 como os únicos exemplos de equipes que venceram buscando um futebol diferente. Sem “fechar a casinha”, apelar para ligações diretas, usar com frequência a cobrança de lateral na área adversária e entregar a bola para o mais talentoso compensar a falta de ideias.

O Fla de Jesus mandou Felipão e Mano Menezes para casa. Também Fabio Carille, representante da identidade do Corinthians nos últimos anos que inclui Tite e o próprio Mano. E Renato Gaúcho só não caiu depois dos 5 a 0 na semifinal da Libertadores pelo tamanho que tem no Grêmio.

É inegável que o time rubro-negro abalou as estruturas. O Santos de Sampaoli também, mais pelo desempenho que por resultados. Justo também incluir o Athletico de Tiago Nunes campeão da Copa do Brasil. Mas a média continua baixa. Há iniciativas que valem a observação, como Eduardo Coudet no Internacional e a sequência de Fernando Diniz no São Paulo, mas a pandemia atrapalhou. Pode prejudicar o próprio Flamengo na volta.

Se acontecer, será a alegria e o alívio de muitos. E aí é impossível discordar do Mauro: de fato, a visão medíocre de futebol ainda impera. Vejamos até quando.

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Tite e Jorge Jesus: as melhores respostas do futebol brasileiro ao 7 a 1 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/01/tite-e-jorge-jesus-as-melhores-respostas-do-futebol-brasileiro-ao-7-a-1/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/01/tite-e-jorge-jesus-as-melhores-respostas-do-futebol-brasileiro-ao-7-a-1/#respond Mon, 01 Jun 2020 15:19:04 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8576

Foto: Luciano Belford / Agência O Dia

O Sportv reprisou os 7 a 1 de 2014. Seis anos transformaram a maior derrota brasileira e o grande vexame da história dos esportes coletivos em clichê, inclusive saindo da esfera do futebol para invadir as muitas mazelas do país – “todo dia um 7 a 1 diferente”.

A goleada retumbante no Mineirão em uma semifinal de Copa do Mundo foi o grande revés de uma maneira de ver o jogo. Ou de não ver. Luiz Felipe Scolari mandou os observadores Alexandre Gallo e Roque Júnior ao Maracanã assistirem ao confronto das quartas que dariam o adversário brasileiro: Alemanha x França.

O treinador, porém, não deu muita bola para o que os assistentes disseram. Preferiu acreditar na intuição. E na superstição. Também na mística da camisa verde e amarela e  na força da torcida. Gallo e Roque Júnior sugeriram reforçar o meio-campo. Felipão escolheu Bernard. Porque tinha “alegria nas pernas”. Porque deu certo contra o Uruguai na Copa das Confederações, um ano antes. Resolveu ir para cima, mesmo sem Thiago Silva, o melhor zagueiro, e Neymar, o grande craque da seleção.

Além da escolha errada, encontrou uma Alemanha com fome. Que tinha encontrado a melhor formação, com Lahm de volta à lateral direita e um trio de meio-campistas técnico e versátil: Schweinsteiger, Khedira e Toni Kroos. Klose como referência na frente, puxando Muller para uma função híbrida partindo da direita, mas circulando pelo ataque, e Ozil guardando um pouco mais o lado esquerdo, até porque Howedes praticamente não descia, era um lateral-zagueiro.

Na prática, o que se viu foi a seleção brasileira em uma espécie de 5-1-4. Luiz Gustavo muito afundado perto da defesa, quarteto ofensivo isolado – Bernard e Hulk nas pontas, Oscar por dentro e Fred na frente. E Fernandinho sozinho no meio, entre o trio alemão e levando botes toda hora. Para piorar, um David Luiz tresloucado, num delírio de “Exército de Um Homem Só”, abandonando a defesa para tentar resolver tudo sozinho.

A Alemanha foi absurdamente eficiente em contragolpes e finalizações. Uma tarde única que produziu o placar histórico. Mas estava claro que o Brasil não poderia manter a visão de futebol valorizando o periférico e olhando pouco para o jogo. Por mais que muitos insistam até hoje em passar a mão na cabeça de Felipão por amizade e usar o termo “apagão” para reduzir uma humilhação para nunca mais esquecer.

Mesmo com resistências, alguns agentes do futebol brasileiro se esforçaram para avançar, evoluir. Tite foi o primeiro e  mais significativo. Mesmo campeão da Libertadores e Mundial em 2012, sentiu na virada de 2013 para 2014 que precisava aprender, ampliar o repertório. Ele que já havia afirmado no Brasil a marcação por zona em detrimento dos encaixes com perseguições individuais típicos. Também valorizado a compactação entre os setores. Mas ainda era pouco.

Rodou a Europa, fez uma espécie de “estágio” com Carlo Ancelotti no Real Madrid, estudou muito o Barcelona que começava a sinalizar o “arrastão” do trio Messi-Suárez-Neymar e voltou com elementos para acrescentar ao seu estilo, especialmente na fase ofensiva. Pensou em aplicar na seleção, mas a CBF preferiu Dunga.

Acabou voltando ao Corinthians em 2015. Precisou queimar etapas de preparação para tornar a equipe competitiva nas fases preliminares da Libertadores, teve a Flórida Cup para atrapalhar, mas deu uma boa resposta inicial que cobrou caro mais à frente. A oscilação depois de superar São Paulo, San Lorenzo e Danúbio na fase de grupos veio com problemas internos, como atraso de salários. Custou o Paulista e a elminação para o Guaraní paraguaio nas oitavas.

No Brasileiro, um ajuste fino no acréscimo de conceitos formou um time fortíssimo. Competitivo e capaz de proporcionar momentos de espetáculo. O Corinthians do Renato Augusto organizador, de Elias infiltrador como meia em um 4-1-4-1. De Jadson “ponta articulador” partindo da direita para circular às costas dos volantes adversários e ainda abrindo o corredor para Fagner. Uma equipe que apostava demais nas triangulações nas ações de ataque. Campeã brasileira sobrando na reta final, com direito a 3 a 0 sobre o Atlético Mineiro no Independência para consolidar a conquista.

