manchestercity – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Caminho do PSG na Champions será bem mais complicado do que parece http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/10/caminho-do-psg-na-champions-sera-bem-mais-complicado-do-que-parece/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/10/caminho-do-psg-na-champions-sera-bem-mais-complicado-do-que-parece/#respond Fri, 10 Jul 2020 13:18:37 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8750

Foto: Harold Cunningham / UEFA / AFP

Tão logo saiu os cruzamentos no sorteio das quartas de final da Champions, ainda que faltando três dos oito classificados, a primeira impressão foi de que o Paris Saint-Germain seria o grande “vitorioso”.

Afinal, o time de Neymar saiu da reta das grandes camisas e dos campeões dos últimos anos – excetuando o atual, Liverpool. Sem Real Madrid, Barcelona e Bayern de Munique no caminho até a grande final. “Fugindo” também  do Manchester City de Guardiola e da Juventus de Cristiano Ronaldo, que ainda enfrenta o Lyon pelas oitavas.

Primeiro a Atalanta. Se passar, o vencedor de Leipzig e Atlético de Madrid. Sem dúvida, se olharmos a história do torneio continental, é uma trilha teoricamente menos pesada. E desse enrosco pode sair um finalista inédito – só o Atlético já esteve em uma final.

Só que não estamos dentro de uma normalidade. Longe disso. E são justamente essas mudanças no cenário que tornam o caminho do PSG bem mais complicado do que parece.

Acima de tudo pela inatividade do time francês, que é sem precedentes em uma fase tão avançada da competição. Entre março e agosto, a previsão de apenas duas partidas oficiais: as decisão das copas nacionais – Saint-Etienne na Copa da França no dia 24 e Lyon na Copa da Liga Francesa no dia 31. Mais quatro amistosos contra adversários bem abaixo do nível de enfrentamento que espera o time de Paris.

Com a Ligue 1 encerrada, a equipe de Thomas Tuchel terá o benefício do menor risco de lesões e desgaste, mas o enorme déficit em um aspecto fundamental no futebol atual: intensidade. Por mais que os treinos hoje reproduzam o ritmo e a velocidade na tomada de decisão do jogo, a falta do nível alto de competição pode prejudicar bastante. Principalmente pela disparidade de forças na França que já prejudicou o PSG no sonho de ganhar a Champions em outras temporadas.

E a Atalanta de Gian Piero Gasperini não é um time qualquer. Longe disso. Mostra personalidade, com volume de jogo sufocante e capaz também de surpreender jogando em rápidas transições ofensivas. Atropelou o Valencia nas oitavas e vem de onze vitórias consecutivas. É o melhor entretenimento do futebol atual.

É preciso pesar que essa disputa da Champions acontecerá em um ambiente mais “puro”, sem a “contaminação” da atmosfera. Campo neutro, em Lisboa, e sem torcida. Nem a vantagem do conhecimento e da vivência no próprio estádio será possível. Fatores que costumam estabelecer essa coisa metafísica e difícil de descrever que é a “camisa pesada”.

Todo esse contexto definindo a vida em 90, 120 minutos ou nos pênaltis. Para ficar ainda mais imprevisível. E o PSG ainda carregará a tensão do favoritismo, já que para o time de Bergamo a simples presença nas quartas já é histórica e digna de celebração na cidade, se houvesse a possibilidade de aglomeração de pessoas.

Se conseguir chegar às semifinais, as dificuldades serão praticamente as mesmas. Só um pouco mais nivelado na intensidade pelo jogo forte das quartas. Caso o adversário seja o Leipzig, a missão será encarar um “novato” ainda mais motivado a fazer história e que também joga em ritmo fortíssimo. Ainda assim, talvez seja melhor para Neymar e companhia, já que o time alemão também sofrerá um pouco agora com a falta de jogos oficiais por conta do fim da Bundesliga 2019/20.

Encarando o Atlético de Madrid, o estilo do time de Simeone pode expor as fragilidades defensivas que o PSG costuma apresentar em jogos grandes. E mesmo sem a força do mando, a “casca” construída pelo clube espanhol nos últimos anos em fases avançadas da competição pode fazer diferença.

Não será tão simples ou menos complicado. E o projeto PSG nunca mostrou consistência para se impor em qualquer cenário na Europa. O desafio continua enorme, mesmo sem gigantes pelo caminho.

[Sobre o outro lado do chaveamento:

Juventus tende a se aproveitar da inatividade do Lyon e tirar a desvantagem em Turim. O Manchester City deve confirmar contra o Real Madrid, embora sem torcida o mando tenha perdido força. Se passar, a equipe de Guardiola é ligeiramente favorita contra o time de Cristiano Ronaldo para seguir em busca do título inédito.

Barcelona já deve ter problemas contra o Napoli. Jogo contra o time de Genaro Gattuso não será tranquilo, mesmo no Camp Nou. Se passar, a menos que o Bayern de Munique tenha uma queda brusca por conta da inatividade, o risco de ser surrado pelo octampeão alemão como em 2013 é considerável. Só o “fator Messi” pode mudar o destino do time catalão.]