Com a demissão de Dunga depois do fracasso na Copa América Centenário, era a vez de Tite. Que passou por cima de convicções acerca do “modus operandi” da CBF em nome do sonho de dirigir a seleção. E levou suas ideias e o “modelo Corinthians” para comandar Neymar, Philippe Coutinho, Gabriel Jesus e companhia.

Obviamente sem deixar de pensar no entorno. Criou um clima positivo com jogadores e imprensa. E repaginou a seleção no mesmo 4-1-4-1, trazendo Renato Augusto para a função única de organizador. Paulinho era Elias, Casemiro era Ralf, Coutinho era Jadson, Jesus era Love. E Neymar não era Malcom, mas o grande protagonista.

De sexto lugar e ameaçado a ficar de fora da Copa em agosto de 2016 a líder absoluto das Eliminatórias com classificação antecipada. Mas o ciclo de apenas dois anos começou a cobrar o preço em novembro de 2017, com o empate sem gols com a Inglaterra em Wembley que revelou a dificuldade de furar a linha de cinco defensores. Problema que virou drama com o sorteio para a Copa na Rússia que colocou no caminho Suíça, Costa Rica e Sérvia. Todas que em algum momento jogaram com linha de cinco e poderiam repetir contra o favorito Brasil.

Tite tentou uma nova “revolução”. Acrescentando elementos do ataque de posição. Trocando o Renato Augusto com problemas físicos por Willian. Um ponta para abrir o campo pela direita, trazendo Coutinho para o meio com Paulinho. Mais posse de bola e um jogo planejado para furar retrancas.

Sofreu com o corte por lesão de Daniel Alves e a recuperação tardia de Neymar. Mas fez uma Copa digna comparada com a saga tortuosa de 2014. Ao menos Tite buscava soluções olhando para o campo. Douglas Costa, Roberto Firmino, o próprio Renato Augusto. Os que mudaram o segundo tempo contra a Bélgica e quase recuperaram os 2 a 0 da primeira etapa. Faltou a eficiência nas finalizações.

Tite seguiu no comando técnico da seleção. Uma rara permanência sem título da CBF. Justa, porque o saldo dos dois anos  foi bastante positivo. Hoje parece um passado distante em tempos tão acelerados, mas o treinador era ídolo antes do Mundial, especialmente depois da “revanche” contra os alemães a poucos meses da Copa. Para os incautos era visto até como um exemplo para os candidatos a presidente.

2019 trouxe o título da Copa América disputada no Brasil, mas também uma sensação de estagnação. Em desempenho e resultados. Tite manteve a ideia do ataque guardando posições, de se instalar no campo ofensivo e valorizar a posse. Mas Arthur não trouxe a dinâmica na circulação da bola e Firmino não se afirmou como “falso nove”, função que exerce com brilhantismo no Liverpool.

Com Tite dando a impressão de que havia batido no teto, o futebol cinco vezes campeão mundial ficou um tanto órfão. A ponto de Felipão, redivivo com o título brasileiro do Palmeiras, voltar a ser tratado por alguns como uma velha/nova solução. Chocante e desanimador. Era preciso reencontrar um norte. Buscar uma resposta.

Veio de Portugal. Ou melhor, da Arábia Saudita. Jorge Jesus deixou o Al Hilal e acertou com o Flamengo, que efetuou uma correção de rota após a opção infeliz por Abel Braga. Inspirada na onda de técnicos experientes e boleirões que veio com o sucesso de Scolari no ano anterior. Abel deixou De Arrascaeta no banco para manter Willian Arão ao lado de Cuéllar à frente da defesa. Não queria um “time de índios”.

Jesus sofreu com a adaptação em um início já com partidas decisivas na Copa do Brasil e na Libertadores. Caiu nos pênaltis contra o Athletico pelo mata-mata nacional, mas sobreviveu contra o Emelec nas oitavas sul-americanas e teve tempo para encaixar os quatro que chegaram para o segundo semestre – Rafinha, Pablo Marí, Filipe Luís e Gérson – com os quatro contratados em janeiro: Rodrigo Caio, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabriel Barbosa. Mantendo Diego Alves na meta e Everton Ribeiro como o ponta articulador.

Transformou Willian Arão em um ótimo primeiro volante. Com estatura para colaborar no jogo aéreo ofensivo e defensivo, qualidade técnica na saída de bola e capacidade de infiltração para momentos específicos visando surpreender os adversários.

Montou o melhor time brasileiro da década, superando o próprio Corinthians de Tite. Entregando respostas velhas e novas. Como reunir todos os talentos? Fazendo todos se comprometerem sem a  bola. Como não se expor defensivamente? Pressionando no ataque.

Como furar retrancas com linha de cinco na defesa? Aumentando a pressão, roubando bolas na frente e definindo rápido as jogadas. Ou variando taticamente sem trocar peças. O 4-1-3-2 básico pode se transformar em 4-2-3-1 ou 4-3-3. Bruno Henrique pode fazer dupla com Gabriel Barbosa ou trabalhar pelos flancos como ponteiro. Everton Ribeiro e Arrascaeta podem trabalhar por dentro. Gabriel abrir pela direita.

Deu certo com o ano histórico do feito inédito de vencer Brasileiro e Libertadores. E já entrava em uma segunda etapa de conquistas e evolução faturando as taças da Supercopa do Brasil, Recopa Sul-Americana e Taça Guanabara. Ampliando o repertório e as possibilidades com um elenco mais recheado. Parado pela pandemia e agora com futuro incerto.