 

 

 

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Era Jürgen Klopp é de futebol intenso, mas também inteligente e adaptável http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/26/era-jurgen-klopp-e-de-futebol-intenso-mas-tambem-inteligente-e-adaptavel/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/26/era-jurgen-klopp-e-de-futebol-intenso-mas-tambem-inteligente-e-adaptavel/#respond Fri, 26 Jun 2020 12:37:57 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8690

Foto: Reuters

Há recortes históricos que com um mínimo distanciamento do tempo podem ser definidos como uma mudança de paradigma. Mesmo em um esporte tão complexo e instável como o futebol.

O Barcelona foi para o intervalo em Anfield perdendo por 1 a 0 pelo jogo de volta da semifinal da Liga dos Campeões 2018/19. Havia vencido por 3 a 0 no Camp Nou e ainda tinha uma boa vantagem a administrar fora de casa. Se fizesse um gol o Liverpool teria que fazer mais quatro.

E a imagem no vestiário do time catalão era de absoluto desespero. Ainda que o trauma da eliminação na edição anterior do torneio continental para a Roma também ecoasse,  estava claro no semblante de Messi, Suárez, Jordi Alba e outros que a tragédia parecia inevitável. O discurso, sem muita convicção, era de que era preciso retomar o ritmo no estilo Barcelona, de posse de bola. Mas todos sabiam que na prática isso seria impossível. Os 4 a 0 no final foram apenas a consequência natural.

Porque vivemos a Era Jürgen Klopp no futebol. O que não quer dizer necessariamente que seja o treinador que vence tudo que disputa. Não foi assim com Rinus Michels, nem Cruyff, Arrigo Sacchi, Alex Ferguson ou José Mourinho. Talvez Pep Guardiola, com currículo impressionante e único, seja a exceção. Ainda assim, já se vão quase nove anos sem vencer a Champions.

Notamos a ascendência das ideias de um treinador no esporte quando praticamente em qualquer partida é possível notar as digitais dele no que acontece em campo.

Repare que cada vez falamos menos em posse de bola como critério para observar o domínio de uma equipe sobre a outra. Melhor dizendo, ter a bola ainda é um indício, mas cada vez mais importante é atacar com volume e agredindo o adversário. Não tocando e circulando sem “machucar”.

O Jurgen Klopp do Borussia Dortmund e do início do trabalho no Liverpool era do futebol “rock’n’roll”. Intensidade máxima, “gegenpressing” e uma fome como se houvesse amanhã. Só que em muitas partidas isso tudo virava pressa, ansiedade. Ou um desperdício de energia que cobrava o preço ao final do jogo ou do campeonato.

Mas Klopp é inteligente e tem sensibilidade para notar a direção dos ventos. Também sabe ouvir, embora não abra mão de suas convicções. Estava nítido que seria preciso se adaptar ao que pede cada jogo. Como ele percebeu na própria Premier League com outros treinadores, como Antonio Conte e o próprio Guardiola, que venceu no Manchester City combinando elementos inegociáveis do seu modelo de jogo com a intensidade do futebol praticado na Inglaterra. Também com a eletricidade de Klopp.

Pausas. Era preciso ter momentos de circulação da bola para variar a intensidade do jogo. Passar de lado para abrir o campo e as linhas do oponente não é pecado. Klopp fez o Liverpool voltar a ser temido. Junto com a camisa pesada, natural que alguns adversários apelassem para retrancas. Linha de cinco, dez jogadores atrás da linha da bola e protegendo a própria área. Acelerar o tempo todo muitas vezes significava dar de cara com o muro. Em loop, até cansar.

Klopp viu a solução nas inversões de bola de seus laterais: Alexander-Arnold e Robertson fazem a troca de corredor com frequência e eficiência. Também se juntam na frente ao tridente Salah-Firmino-Mané. Com o brasileiro recuando para colaborar na articulação e os dois ponteiros buscando as infiltrações em diagonal. Cabe aos zagueiros e aos meio-campistas se impor fisicamente, mas também colaborar com a manutenção da posse quando é preciso. Henderson cresceu demais nesta proposta, tanto como volante mais fixo como um meia pela direita.

Antes o treinador alemão queria um ambiente difícil de respirar em campo. Agora ele entende que há momentos em que é preciso encher e esvaziar os pulmões para pensar melhor e fazer o que é necessário em campo. Sem a loucura de antes, que lembrava o piloto inglês Nigel Mansell nos anos 1980/90 na F-1: batia recordes seguidos de volta mais rápida para perder a prova por falta de combustível ou em uma manobra arriscada e pouco inteligente.

É claro que o talento continua sendo fundamental. Sem Alisson e Van Dijk é bem provável que o Liverpool continuasse com a defesa como elo fraco e comprometedor no mais alto nível competitivo. Mas encontrar as peças certas que o dinheiro pode comprar também é sinal de amadurecimento.

Isso tudo constroi o Liverpool campeão inglês, depois de 30 anos. A primeira conquista na Era Premier League. Com sete rodadas de antecedência, 23 pontos de vantagem sobre o então bicampeão City. Time de Guardiola que caiu diante do Chelsea por 2 a 1. Justamente os Blues, algozes dos Reds em 2014, no lendário escorregão de Steven Gerrard que negou mais uma vez a conquista do título. Como o pontinho da temporada passada.