Ainda assim, um salto tão grande, trazendo Jorge Sampaoli na carona, que fez os técnicos brasileiros parecerem mais anacrônicos que em 2014. Renato Gaúcho, o grande favorito para suceder Tite na seleção, foi humilhado na semifinal da Libertadores com 6 a 1 no agregado e superioridade clara dos rubro-negros até no empate por 1 a 1 em Porto Alegre. Com direito a nova vitória, no Brasileiro, por 1 a 0 em Porto Alegre com Jesus poupando oito titulares para a final do torneio continental contra o River Plate.

Jesus virou tudo de ponta a cabeça. Sem ser hoje um dos melhores treinadores do planeta. Longe da primeira prateleira, mas com um olhar europeu que, com respaldo da direção do Flamengo e qualidade do elenco para executar suas ideias em campo, se impôs de maneira contundente.

Primeiro Tite, depois Jorge Jesus. As melhores respostas no futebol brasileiro aos 7 a 1 que deveriam ser tratados como um corretivo pedagógico, mas são vistos como “tragédia”. Felizmente o tempo não pára e a evolução arrasta, ainda que lentamente. Qual será o próximo passo?

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Cinco momentos em que o acaso protegeu o Brasil-2002 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/13/cinco-momentos-em-que-o-acaso-protegeu-o-brasil-2002/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/13/cinco-momentos-em-que-o-acaso-protegeu-o-brasil-2002/#respond Mon, 13 Apr 2020 05:45:03 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8296

Foto: Divulgação / FIFA

Se em 1982 não era para ser, vinte anos depois tudo conspirou a favor da seleção brasileira. Mesmo com quatro treinadores no ciclo – Vanderlei Luxemburgo, Candinho, Emerson Leão e Luiz Felipe Scolari – e muita desorganização, sem grupo nem time definido até dois meses antes da viagem para a Ásia.

É óbvio que houve muitos méritos em campo e fora dele na conquista do título mundial, o quinto e último da seleção mais vencedora do planeta, mas o acaso protegeu a “Família Scolari” em momentos cruciais até a grande final, relembrada pela TV Globo no domingo. Por isso o blog lista cinco acontecimentos que ajudaram a construir a história do campeão mundial no Japão e na Coréia do Sul.

1 – O descarte de Romário

Felipão nunca explicou com clareza a razão de ter descartado Romário bem antes da lista final para o Mundial, apesar do clamor popular, especialmente no Rio de Janeiro, sede da CBF. A cada entrevista uma versão diferente, inclusive admitindo que quase cedeu ao último apelo emocionado do craque veterano. Mas sempre sinalizou que tinha a ver com gestão de vestiário, falta de confiança no jogador.

A decisão, porém, beneficiou mais o treinador no campo. Sem o heroi do tetra, Felipão pôde encaixar o trio de R’s – Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Ronaldo Fenômeno –  que o encantou nos 4 a 2 sobre a Argentina num amistoso em Porto Alegre, ainda sob o comando de Luxemburgo em 1999. Com o Baixinho, o técnico poderia ser pressionado e antecipar em quatro anos um “quarteto mágico” só no papel que dificilmente funcionaria na prática. Até pela pouca mobilidade de Romário com 36 anos.  Com o título, Felipão saiu como heroi visionário que assumiu os riscos e tinha razão.

2 – A “descoberta” de Gilberto Silva e Kléberson

Felipão virou 2002 com um time na cabeça, usando a base da equipe que venceu a Venezuela por 3 a 0 em São Luís e esperando pela incógnita Ronaldo, em recuperação de seríssima lesão no joelho direito. Mas faltavam opções para fechar os 23 convocados. O caminho até então tinha sido tortuoso, com eliminação na Copa América para Honduras e sofrimento para se classificar para o Mundial, com vaga confirmada só em novembro.

Nos primeiros amistosos do ano, Felipão resolveu fazer experiências convocando jogadores que vinham se destacando no cenário nacional. Nas goleadas sobre Bolívia por 6 a 0 no Serra Dourada e 6 a 1 na Islância em Cuiabá, além do 1 a 0 sobre a Arábia Saudita, em Riad, acabou “descobrindo” Gilberto Silva e Kléberson. A dupla dos Atléticos – Mineiro e Paranaense, este campeão brasileiro – marcou cinco gols e foi convocada para a reserva de Emerson e Juninho Paulista. Terminaram a campanha como titulares e fundamentais. Mérito do treinador, mas também muita sorte em uma escolha forçada pelas circunstâncias.

3 – As eliminações das favoritas Argentina e França

O Brasil estreou no Mundial diante da Turquia com tantas incertezas que pensar em título era utópico. Principalmente porque havia duas seleções como favoritas destacadas: a Argentina intensa de Marcelo Bielsa, líder das Eliminatórias e inspiração para o 3-4-3 de Felipão, e a França campeã mundial de 1998, da Eurocopa em 2000 e da Copa das Confederações em 2001. Disparada a melhor seleção do planeta.

Mas a Albiceleste sucumbiu em um duro grupo com Inglaterra, Nigéria e Suécia e voltou para casa. Assim como a França de jogadores desgastados e Zinedine Zidane destruído pela temporada europeia com título da Liga dos Campeões e golaço na final. Eliminada sem ir às redes uma única vez contra Uruguai, Senegal e Dinamarca. Vexames que pavimentaram o caminho para a seleção brasileira.

4 – O gol anulado da Bélgica nas oitavas

O primeiro tempo da disputa das oitavas de final foi de tensão pura para a equipe de Felipão. Totalmente desorganizada, com um buraco entre os três zagueiros, os alas Cafu e Roberto Carlos, mais Gilberto Silva à frente da defesa, e os três talentos na frente que Juninho Paulista não conseguia cobrir.

A Bélgica jogava com personalidade e muitos espaços, por dentro e nas laterais. Aos 35 minutos, uma jogada trabalhada com toda liberdade desde a ligação direta do goleiro De Vliegers foi parar no setor direito e de lá o cruzamento na cabeça de Marc Wilmots. Disputa absolutamente normal com Roque Junior, bola na rede e gol anulado. Um absurdo que tranquilizou a seleção que, na volta do intervalo, mesmo sem jogar bem, achou dois gols no talento de Rivaldo e Ronaldo e também o time da reta final com Kléberson na vaga de Juninho.

5 – A ausência de Ballack na final

A decisão em Yokohama foi tensa e equilibrada. A rigor, definida pela noite feliz de Marcos, um dos herois da conquista com grandes defesas, e a falha grotesca de Oliver Kahn, eleito o melhor da Copa antes da final, no primeiro gol de Ronaldo. Artilheiro letal ao aproveitar os erros adversários e também os lampejos de Rivaldo, que não foi bem na primeira etapa.

Clássico mundial que poderia ser ainda mais duro se o craque da Alemanha entre os dez da linha estivesse em campo. Michael Ballack foi suspenso pelo segundo amarelo na semifinal contra a Coreia do Sul. O autor do gol que colocou a desacreditada equipe de Rudi Voller na final. Liderança técnica e anímica, uma ausência que isolou Miroslav Klose no ataque e tirou volume de jogo dos alemães. O golpe derradeiro da ventura que empurrou o Brasil para o título.

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Palmeiras de Luxa não “foge” de Felipão/Mano. Ainda lembra Marcelo Oliveira http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/02/palmeiras-de-luxa-nao-foge-de-felipao-mano-ainda-lembra-marcelo-oliveira/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/02/palmeiras-de-luxa-nao-foge-de-felipao-mano-ainda-lembra-marcelo-oliveira/#respond Mon, 02 Mar 2020 09:02:54 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8072

Foto: Cesar Greco / Foto Arena / Estadão Conteúdo

Vanderlei Luxemburgo voltou ao Palmeiras depois de 10 anos prometendo resgatar o futebol ofensivo de seus tempos áureos nos anos 1990. Mais posse de bola, pressão no campo de ataque e presença no campo adversário.

Não foi a tônica dos últimos trabalhos do treinador veterano, mas o elenco mais forte e o propósito do clube depois do ano passado com Luiz Felipe Scolari e Mano Menezes pareciam forçar o treinador a uma mudança na prática.

Ao menos até aqui, nos confrontos contra as equipes de Série A – São Paulo, Red Bull Bragantino e Santos -, Luxemburgo e Palmeiras seguem com melhor desempenho quando encontram espaços para as transições ofensivas em velocidade.

Sim, o time é mais voltado para o ataque, não se entrincheira na defesa. Mas não “foge” muito de 2019 quando encontra dificuldades na circulação da bola com o adversário em fase defensiva, a saída de bola muitas vezes é confusa, embora com menos ligações diretas que a de Felipão, e as ações de ataque ainda ficam muito por conta das individualidades. Especialmente com Dudu.

O craque palmeirense começou o clássico com o Santos no Pacaembu alternando pelos flancos com Willian e Luiz Adriano no centro do ataque. Mas o problema era o espaço entre os setores bem aproveitado pelo Santos, mesmo mais lento e menos intenso com Jesualdo Ferreira.

Os últimos minutos do clássico foram malucos, com um buraco entre as intermediárias, erros técnicos que geravam contragolpes seguidos das equipes. Divertido, mas uma “pelada” considerando que estavam em campo o segundo e o terceiro colocados do último Brasileiro.

Em um cenário caótico, a consequência natural de trocar Raphael Veiga e Luiz Adriano por Gabriel Veron e o estreante Rony foi puxar Dudu para dentro, com liberdade e participando mais do jogo. O camisa sete encontrou alguns bons passes e preencheu o vácuo entre volantes e quarteto ofensivo.

O Palmeiras da parte final do clássico contra o Santos: um 4-2-4 com Dudu centralizado, participando mais do jogo e tentando preencher o buraco no meio-campo. Lembrou o time de 2015 com Marcelo Oliveira (Tactical Pad).

Lembrando o Palmeiras campeão da Copa do Brasil de 2015, comandado por Marcelo Oliveira. Mas aquele ainda tinha Robinho como uma espécie de ponta armador pela direita como contraponto, se juntando aos meio-campistas. Do lado oposto, o menino Gabriel Jesus partia da esquerda em diagonal.

Desta vez foram dois ponteiros agudos e um atacante móvel partindo do centro. No modo “briga de rua”, de um jogo mais direto e vertical, pode funcionar. Mas dentro de um modelo mais propositivo, de controle do jogo pela posse, parece um contrasenso. Ou coerente com o Luxemburgo atual.

Na coletiva depois do clássico, o técnico disse que a atuação foi normal e o trabalho está no caminho certo. Ainda é início de temporada, mas os primeiros testes em jogos grandes não foram muito promissores. Vejamos na estreia da Libertadores.

Com Dudu aberto ou por dentro? Veremos na Argentina, contra o Tigre na quarta-feira.

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Jorge Jesus é o tão esperado “Bernardinho” no futebol brasileiro http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/05/jorge-jesus-e-o-tao-esperado-bernardinho-no-futebol-brasileiro/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/05/jorge-jesus-e-o-tao-esperado-bernardinho-no-futebol-brasileiro/#respond Wed, 05 Feb 2020 03:37:09 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7910

Foto: Ricardo Moreira / Photoarena / Agência O Globo

Julho de 2006. Depois da eliminação da seleção brasileira comandada por Carlos Alberto Parreira para a França de Zinedine Zidane que perderia a final da Copa do Mundo disputada na Alemanha para a Itália, o tema em debate no futebol brasileiro era o trabalho, ou a falta deste, que não sustentou o talento.