Desta vez não houve margem para erro. Cada jogo da liga foi tratado como uma decisão. Com a natural oscilação que os times ingleses costumam sofrer quando disputam o Mundial de Clubes. Viagem, desgaste, os jogos seguidos na virada do ano. Cobrou o preço nas copas nacionais e também na Champions. Mas estava claro desde o início que esta temporada era a da dedicação aos pontos corridos. Da redenção.

Veio em meio a uma pandemia. A retomada do campeonato serviu para fazer justiça ao melhor time. E também a Klopp, a mente dominante desta era do futebol intenso, vertical. Mas também inteligente e adaptável. De acordo com a demanda. A do Liverpool andava reprimida, agora é só alegria. Ou alívio, pelo contexto do mundo.

Mas em qualquer campo onde a bola role haverá o toque de Jürgen Klopp. Carisma incrível, sorriso franco, uma certa loucura cativante. Mas acima de tudo um grande treinador de futebol. O melhor do planeta. Agora o “zeitgeist”, ou o espírito do tempo, está com ele.

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Manchester City voa baixo, roda elenco e aquece turbinas para Champions http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/22/manchester-city-voa-baixo-roda-elenco-e-aquece-turbinas-para-champions/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/22/manchester-city-voa-baixo-roda-elenco-e-aquece-turbinas-para-champions/#respond Mon, 22 Jun 2020 20:53:15 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8675 Com as vitórias em casa por 3 a 0 sobre o Arsenal no jogo que faltava na 29ª rodada e 5 a 0 sobre o Burnley, o Manchester City fez cair para 20 pontos a vantagem do Liverpool na liderança da Premier League. Mas com 24 pontos ainda em jogo, o título dos Reds é questão de tempo e matemática.

Mais importante que garantir o “pódio” novamente, uma característica dos trabalhos de Pep Guardiola em todas as ligas que disputou desde 2008 – a pior colocação foi o terceiro lugar na estreia na Inglaterra em 2016/17 -, é retomar rapidamente o ritmo para atingir dois grandes objetivos.

O primeiro é um tanto circunstancial: já que é praticamente impossível manter a hegemonia nos pontos corridos, a luta pelo bicampeonato do mata-mata nacional ganhou muita importância. Depois de “unificar” as conquistas em 2019, os citizens mantiveram o domínio na Copa da Liga Inglesa e estão nas quartas da Copa da Inglaterra contra o Newcastle.

A grande meta, porém, é, claro, o título inédito da Liga dos Campeões. Primeiro administrando a vantagem sobre o Real Madrid construída fora de casa com os 2 a 1 no Bernabéu. Sem a presença da torcida no Etihad Stadium, mas com a possibilidade de gerir melhor o elenco em relação ao time merengue, que acabou de assumir a liderança do Espanhol e vai lutar pela recuperação do domínio da liga. Até pela obsessão do treinador Zinedine Zidane, que valoriza demais a superioridade nos pontos corridos.

Guardiola também pensa assim, mas sabe que desta vez terá que ser forte nas disputas eliminatórias para tornar a temporada histórica e atingir o ápice antes da provável punição da UEFA, afastando o clube de competições europeias por dois anos, acusados de burlar o fair play financeiro.

Por isso tenta nivelar o grupo de jogadores por cima. mantendo apenas Ederson, David Silva e Mahrez na formação de um jogo para outro na volta. Revezando Cancelo/Walker e Mendy/Zinchenko nas laterais, Eric Garcia/Otamendi e Laporte/Fernandinho na zaga; Rodri/Gundogan e De Bruyne/Bernardo Silva no meio. Aguero/Gabriel Jesus no centro do ataque e Sterling/Foden nas pontas. Ainda Leroy Sané, que volta de séria lesão e sairá no final da temporada, mas está à disposição do treinador.

A mesma valorização da posse com linhas adiantadas e pressão logo após a perda da bola, porém com momentos de aceleração e intensidade máximas. Sempre com triangulações em todos os setores, mas também jogadas mais longas, como o passe de Fernandinho para Mahrez no segundo gol sobre o Burnley. Muita gente chegando ao ataque no sistema base 4-3-3, mas com rotações – pontas, laterais e meias alternando abertos e por dentro nas ações ofensivas – e volume de jogo que tontearam os dois adversários até agora.

Oito gols marcados, 68% de média na posse de bola, acerto acima de 90% nos passes, 39 finalizações (19 no alvo), nenhuma na direção da meta de Ederson em 180 minutos. Mesmo relativizando o nível dos adversários, não é pouco. Até porque o Burnley vinha de sete partidas de invencibilidade e apenas três gols sofridos.

O City retorna voando baixo e aquece as turbinas para competir forte no que resta em 2019/20. Temporada problemática pelo contexo, mas que ainda pode ser gloriosa e histórica.