De fato, a preparação que começou em Weggis, na Suíça, foi atropelada por um grupo midiático, extenuado por temporadas duras na Europa, alguns acomodados por tantas conquistas e preocupados com recordes pessoais.
Em toda essa espécie de “inquisição” a cada Mundial que o Brasil perde, muitos exaltavam Luiz Felipe Scolari, campeão quatro anos antes e semifinalista com Portugal. Mas havia uma utopia no ar: e se Bernardinho assumisse a seleção de futebol?
O treinador do vôlei masculino vivia seu auge. Desde 2001 até então, vencera o Mundial em 2002, os Jogos Olímpicos de 2004, cinco das últimas seis ligas mundiais e em dezembro daquele ano seria bicampeão mundial no Japão atropelando os adversários com um estilo revolucionário que mudaria o esporte para sempre acelerando os ataques pelas mãos do levantador Ricardinho.
É óbvio que na nossa cultura resultadista e dentro de uma lógica simplista os resultados eram a grande credencial de Bernardinho para se tornar referência. E até o título olímpico no Rio de Janeiro em 2016 ele construiria uma trajetória lendária de um dos técnicos mais vencedores nos esportes coletivos em todos os tempos.
Nas principais competições foi sempre ouro ou prata. Na grande maioria terminou no pódio. Na reta final e atualmente, dirigindo o SESC-RJ, um pouco mais sereno. Por isso as aspas no “Bernardinho” do título do post.
A característica mais marcante, porém, era a exigência máxima e constante. Sem se acomodar com conquistas, obcecado por trabalho, inovação nos treinamentos, estudo dos adversários. Fazendo os comandados treinarem quando os períodos de escala nos aeroportos eram mais longos, logo depois de vitórias em que o desempenho não era satisfatório e nas manhãs que antecediam partidas decisivas. Em um esporte que, na grande maioria das vezes, a final é disputada um dia depois das semifinais. Tudo regado com muitas broncas à beira da quadra.
Não eram poucos os relatos de jogadores que, quando se sentiam em dificuldades na quadra, lembravam do tanto que trabalharam e se sacrificaram para estar ali e davam aqueles 10% a mais que faziam diferença e garantiam as conquistas. Eles podiam lamentar na hora do treino, mas sorriam com os trofeus e medalhas de gerações vitoriosas do vôlei.
Para muita gente era o que faltava no futebol: um “maluco” para botar as estrelas para correr, cobrar o máximo de suor e extrair o melhor de tanto talento. Bom lembrar que o Brasil de 1994 a 2005 teve sete de onze melhores do mundo. E ainda teria Kaká em 2007. Mas a preguiça foi um pecado letal na Alemanha há quase 14 anos. Por isso a aventura com Dunga estreando como treinador para exigir comprometimento.
Chegamos a 2020. Não temos mais o protagonismo, nem individualmente na Era Messi x Cristiano Ronaldo, nem no jogo coletivo. A reflexão depois dos 7 a 1 em 2014 teve um espasmo com Tite de 2016 até a Copa do Mundo de 2018. O insucesso e os privilégios concedidos a Neymar na Rússia minaram o trabalho, assim como o desempenho abaixo depois da Copa, mesmo com a conquista sul-americana em casa no ano passado.
Época em que Jorge Jesus chegou ao Flamengo. Uma incógnita que virou certeza em seis meses com as conquistas do Brasileiro com recorde de pontos e da Libertadores, feito inédito no país. Quebrando paradigmas, como a da necessidade de priorizar uma competição e rodar muito o elenco para evitar desgaste. Jesus escalou o melhor possível quase sempre e o time voou fisicamente durante a maior parte do tempo.
Começa 2020 colocando o elenco principal, estelar e reforçado, para entrar em campo uma semana depois da apresentação para a pré-temporada. O português antecipou o retorno das próprias férias em uma semana e, pensando na disputa da Supercopa do Brasil no dia 16 de fevereiro, resolveu utilizar os jogos pelo Carioca, inicialmente desprezado, como uma preparação.
Solução que carrega até alguma lógica, considerando que seria praticamente impossível encontrar um “sparring” para jogos-treinos, como foi o Madureira na intertemporada em junho. Mas também certo risco, por expor os atletas a jogos oficiais, com o adversário competindo forte e sem a possibilidade de fazer substituições livremente ao longo da partida.
Jorge Jesus matou no peito e ainda colocou o time para treinar intensamente por uma hora e meia na manhã da partida na segunda-feira. Corriqueiro na Europa de temperaturas amenas, não no calor escaldante do Rio de Janeiro. O Resende abriu o placar no segundo tempo e muitos pensaram que o time se entregaria ao cansaço e à falta de sintonia naturais com tão pouco tempo de trabalho.
A equipe contou com o auxílio luxuoso dos estreantes Michael e Pedro, mais Gerson que iniciou no banco para que Diego Ribas tivesse oportunidade entre os titulares. Todos vindo da reserva para reoxigenar a equipe que voou na reta final e virou a partida para 3 a 1 no Maracanã. Com Jesus muitas vezes vociferando à beira do campo exigindo sempre mais.
Difícil prever se a estratégia vai durar, mas de Jorge Jesus é possível esperar qualquer coisa. Ainda que, por coerência, ele deva segurar um pouco o esforço depois das disputas da Supercopa do Brasil e da Recopa Sul-Americana para que o time não chegue em dezembro com oitenta partidas disputadas ou mais. Justamente a grande reclamação depois da derrota para o Liverpool no Mundial de Clubes.
Mas serviu para mostrar para torcida, imprensa e para os próprios jogadores rubro-negros que o nível de exigência seguirá muito alto. Quem diria que o tão esperado correspondente a Bernardinho no futebol brasileiro viria quase 14 anos depois. De Portugal que foi de Felipão em 2006. Não na seleção, mas em um clube do país.
Não por acaso vencedor e com fome para mais conquistas. Sem refresco.
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Chegou a hora do Palmeiras quebrar paradigmas voltando às origens http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/03/chegou-a-hora-do-palmeiras-quebrar-paradigmas-voltando-as-origens/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/03/chegou-a-hora-do-palmeiras-quebrar-paradigmas-voltando-as-origens/#respond Tue, 03 Dec 2019 10:06:49 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7673

Imagem: Reprodução / TV Globo

O último momento em que o Palmeiras conseguiu unir futebol empolgante e resultados foi o turno do Brasileiro de 2016. Era o time intenso e envolvente de Cuca com Roger Guedes e Gabriel Jesus voando.