(Estatísticas: Whoscored.com)

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Volta do futebol na Europa escancara drama do PSG e de Neymar na Champions http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/15/volta-do-futebol-na-europa-escancara-drama-do-psg-e-de-neymar-na-champions/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/15/volta-do-futebol-na-europa-escancara-drama-do-psg-e-de-neymar-na-champions/#respond Mon, 15 Jun 2020 13:50:22 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8652

Foto: Reuters

O Manchester City entra em campo na quarta, dia 17, para enfrentar o Arsenal em jogo adiado da 28ª rodada da Premier League. Exatos 99 dias depois da última partida antes da pandemia: derrota para o rival United por 2 a 0 no dia 8 de março. Serão nove rodadas que devem confirmar o título do Liverpool, mais a Copa da Inglaterra que retorna nas quartas-de-final e tem a decisão marcada para 1º de agosto. O time de Guardiola já faturou a Copa da Liga Inglesa.

A Juventus voltou na sexta-feira empatando sem gols com o Milan e se classificando para a decisão da Copa da Itália contra o Napoli. Final na quarta, em Roma, e retomada da liga no dia 22, para mais 12 rodadas até o início de agosto. O time de Cristiano Ronaldo, para variar, lidera o campeonato, mas apenas um ponto à frente da Lazio.

Times com realidades opostas. O City praticamente cumpre tabela na liga e vai se dedicar à copa nacional até a volta da Champions, definindo a vaga nas quartas contra o Real Madrid depois de vencer na ida por 2 a 1. A Juventus define logo o mata-mata e depois parte para um guerra buscando manter a hegemonia no país. Ambas competindo forte até agosto, ou bem próximo disso.

O Paris Saint-Germain disputou a última partida no dia 11 de março, quando eliminou o Borussia Dortmund e conseguiu ultrapassar a barreira das oitavas da Liga dos Campeões na “Era Neymar/Mbappé”. Foi declarado campeão francês quando as autoridades francesas proibiram atividades esportivas até setembro.

Com o retorno das principais ligas, o PSG – e também o Lyon, o outro francês que disputa o torneio continental e venceu a Juventus na ida por 1 a 0 – se depara com o maior obstáculo, no momento, para o sonho de disputar com chances reais o maior título de clubes do planeta: a inatividade.

Com a possibilidade de disputa das quartas e semifinais em jogos únicos em sede fixa (provavelmente Lisboa), o time francês estaria objetivamente a três partidas da grande obsessão do clube. Mas como ser competitivo com quase seis meses sem jogos oficiais?

O clube busca uma flexibilização, com a possibilidade de realização de amistosos e da decisão da Copa da França, contra o próprio Lyon, no dia primeiro de agosto. Ainda assim, a distância do nível de competição seria gigantesca. Não só em relação aos exemplos citados, de City e Juventus.

O próprio Bayern de Munique, outro grande favorito ao título europeu pelo desempenho mesmo antes da parada, decide a Copa da Alemanha no dia 4 de julho contra o Bayer Leverkusen. Antes disso deve confirmar o octacampeonato da Bundesliga que, com apenas 18 clubes, termina no dia 27. Só uma partida em julho, mas ainda com grande vantagem sobre o PSG.

É claro que, por exemplo, uma lesão grave de um Cristiano Ronaldo ou Lewandowski neste processo pode relativizar e muito a vantagem dos times que estão jogando. Mas o contexto do gigante francês hoje é único. Nenhum time ficou tanto tempo sem jogar oficialmente.

Para piorar, a insatisfação com a direção do futebol, especialmente Leonardo, por conta do anúncio das saídas de Thiago Silva e Cavani. Clima tenso e sem partidas para dividir atenções e tornar as pautas sobre o clube menos negativas.

Como estarão Neymar, Mbappé e companhia quando entrarem em campo para o jogo mais importante da história recente do Paris Saint-Germain? Eis a maior incógnita do futebol desde a Segunda Guerra Mundial. E a resposta ainda vai demorar.

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Cinco substituições vão aumentar distância entre ricos e pobres no futebol http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/10/cinco-substituicoes-vao-aumentar-distancia-entre-ricos-e-pobres-no-futebol/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/10/cinco-substituicoes-vao-aumentar-distancia-entre-ricos-e-pobres-no-futebol/#respond Sun, 10 May 2020 16:11:46 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8464

Foto: André Durão / Globoesporte.com

Pedro tinha proposta do Grêmio, para ser titular absoluto da camisa nove na equipe de Renato Gaúcho. Preferiu o Flamengo, mesmo enfrentando o desgaste do ódio da torcida do rival Fluminense, clube de origem do centroavante. Ainda que as chances de jogar fossem bem menores com a permanência de Gabriel Barbosa ao lado de Bruno Henrique no ataque. Tudo para trabalhar em um clube com chances maiores de grandes conquistas e também ser comandado por Jorge Jesus.

No futebol pós-pandemia ele terá mais oportunidades de entrar em campo com a camisa rubro-negra. A International Board autorizou, e a CBF aderiu, a inclusão de duas substituições para preservar o estado físico dos jogadores depois de uma interrupção longa nas atividades por conta da Covid-19. Os treinadores terão três janelas durante os 90 minutos para mexer nas equipes.

Mudança interessante, até pelo jogo cada vez mais intenso e as federações, junto com emissoras de TV/streaming, querendo um calendário cada vez mais inchado. Treinadores como Pep Guardiola, Jürgen Klopp e José Mourinho vêm reclamando nos últimos anos do enorme desgaste físico dos atletas na temporada.