Depois que a disputa pelo título polarizou com o Flamengo e virou questão de honra por conta do “fator cheirinho”, e Gabriel Jesus ficou mais ausente por causa das convocações para a seleção, a equipe virou do avesso. Pragmática, concentrada defensivamente, forte na bola parada e dependente dos lampejos de Dudu, confirmou a conquista nacional depois de 22 anos.

Eduardo Baptista e Roger Machado foram tentativas de mudar o estilo, com mais posse e uma proposta de jogo condizente com o protagonismo natural de um time montado com altos investimentos. Sem sucesso, assim como o retorno de Cuca em 2017. Ao recorrer à volta de Luiz Felipe Scolari no ano seguinte e vencer o Brasileiro, ainda que a prioridade fosse o mata-mata, o Alviverde reafirmou uma cultura de jogo.

Mantida por Mano Menezes, ainda que os métodos fossem diferentes para aplicar ideias semelhantes. Conectando Cuca, Felipão e Mano, que tinha como grande desvantagem a identificação com o Corinthians, como o primeiro arquiteto da identidade que fez o rival conquistar, com Tite, os grandes títulos de sua história. Era mesmo difícil perdoar o treinador.

2019 chegou com os mesmos reveses do ano anterior: Paulista, Copa do Brasil, Libertadores. E a esperança no Brasileiro se esvaiu com o surgimento do “meteoro” Flamengo de Jorge Jesus. Um pulverizador de certezas no então campeão. Rodar elenco, poupar oito ou nove titulares? Para que, se já há suspensões, lesões e convocações no país que não respeita as datas FIFA?

A fórmula “fechar casinha-unir o grupo-toca no talentoso-bola parada” também já não era mais suficiente diante de um time com ideias atuais, reunindo talentos e fazendo jogar com alta intensidade e muita movimentação na frente. Os 3 a 0 no turno custaram o emprego a Felipão. Os 3 a 1 com o título dos rubro-negros já confirmado, na casa palmeirense, encerraram o ciclo de Mano e, na carona, de Alexandre Mattos. Mesmo com aproveitamento de campeão em algumas edições por pontos corridos com 20 clubes.

Chegou a hora de repensar quase tudo. Utilizar a base quem vem rendendo frutos, mas era trocada por contratações de qualidade duvidosa, com baixo retorno no campo. Principalmente, trocar o modelo de jogo. Não necessariamente imitando o campeão brasileiro e sul-americano. Quem sabe voltando às origens, mas com uma versão atualizada?

O Palmeiras quase sempre foi sinônimo de bom futebol. Nos tempos de “Academia” rivalizando com o Santos de Pelé, simbolizado pela liderança técnica de Ademir da Guia. Depois nos anos 1990, com a parceria da Parmalat e Vanderlei Luxemburgo montando a máquina bicampeã paulista e brasileira em 1993/1994 e depois o “meteoro” dos 102 gols em 1996. Até o time de Felipão campeão da Libertadores em 1999, mesmo pragmático, contava com a classe de Alex e Zinho no meio-campo.

Com Jorge Sampaoli ou outro treinador, o Palmeiras precisa suprir a carência do torcedor que fica cada vez mais evidente: vencer encantando, entregando prazer além do resultado. Criar uma marca que não seja esquecida depois de levar a taça para casa.  Fazer história pela bola jogada. A falsa dicotomia vencer feio x perder bonito que vigorava há anos no Brasil também fica no passado com o 2019 mágico do Flamengo.

Não sobrou nenhum dogma. Só o paradoxo de quebrar paradigmas sendo fiel à própria escola de futebol. O Palmeiras pode e a necessidade já é existencial. Tem camisa, dinheiro e torcida para pensar muito grande. Agora precisa de um norte. Respeitando a história e mirando o futuro. Como deve ser.

 

 

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Flamengo de Jesus tira 27 pontos do Palmeiras. Na F-1 seria abrir uma volta http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/01/flamengo-de-jesus-tira-27-pontos-do-palmeiras-na-f-1-seria-abrir-uma-volta/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/01/flamengo-de-jesus-tira-27-pontos-do-palmeiras-na-f-1-seria-abrir-uma-volta/#respond Sun, 01 Dec 2019 20:57:27 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7662 O Allianz Parque não comprou o discurso de Mano Menezes, que tratou o jogo contra o Flamengo em casa como uma espécie de decisão. Nem o próprio time de Jorge Jesus, que liberou Pablo Marí para ir a Espanha resolver problema de visto de trabalho e deixou o capitão Everton Ribeiro no Rio de Janeiro tratando uma dor no joelho.

Com estádio morno e longe de estar lotado, tornando ainda mais ridícula a decisão de MP e PM de SP de sugerir torcida única, a superioridade rubro-negra ficou clara no contragolpe do primeiro gol. Que precisou do VAR para confirmar a posição legal de Arrascaeta no momento do passe de Bruno Henrique. Assistência de Gabriel Barbosa, 12º gol do uruguaio no Brasileiro. Com quatro  minutos de jogo.

Mesmo com a torcida alviverde inconformada com Mano e equipe, cantando “time sem vergonha” em boa parte do jogo, o árbitro Ricardo Marques Ribeiro conseguiu complicar o seu trabalho. Não marcou pênalti claro de Rhodolfo sobre Dudu. Pior: assinalou um impedimento ridículo do camisa sete. Também aliviou Rafinha, que exagerou na marcação sobre Dudu e fez por merecer o segundo amarelo e o vermelho, especialmente no pisão sobre o adversário no finalzinho do primeiro tempo.

Mas nada que torne contestável o passeio do campeão brasileiro e da América do Sul. Nos últimos minutos antes do intervalo e logo na volta para a segunda etapa definiu o jogo com dois de Gabriel Barbosa. O primeiro em bela jogada que teve inversão de Rafinha para assistência de cinema de Arrascaeta. Depois a pressão de Gerson que fez a bola chegar ao artilheiro, agora com 24 gols, à frente do goleiro Jailson.