Embora o anúncio seja de uma alteração temporária, até o final de 2020, a impressão é de que funcionará como um teste visando algo definitivo. Se tornar o jogo mais dinâmico e interessante, a tendência é que seja mantida como regra.

O grande risco é aumentar ainda mais a distância entre ricos e pobres. Uma tendência, quase certeza. Porque um jogador sondado pelo Manchester City de Guardiola, por exemplo, antes poderia optar por permanecer em um clube de menor capacidade financeira pelas chances maiores de jogar. Agora a possibilidade de estar em campo aumenta bastante. Além das lesões e suspensões, agora as cinco  substituições vão permitir uma minutagem maior.

Sem contar as variações que os grandes técnicos poderão treinar e colocar em prática nos mais variados cenários. Formações mais ofensivas ou defensivas, jogo mais direto ou de controle da posse de bola. Tudo de acordo com o contexto e contando com peças de alto nível para manter ou aumentar o rendimento.

É claro que os times de menor investimento ao menos terão a oportunidade de reoxigenar mais a equipe para tentar resistir. Meio time “fresco” para se defender e contra-atacar, se for o caso. Ou até arriscar um pouco mais, de acordo com as circunstâncias.

Mas a vantagem tende a ser ainda maior para quem pode pagar pelos melhores atletas. E o cenário econômico do futebol ainda é incerto, já que a bola parada é dura para quem paga milhões aos seus craques e vê a receita cair sem jogos e, consequentemente, receitas de TV. Mas deve ser catastrófica para os mais pobres e/ou mal geridos. Sabemos pelo clichê de que lado a corda costuma arrebentar.

Para Pedro, no Flamengo, o incremento nas substituições deve ser ótima solução. Veremos na prática se a mudança será positiva para o esporte.

 

 

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Dez livros sobre futebol para ler ou reler http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/02/dez-livros-sobre-futebol-para-ler-ou-reler/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/02/dez-livros-sobre-futebol-para-ler-ou-reler/#respond Thu, 02 Apr 2020 12:52:18 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8243  

Imagem: Editora Grande Área

“A Pirâmide Invertida” (2008) – Jonathan Wilson 

Simplesmente a “Bíblia” da evolução tática do futebol. O incansável jornalista mergulha em uma pesquisa sem precedentes na história do esporte, desde o caos total na origem da formação dos times até a inversão do desenho tático, com apenas um atacante e mais jogadores protegendo a própria meta – o que não produziu, necessariamente, um jogo pior. Leitura obrigatória.

“A Bola Não Entra Por Acaso” (2009) – Ferran Soriano

O ex-presidente do Barcelona e atual CEO do Manchester City merece ser lido quando os temas são gestão de futebol e desenvolvimento de uma marca global. Mesmo com o Barça hoje não vivendo momento tão iluminado e o City punido pela UEFA por burlar o fairplay financeiro. Interessante para entender um pouco das estratégias fora do campo de clubes com estruturas gigantescas.

“Febre de Bola” (1992) – Nick Hornby

Não é um livro sobre o Arsenal, como a capa dá a entender. Mas sobre como o futebol pode ser o guia da vida de muita gente e um clube a grande válvula de escape para as nossas derrotas e os empates de todo dia. Quem nunca associou uma data importante a um jogo do seu time de coração? A originalidade da escrita de Hornby para a época torna o livro ainda mais especial.

“Guardiola Confidencial” (2014) / “A Evolução” (2017) – Martí Perarnau

Perarnau simplesmente teve acesso quase irrestrito ao cotidiano de trabalho do maior treinador deste século e um personagem intrigante. Com conhecimento sobre futebol para observar e fazer as perguntas certas e as anotações relevantes sobre a trajetória de Pep Guardiola no Bayern de Munique e no Manchester City. Mesmo com alguns exageros no “culto” ao personagem, são duas obras “gêmeas” e espetaculares.

“Como o Futebol Explica o Mundo” (2004) – Franklin Foer

A melhor pesquisa até hoje realizada para explicar como o futebol se tornou o esporte mais popular do planeta, ganhando uma dimensão maior do que se poderia imaginar para algo que é um jogo, na essência. Jornalismo em estado de arte, talvez o melhor livro-reportagem sobre o futebol, com relatos que apenas comprovam a sua inserção no contexto sócio-político do planeta.

“O Barça” (2012) – Sandro Modeo

Em meio a tantos livros para descrever o maior time do século 21, o de Modeo é o mais completo em relação à base de ideias e ideais que construíram a “identidade Barça”. A filosofia de Johan Cruyff atualizada e combinada com outras influências por Pep Guardiola, mas passando por figuras menos conhecidas, como Laureano Ruiz e Vic Buckinham.

“Os 55 maiores jogos das Copas do Mundo” (2010) – Paulo Vinícius Coelho

O maior mérito da pesquisa do PVC foi fugir da tentação brasileira de fechar no próprio umbigo as narrativas sobre os jogos das Copas do Mundo. Nas quais o Brasil ou venceu, ou foi o “campeão moral”, ou “perdeu para si mesmo”.  As entrevistas com jornalistas de Itália, Argentina, França e Holanda lançam um olhar diferente sobre partidas históricas. Brilhante pesquisa.