Daí para o final, a tônica do jogo foi o Palmeiras tentando mostrar ao menos honra. Bruno Henrique e Willian carimbaram as traves de Diego Alves. O “Bigode” ainda marcou gol bem anulado por impedimento no início da jogada e Matheus Fernandes foi às redes e diminuiu para 3 a 1.

Jesus trocou Bruno Henrique por Diego no intervalo, depois preservou Rafinha colocando Rodinei e Vitinho saiu por problemas físicos para a entrada de Piris da Motta. E reduziu ainda mais o ritmo, apelando para alguns lances de efeito. Gerson e Gabriel sentiram e ficaram em campo fazendo número. E novamente Ricardo Marques Ribeiro errou em lance de Rhodolfo com Dudu. Outra falta clara do zagueiro sobre o ponteiro, mas desta vez fora da área.

O jogo foi o retrato do campeonato: quando o Flamengo se organizou e acertou a formação titular – justamente contra o Palmeiras, os 3 a 0 no Maracanã que custaram o emprego a Luiz Felipe Scolari – não houve competição. Enquanto o melhor time jogou minimamente sério, o concorrente não teve chances.

A matemática explica: Jorge Jesus estreou na décima rodada. Com o Fla oito pontos atrás do Palmeiras. O triunfo na 36ª rodada fez o campeão abrir 19 pontos. Ou seja, tirou 27 pontos no mesmo número de jogos. Um por rodada. Se fosse F-1 seria como abrir uma volta sobre o terceiro colocado. Simbólico.

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Golaço de Dudu no empate frustrante é para o palmeirense refletir http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/07/golaco-de-dudu-no-empate-frustrante-e-para-o-palmeirense-refletir/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/07/golaco-de-dudu-no-empate-frustrante-e-para-o-palmeirense-refletir/#respond Mon, 07 Oct 2019 09:22:53 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7388

Foto: Bruno Ulivieri / AGIF

Mano Menezes não é um defensor convicto do jogo mais físico, direto e pragmático como Luiz Felipe Scolari. Nem da intensidade máxima de Cuca. Na essência, apesar da origem na escola gaúcha, prefere um jogo com mais pausas e organização. Em 2011, ainda comandando a seleção brasileira, elegeu em entrevista a Mauro Beting para o livro “1981”, em coautoria com este blogueiro, o Flamengo de Zico nos anos 1980 como a melhor equipe que viu jogar. A grande referência de seus tempos de apenas fã de futebol.

Mas desde 2015 abraçou uma ideia de jogo mais defensiva e reativa. Talvez para se colocar no Cruzeiro como contraponto ao repaginado Tite com proposta mais criativa e agressiva no Corinthians campeão brasileiro e depois na seleção. Ou apenas por conta do contexto do Cruzeiro, especialmente no mata-mata com os títulos da Copa do Brasil de 2017 e 2018.

Agora no Palmeiras sucedendo Felipão, Mano tenta voltar um pouco às origens, fazendo o atual campeão brasileiro adicionar controle  do jogo pela posse de bola quando necessário e também a marcação por zona, evitando os encaixes e as perseguições mais longas. Um estilo mais impositivo e dominante.

Funcionou relativamente bem em casa contra Fluminense, Cruzeiro e CSA, equipes que lutam para fugir do Z-4. Nem tanto fora contra o Fortaleza, já apelando para as ligações diretas em alguns momentos, sentindo muito a falta de Dudu e vencendo na bola parada com gol de Willian.

Mas bastou enfrentar times mais tradicionais e competitivos como Internacional e Atlético Mineiro para o Palmeiras sofrer e, intuitivamente, retornar aos “vícios” dos últimos anos: em Porto Alegre a proposta mais cautelosa até sofrer o gol de Patrick e no Allianz Parque um estilo muito direto, até apressado. Com cobranças de lateral na área adversária e nada menos que 52 cruzamentos.

Dois empates por 1 a 1 que fazem o Flamengo abrir cinco pontos de vantagem no topo da tabela. Na próxima rodada, pedreira contra o Santos na Vila Belmiro. Uma combinação de derrota no clássico paulista com nova vitória do líder sobre o próprio Galo no Maracanã e as chances do bicampeonato ficam bem mais remotas. Mas o momento de frustração pode servir também para uma boa reflexão.

Partindo do gol de empate contra o Galo, depois de Nathan abrir o placar no primeiro tempo de superioridade do time visitante. Bela tabela pela esquerda entre Dudu e Gustavo Scarpa, que saiu do banco para substituir Borja, e a finalização quase sem ângulo do craque do time. Um lance de arte para furar as linhas compactas do 5-4-1 atleticano. Jogada trabalhada com calma, técnica e criatividade.

Não poderia acontecer mais vezes, inclusive no próprio jogo depois da igualdade no placar? Mas o Palmeiras preferiu o jogo apressado, as bolas levantadas na área. A força do hábito simbolizada na troca de Lucas Lima por Deyverson. Para complicar, sim, a formação com três zagueiros do adversário, mas obviamente também para apelar ao jogo aéreo procurando os dois centroavantes. Durou pouco, logo entrou Scarpa.

Os cruzamentos são um recurso legítimo, até porque o estilo funcionou em duas das últimas três edições do Brasileiro. Mas tem que ser só isso quase sempre, ou quando necessário?

Com Felipão era claro que a prioridade era o mata-mata. Não funcionou em duas edições de Copa do Brasil e Libertadores. Nos pontos corridos deu certo meio ao acaso, com o time cheio de reservas e só assumindo a responsabilidade de decidir o campeonato confirmando a liderança depois das eliminações nas outras competições. Conquista inquestionável, com todos os méritos. Mas soou como uma espécie de prêmio de consolação.