“11 Cidades” (2017) – Axel Torres

“Para cada viagem, um só destino: o futebol”. Este é o mote do jornalista espanhol para descrever sua paixão pelo esporte e por viagens. Seguindo um roteiro um tanto improvável atrás de personagens díspares, o autor é mais um a mostrar com genialidade o futebol como fenômeno cultural e paixão coletiva. De Londres a Assunção, no Paraguai. Sem fronteiras.

“O Negro no Futebol Brasileiro” (1947) – Mário Filho

O maior clássico da literatura brasileira sobre futebol pela pena do homem que dá nome ao Maracanã não poderia ficar de fora. Apesar do natural, para a época, foco no futebol carioca e da necessidade de contextualização histórica. O relato da entrada do negro em um esporte criado pelos brancos e a forte identidade do país cinco vezes campeão mundial por conta disso, apesar do nosso racismo estrutural.

“Mourinho: Porquê Tantas Vitórias?” (2006) – Nuno Amieiro e vários

Hoje o título pode soar um tanto anacrônico, mas na época do lançamento virou o livro de cabeceira de muitos treinadores e analistas para entender a metodologia e as ideias do então melhor treinador do planeta. Para isso, Nuno e os outros três autores acompanharam Mourinho por uma temporada inteira no Chelsea. Ainda vale muito a leitura, até para entender o que acontece hoje com o português.

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Enfim, City e Jesus se agigantam em jogo grande da Liga dos Campeões http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/26/enfim-city-e-jesus-se-agigantam-em-jogo-grande-da-liga-dos-campeoes/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/26/enfim-city-e-jesus-se-agigantam-em-jogo-grande-da-liga-dos-campeoes/#respond Wed, 26 Feb 2020 22:29:53 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8031 Que virada no Bernabéu! Histórica!

Foi preciso jogar a toalha na liga nacional tão valorizada por Pep Guardiola para o Manchester City entrar com a faca nos dentes na Liga dos Campeões.

É possível discutir se houve falta ou não na disputa entre Gabriel Jesus e Sergio Ramos no gol de empate do Manchester City marcado pelo brasileiro. Este que escreve interpretou como disputa normal de espaço.

Mas o domínio do time inglês em boa parte do jogo foi ndiscutível. Com Kevin De Bruyne jogando solto, muitas vezes mais adiantado até que Jesus. Aparecendo mais pela esquerda para desequilibrar. Como na assistência para o camisa nove, que foi titular para se mexer bastante na frente.

Não fosse Courtois, a dupla já teria feito o time de Guardiola ir às redes ainda no primeiro tempo. O goleiro belga foi o grande destaque do Real Madrid, evitando um estrago pior.

Vinicius Júnior também se destacou enquanto esteve em campo. Formando dupla de ataque com Benzema, mas naturalmente buscando o lado esquerdo. Perdendo boa chance em rebote de conclusão de Benzema, na crônica deficiência no acabamento das jogadas.

Mas ganhando de Walker para servir Isco no gol que abriu o placar. O meia espanhol novamente foi a peça “solta” do meio-campo merengue, à frente de Valverde e Modric. Dando suporte aos laterais Carvajal e Mendy que abriam o campo e buscavam o fundo.

Jogo de alto nível técnico e tático que desequilibrou de vez com as substituições. Gareth Bale não entrou bem na vaga de Vinicius. Guardiola, que foi obrigado a trocar o lesionado Laporte por Fernandinho ainda no primeiro tempo, ganhou rapidez e profundidade pela esquerda com Sterling na vaga de Bernardo Silva.

Foi sobre o atacante inglês o pênalti de Carvajal que De Bruyne converteu para se tornar o craque de uma noite memorável. De posse dividida, mas um City mais contundente. Dezesseis finalizações, metade no alvo.

E ainda a vantagem de enfrentar o Real sem o capitão e símbolo Sergio Ramos, expulso por falta em Jesus. De novo o brasileiro, que não foi o destaque técnico, mas finalmente se agigantou em jogo grande no torneio continental.

Assim como os citizens. Jogando a temporada, talvez aquele esforço a mais que faltava quando dividia atenções com a Premier League enfim apareceu.

Será preciso também em Manchester, porque o Real de Zidane nunca pode ser dado como morto na Champions.

(Estatísticas: UEFA)

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“Molezinha” na Inglaterra pode atrapalhar o Liverpool na Champions? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/19/molezinha-na-inglaterra-pode-atrapalhar-o-liverpool-na-champions/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/19/molezinha-na-inglaterra-pode-atrapalhar-o-liverpool-na-champions/#respond Wed, 19 Feb 2020 09:47:59 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8007

Foto: Susana Vera / Reuters

Nos últimos anos, o argumento mais utilizado para justificar fracassos de Juventus, Bayern de Munique e Paris Saint-Germain na Liga dos Campeões foi a falta de desafios dos times, soberanos em suas ligas nacionais.

As equipes sobravam diante da concorrência e quando enfrentavam times de campeonatos mais competitivos sentiam o peso e acabavam sucumbindo.