Apesar da defesa do estilo entre torcedores, jogadores e diretoria, o incômodo é nítido. Até porque a escola do Palmeiras não é essa, mas a do futebol mais ofensivo e de toque refinado. Dos tempos da Academia nos anos 1960/70 ou do início da Era Parmalat com Vanderlei Luxemburgo no bicampeonato brasileiro 1993/94 e na máquina de 102 gols no Paulista de 1996.

O time do jogo direto, das bolas paradas – ou escanteios e faltas laterais de Jorginho e Eder procurando a cabeça do zagueiro Vagner Bacharel – sempre esteve mais associado à “década perdida”, a de 1980 sem conquistas. Da derrota para a Internacional de Limeira no Paulista de 1986. O time de Felipão campeão da Copa do Brasil de 1998 e da Libertadores no ano seguinte era vertical, porém talentoso e combinava os cruzamentos de Arce com a arte de Alex.

O estilo atual merece ser respeitado e dá resultado quando bem executado. No caso deste Palmeiras, porém, com a enorme capacidade de investimento, sempre parece contraproducente. Subaproveita a capacidade do elenco, que não é fantástica, mas pode entregar muito mais. Talvez com tempo para Mano trabalhar esse “fundamentalismo” e acrescentar novos elementos.

Para que a obra-prima de Dudu e Scarpa não seja a exceção, ou apenas uma breve amostragem do que esse time pode fazer e não realiza por opção. Um tremendo desperdício.

(Estatísticas: Footstats)

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Cinco anos depois do auge, Cruzeiro e Atlético flertam com o fundo do poço http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/27/cinco-anos-depois-do-auge-cruzeiro-e-atletico-flertam-com-o-fundo-do-poco/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/27/cinco-anos-depois-do-auge-cruzeiro-e-atletico-flertam-com-o-fundo-do-poco/#respond Fri, 27 Sep 2019 10:05:22 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7336

Foto: Rodney Costa / Eleven

Em novembro, a conquista da Copa do Brasil pelo Atlético Mineiro completa cinco anos. Vencendo sob o comando de Levir Culpi a única final mineira em competição nacional. Superando o Cruzeiro de Marcelo Oliveira que seria bicampeão brasileiro em 2014. No ano anterior, o Galo conquistara a Libertadores com Cuca e Ronaldinho Gaúcho. Ou seja, Minas Gerais dominava o futebol brasileiro como nunca. O auge, ao menos neste século.

A lembrança torna ainda mais chocante a realidade atual. A dupla convive com sérias dificuldades financeiras, problemas para quitar as folhas de pagamento, erros graves de gestão e, principalmente, péssimos resultados esportivos. O Cruzeiro ocupa a 17ª colocação da tabela no Brasileiro e demite Rogério Ceni, apenas um mês e meio depois da contratação, por não conseguir melhorar o desempenho médio em relação ao antecessor Mano Menezes. Mas principalmente pelos atritos com jogadores veteranos ao tentar implantar um modelo de jogo com pressão, intensidade e movimentação.

Thiago Neves –  amigo do vice de futebol Itair Machado, a quem dedicou um gol contra o São Paulo no auge da crise envolvendo o dirigente no clube – primeiro acusou Ceni de colocar em campo uma formação na volta da semifinal da Copa do Brasil contra o Internacional improvisada e sem treinar. Depois foi sacado no intervalo da derrota por 2 a 1 para o Flamengo no Mineirão e não saiu do banco de reservas no empate sem gols com o Ceará no Castelão. Dedé reclamou da ausência do meia, Ceni não aceitou e o próprio Itair “sugeriu” que o treinador se demitisse.

O blog apurou que Dorival Júnior foi sondado, mas tem uma cirurgia marcada para o dia 1º de outubro e não teria como assumir. Olhando para o cenário criado, apenas dois profissionais disponíveis no país teriam “casca” e respaldo total para administrar os conflitos, conciliar as lideranças e controlar o vestiário: Abel Braga e Luiz Felipe Scolari. Mas qual é a chance de um deles aceitar assumir um time no Z-4, sem tempo para trabalhar com dois jogos por semana e garantia de salários pagos para poder cobrar?

Já o Atlético não vive o mesmo drama na tabela com a décima colocação, mas vem de seis derrotas seguidas desde a vitória por 2 a 1 sobre o Fluminense na 14ª rodada. Muito por priorizar a Copa Sul-Americana, a chance de título em 2019. E internacional, garantindo vaga direta na Libertadores. Em vão. Derrota fora e vitória em casa sobre o Colón, 17º na liga argentina com 24 clubes, por 2 a 1 e revés nos pênaltis, dentro do Mineirão, por 4 a 3 com Rever e Cazares desperdiçando as cobranças.

Elenco que é um “frankenstein” com veteranos em declínio, jovens buscando espaço em meio ao caos e estrangeiros que oscilam demais o desempenho, embora salvem muitas vezes o time – como os gols de Chará e Di Santo sobre o Colón. O time não dá liga e Rodrigo Santana, treinador promissor, parece sem estofo e vivência para administrar a crise que agora virá mais forte sem a esperança de conquista. Só resta se recuperar no Brasileiro para fechar o ano sem grandes sustos.

A má notícia é que hoje os oitos pontos que separam a equipe do São Paulo, último do G-6, são os mesmos que a distanciam do rival Cruzeiro na zona de rebaixamento. Com um jogo a menos, exatamente o adiado contra o Vasco no Independência para o time definir a semifinal continental. Se não interromper a série de derrotas em casa contra o Ceará no domingo a coisa pode se complicar de vez.

Uma queda surreal para quem há cinco anos se vangloriava, com razão, da estrutura e solidez dos grandes de Minas Gerais. Rivalidade que atraiu os olhos do país, quase sempre voltados para São Paulo e Rio de Janeiro. Agora lamentando o flerte com o fundo do poço. Triste retrato de quem acreditou em fórmula mágica ou receita de bolo, não atualizou as práticas nem planejou a longo prazo. A conta chegou.

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