Então, por coerência, não dá para dizer o mesmo do Liverpool em relação à Premier League?

Na temporada passada, apenas a derrota para o Manchester City que custou o titulo. Agora, as surreais 25 vitórias em 26 rodadas. 97,4% de aproveitamento. Com um desequilíbrio muito maior em relação a Bundesliga e Série A italiana nesta temporada.

É claro que o Inglês não deixou de ser competitivo, mas a equipe de Jurgen Klopp, por méritos próprios, parece ter encontrado uma espécie de fórmula, que adicionada à cultura de vitória faz o time se impor mesmo quando não apresenta bom desempenho. E os adversários vão jogando a toalha, até Pep Guardiola no bicampeão Manchester City.

Diego Simeone se recusa, especialmente em mágicas noites de Champions em Madrid. Antes no Calderón, agora Wanda Metropolitano. Mesmo na quarta colocação no Espanhol, dois pontos atrás do surpreendente Getafe e a 13 do líder Real Madrid.

É claro que o gol de Saúl Ñíguez logo aos quatro minutos condicionou o jogo e deixou o cenário à feição da concentração defensiva e do clima Davi x Golias que o treinador argentino adora criar. Compactou setores e contou com atuações gigantescas dos brasileiros Felipe e Renan Lodi para não permitir uma finalização do atual campeão europeu na direção da meta de Oblak.

E poderia ter machucado ainda mais os visitantes se Morata não perdesse duas boas chances, uma delas em furada grosseira dentro da área adversária. O Liverpool teve 67% de posse, 83% na efetividade nos passes e até alguns momentos de volume de jogo. Com a costumeira pressão pós-perda que fez o time da casa acertar apenas 67% dos passes.

Faltou, porém, a habitual contundência na frente. A ponto de Klopp, insatisfeito, mexer justamente no ataque: trocar Mané e Salah por Origi e Oxlade-Chamberlain. Sem sucesso, até porque o problema não era exatamente de qualidade individual, mas de incômodo nítido com o que o jogo impôs.

É claro que uma virada em Anfield é mais que possível, até provável. Só que os Reds terão que resgatar uma fúria que não vem sendo necessária pela “molezinha” na Inglaterra. Mas contra o Atlético de Simeone será obrigatória.

(Estatísticas: UEFA.com)

 

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Liverpool agora concorre apenas com a história da Premier League http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/01/19/liverpool-agora-concorre-apenas-com-a-historia-da-premier-league/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/01/19/liverpool-agora-concorre-apenas-com-a-historia-da-premier-league/#respond Sun, 19 Jan 2020 18:59:09 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7846 Na campanha de 20 vitórias e um empate antes da 23ª rodada, o Liverpool só não havia vencido o Manchester United – 1 a 1 no Old Trafford. Sem contar o West Ham, no jogo adiado por conta da disputa do Mundial de Clubes.

Em Anfield, o desempenho da equipe de Jurgen Klopp foi condizente com o tamanho do clássico entre os maiores vencedores na Inglaterra. E do tamanho da “fome” dos Reds para quebrar um jejum de 30 anos sem dar chances aos concorrentes.

Mas Salah e Firmino perderam chances cristalinas, o brasileiro da camisa nove e Wijnaldum tiveram gols bem anulados com o auxílio do VAR. No momento em que o volume de jogo do melhor time do mundo ofereceu algum espetáculo. Só foi às redes, porém, no início com mais uma arma do vasto repertório: o jogo aéreo na bola parada com Van Dijk.

Depois baixou a intensidade, passou a ceder espaços e permitiu chances aos Red Devils. Com Martial, Fred, Andreas Pereira. Foram nove finalizações, quatro no alvo. Uma equipe menos madura e consolidada desmancharia no final com o sufoco do rival depois de jogar até para construir uma goleada. E o sofrimento foi mesmo grande.

Até Alisson acionar  Salah com o adversário todo no campo de ataque e o egípcio tocar na saída do goleiro De Gea. Na 16ª finalização, a quinta no alvo. 2 a 0. O sétimo jogo seguido sem ser vazado. Para chegar aos 64 pontos em 66 possíveis. A melhor campanha na história das cinco grande ligas da Europa neste número de jogos. No principal campeonato nacional do planeta.

O vice-líder Manchester City, com 48 pontos, só pode chegar a 93 pontos nas 15 rodadas que faltam. Ou seja, com mais 30 pontos, ou dez vitórias, em 16 partidas o Liverpool vencerá pela primeira vez a Premier League. Mas a sede por recordes é clara. Então a conta mais certa é que faltam 37 pontos, ou 12 vitórias e um empate, para superar os 100 pontos dos citizens em 2017/18.

Porque esse time que já é um dos melhores da década agora concorre apenas com a história na Inglaterra.

(Estatísticas: BBC)

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Gabriel Jesus é reserva de Aguero e não tem obrigação de ser “Fenômeno” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/01/05/gabriel-jesus-e-reserva-de-aguero-e-nao-tem-obrigacao-de-ser-fenomeno/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/01/05/gabriel-jesus-e-reserva-de-aguero-e-nao-tem-obrigacao-de-ser-fenomeno/#respond Sun, 05 Jan 2020 06:50:55 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7798

Foto: Getty Images

O Brasil é cinco vezes campeão do mundo e, no universo das seleções, teve dois períodos de domínio: o primeiro de 1958 a 1970, com três títulos em quatro Copas e protagonismo de Garrincha e Pelé; o segundo de 1994 a 2007, com mais duas conquistas mundiais e cinco jogadores contemplados com as maiores premiações individuais – Romário em 1994, Ronaldo em 1996, 1997 e 2002, Rivaldo em 1999, Ronaldinho Gaúcho em 2004 e 2005 e Kaká em 2007.

A última fase coincidiu com a perda de relevância das Copas do Mundo. A partir de 2008, com a hegemonia de Messi e Cristiano Ronaldo, a Liga dos Campeões ganhou força e o argentino e o português dominaram mesmo sem um título mundial por suas seleções. O Brasil teve Neymar oscilando, três eliminações em quartas de final e os 7 a 1 no Mineirão em 2014.

Olhando para a história do futebol, um ocaso compreensível. Tirando o “espasmo” em 1982, foi mais ou menos o que o aconteceu entre 1970 e 1994. A arrogância brasileira, porém, cobra um protagonismo ininterrupto, como se o escrete canarinho perdesse sempre para si mesmo e ninguém mais jogasse em alto nível no planeta. Uma percepção que muda pouco no senso comum, mesmo com jogos internacionais sendo transmitidos como nunca por aqui.

E toda derrota carrega seu vilão no jeito emocional de analisar o jogo no “país do futebol”. Em 2018, além das quedas de Neymar, a falta de gols de Gabriel Jesus, então com 21 anos, foi o grande alvo dos críticos. De fato, o jovem atacante do Manchester City não teve bom desempenho, embora tenha sido útil taticamente em muitos momentos.

Mas a expectativa criada pelos gols na campanha do ouro olímpico, nas eliminatórias e o da vitória no amistoso contra a Alemanha que foi tratado como jogo oficial e uma “revanche” contra os algozes da Copa no Brasil foi exagerada.

Porque Gabriel Jesus não é um extra-classe. E pode construir uma carreira digna, mesmo sem seguir a linhagem de Ronaldo e Romário que Adriano Imperador ensaiou uma continuidade. Na carreira tem 86 gols e 29 assistências em 209 partidas. No City, 58 bolas nas redes adversárias e 19 passes para gols. É comandado por Pep Guardiola desde que chegou a Manchester.

E é reserva de Kun Aguero. Simplesmente o maior artilheiro da história do clube com 245 gols em 357 jogos. Presente nos quatro títulos da Era Premier League, sendo peça decisiva em todos – especialmente no primeiro, temporada 2011/12, a primeira do argentino no clube, definindo o título com o terceiro gol, já nos acréscimos, sobre o Queens Park Rangers. Aos 31 anos é ídolo inquestionável, um símbolo.

Por isso Pep Guardiola o chamou de “insubstituível” e classificou Gabriel Jesus como “um bom reserva”. O suficiente para ferir o orgulho brasileiro, ainda mais por exaltar um “hermano”. Bobagem, até porque o brasileiro é jovem, tem mostrado evolução e ganha minutos naturalmente nas temporadas. Aguero não dá conta de todos os jogos da temporada, seja por desgaste ou lesões, suspensões… E há tempos esse conceito de titulares e reservas mudou significativamente, com o aumento da intensidade da disputa.

Jesus já marcou oito gols em dezessete aparições na liga, os dois últimos nos 2 a 1 sobre o Everton. Sete vezes saindo do banco de reservas. Na Liga dos Campeões foi às redes quatro vezes, no mesmo número de partidas – uma vez saindo do banco. Aguero tem dez gols na competições por pontos corridos em 15 jogos. Mais dois gols em três partidas pela Champions. Mais um na goleada por 4 a 1 sobre o Port Vale pela Copa da Inglaterra.

Os números podem ser semelhantes na média, mas são atacantes de prateleiras diferentes. Ao menos por enquanto, e no contexto do City. Falta ao brasileiro mais “punch” em jogos grandes, mas vem evoluindo em fundamentos e ficando menos afobado na hora de tomar a decisão perto da meta adversária. Questão de tempo e treino.

Porque ninguém é obrigado a ser “Fenômeno”, ou “gênio da grande área”. Guardiola conhece bem e sabe como utilizá-lo. Na seleção, Tite tenta encaixar o camisa nove com Roberto Firmino, mas não é tão simples sem a rotina de treinamentos. Parte do processo. Ainda assim, foi peça importante na conquista da Copa América no Brasil ano passado.

E a vida segue, como deve ser. Sem histeria ou fatalismo. O atacante brasileiro não pode viver apenas entre a consagração e o fracasso. Ser gênio ou um lixo. Jesus é bom e deve ficar ainda melhor. O tempo precisa ser aliado, não adversário na nossa pressa de definir uma carreira. Menos mal que Guardiola tem paciência e plena noção do que tem nas mãos. Pensando também no futuro.

(Estatísticas: Whoscored.com)

 

 

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